1. INTRODUÇÃO
Onde buscar a origem da idéia
espírita? Ela existe desde toda a eternidade? Está
vinculada ao lançamento de O Livro dos Espíritos?
Ela realmente evoluiu? O Movimento Espírita confirma tal
evolução? Como será o futuro do Espiritismo?
Eis algumas questões relevantes para a reflexão sobre
o progresso do Espiritismo.
2. CONCEITO
Evolução
– A essência do significado do termo evolução
é a de desenrolar, desenvolver, ou desdobrar, designando
assim movimento de natureza metódica que gera novas espécies
de mudanças. Mais especificamente, designa o processo de
mudança através do qual algo novo é produzido
de tal modo contínuo, que a identidade ou individualidade
do objeto original não seja violada.
Idéia –
Representação mental de uma coisa concreta ou abstrata:
imagem.
3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Relacionar o passado, o presente e o futuro é um bom exercício
para se ter uma visão mais acurada do progresso alcançado
pelo Espiritismo. Antes, porém, de nos pormos a caminho,
convém termos em mente o seu conceito, ou seja, o Espiritismo
é uma doutrina que se funda na crença de existência
de Espíritos e nas suas manifestações.
O que se entende por doutrina? Doutrina
é um conjunto de princípios que dá sustentação
a um sistema filosófico, religioso ou científico.
Da palavra doutrina vem o termo doutrinário. Doutrinário,
por seu turno, significa que o adepto de uma doutrina deve seguir
fielmente aquilo que foi estabelecido como norma, como regra, como
preceito.
Allan Kardec, para construir a Doutrina
Espírita, utilizou-se do método teórico
experimental. Nesse sentido, o Espiritismo não tem
dogmas nem rituais. Na verdade, ela é um resumo da fé
raciocinada.
4. DA PRÉ-HISTÓRIA À INVASÃO
ORGANIZADA
O Espiritismo, propriamente dito, existe há 147 anos; a idéia
espírita, desde que o mundo é mundo. Assim sendo,
Allan Kardec afirmou que nada inventara e, que o seu trabalho maior,
fora o de organizar todo o conhecimento espiritual que estava esparso
no seio da humanidade.
4.1. SÓCRATES E PLATÃO
Allan Kardec, no item IV da Introdução de O
Evangelho Segundo o Espiritismo, diz que Sócrates
e Platão são os precursores da idéia cristã
e o do Espiritismo.
Dentre as teses levantadas por estes
dois filósofos, anotamos:
-
Deus
é uma inteligência onipresente,
onisciente, onipotente, absolutamente invisível ao homem.
Deriva a prova da existência de Deus da finalidade do
mundo. A ordem cósmica (o providencial de acontecer)
é obra de um Espírito inteligente e não
do acaso.
-
A alma
participa da natureza divina e é dada por Deus ao homem;
a vida não depende do corpo, depende da alma; através
da união da alma ao corpo, a alma se macula, e só
reconquista sua pureza pela libertação do corpo.
-
Se a alma,
quando penetra o corpo, não busca manter sua pureza,
quando morre o corpo, não retornará ao mundo das
idéias, mas estará sujeita à transmigração
para outro corpo de homem ou animal (metempsicose), segundo
as predileções que tenha manifestado.
-
A justiça
é um dos requisitos essenciais para a harmonia do ser
e, por conseguinte, para a felicidade. Quem pratica uma injustiça
deve ser punido e a pena, a expiação, é
a purificação (catharsis), ou seja, a libertação
do mal anterior.
-
A riqueza
é um grande perigo. Todo homem que ama a riqueza não
ama nem a si, nem o que está em si. O apego aos bens
materiais é perda da alma.
-
Ainda: “É
pelos frutos que se reconhece a árvore”;
“A virtude não se pode ensinar; ela vem por um
dom de Deus àqueles que a possuem”; “É
uma disposição natural, em cada um de nós,
aperceber-se bem menos dos nossos defeitos que dos de outrem”.
Situando a mediunidade em termos
dos horizontes alcançados pela humanidade — em cada
etapa de seu desenvolvimento — Herculano Pires, valendo-se
das pesquisas científicas de Bozzano, John Murphy e outros,
oferece-nos valiosas informações que são úteis
de serem lembradas.
Assim:
No horizonte
tribal imperava o mediunismo primitivo.
Falavam de uma força misteriosa que impregna ou imanta objetos
e coisas, podendo atuar sobre as criaturas humanas. São as
forças conhecidas pelos nomes polinésicos de "mana"
e "orenda".
No horizonte agrícola, o animismo
e culto aos ancestrais. Nessas primeiras formas
sedentárias de vida social, o animismo tribal desenvolve-se
no nível da racionalização, principalmente
através da concepção fetichista da Terra-mãe
e Céu-Pai.
No horizonte civilizado, o mediunismo oracular.
O oráculo é às vezes a própria divindade,
outras vezes a resposta dada às consultas, o santuário
ou templo, o médium que atende aos consulentes, ou o local
de consultas.
No horizonte profético,
o mediunismo bíblico. Esse horizonte caracteriza-se
pelo mundo da individualização. O profeta apresenta-se
como indivíduo social, mediúnico e espiritual.
No horizonte espiritual,
a mediunidade positiva. É nessa fase que
se observa uma transcendência humana. A mediunidade torna-se
um fato de observação e de estudo de todos os que
se interessarem pelo problema. (Pires,
1979, p. 15 a 65)
4.3. REVELAÇÕES
Até a época da codificação
– a terceira revelação –, a humanidade
já havia recebido duas revelações:
Moisés e
os dez mandamentos;
Jesus e a lei do Amor.
Com Moisés aprendemos a lei de justiça, aquela do
olho por olho e dente por dente; com Jesus, aprendemos a lei do
amor, aquela que ultrapassa todo e qualquer rancor que se deva ter
para com o semelhante. O Espiritismo veio complementar e elucidar
esses ensinamentos, dando-lhes uma interpretação mais
racional e mais de acordo com os nossos dias.
5. DA CODIFICAÇÃO AOS DIAS
ATUAIS
5.1. EPISÓDIO DE HYDESVILLE (31/03/1848)
Em termos de destaque, no cenário
público internacional, este fenômeno (raps) foi o que
mais chamou a atenção. Observe que uma família
metodista havia se mudado para uma casa, onde se falava muito de
acontecimentos sobrenaturais. Realmente, por algum tempo eles presenciavam
muito barulho, sem causa aparente. Tudo caminhava nesse ritmo quando,
num certo dia, as filhas do casal, Kate e Margaret Fox, resolveram
responder às pancadas.
Sua mãe relata o ocorrido
nestes termos:
"Minha filha menor, Kate, disse,
batendo palmas: "Sr. Pé-Rachado, faça o que eu
faço". Imediatamente seguiu-se o som, com o mesmo número
de palmadas. Quando ela parou, o som logo parou. Então Margaret
disse brincando: "Agora faça exatamente como eu. Conte
um, dois, três, quatro" e bateu palmas. Então
os ruídos se produziram como antes. Ela teve medo de repetir
o ensaio. Então Kate disse, na sua simplicidade infantil:
"Oh! Mamãe! eu já seio o que é. Amanhã
é primeiro de abril e alguém quer nos pregar uma mentira".
Então pensei em fazer um
teste de que ninguém seria capaz de responder. Pedi que fossem
indicadas as idades de meus filhos, sucessivamente. Instantaneamente
foi dada a idade exata de cada um, fazendo pausa de um para o outro,
a fim de os separar até o sétimo, depois do que fez
uma pausa maior e três batidas mais foram dadas, correspondendo
à idade do menor, que havia morrido". (Doyle,
s.d.p., p. 77 e 78)
Depois disso, continuou o diálogo
até descobrir que o Espírito comunicante era Charles
B. Rosma, um caixeiro viajante morto e enterrado na adega.
5.2. O SURGIMENTO DO ESPIRITISMO
O fato mediúnico marcante, após o episódio
de Hydesville, é o fenômeno das mesas girantes,
que assolou os Estados Unidos e a Europa, servindo de brincadeiras
de salão, quando as mesas dançavam, escreviam, batiam
o pé e até falavam. É dentro desse contexto
que surge a Doutrina Espírita.
Das brincadeiras de salão,
surge Hypollyte Leon Denizard Rivail — Allan Kardec
—, um estudioso do magnetismo e do método teórico
experimental em ciência. O magnetismo já vinha sendo
estudado há algum tempo. Historicamente, Mesmer
descobre, em 1779, o magnetismo animal, Puysegur,
em 1787, o sonambulismo e Braid, em 1841, o hipnotismo.
Havendo uma disseminação
muito grande dos fenômenos das mesas girantes, Kardec, ainda
Hipollyte, foi convidado para assistir a uma dessas sessões,
pois o seu amigo Fortier, magnetizador, dissera que além
da mesa mover-se ela também falava. É aí que
entra o gênio inquiridor do pesquisador teórico experimental.
Assim, retruca: só se a mesa tiver cérebro para pensar
e nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula. A partir
daí, começa a freqüentar essas sessões,
culminando, mais tarde, com a publicação de O
Livro dos Espíritos, em 18/04/1857.
Kardec explica, em A Gênese,
capítulo primeiro, porque o Espiritismo só poderia
surgir em meados do século dezenove, depois de longa fermentação
dos princípios cristãos da Idade Média e do
desenvolvimento das ciências na Renascença. Escreveu:
"O Espiritismo, tendo por objeto o estudo de um dos elementos
constitutivos do Universo, toca forçosamente na maioria das
ciências. Só poderia, pois, aparecer, depois da elaboração
delas. Nasceu pela força mesma das coisas, pela impossibilidade
de tudo explicar-se apenas pelas leis da matéria."
5.3. A IDÉIA
ESPÍRITA DEVE SER EXTRAÍDA DAS OBRAS DA CODIFICAÇÃO
A Doutrina Espírita deve ser
conhecida através do estudo das Obras Básicas e das
Complementares. As Obras Básicas, também,
cognominadas de Pentauteco Espírita, compõem-se dos
seguintes livros : O Livro dos Espíritos
(1857), O Livro dos Médiuns - ou Guia dos
Médiuns e dos Doutrinadores (1861), O Evangelho Segundo
o Espiritismo (1864), O Céu e o Inferno
- ou Justiça Divina Segundo o Espiritismo (1865) e A
Gênese - os Milagres e as Predições
Segundo o Espiritismo (1868). As Obras Complementares,
que dão extensão às Obras Básicas, são
de cunho mediúnico e não mediúnico. Entre as
não mediúnicas, citam-se os escritos de Gabriel Delanne,
Leon Denis, Camile Flammarion, J. Herculano Pires, Edgar Armond
e outros. Entre as obras mediúnicas, estão os livros
psicografados por Francisco Cândido Xavier, Divaldo Pereira
Franco e outros.
A Revista Espírita, jornal
de estudos psicológicos, em fascículos mensais, redigidos
e publicados pelo próprio Kardec é uma fonte valiosa
de informações para a edificação da
idéia espírita. A coleção completa consta
de 12 volumes, resultantes de onze anos e quatro meses de trabalho
intensivo. Ela mostra toda a história do Espiritismo, em
seu processo de desenvolvimento e propagação. De modo
geral, a Revista Espírita contém:
a) relato de manifestações físicas
e inteligentes de Espíritos, tais como aparições,
ruídos, batidas, materializações, evocações
etc.
b) o ensino dos Espíritos sobre as coisas
do mundo visível e invisível, sobre as ciências,
a moral, a imortalidade da alma, a natureza do homem e seu futuro
etc.
c) a história do Espiritismo, suas relações
com outras ciências, com o magnetismo, com o sonambulismo
etc.
6. O FUTURO DO ESPIRITISMO
O verdadeiro Espiritismo ainda não é para os nossos
dias. Estamos apenas dando os primeiros passos na compreensão
da sua filosofia e das conseqüências morais que daí
dimanam.
6.1. O FENÔMENO MEDIÚNICO
Confunde-se ainda o fenômeno mediúnico com o Espiritismo.
No futuro, porém, o fenômeno mediúnico deverá
ceder espaço ao estudo doutrinário. As batidas, o
deslocamento de objetos, as aparições e as materializações
de Espíritos, como forma de nos chamar a atenção,
serão menos intensiva.
Por outro lado, a comunicação mediúnica
entre encarnados e desencarnados deverá se ampliar, porque
o ser humano, mais esclarecido e mais evoluído, manterá
um contato mais direto com os Espíritos superiores.
6.2. A FILOSOFIA ESPÍRITA
Como a base do Espiritismo é a reformulação
do pensamento, o aspecto filosófico será o setor que
mais se desenvolverá, pois a apreensão do conhecimento
é ilimitada. Façamos uma comparação:
será que o ser humano é capaz de acompanhar todos
os avanços da informática? Não. O mesmo se
pode dizer do raciocínio espírita. Este deve ser cada
vez mais depurado, a fim de que o conteúdo doutrinário
seja sempre transmitido de forma lógica e coerente.
Lembrete: os Espíritos superiores não
necessitam de muitas palavras para expressar os seus pensamentos.
6.3. A EVANGELIZAÇÃO DA
HUMANIDADE SERÁ A META MAIOR
O Evangelho de Jesus retomará definitivamente o seu significado
original, ou seja, o ser humano praticará a Lei da Justiça,
do Amor e da Caridade sem nenhuma ostentação, sem
nenhum interesse. A Boa Nova do Cristo será a bússola,
o farol que nos conduzirá na senda do bem. A sedimentação
desses ensinamentos em nossas entranhas converter-nos-á totalmente
ao bem. É possível até que nem mais precisemos
estudá-lo, porque as máximas morais já farão
parte de nossa individualidade.
7. CONCLUSÃO
O Espiritismo tem que atender a todo o tipo de necessidade, tanto
a dos mais pobres como a dos mais ricos. Sejamos, pois, os arautos
do Senhor. Empreguemos todos os nossos recursos pessoais na edificação
do reino de Deus em nossos corações e nos daqueles
que nos cercam.
8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
DOYLE, A. C. História
do Espiritismo. São Paulo: Pensamento, [s.d.p.]
KARDEC, A. A Gênese - Os Milagres
e as Predições Segundo o Espiritismo. 17.
ed. Rio de Janeiro: FEB, 1975.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
39. ed. São Paulo: IDE, 1984.
PIRES, J. H. O Espírito e
o Tempo - Introdução Antropológica do Espiritismo.
3. Ed. São Paulo: Edicel, 1979.
O FUTURO DO ESPIRITISMO
Allan Kardec, na Revista Espírita de 1863,
dissera que o desenvolvimento da Doutrina Espírita se processaria
em 6 períodos: 1) curiosidade; 2) filosófico; 3) luta;
4) religioso; 5) intermediário; 6) renovação
social. O período de curiosidade caracterizou-se pelos fenômenos
das mesas girantes. O período filosófico coincidiu
com o lançamento de O Livro dos Espíritos (18/04/1857).
O período de luta identificou-se com o auto-de-fé
de Barcelona (1860), em que os livros espíritas foram queimados
em praça pública. Não houve explicação
para o período intermediário. O período
de renovação social preconizava a mudança
de hábitos e atitudes de toda a humanidade.
Pelo que se depreende dos períodos analisados, o futuro do
Espiritismo está vinculado à renovação
social. Por que? Porque o Espiritismo, sendo uma crença
UNIVERSAL, conterá toda a verdade. Quer dizer, chegará
um momento em que as instituições sociais (Direito,
organizações estatais e empresas de um modo geral)
receberão a influência dos Espíritos superiores
e mudarão completamente o relacionamento entre os superiores
e os inferiores. Todos serão tratados como seres humanos,
não importando a posição social que desempenham.
A idéia espírita, que existe desde
que o homem teve a inteligência, deverá prevalecer
no seio da sociedade. Uma forma de visualizá-la é
compará-la à luz. Observe que a luz caminha, sem ruído,
na escuridão e nas sombras. Ela vai iluminando todo o lugar
por onde passa. Não há alarido, nem barulho estridente.
O mesmo deve acontecer com a idéia espírita. Não
há necessidade de buscar prosélitos, sair à
praça pública, persuadir este ou aquele para deixe
a sua religião e freqüente o Espiritismo. Cada um vai
tomando consciência do fato e, naturalmente, seu pensamento
se dirigirá para a causa espírita.
Vejamos a lógica da idéia espírita.
Quando a humanidade se conscientizar da lei de causa e efeito,
ou seja, que toda a causa provoca um efeito ou que todo o efeito
é proveniente de uma causa, todos nós estaremos cerceando
os nossos gestos menos felizes. Suponha um criminoso, que tenha
recebido a influência do Espiritismo. Possivelmente, no justo
momento em que ele estiver preste a cometer um delito e, temendo
sofrer as conseqüências na vida futura, poderá
recuar e evitar o crime.
Ao analisar a Lei do Progresso, os Espíritos
informam-nos de que o Espiritismo será uma crença
comum e marcará uma nova era na História da Humanidade,
porque pertence à Natureza e chegou o tempo em que deve tomar
lugar nos conhecimentos humanos. Assim sendo, é preciso saber
esperar o momento oportuno para tal transformação,
pois as idéias novas não são aceitas incontinenti.
Os espíritas deveriam proceder como o semeador que, depois
de jogar a semente na terra, cuida de seu crescimento, esperando
o momento certo para colher os frutos.
O futuro do Espiritismo depende do que
os espíritas estão fazendo no presente. Sendo
assim, procuremos nos regozijar sempre, quer estejamos alegres ou
tristes, pois criaremos um clima de muita paz e harmonia em volta
de nós mesmos.