1. INTRODUÇÃO
Uma das maiores generalizações da ciência biológica
é que todo o organismo vivo tende a variar suas atividades
em resposta à mudança das condições
do ambiente. Quando as circunstâncias externas modificam-se,
os animais procuram adaptar-se à nova situação.
O cão faminto, por exemplo, dirige-se ao lugar em que normalmente
come. Não encontrando o seu alimento, busca outras alternativas
até saciar a sua fome. Por outro lado, os pássaros
deslocam-se de um lugar para outro, a fim de se ajustarem às
condições climáticas. O propósito desta
palestra é estudarmos, em conjunto, a mudança e a
adaptação do comportamento humano. Desta forma, o
nosso trabalho versará sobre os seguintes itens: o conceito
de reflexo, histórico, a contribuição de Pavlov,
a ótica espírita e a mudança comportamental.
2. CONCEITO
Reflexão:
ao incidir sobre uma superfície, a luz se reflete, ficando
porém retida uma parte, cuja energia é absorvida.
A superfície da água pode ou não refletir a
luz de acordo com o seu estado. (Enciclopédia Luso-Brasileira)
Reflexo: - do lat.
reflexu "voltado para trás", "revirado",
"retorcido". Adj. Que se volta sobre si mesmo; reflexivo
(Dicionário Aurélio). Fisiologia: resposta de um órgão
efector (músculo ou glândula), resultado da estimulação
de receptores ou das vias nervosas que lhes correspondem. Será
involuntário e automático. Em outras palavras, reação
involuntária, sensorial ou motora, a um estímulo exterior.
(Enciclopédia Luso-Brasileira)
Reflexos Congênitos
ou Incondicionados: são os chamados protetores,
alimentares, posturais e sexuais, detentores de vias nervosas próprias,
como que hauridos da espécie, seguros e estáveis,
sem necessidade do córtex. (André Luiz, Mecanismos
da Mediunidade, p. 92)
Reflexos Adquiridos ou Condicionados:
respostas conseguidas por estímulos diferentes daqueles que
primitivamente as provocavam, por meio de associação
ao estímulo normal em condições preestabelecidas
para se obter o chamado condicionamento (Enciclopédia Luso-Brasileira).
Em outras palavras, são os que se produzem sob determinadas
condições, independentemente do estímulo direto.
3. HISTÓRICO
3.1. O PROBLEMA DA ORIGINALIDADE
No campo religioso, reportamo-nos ao
clã totêmico; no campo da filosofia, ou dos temas filosóficos,
buscamos Sócrates, Platão e Aristóteles; no
âmbito da medicina, Hipócrates etc. De acordo com Pessoti,
em Pré-História do Condicionamento, "A
noção ou conceito de movimento reflexo ou comportamento
reflexo é, por exemplo, um assunto no qual vários
"pais" da idéia foram proclamados, de acordo com
um conceito de reflexo próprio de cada historiador e fruto
da perspectiva histórica e teórica de análise
em que este se coloca" (1976, p. 1).
Por exemplo, diversos pesquisadores atribuíram a Albrecht
von Haller (1708-1777) a descoberta
de dois fatos revolucionários na fisiologia do movimento:
insensibilidade e irritabilidade.
Na verdade, Haller não descobriu a irritabilidade nem a insensibilidade
mas tentou com incoerência e alguma pressa contestar conhecimentos
solidamente estabelecidos por seus antecessores, servindo-se de
experimentos discutíveis embora numerosos (Pessotti,
1976, p.1).
3.2. DE GALENUS (GALENO) A
RENÉ DESCARTES
A história do reflexo está estreitamente ligada quer
às origens do estudo experimental do comportamento, quer
à formação da fisiologia nervosa. Muitas pesquisas
sobre a gênese da noção de reflexo atribuem
a René Descartes. Há interpretações
controvertidas acerca do papel da fisiologia mecanicista cartesiana
na formação histórica do conceito de reflexo.
A teoria cartesiana é incontestavelmente uma "teoria
mecanicista, mas não é a teoria do reflexo" (Pessotti,
1976, p.16). Galeno (131-200 d. C.)
não se enveredou pelo lado filosófico, mas sim pela
observação sistemática e controlada, o que
foi possível graças à introdução
da técnica da vivissecção.
3.3. DE RENÉ DESCARTES
A THOMAS WILLIS
Os elementos fundamentais da neurofisiologia cartesiana eram: a)
concepção dos "espíritos animais";
b) concepção de nervo; c) processo de condução
do impulso nervoso. Os espíritos animais, para Descartes,
eram o resultado de transformação do sangue aquecido
pelo coração. Para Willis, são produzidos no
encéfalo e mais exatamente no cérebro e cerebelo,
mas não no coração (Pessotti,
1976, p. 20).
3.4. DE THOMAS WILLIS A PAVLOV
Borelli, fundador da escola iatromecanica, cuja explicação
do movimento deve ser procurada nas leis da mecânica e da
matemática, substitui os "espíritos" de
Descartes e de Willis, por um líquido nervoso, succus
nerveus, que corre através das fibras dos nervos. Von
Haller estuda a irritabilidade. Robert Whytt é o primeiro
a falar da ação reflexa em harmonia com os dados experimentais,
Marshall Hall (1790-1857) apresenta
uma rigorosa distinção entre movimentos voluntários
e involuntários, num artigo lido diante da Royal Society,
I. M. Séchenov estuda os reflexos do cérebro e Ivan
Pavlov o condicionamento dos reflexos. (Pessotti,
1976, p. 28 a 122)
4. PAVLOV E OS REFLEXOS CONDICIONADOS
4.1. IVÃ PAVLOV
Nasceu em 1849, ano em que morria um importante especialista da
fisiologia experimental, Filomafitsky (autor da primeira fístula
estomacal), cujo nome está ligado à história
de Pavlov, por causa da abertura do estômago, in vivo.
Pavlov completara quatro anos de idade, quando as idéias
de Marshall Hall sobre a "função reflexa"
eram já de domínio geral entre os fisiologistas. Aos
onze anos, Pavlov era estudante no seminário de Riazan e
em 1861 conheceu os princípios de Pissarov que atacava os
preconceitos relativos à pesquisa científica e às
resistências que se opunham ao desenvolvimento cultural do
país.
O método científico absorvido de Pissarov fê-lo
dar importância à experimentação, passando
a combater toda a forma de preconceito metafísico no estudo
dos processos fisiológicos (Pessotti,
1976, p. 113).
Seus professores são expulsos do país. Tem dificuldade
de arrumar emprego. Por fim é convidado por Botkine, e pode
realizar importantes pesquisas sobre a digestão, que o tornaram
uma personalidade científica de fama internacional: tratava-se
de numerosos trabalhos com os quais aperfeiçoou a técnica
de abrir "fistulas" ou "janelas" para observar
in vivo os processos internos dos animais.
4.2. A TÉCNICA DE PAVLOV
Pavlov, como fisiologista, esteve por muito tempo interessado em
glândulas e suas secreções. Por esta razão
e porque as reações glandulares são facilmente
medidas, as primeiras reações condicionadas são
salivares.
A Experiência de Pavlov foi feita sob rigoroso controle. Pegou
um cão, amarrou-o, isolou-o de muitos barulhos externos,
tais como os da rua e de outros cachorros, a fim de ter o mínimo
de discrepância em sua conclusão. Pavlov sabia que
colocando um pouco de ácido na boca do cão, este emitia
saliva. Por outro, um som qualquer não o fazia emitir. O
seu experimento consistia, então, em colocar o ácido
na boca do cão, ao mesmo que tocava uma campainha. Depois
de várias repetições, deixava de colocar o
ácido e somente com o som da campainha, o cão começava
a salivar. Quis mostrar que o estímulo inicial cessado, o
cão reagia pelo efeito condicionado (Shaffer,
1936, p.56-57).
4.3. APLICAÇÃO EM PROPAGANDA
Os operadores de marketing, aqueles que querem vender os seus produtos,
utilizam o processo de reação condicionada (de compra),
baseado em Pavlov. As condições são: repetição,
intensidade e clareza (ou simplicidade)
dos estímulos. Observe que os anúncios são
cheios de cores, rápidos e repetitivos. Quantas vezes não
vemos uma mesma informação? Ou um mesmo comercial?
Além do mais, os psicólogos sociais observam a questão
do comportamento refletido, que se aproxima do homo aeconomicus
e o comportamento semi-refletido ou irrefletido, que deste se distancia.
(Reynaud, 1967, p. 58 e 59).
5. ESPIRITISMO
5.1. AUTOMATISMO E CORPO ESPIRITUAL
Atividades reflexas do inconsciente: a proposição
de escrever requer todo um aprendizado prévio. Como? Aprender
letra, soletrar, escrever etc. No campo do Espírito é
vestir a matéria densa e desvestir-se. É o processo
de encarnação e desencarnação.
Automatismo e herança: "Se, no círculo
humano, a inteligência é seguida pela razão
e a razão pela responsabilidade, nas linhas da civilização,
sob os signos da cultura, observamos que, na retaguarda do transformismo,
o reflexo precede o instinto, tanto quanto o instinto precede a
atividade refletida que é base da inteligência nos
depósitos do conhecimento" (André
Luiz, Evolução em Dois Mundos, p. 39).
5.2. REFLEXOS PSÍQUICOS
Toda a mente vibra na onda de estímulos e pensamentos em
que se identifica. Nos cães de Pavlov, comer é ato
automático. A carne é hábito adquirido. É
nesses reflexos condicionados da atividade psíquica que principiam
para o homem de pensamentos elementares os processos inconscientes
da conjugação mediúnica, ou seja, emissão
e recepção de ondas. Nesse sentido, conversação,
leitura e filmes representam agentes de indução extremamente
vigorosos (André Luiz, Mecanismos da
Mediunidade, p. 93).
5.3. FENÔMENO HIPNÓTICO E MEDIUNIDADE
Atenção, concentração, meditação
e êxtase são fases para melhoria da passividade mediúnica.
O hipnotismo, o circuito magnético, o circuito mediúnico
são termos que usamos para facilitar a comunicação
mediúnica. Assim sendo, todos somos médiuns, porque
todos somos passíveis de receber as inspirações
do mundo espiritual.
6. ATITUDE E MUDANÇA COMPORTAMENTAL
Atitude é a maneira coerente e peculiar de reagir a determinados
estímulos. Seus componentes são: "pensamentos",
"crenças", "sentimentos ou emoções"
e "tendências para reagir". As atitudes são
aprendidas pelos princípios da "associação,
da "transferência" e da "satisfação
das necessidades".
Por que a mudança de atitude é mais
difícil do que o aprendizado?
É que alteramos o componente pensamento-crença, sem
afetar o sentimento e tendência reativas. Estudos da Psicologia
Social tem mostrado que existe primeiramente dificuldade de persuasão,
principalmente nos crédulos, que dependem do líder
e dificultam a absorção de proposições
alheias. Esses psicólogos verificaram que a estratégia
para mudar um componente da atitude realinha todos os outros componentes
na mesma direção. Quanto maior o tempo que um automatismo
foi recalcado mais difícil é sua mudança. Veja-se
por exemplo, a obsessão que segue varias encarnações.
Como rebentar de uma vez os laços que estão jungidos
por longo tempo.
A CONFIANÇA NO PROFESSOR SOCIAL, afirmam
eles, é extremamente útil para auxiliar nossas mudanças
comportamentais. (Kardec, 1978, p. 4 a 18)
7. CONCLUSÃO
A questão da reformulação de nossas atitudes
é uma questão de profundidade. O que seria a reforma
íntima no contexto dos reflexos condicionados? Seria mudar
as nossas respostas aos velhos estímulos. É como uma
pessoa no trânsito em que costuma responder com um palavrão
ao estímulo de uma fechada. Até que se exercitando
acaba por aceitar a situação, não se ofendendo
com o que aconteceu.