A seara espírita é um
campo de experiências. Seria ilusão esperar que todos
quantos se engajam no trabalho espírita, nesta ou naquela faixa,por
mais ardoroso que seja o desejo de servir, já estejam completamente
desligados de uns tantos hábitos, contraídos nos ambientes
de onde vieram.
Não. As tendências religiosas de origem,
os cacoetes adquiridos na profissão ou na vida social e os
impulsos do próprio temperamento não se modificam de
um momento para outro.
O fato, portanto de ingressarmos nas fileiras espíritas,
seja pela dor, seja pela reflexão profunda ou por outro motivo,
não significa que tenhamos deixado lá fora todas as
propensões ou, afinal, toda a bagagem que nos acompanha.
Não se diz a toda hora, e é certo, que
o meio espírita é uma escola? Escola pressupõe
aprendizado e melhoramento.
Como a Doutrina Espírita recebe adesões
de pessoas oriundas de todas as classes sociais, assim como de todas
as correntes religiosas e de todos os níveis da escala humana,
as frentes de trabalho no movimento espírita, quer no campo
assistencial, quer no campo doutrinário, medicina, etc., reúnem
elementos muito variados entre si, com temperamentos, concepções
e costumes em tudo e por tudo diferentes.
É natural, até certo ponto, que haja
alguns problemas por falta de entrosamento. Todos, afinal, querem
trabalhar e todos são necessários à realização
da obra comum.
Mas nem todos sempre se identificam nas idéias,
nos modos de conduzir as tarefas, e assim por diante.
Todos - é bom frisar - desejam contribuir com
sua parcela de esforço. E todos devem ter oportunidades de
prestar serviço.
O problema não está propriamente no
fato de haver desigualdades individuais por causa da formação,
estrutura psicológica, educação, cultura, etc.,
mas na falta, às vezes, de tato para contornar as dificuldades
entre grupos heterogêneos e aproveitar bem o que cada qual possa
dar de si a despeito das divergências ou até mesmo de
atritos passageiros.
Nos grupos mais reduzidos, como é o caso de
uma diretoria de 5 ou 6 pessoas, muitas e muitas vezes há incompatibilidades
temperamentais e desentendimentos ocasionais, pois, como ensina a
sabedoria popular, cada cabeça, cada sentença!
Homogeneidade absoluta não é mesmo possível
com um material humano ainda em processo reencarnatório de
melhoramento. Mas é com esse material humano, sujeito aos altos
e baixos da experiência terrena que se realizam as grandes obras.
Se o nosso movimento tivesse de esperar que aparecessem
somente trabalhadores já depurados de seus velhos compromissos
ou sem arestas contundentes - nada teria sido feito até agora.
Há pessoas, no entanto, que ainda não
compreendem a nossa situação e, por isso, de quando
em quando fazem esta pergunta: - Mas existem dessas coisas no meio
espírita? ... E por que não? O meio espírita
não é uma comunidade de anjos, mas de gente de carne
e osso, com os seus defeitos e suas qualidades.
É verdade que certos casos já não
deviam ocorrer em nosso meio. São casos realmente discrepantes,
de projeção, campanhas anônimas, etc., etc...
isso prova que ainda existe muita fraqueza humana do lado de cá,
tanto quanto em outras atividades humanas.
Não esperemos, pois, que haja um ajustamento
perfeito em todos os campos de trabalho espírita, já
que as criaturas humanas são mesmo desiguais.
Entretanto, pela experiência já vivida
e pelo que já se aprendeu na Doutrina até agora, certas
dificuldades, causadas pela incompreensão humana, já
não deveriam ocorrer entre nós. Afinal ninguém
é perfeito, ninguém chega à seara espírita
sem influências do passado, sem alguns prejuízos da educação
ou do ambiente de origem, mas a casa espírita é uma
escola.
Sim, escola onde cada qual deve se esforçar para melhorar.
Afinal de contas, o que estamos fazendo no meio espírita,
se ainda estamos presos às mesmas paixões ou se ainda
estamos presos às mesmas tendências negativas de outrora?
Se, ao cabo de tudo, nada mudou em nossa vida, pois
continuamos com as mesmas idéias, os mesmos sentimentos, os
mesmos hábitos, evidentemente não incorporamos bem os
princípios espíritas ao dinamismo de nossa vivência
cotidiana.
É assunto para reflexões mais
serias.