Deus é vida imortal e nossa
plenitude se explica pela presença de Deus no Universo. Nossa
mente é salva pelo Cristo, que participa da irmandade substancial
para atingir a plenitude de si mesmo no plano moral. Todos os seres
da natureza se salvam, posto que a vida é imortal e nela transcendemos
mediunicamente. Dizemos mediunicamente, pois o Cristo nos ensina a
movermo-nos em espírito, ou seja, a substância divina
movente é intrínseca ao ser. Nela nos perfazemos e nos
iluminamos na alma.
Somos oriundos da mesma fonte, e a
vida espiritual, não só consiste na verdadeira vida,
como atribui-se ao Senhor a eternidade que vive e participa dos entes,
ou seres da criação. Somos Um na alma e o Pai Criador
dignifica aqueles que são salvos pela substância atuante,
mesmo e sobretudo no mundo da matéria. Sem a vida do espírito,
no sentido lato de princípio inteligente, nós renunciaríamos
a ser o que somos, isto é, não seriamos a Verdade em
si mesma, na alma dos homens. Tal é o atributo da Humanidade,
participar e ser do processo criativo em Deus.
Somos todos homens em consecução
de nossos objetivos, mas a vida da alma transcende a vida no tempo
para nos tornarmos eternos, diz Agostinho de Hipona. Sejamos salvos
pelas luzes que vertem do plano espiritual, mas regozigemo-nos diante
da centelha maior que diviniza as criaturas, como fonte excelsa do
Criador.
Nossa alma é salva pelo Cristo.
Nele somos e angariamos luzes, também a partir da reflexão
filosófica, daí a necessidade da filosofia para dignificar
o homem e trazer seu verdadeiro sentido da vida, qual seja, ser fonte
em si mesmo, a partir da essência criadora.
Nossa alma é imortal, e Nele
perfazemos nossa realidade, tornando-nos seres em transubstanciação,
seres dotados de memória infinita, o que permite trazer da
fonte a reflexão filosófica. Por isso nos dignificamos
como deuses, pois a vida em si transcende a vida do Espírito
na matéria, para alçar voos junto ao Eterno. Sejamos
salvos pelas nossas luzes, e regozigemo-nos diante da vida essencial,
que gera a verdade do Criador. Nossa vida transeunte, como a própria
palavra, é parte da evolução, mas a evolução
verdadeira consiste em dobrarmos nosso Espírito, para atingirmos
o eterno dentro de nós, para atendermos o cume da criação.
Sejamos salvos por nossa conduta interior.
Tanto no homem como na natureza, a vida transcende e passa a ser dignificada
pelos homens a partir da concepção filosófica
que, no caso do Espiritismo, se dignifica enquanto vida legítima,
a ultrapassar o mundo fenomênico, ou o mundo das formas. O homem
enternece-se pela luz que o acompanha na matéria, e passa a
trasladar regiões espirituais intangíveis; é
vida na alma por excelência, pois a memória do Criador
é a memória ontológica, ou memória do
Espírito, enquanto ser que é e que permanece em si e
por si.
Não nos indignemo-nos por sermos
homens em transubstanciação, mas alegremo-nos pela memória
eterna que nos habita, que é a memória do Ser, do Pai
Excelso em nossa alma. Sejamos luzes e fontes em si, para que a Verdade
de Deus se mostre, mesmo no mundo das formas, a partir da mais alta
reflexão filosófica, a ideia de Deus na alma.
Astrid Sayegh é filósofa
e coordenadora do Instituto Espírita de Estudos Filosóficos,
em São Paulo.