Espiritualidade e Sociedade



Marco Milani

>     O puritanismo impertinente de alguns palestrantes no movimento espírita

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Marco Milani
>   O puritanismo impertinente de alguns palestrantes no movimento espírita

 



Espera-se que palestrantes espíritas estejam comprometidos com a exposição dos princípios e valores do Espiritismo e não com ideias pessoais sem a devida fundamentação doutrinária. Mas assim como em qualquer atividade, encontramos indivíduos que desempenham a sua função de maneira mais (ou menos) adequada do que outros.

A qualidade da exposição espírita está diretamente relacionada ao embasamento teórico-doutrinário e aos aspectos de oratória demonstrados pelo palestrante. O ideal, portanto, seria a união em alto nível desses dois elementos: conteúdo e forma. Obviamente, as características de cada pessoa, como conhecimento sobre os temas, influências culturais, educação formal, postura, linguagem, desinteresse por autopromoção etc., são naturalmente diferentes e por isso cada expositor tem o seu próprio estilo e motivos para atuar como palestrante. O objetivo, porém, deveria ser um só: contribuir para o aprimoramento moral e intelectual dos ouvintes por meio da divulgação doutrinária.

Considerando que o palestrante não é um ser perfeito, ele está sujeito a cometer falhas como qualquer um, mas sob a perspectiva do público, o palestrante é um legítimo representante do Espiritismo. Principalmente para o público neófito, o que o palestrante disser espelhará a própria Doutrina dos Espíritos, por isso a responsabilidade expositiva é muito grande. Nesse sentido, quanto mais o expositor se ativer aos princípios e valores espíritas, menos sujeito a erros ele estará. O problema é que, às vezes, ele acrescenta na palestra suas opiniões, frustrações e até preconceitos.

Assim ocorreu, recentemente, com uma palestrante ao se dirigir a um público formado por jovens espíritas para explorar o tema “sexualidade”. A palestrante se autodenominava médica e, em sua apresentação, condenou determinada prática sexual pois, segundo ela, não era natural, mas brutal e humilhante e, além disso, simbolizava a opressão masculina sobre as mulheres. Em seu discurso, a palestrante afirmou ter provas científicas sobre suas afirmações relacionadas aos malefícios da prática, apesar de não ter apresentado nenhuma pesquisa formal. Uma vez que a palestra foi gravada e disponibilizada na internet, vários comentários criticando tecnicamente a expositora surgiram com questionamentos sobre a competência da moça para expor o assunto. Independentemente da boa intenção da palestrante em defender suas posições pessoais, essa situação permite outro questionamento: até que ponto a opinião da palestrante se assemelharia mais a uma manifestação puritana e condenar práticas sexuais sob a bandeira feminista seria pertinente em uma palestra espírita? É adequado transformar a oportunidade de se dirigir a um público que esperava ouvir algo fundamentado no Espiritismo em palanque para a exposição de opiniões? Provavelmente muitos jovens que assistiram a referida palestra devem ter achado que o Espiritismo "condena" tal prática. Ora, o Espiritismo não se assemelha a religiões moralistas que condenam e tentam formatar a conduta dos adeptos pelo medo ou imposições, pois valoriza o livre-arbítrio e a responsabilidade sobre os próprios atos.

Doutrinariamente, somos incentivados a respeitar o próximo e a nós mesmos. O respeito às escolhas do próximo sem querer impor condutas particulares é uma orientação clara presente nos ensinamentos espíritas.

Seguindo o exemplo da palestrante mencionada, talvez alguns outros expositores se sintam muito à vontade para também expressar suas opiniões sobre outras práticas sexuais que não foram comentadas, posicionando-se contra ou a favor delas. É isso que esperamos encontrar em palestras espíritas?

O problema não é saber falar bem e com desenvoltura, mas saber construir a palestra em bases teóricas sólidas para libertar consciências dos grilhões da ignorância e incentivar a evolução do ser.

 

Marco Milani é professor universitário e economista, responsável pelo Departamento do Livro, USE Regional, SP.

 

Fonte:
http://educadorespirita1.blogspot.com.br/2013/11/o-puritanismo-impertinente-de-alguns.html

 


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