Marco
Milani
> Universalismo, ecumenismo, espiritualismo e outras coisas
Não é de hoje que encontramos
alguns entusiastas espiritualistas que pretendem abraçar, ao
mesmo tempo, diversas linhas doutrinárias sob o argumento da
tolerância e respeito a todas as formas de se pensar. Nesse
sentido, essas pessoas supõem estar quebrando preconceitos
e posicionamentos exclusivistas para disseminar a harmonia universal,
sob a alegação de que a verdade não está
encerrada em uma só religião e todas podem levar a Deus.
Afirmam, ainda, que querem aproveitar o que cada filosofia ou corrente
"tem de bom”.
Mesmo que a união fraterna seja um objetivo entre os homens,
alguns aspectos lógicos devem ser destacados para se buscar
a verdadeira harmonia e a conduta equilibrada. Primeiramente, devemos
reconhecer que a diversidade entre os seres humanos é um fato.
Em essência, todos somos semelhantes, porém cada um de
nós pode ter uma visão de mundo particular e que se
diferencia de inúmeras maneiras das demais pessoas. Até
aí, nada de novo.
O problema lógico ocorre quando se acha possível aceitar,
simultaneamente, pontos de vista divergentes. Não se conseguirá
estabelecer relações de causalidade a partir de premissas
antagônicas entre si. Por exemplo, não se pode aceitar
e negar a reencarnação. Não se pode aceitar e
negar a possibilidade de comunicação com seres desencarnados.
Não se pode aceitar e negar a individualidade do espírito.
Não se pode aceitar e negar que Jesus é um espírito
e não seja Deus. Ou se aceita uma coisa ou se nega a sua existência.
A tentativa de considerar tudo válido é uma incoerência
epistemológica.
Em segundo lugar, cada doutrina é estruturada sobre princípios
determinados e que, necessariamente, se forem alterados desvirtuarão
todo o edifício teórico construído. No Espiritismo,
por exemplo, se adotam premissas, tais como: a existência de
Deus (inteligência suprema e causa primária); a existência
de dois elementos no universo: espírito e matéria; o
estágio do princípio inteligente em diferentes corpos
materiais; a sobrevivência e individualidade da alma após
a morte do corpo físico; a comunicação com os
espíritos; a evolução espiritual até a
plena realização do ser (pureza espiritual); a impossibilidade
do espírito retroagir em seu processo evolutivo; Leis naturais
imutáveis; reencarnação; diferentes moradas no
universo; o progresso do espírito depende de suas obras; Jesus
é o espírito de maior envergadura moral que reencarnou
neste planeta e nos serve de referência; a inutilidade da adoção
de símbolos, paramentos ou palavras sacramentais para se entrar
em comunicação com os espíritos ou para se dirigir
a Deus; o fato de que os astros não possuem qualquer efeito
na conduta do espírito; o amor a Deus sobre todas as coisas
e ao próximo como a nós mesmos como ações
fundamentais para a evolução espiritual; e a fé
raciocinada. Obviamente esses princípios estão coerentemente
inter-relacionados.
O que pensar, então, de um suposto adepto do espiritismo que
também aceite outras premissas que colidam com as premissas
espíritas? Ele ou ela estará, logicamente, sendo incoerente
e não desenvolverá uma argumentação racional
para interpretar determinado fenômeno. Ele ou ela estará
em confusão conceitual.
Aqueles que se dizem universalistas ou ecumênicos e defendem
que o mais importante é o respeito e o amor entre todos apenas
manifestam o desejo de participar de vários grupos, mas na
prática não participam de nenhum. O verdadeiro espírita
conhece os princípios doutrinários e age coerentemente
com a cosmovisão espírita, assim como o católico,
budista, judeu ou qualquer outro espiritualista deveria fazer com
relação ao corpo teórico que considera coerente.
Da mesma forma que não é racional acreditar, ao mesmo
tempo, no geocentrismo e no heliocentrismo, devemos ter o bom senso
de expressar nossas reais convicções (independentemente
de quais sejam elas), desde que de maneira coerente. Isso não
significa que desrespeitamos quem não pensa como nós,
mas apenas que respeitamos a própria consciência. Não
precisamos compartilhar das mesmas convicções dos outros
para respeitá-los como irmãos que têm a liberdade
de pensar diferente.
Marco Milani é professor universitário
e economista, responsável pelo Departamento do Livro, USE Regional,
SP.
Fonte:
http://educadorespirita1.blogspot.com.br/2014/03/universalismo-ecumenismo-espiritualismo.html
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