Leonardo Marmo Moreira
> Yvonne A. Pereira ensina desenvolvimento
mediúnico
Parte 1
Portadora de uma dedicação
ímpar à causa doutrinária, Yvonne A. Pereira
constitui importante exemplo de idealismo espírita. De fato,
além de seu trabalho mediúnico propriamente dito, ou
seja, seu trabalho como médium psicográfica de Espíritos
como Bezerra de Menezes, Léon Denis, Charles, Léon Tolstói,
Camilo Castelo Branco, entre outros, Yvonne elaborou muitos artigos,
enquanto autora espírita encarnada. Tais manuscritos versam
sobre temas doutrinários complexos, sobretudo abordando a área
mediúnica, na qual sua bagagem doutrinária e sua experiência
de médium produtiva proporcionam concretas diretrizes de segurança.
“Cânticos do Coração” é uma
obra pouco divulgada da mediunidade de Yvonne do Amaral Pereira e
constitui uma compilação de artigos promovida pela Editora
do Centro Espírita Léon Denis (CELD). “Cânticos
do Coração” apresenta volumes 1 e 2, e o capítulo
presentemente comentado trata-se justamente do último capítulo
do segundo volume (os capítulos são artigos publicados
pela autora no periódico “Obreiros do Bem”). Trata-se
de uma publicação póstuma feita pela CELD, cuja
primeira edição foi disponibilizada em 1994 (Yvonne
desencarnou em 1984). O capítulo em questão (capítulo
IX) denomina-se "Considerações sobre a Mediunidade".
Yvonne utiliza-se sempre de Kardec como sua principal referência
e desenvolve os temas com base nas experiências mediúnicas
pessoais e em sua bagagem como espírita militante, a qual foi
adquirida por muitos anos de atuação no movimento espírita.
Os esclarecimentos de Yvonne são motivados por perguntas sobre
mediunidade e desenvolvimento mediúnico. As questões
foram dividididas em quatro tópicos. Após a segunda
resposta de Dona Yvonne, também comentamos sobre alguns aspectos
referentes ao desenvolvimento anímico, os quais foram reflexões
obtidas a partir de uma outra notável obra da autora, “Devassando
o Invisível”.
Vejamos os questionamentos e as respostas de Dona Yvonne:
"O Sr. G. S. V., estudioso
dos assuntos espíritas, mandou-nos as seguintes perguntas:
1 - Como ajudar o desenvolvimento prático da mediunidade? 2-
Qual o método de desenvolvimento a médiuns comuns, sem
forçá-los ou condicioná-los às manifestações?
3- Como devemos dirigir esta parte? 4- Qual a forma segura, sem forçar,
que os predisponha a um desenvolvimento natural, sério, tranquilo?
Yvonne: "1- O melhor meio de desenvolver a mediunidade é
não se preocupar com o seu desenvolvimento, mas preparar-se
moral e mentalmente para poder assumir o compromisso de se tornar
médium desenvolvido. Tal preparo, no entanto, não
poderá ser rápido, e, muitas vezes, a faculdade
se apresenta e se define durante o seu decurso. É o método
mais seguro, natural, portanto. Se a mediunidade não
se apresentar assim, espontaneamente, naturalmente, é sinal
de que ainda não está bastante amadurecida para explodir.
(grifos meus)
“Pode-se, entretanto, experimentar,
sentando-se o médium à mesa dos trabalhos, e deixando-o
à vontade. O diretor da mesa, por sua vez, não
deve insistir, pressionando ou constrangendo o pretendente a que dê
passividade, porquanto esse método excita a mente do médium,
que acaba dando passividade a si próprio, com o que
teremos a sugestão, e não a comunicação
mediúnica autêntica.
“Kardec aconselha essa experiência até
seis meses*, e a observação tem provado
que, se há, realmente, alguma faculdade para desenvolver, em
muito menos tempo o caso será resolvido, principalmente
se o médium estiver preparado através do estudo
e da prática do bem (grifos meus
- *Vale frisar que Yvonne faz, indiretamente, menção
ao item 204 de “O Livro dos Médiuns”, pois comenta
sobre o limite de aproximadamente seis (6) meses para testes psicográficos,
conforme preconizado por Kardec).
“Se o pretendente nada sentir nesse período deve,
a rigor, retirar-se da mesa. O contrário será forçar
o dom, com a superveniência de animismo, de auto-sugestão
ou da sugestão do próprio dirigente dos trabalhos sobre
a mente do paciente.
Verifica-se daí uma especie
de hipnose que poderá até mesmo
prejudicar para sempre quando ela realmente se apresentar.
E é o que mais existe hoje em dia nos centros espíritas
onde Allan Kardec é substituído por ideias pessoais
e modismos de outras escolas espíritas, muito infiltrados na
escola kardequiana (grifos meus).
“A mediunidade é faculdade transcendente, sublime,
que não pode suportar métodos inadequados à sua
natureza por assim dizer celeste". Yvonne A. Pereira
A resposta de Yvonne ao primeiro item corrobora a explicação/orientação
de Chico Xavier de que “o telefone toca de lá para cá”.
De fato, Emmanuel comenta em “Caminho, Verdade e Vida”
que, na maioria das vezes em que forçamos nossas aptidões
psíquicas e o seu desenvolvimento para que nos tornemos os
chamados “médiuns de ação” (médiuns
ostensivos com tarefa específica na área mediúnica
dentro da Casa Espírita), os resultados tendem a ser negativos.
Essa baixa produtividade pode ser interpretada tanto em termos de
diminuição do equilíbrio mental e emocional do
candidato à tarefa mediúnica, como no que se refere
à geração de conteúdo duvidoso ou claramente
negativo, doutrinária, moral e espiritualmente. Yvonne afirma
que essa estratégia constitui “...o método
mais seguro, natural”.
Deve-se lembrar que estamos submetidos a um planejamento reencarnatório,
com tarefas gerais e específicas. Este planejamento é
preparado de forma minuciosa pelos mentores espirituais e, frequentemente,
por nós próprios, levando em considerando nossas necessidades
espirituais prementes, compromissos do passado e potencialidades para
o presente e para o futuro. É óbvio que o planejamento
não é absoluto e, dependendo de nosso livre-arbítrio
e consequente desempenho espiritual, pode vir a ser revisado durante
a própria reencarnação. Entretanto, tais mudanças
não são tão corriqueiras assim, pois muitos fatores
devem ser considerados.
As nossas tarefas reencarnatórias normalmente visam a uma mais
intensa e segura evolução, com um menor risco de quedas
morais. Ademais, nem sempre aquilo que desejamos consiste no melhor
para nós ou para a nossa “tarefa reencarnatória”
propriamente considerada. Isso é tão usual, que, nós
mesmos, quando desdobrados parcialmente pelo sono físico, podemos
ter uma opinião diferente a respeito do que realmente desejamos
(em relação às nossas aspirações
quando estamos no período da vigília no corpo material),
em função das ilusões a que nos deixamos levar
quanto inseridos no corpo material, isto é, em estado de coincidência
com o corpo físico (vide Questão 416 de “O Livro
dos Espíritos).
Yvonne: "2- As sessões práticas de desenvolvimento
não são aconselháveis. A observação
tem demonstrado que elas são, em grande maioria, fábricas
de animismo e obsessão, de sugestão e descontrole nervoso,
justamente porque obrigam os participantes a um esforço penoso
ao desenvolvimento. Daí a escassez de médiuns
seguros da sua faculdade (grifos meus).
Médiuns há que ficam um, dois, cinco, dez anos desenvolvendo
as próprias faculdades sem nada conseguirem de autêntico
e útil, perdendo, assim, um tempo precioso, que poderia ser
empregado em outro setor. Mas o certo é que, se em
alguns poucos meses eles não tiverem faculdades desenvolvidas,
não convém que insistam, ou porque não possuam
a faculdade, ou porque foi prejudicada por fatores que convém
sejam observados e estudados... Ao demais, o desenvolvimento completo
de uma faculdade mediúnica leva tempo a se completar,
e requer paciência e dedicação, muito amor e muito
estudo, renovação moral e mental progressivas e, às
vezes, muitas lágrimas e sofrimentos.
"É bom não esquecer que a finalidade da mediunidade
é o intercâmbio entre o ser humano e as entidades espirituais,
dependendo, portanto, de nós mesmos a sua glória ou
o seu fracasso. O desenvolvimento espontâneo, pois,
é um dos segredos da boa mediunidade.
“Há pessoas que parecem demonstrar sintomas de
faculdade a desenvolver, mas são excessivamente nervosas, impressionáveis.
Se experimentam, nada conseguem de plausível. A essas
será prudente, antes de qualquer experiência, um adequado
tratamento médico, assim como passes feitos duas vezes por
semana, pelo menos, com uma assistência de dois a três
médiuns passistas, leituras evangélicas, frequência
às reuniões de estudo e meditação, mas
não a presença em sessões práticas.
“Na maioria dos casos, essas pessoas são mais
doentes psíquicas, necessitados de um tratamento físico-psíquico,
do que verdadeiros médiuns a desenvolver, pois uma das condições
para a mediunidade é a boa saúde do médium.
São pessoas traumatizadas, cuja mente invigilante ou doente
forja o que apresenta, tira de si mesma as comunicações
que dá, e podem ser até histéricas. Quando
se restabelecerem, poderão experimentar, mas é provável
que jamais sejam aparelhos mediúnicos fiéis.
Durante o tratamento, a fim de não perderem tempo, poderão
ser aproveitadas em trabalhos de caridade ao próximo aliados
ao Evangelho (concentração junto ao passista), conforme
o grau de responsabilidade já adquirida, pois tudo isso é
responsabilidade, é compromisso com a Lei de Deus.
“A seara é grande, e há serviço
para todos. A mediunidade é amor, é sacrifício,
é renúncia, é humildade, é cruz pesada,
e não é apenas no seu setor que podemos servir a Deus
e ao próximo" Yvonne A. Pereira
Yvonne demonstra ter encontrado muitas fragilidades e pouca produtividade
nas chamadas “reuniões de desenvolvimento ou educação
mediúnica” vigentes em nosso movimento espírita.
É impressionante constatar a contundência que Yvonne
usa logo no início de sua resposta ao segundo item, afirmando
que “... a observação tem demonstrado que
elas (as sessões práticas de desenvolvimento) são,
em grande maioria, fábricas de animismo e obsessão,
de sugestão e descontrole nervoso...”.
Portanto, a experiente médium enfatiza a necessidade de um
desenvolvimento global do trabalhador espírita, o qual deve
acompanhar, ou até mesmo anteceder ao desenvolvimento mediúnico
propriamente dito.
Vale lembrar de algumas palestras de José Raul Teixeira, tais
como “O Centro Espírita e a Dinâmica do Amor”,
nas quais o expositor de Niterói-RJ explica: “O Centro
Espírita é a Casa que nos tira da loucura! Portanto,
chega de loucura! Se o candidato à mediunidade não puder
assistir a nenhuma outra reunião (que seja exclusivamente de
estudo doutrinário), além da reunião mediúnica,
para que mediunidade? E, por conseguinte, para que reunião
mediúnica?!”
Divaldo Franco também explica na palestra “Encontro com
Dirigentes”, em fevereiro de 1992, no Grupo Espírita
Meimei, que era comum confrades reclamarem que frequentavam, há
muito tempo, o Centro Espírita Caminho da Redenção
(Salvador-BA), sem conseguirem desenvolver a mediunidade (“Eu
frequento há 10 anos e ainda não desenvolvi a mediunidade!”).
Divaldo narra na palestra que sua resposta era: “Se você
frequenta há 10 anos e ainda não desenvolveu a mediunidade
é porque não a tem! Não é porque todo
mundo tem a percepção que tenha que ser médium
atuante (médium ostensivo)”.
Yvonne também acha que um padrão pouco eficiente de
reuniões mediúnicas, segundo ela vigente em nosso movimento
espírita (pelo menos àquela época), estaria associado
a uma escassez de médiuns seguros (“...Daí
a escassez de médiuns seguros da sua faculdade..”).
A médium de “Memórias de um suicida” alerta
para o problema dos candidatos à mediunidade poderem ser pessoas
“...nervosas, impressionáveis...” . Ela afirma
“Se experimentam, nada conseguem de plausível”.
Ela admite que muitos podem ter alguma faculdade mediúnica
significativa, mas sem um conjunto de outros pré-requisitos
não será possível obter resultados minimamente
razoáveis a partir desse tipo de instrumentação
mediúnica.
Yvonne igualmente frisa que o candidato ao trabalho mediúnico
deve estar gozando de boa saúde, física e espiritual,
sendo necessário, quando enfermo, um prévio restabelecimento
da saúde para posterior iniciativa nas reuniões de intercâmbio
espiritual.
Há de se enfatizar que o desenvolvimento mediúnico pressupõe
um desenvolvimento anímico prévio, isto é, um
desenvolvimento pessoal integral, abrangendo as potencialidades parapsíquicas
do próprio candidato ao trabalho mediúnico.
No que se refere ao desenvolvimento moral, especial destaque deve
ser direcionado para uma maior ação na caridade, menor
predisposição ao melindre, mágoas e ressentimentos
e maior inteligência emocional, sobretudo no que se refere à
irritação por motivos irrelevantes e à resiliência
frente às dificuldades inerentes à constante luta da
vida material. No que se relaciona ao desenvolvimento intelectual,
faz-se necessário um maior crescimento cultural, abrangendo
maiores noções de espiritualidade de uma forma geral,
e especificamente um maior aprofundamento doutrinário.
Ademais, se possível, seria interessante uma maior qualidade
linguística, para que os Espíritos comunicadores tenham
mais “ferramentas” para uma expressão com maior
precisão; e uma maior cultura geral, que também será
recurso utilizado para que os Amigos Espirituais possam elaborar construções
mais ricas, e mais fiéis ao “texto original” desses
próprios Espíritos, o qual, muitas vezes, já
estaria previamente elaborado no mundo espiritual.
Referências bibliográficas:
Pereira, Y. A. Cânticos do Coração
– Volume II (Realidades Espíritas). Primeira Edição.
Edições CELD. Rio de Janeiro-RJ, 1994.
Kardec, A. O Livro dos Médiuns [tradução
de Evandro N. Bezerra]. Segunda edição. Federação
Espírita Brasileira (FEB). Brasília-DF. 2021.
Kardec, A. O Livro dos Espíritos [tradução
de Evandro N. Bezerra]. Quarta edição. Federação
Espírita Brasileira (FEB). Brasília-DF. 2021.
Pereira, Y. A. Devassando o Invisível. Primeira
edição especial. Federação Espírita
Brasileira (FEB). Brasília-DF. 2004.
Fonte: http://www.oconsolador.com.br/ano16/812/especial.html?fbclid=IwAR11i_bO2FRVuAkdapJlmG8Az5936ecdgL8YUsO1QuRz-agY6bLjgaOYZM4
Yvonne A. Pereira ensina desenvolvimento mediúnico
- Parte 2 e final
Sobre essa questão a respeito do desenvolvimento pessoal prévio,
por parte do médium, como condição para uma “filtração
mediúnica” de maior qualidade, vale citar novamente outra
notável obra de Yvonne Pereira, que é "Devassando
o Invisível". No capítulo terceiro da referida
obra, intitulado "Frederico Chopin, na Espiritualidade",
o grande compositor Chopin teria pedido para Yvonne estudar um pouco
de teoria musical, pois ele só sabia expressar-se por música.
Dessa forma, se Yvonne detivesse um mínimo de conhecimento
musical, Chopin poderia trazer composições musicais.
No entanto, Yvonne não tinha o referido conhecimento, nem tempo,
dinheiro e/ou disponibilidade para criar tais pré-requisitos.
Além disso, ela sabia que sua contribuição doutrinária
através dos textos propriamente ditos era mais importante.
Logo, esse projeto de Chopin-Espírito acabou sendo deixado
de lado.
Podemos supor que seja através das partituras mais elementares
ou de uma forma mais simples, que Chopin poderia, com muita dificuldade,
trazer as músicas para Yvonne, mas a influência anímica
dela limitaria a qualidade musical de Chopin, a ponto de ele não
poder utilizar seu famoso nome, pois os críticos não
identificariam o extraordinário compositor. Dessa forma, o
que poderia se tornar importante evidência da imortalidade da
alma e da mediunidade acabaria sendo utilizado para desmoralizar o
fenômeno mediúnico, e, por consequência, a própria
imortalidade da alma por parte dos céticos e dos materialistas,
a não ser que ele apenas utilizasse de um pseudônimo.
Todavia, considerando essa última opção, a relevância
do trabalho seria substancialmente diminuída, em termos de
comprovação da sobrevivência da alma à
morte do corpo físico.
Vejamos o que a nobre médium expõe a respeito das questões
3 e 4:
Yvonne: “3- O meio mais prudente
para dirigir esta parte é o seguinte, prática esta estabelecida
nos núcleos espíritas mais esclarecidos e criteriosos:
a) Sessões teóricas
para os candidatos ao desenvolvimento. Estudo indispensável
de “O Livro dos Médiuns” de Allan Kardec, e de
outras obras que auxiliem o esforço para a sintonização
das próprias vibrações com as forças
do alto.
b) Se os candidatos forem portadores de boa moral, boa saúde
e desejo de servir a Deus e ao próximo, se já frequentam
sessões de estudo, aproveitando das instruções
recebidas, do critério da Doutrina e da responsabilidade
assumida, poderão aplicar passes, no próprio
centro ou fora dele, acompanhados de irmãos mais experimentados,
ao iniciarem o mister. Esse é o trabalho da fé e da
coragem, desburocratizado, e nada devemos temer, pois estaremos
assistidos ocultamente pelos mensageiros do Cristo (grifos
meus).
Será erro, porém, supor que, para aplicar
passes, necessitamos receber Espíritos e sermos médiuns
desenvolvidos. Esse método é falso, infiltrações
infelizes de outras correntes de ideias na lúcida Doutrina
dos Espíritos, codificada por Allan Kardec (grifos
meus).
Aplicando passes criteriosamente, no sublime trabalho
da Caridade, com fervor, responsabilidade e amor, o pretendente
será, por certo, assistido pelos mensageiros do bem e, se
possuir outras faculdades, desenvolvê-las-á suavemente,
naturalmente, seguramente, em faixas espirituais protetoras e iluminadas,
sem necessidade de passar por aqueles terríveis períodos
obsessivos provocados pelas sessões de desenvolvimento, forçando
a explosão da faculdade que pode não existir.
Esses são os casos normais (grifos meus).
c) Além dos trabalhos de passes, o candidato poderá
assistir a reuniões práticas ditas “de caridade“(não
para desobsessões), fora da mesa, numa “segunda corrente”.
Que o presidente não se incomode com ele. O dia em que ele,
médium, sentir qualquer anormalidade, sente-se à mesa
e, com certeza, o caso estará resolvido.
Deverá também estudar a Doutrina Espírita
e o Evangelho, diariamente, evitando, porém, o fanatismo
pelas obras mediúnicas e meditando criteriosamente
sobre as clássicas, observando a pesquisa moderna;
orar, suplicar, oferecer seu trabalho a Jesus, aprendendo com ele
a ser bom e humilde de coração e a renunciar, embora
o preparo para as renúncias necessárias à boa
marcha dos trabalhos seja lento, progressivo; e fazer caridade,
também sem fanatismo, antes equilibrada e útil. É
uma renovação moral que se impõe para se conseguir
a boa mediunidade (grifos meus).
O médium, outrossim, não deve nem pode pensar
nos próprios deveres apenas ao se sentar à mesa, mas
a cada hora que viver, pois é uma antena sempre desperta,
que receberá tudo, e que poderá prejudicar-se
e ao seu trabalho mediúnico por muitas formas diferentes,
se se descurar das próprias responsabilidades.
Para os casos de obsessão ou atuações
fortes em médiuns não desenvolvidos não convirá
desenvolvê-los nessa ocasião. Nesse estado
anormal, o médium torna-se um enfermo que necessita tratamento
antes de mais nada. O mais prudente será passar a entidade
para outro médium, conversar com ela a fim de esclarecê-la,
e tratar cautelosamente do médium, inclusive esclarecendo-o
também.
Doutrinar a entidade servindo-se do médium assim
atormentado é prejudicá-lo ainda mais, pois
ele poderá não possuir o critério necessário
a tal empreendimento, nem aguentar a responsabilidade do compromisso;
desenvolver sua faculdade nessa ocasião é
abrir-lhe a possibilidade para novas obsessões.
O trabalho de caridade, qualquer que seja, será recurso salvador
(Yvonne A. Pereira). (grifos meus)
É impressionante a clareza e a objetividade do texto de Yvonne
Pereira. Interessantemente, a sua recomendação para
que os “candidatos à mediunidade” possam considerar
a possibilidade do trabalho dos passes, como preparação
mediúnica, pois, de fato, tal prática, pode ajudar
no chamado “apercebimento fluídico”, seja ele
(o fluido)oriundo de Espíritos superiores ou de Espíritos
inferiores. Também é interessante a recomendação
de Yvonne para que a prática dos passes, sobretudo para esses
iniciantes, seja feita em grupo, principalmente quando for fora
da Casa Espírita.
Yvonne também enfatiza que o passe espírita dispensa
totalmente a chamada “incorporação mediúnica”.
Além disso, é destacado que tal preparação
dos candidatos à mediunidade, antes da frequência ao
desenvolvimento mediúnico propriamente dito, é mais
segura espiritualmente para o médium, pois ocorre “...sem
necessidade de passar por aqueles terríveis períodos
obsessivos provocados pelas sessões de desenvolvimento, forçando
a explosão da faculdade que pode não existir”.
Subsequentemente, Yvonne recomenda que quando os candidatos à
mediunidade e/ou reunião mediúnica, não necessariamente
ostensivos, tiverem condições e passarem a frequentar
a reunião mediúnica, não fiquem necessariamente
em volta da mesa. E ela reforça que o médium “...Deverá
também estudar a Doutrina Espírita e o Evangelho,
diariamente, evitando, porém, o fanatismo pelas
obras mediúnicas e meditando criteriosamente
sobre as clássicas, observando a pesquisa moderna...”.
Caberia a pergunta: Estamos estudando a Doutrina
e o Evangelho diariamente?
Estamos estudando, além de
obras mediúnicas (e vale lembrar que Yvonne era médium
de ação e produzia obras mediúnicas de grande
valor, tais como “Memórias de Um Suicida”), as
ditas “obras clássicas”, tais como os livros
de Léon Denis, Gabriel Delanne, Ernesto Bozzano, entre outros?
Outra questão: estamos “observando
a pesquisa moderna”?
São reflexões que deveriam ser feitas por todos os
dirigentes, doutrinadores, médiuns e espíritas militantes.
Continuando, vejamos a resposta que
nossa admirável espírita fornece ao item 4:
Yvonne: “4- A
psicografia é muito subdividida. Há médiuns
psicógrafos de vários tipos [ver “O
Livro dos Médiuns”, Cap. XVI, item 193]. Não
se pode, portanto, pedir ao psicógrafo aquilo que ele não
poderá dar, pois às vezes, nosso pedido poderá
não corresponder à sua especialidade, e novamente
advir a intromissão do chamado animismo.
Frequentemente, entre médiuns escreventes, poderá
haver o impulso vibratório do braço, mas ele, o médium,
não tem o que escrever porque não possui faculdade
literária. Nesse caso, Kardec aconselha
a fazer perguntas ao seu Guia Espiritual, sempre respeitosas e doutrinárias,
de forma, porém, a provocar respostas amplas, e em nome de
Deus Todo Poderoso.
Se o médium não possui dons literários será
em vão tentar, pois somente obterá produções
medíocres. A literatura autêntica na psicografia é
dom especial, que não se poderá provocar. Em
idênticas condições a poesia: nem
todos os médiuns literários produzirão poesia,
pois este dom é outra especialidade na psicografia
[ver “O Livro dos Médiuns”, Cap. XVI, item 193].
O modo mais seguro, portanto, natural, sem forçar a explosão
da faculdade, é o que aí fica exposto, resultado
de longas observações em torno do caso, dos conselhos
dos Bons Espíritos e das recomendações dos
grandes mestres da Doutrina Espírita.
Convém não esquecer que a mediunidade é
um dom de Deus, com o qual não devemos abusar. Devemos,
sim, tratá-lo com amor e respeito, cultivá-lo com
método, humildade e habilidade, à base do
Evangelho, dele fazer instrumento da Caridade e da Fé.
Útil lembrar que a um médium não será
apenas recomendado que produza belas páginas de literatura,
mas, também, e acima de tudo, que console corações
sofredores, enxugue lágrimas de aflição, socorra
os infelizes, fornecendo-lhes Amor e Esperança, pois para
isso possui ele as credenciais de intermediário entre a Terra
e o Céu (Yvonne A. Pereira)”. (grifos
meus)
Yvonne Pereira comenta sobre os “vários
tipos” de médiuns psicógrafos, implicando
que cada um tem características próprias, as quais
não podem ser negligenciadas por dirigentes e confrades,
quando criamos expectativas sobre o que os mesmos podem produzir
mediunicamente. Yvonne chega a dizer que essa “pressão
excessiva” dos companheiros consiste em fator gerador do fenômeno
anímico.
Yvonne também enfatiza que não basta “ser
médium” para ser um bom psicógrafo: “Se
o médium não possui dons literários será
em vão tentar, pois somente obterá produções
medíocres”. Se aceitarmos esse interessante
e razoável comentário, temos que admitir que Chico
Xavier, Yvonne Pereira e Divaldo Franco podem não ter tido
oportunidade de desfrutarem de muitos anos de escolaridade nessa
última encarnação, mas não foram “indivíduos
propriamente ignorantes” (nem na juventude), como já
vimos alguns indivíduos apregoarem.
Yvonne também reforça que a “mediunidade de
psicografia poeta” é uma especialidade muito peculiar
e difícil de ser obtida. Diz a médium: “Em
idênticas condições a poesia: nem todos os médiuns
literários produzirão poesia, pois este dom é
outra especialidade na psicografia”.
Yvonne comenta que sua discussão sobre o respectivo assunto
era o “resultado de longas observações
em torno do caso, dos conselhos dos Bons Espíritos e das
recomendações dos grandes mestres da Doutrina Espírita”.
Para concluir, nossa admirável confreira afirma: “Convém
não esquecer que a mediunidade é um dom de Deus, com
o qual não devemos abusar”. E ainda acrescenta:
“Devemos, sim, tratá-lo com amor e respeito, cultivá-lo
com método, humildade e habilidade, à
base do Evangelho, dele fazer instrumento da Caridade e da Fé”.
Fica evidente que Yvonne se preocupa com os objetivos e a produtividade
do trabalho mediúnico. Nem sempre identificamos a qualidade
dos produtos desse trabalho em um primeiro momento, mas, após
determinado tempo, poderemos perceber o nível de contribuição
e/ou limitações do esforço mediúnico.
De qualquer maneira, procurando tomar várias medidas preparatórias,
prevendo os problemas e agindo sem pressa, tenderemos a construir
um trabalho mediúnico com uma qualidade mais sólida
e uma mais significativa contribuição ao esforço
espírita.
Concluindo o nosso estudo baseado no último capítulo
de “Cânticos do Coração – volume II”
(Capítulo IX – “Considerações sobre
a Mediunidade”) de Yvonne do Amaral Pereira, transcrevemos o
comentário do admirável escritor espírita Hermínio
C. Miranda. Diz Hermínio a respeito dessa publicação:
“Escritos de Yvonne Pereira
serão sempre bem-vindos. Por isso, saudamos esta coletânea
que, inspiradamente, os companheiros do “Léon Denis”
foram buscar nas esquecidas páginas de “Obreiros do Bem”.
É uma alegria esta visita da querida e devotada trabalhadora,
com a qual poderemos conviver um pouco mais, através dos seus
textos repletos de ensinamentos colhidos em décadas de estudo
e prática da abençoada Doutrina dos Espíritos.
Ela tem o que dizer e o diz com autoridade, competência e sobriedade.”
Referências bibliográficas:
Pereira, Y. A. Cânticos do Coração
– Volume II (Realidades Espíritas). Primeira Edição.
Edições CELD. Rio de Janeiro-RJ, 1994.
Kardec, A. O Livro dos Médiuns [tradução
de Evandro N. Bezerra]. Segunda edição. Federação
Espírita Brasileira (FEB). Brasília-DF. 2021.
Kardec, A. O Livro dos Espíritos [tradução
de Evandro N. Bezerra]. Quarta edição. Federação
Espírita Brasileira (FEB). Brasília-DF. 2021.
Pereira, Y. A. Devassando o Invisível. Primeira
edição especial. Federação Espírita
Brasileira (FEB). Brasília-DF. 2004.
Fonte: http://www.oconsolador.com.br/ano16/813/especial.html?fbclid=IwAR1rRoqziJJQCRl0dUgB8lzpi858PfP-VqMFV2kRtKlSPzak_1q3ajyd7kc
Leiam de Leonardo Marmo Moreira
>
Análise do pensamento paulino à luz do Espiritismo:
Uma avaliação do capítulo doze da Segunda Carta de Paulo
aos Coríntios
>
Controle da Concordância Universal do Ensino dos Espíritos
(CCUEE) após Allan Kardec
> Deus, Espírito e Matéria:
Como podemos entender “O arcanjo começou pelo átomo”?
>
Os estudos reencarnatórios de Hermínio Miranda
e Luciano dos Anjos, baseados em "simetrias históricas", seriam
abordagens científicas
>
Gabriel Delanne e Léon Denis: o Espiritismo após
a morte de Allan Kardec
> Herculano Pires: A Visão
Doutrinária e a Ação no Movimento Espírita
>
"Kardec-Estrito” versus “Espiritualismo permissivo"
>
Kardec ensina obsessão, desobsessão e passes
>
Kardec ensina obsessão, desobsessão e passes
- Parte 02
>
Kardec ensina obsessão, desobsessão e passes
- Parte 03
>
Não existiriam animais no mundo espiritual ?
>
Seriam autênticas as mensagens mediúnicas atribuídas
a Allan Kardec insertas na obra de Léon Denis, O Gênio Céltico
e o Mundo Invísivel?
>
Todos somos, realmente, médiuns?
>
Uma proposta para sondar os ensinos evangélicos
>>
Yvonne A. Pereira ensina desenvolvimento mediúnico
Leiam de Leonardo Marmo Moreira; Alexandre Fontes da Fonseca
>
As Barreiras vibratórias e suas consequências
para a programação reencarnatória
>
Reencarnação e suas evidências científicas:
trabalhos acadêmicos de Erlendur Haraldsson e correlações
doutrinárias
Leiam de Leonardo Marmo Moreira; Edmilson Marmo Moreira
>
Francisco Valdomiro Lorenz: Evidências de Reencarnação
e Fenomenologias Anímica e Mediúnica
>
A Problemática da Prece no Movimento Espírita
e o Capítulo "Coletânea de Preces Espíritas'' de O
Evangelho Segundo o Espiritismo
Leiam de Leonardo Marmo Moreira; Jorge Hessen
>
“Brasil, coração do mundo, pátria
do evangelho”? - Uma análise crítica
topo
|