A perda de um ente querido é
das experiências mais dolorosas. Nossa identidade e senso
de pertencer a um grupo são inseparáveis daqueles
que nos cercam. Quando um deles se vai, deixa um espaço vazio
na rede social que nos dá suporte e cria sensação
de isolamento.
Estar de luto abala a integridade do psiquismo e provoca sintomas
fisiológicos que evoluem com o passar do tempo. Finalmente,
nos últimos anos, a medicina e a psicologia têm procurado
estudá-los. O "New England Journal of Medicine"
traz uma revisão sobre o tema.
O luto tem uma fase aguda que envolve respostas à separação
e ao estresse. É caracterizada por saudades, sentimentos
de perda, tristeza, pensamentos e imagens da pessoa falecida.
Ouvir sua voz, ver e sentir sua presença podem representar
formas de alucinações benignas, sem significado psicopatológico.
Nessa fase, costuma haver confusão a respeito da própria
identidade e de seu papel no ambiente social, tendência a
se afastar das atividades habituais, desesperança e diferentes
graus de apatia.
Os sintomas incluem ansiedade, disforia, raiva e depressão,
associados a alterações fisiológicas: taquicardia,
aumento da pressão arterial, da produção dos
hormônios envolvidos no estresse, distúrbios de sono
e deficiência imunológica.
No período que se segue ao falecimento, aumenta o risco de
infarto do miocárdio, das cardiopatias de estresse, de distúrbios
de humor e ansiedade e também do abuso de drogas, lícitas
ou não.
Vem, em seguida, a fase de adaptação, caracterizada
por alternâncias imprevisíveis entre a aceitação
e as emoções negativas. A intensidade do luto diminui
gradativamente com o passar dos meses, embora os sintomas possam
retornar em momentos de dificuldade ou em ocasiões especiais
--aniversários, Natal.
Pensamentos e comportamentos característicos da falta de
adaptação e desgostos da vida cotidiana podem interromper
os mecanismos adaptativos e provocar uma regressão à
fase aguda.
Quando surgem as complicações classificadas como "distúrbio
de luto prolongado", o quadro persiste por períodos
mais longos do que as normas sociais consideram aceitáveis
e comprometem as atividades diárias.
A prevalência dessa condição na população
mundial é de 2% a 3%.
Essas porcentagens aumentam para 10% a 20% na perda de uma parceria
romântica e atinge os valores mais elevados entre pais que
perderam seus filhos.
A probabilidade também aumenta no caso de mortes súbitas
e diminui quando a perda é de um dos pais, avós ou
de amigos próximos. O grupo mais sujeito ao luto prolongado
é o das mulheres acima de 60 anos.
Estudos neuropsicológicos realizados nesses casos revelam
anormalidades nos neurônios conectados ao sistema de recompensa,
à memória autobiográfica e nas redes que regulam
as emoções e as funções neurocognitivas.
As complicações do luto estão associadas a
distúrbios do sono, abuso de drogas, ideações
suicidas, depressão da imunidade, doenças cardiovasculares
e dificuldade para dar continuidade a tratamentos de outros problemas
de saúde, como hipertensão ou diabetes.
A característica principal é a tristeza profunda e
prolongada, acompanhada de pensamentos insistentes sobre a pessoa
falecida ou imagens dela, raiva, sentimento de culpa, descrédito
e inadequação para aceitar a realidade.
Enquanto alguns procuram evitar situações que lhes
tragam a lembrança da perda, há aqueles que se apegam
às roupas e objetos da pessoa que se foi.
Frustrados por não conseguirem ajudar, amigos e parentes
se afastam, aumentando a sensação de isolamento e
a crença de que a felicidade só era possível
na companhia do ente querido que não está mais neste
mundo.
O tratamento de escolha é a psicoterapia, de preferência
conduzida por especialistas em lidar com situações
de luto, profissionais difíceis de encontrar.
O objetivo é restaurar a autoconfiança do paciente,
o entusiasmo para planejar o futuro e ajudar a pensar na morte sem
evocar culpa, revolta ou ansiedade.
O papel dos antidepressivos é controverso, porque faltam
estudos bem conduzidos. A maioria dos psiquiatras, no entanto, procura
prescrevê-los em conjunto com a psicoterapia. Embora limitada,
a experiência sugere que os resultados são melhores
com a associação.