Sérgio Biagi Gregório

>   Evolução da Idéia Espírita

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Sérgio Biagi Gregório
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SUMÁRIO:

1. Introdução.
2. Conceito.
3. Considerações Iniciais.
4. Da Pré-história à Invasão Organizada:
4.1. Sócrates e Platão;
4.2. Horizontes Mediúnicos;
4.3. Revelações.

5. Da Codificação aos Dias Atuais:
5.1. Episódio de Hydesville (31/03/1848);
5.2. O Surgimento do Espiritismo;
5.3. A Idéia Espírita Deve Ser Extraída das Obras da Codificação.

6. O Futuro do Espiritismo:
6.1. O Fenômeno Mediúnico;
6.2. A Filosofia Espírita;
6.3. A Evangelização da Humanidade Será a Meta Maior.

7. Conclusão.
8. Bibliografia Consultada.

 


1. INTRODUÇÃO

Onde buscar a origem da idéia espírita? Ela existe desde toda a eternidade? Está vinculada ao lançamento de O Livro dos Espíritos? Ela realmente evoluiu? O Movimento Espírita confirma tal evolução? Como será o futuro do Espiritismo? Eis algumas questões relevantes para a reflexão sobre o progresso do Espiritismo.

2. CONCEITO

Evolução – A essência do significado do termo evolução é a de desenrolar, desenvolver, ou desdobrar, designando assim movimento de natureza metódica que gera novas espécies de mudanças. Mais especificamente, designa o processo de mudança através do qual algo novo é produzido de tal modo contínuo, que a identidade ou individualidade do objeto original não seja violada.

Idéia – Representação mental de uma coisa concreta ou abstrata: imagem.


3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Relacionar o passado, o presente e o futuro é um bom exercício para se ter uma visão mais acurada do progresso alcançado pelo Espiritismo. Antes, porém, de nos pormos a caminho, convém termos em mente o seu conceito, ou seja, o Espiritismo é uma doutrina que se funda na crença de existência de Espíritos e nas suas manifestações.

O que se entende por doutrina? Doutrina é um conjunto de princípios que dá sustentação a um sistema filosófico, religioso ou científico. Da palavra doutrina vem o termo doutrinário. Doutrinário, por seu turno, significa que o adepto de uma doutrina deve seguir fielmente aquilo que foi estabelecido como norma, como regra, como preceito.

Allan Kardec, para construir a Doutrina Espírita, utilizou-se do método teórico experimental. Nesse sentido, o Espiritismo não tem dogmas nem rituais. Na verdade, ela é um resumo da fé raciocinada.


4. DA PRÉ-HISTÓRIA À INVASÃO ORGANIZADA

O Espiritismo, propriamente dito, existe há 147 anos; a idéia espírita, desde que o mundo é mundo. Assim sendo, Allan Kardec afirmou que nada inventara e, que o seu trabalho maior, fora o de organizar todo o conhecimento espiritual que estava esparso no seio da humanidade.


4.1. SÓCRATES E PLATÃO

Allan Kardec, no item IV da Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, diz que Sócrates e Platão são os precursores da idéia cristã e o do Espiritismo.

Dentre as teses levantadas por estes dois filósofos, anotamos:

  •  Deus é uma inteligência onipresente, onisciente, onipotente, absolutamente invisível ao homem. Deriva a prova da existência de Deus da finalidade do mundo. A ordem cósmica (o providencial de acontecer) é obra de um Espírito inteligente e não do acaso.
  •  A alma participa da natureza divina e é dada por Deus ao homem; a vida não depende do corpo, depende da alma; através da união da alma ao corpo, a alma se macula, e só reconquista sua pureza pela libertação do corpo.
  •  Se a alma, quando penetra o corpo, não busca manter sua pureza, quando morre o corpo, não retornará ao mundo das idéias, mas estará sujeita à transmigração para outro corpo de homem ou animal (metempsicose), segundo as predileções que tenha manifestado.
  •  A justiça é um dos requisitos essenciais para a harmonia do ser e, por conseguinte, para a felicidade. Quem pratica uma injustiça deve ser punido e a pena, a expiação, é a purificação (catharsis), ou seja, a libertação do mal anterior.
  •  A riqueza é um grande perigo. Todo homem que ama a riqueza não ama nem a si, nem o que está em si. O apego aos bens materiais é perda da alma.
  •  Ainda: “É pelos frutos que se reconhece a árvore”; “A virtude não se pode ensinar; ela vem por um dom de Deus àqueles que a possuem”; “É uma disposição natural, em cada um de nós, aperceber-se bem menos dos nossos defeitos que dos de outrem”.
     

4.2. HORIZONTES MEDIÚNICOS

Situando a mediunidade em termos dos horizontes alcançados pela humanidade — em cada etapa de seu desenvolvimento — Herculano Pires, valendo-se das pesquisas científicas de Bozzano, John Murphy e outros, oferece-nos valiosas informações que são úteis de serem lembradas.
Assim:

 No horizonte tribal imperava o mediunismo primitivo. Falavam de uma força misteriosa que impregna ou imanta objetos e coisas, podendo atuar sobre as criaturas humanas. São as forças conhecidas pelos nomes polinésicos de "mana" e "orenda".

No horizonte agrícola, o animismo e culto aos ancestrais. Nessas primeiras formas sedentárias de vida social, o animismo tribal desenvolve-se no nível da racionalização, principalmente através da concepção fetichista da Terra-mãe e Céu-Pai.

No horizonte civilizado, o mediunismo oracular. O oráculo é às vezes a própria divindade, outras vezes a resposta dada às consultas, o santuário ou templo, o médium que atende aos consulentes, ou o local de consultas.

No horizonte profético, o mediunismo bíblico. Esse horizonte caracteriza-se pelo mundo da individualização. O profeta apresenta-se como indivíduo social, mediúnico e espiritual.

No horizonte espiritual, a mediunidade positiva. É nessa fase que se observa uma transcendência humana. A mediunidade torna-se um fato de observação e de estudo de todos os que se interessarem pelo problema. (Pires, 1979, p. 15 a 65)


4.3. REVELAÇÕES

Até a época da codificação – a terceira revelação –, a humanidade já havia recebido duas revelações:

Moisés e os dez mandamentos;
Jesus e a lei do Amor.

Com Moisés aprendemos a lei de justiça, aquela do olho por olho e dente por dente; com Jesus, aprendemos a lei do amor, aquela que ultrapassa todo e qualquer rancor que se deva ter para com o semelhante. O Espiritismo veio complementar e elucidar esses ensinamentos, dando-lhes uma interpretação mais racional e mais de acordo com os nossos dias.


5. DA CODIFICAÇÃO AOS DIAS ATUAIS
 
5.1. EPISÓDIO DE HYDESVILLE (31/03/1848)

Em termos de destaque, no cenário público internacional, este fenômeno (raps) foi o que mais chamou a atenção. Observe que uma família metodista havia se mudado para uma casa, onde se falava muito de acontecimentos sobrenaturais. Realmente, por algum tempo eles presenciavam muito barulho, sem causa aparente. Tudo caminhava nesse ritmo quando, num certo dia, as filhas do casal, Kate e Margaret Fox, resolveram responder às pancadas.

Sua mãe relata o ocorrido nestes termos:

"Minha filha menor, Kate, disse, batendo palmas: "Sr. Pé-Rachado, faça o que eu faço". Imediatamente seguiu-se o som, com o mesmo número de palmadas. Quando ela parou, o som logo parou. Então Margaret disse brincando: "Agora faça exatamente como eu. Conte um, dois, três, quatro" e bateu palmas. Então os ruídos se produziram como antes. Ela teve medo de repetir o ensaio. Então Kate disse, na sua simplicidade infantil: "Oh! Mamãe! eu já seio o que é. Amanhã é primeiro de abril e alguém quer nos pregar uma mentira".

Então pensei em fazer um teste de que ninguém seria capaz de responder. Pedi que fossem indicadas as idades de meus filhos, sucessivamente. Instantaneamente foi dada a idade exata de cada um, fazendo pausa de um para o outro, a fim de os separar até o sétimo, depois do que fez uma pausa maior e três batidas mais foram dadas, correspondendo à idade do menor, que havia morrido". (Doyle, s.d.p., p. 77 e 78)

Depois disso, continuou o diálogo até descobrir que o Espírito comunicante era Charles B. Rosma, um caixeiro viajante morto e enterrado na adega.


5.2. O SURGIMENTO DO ESPIRITISMO

O fato mediúnico marcante, após o episódio de Hydesville, é o fenômeno das mesas girantes, que assolou os Estados Unidos e a Europa, servindo de brincadeiras de salão, quando as mesas dançavam, escreviam, batiam o pé e até falavam. É dentro desse contexto que surge a Doutrina Espírita.

Das brincadeiras de salão, surge Hypollyte Leon Denizard Rivail — Allan Kardec —, um estudioso do magnetismo e do método teórico experimental em ciência. O magnetismo já vinha sendo estudado há algum tempo. Historicamente, Mesmer descobre, em 1779, o magnetismo animal, Puysegur, em 1787, o sonambulismo e Braid, em 1841, o hipnotismo.

Havendo uma disseminação muito grande dos fenômenos das mesas girantes, Kardec, ainda Hipollyte, foi convidado para assistir a uma dessas sessões, pois o seu amigo Fortier, magnetizador, dissera que além da mesa mover-se ela também falava. É aí que entra o gênio inquiridor do pesquisador teórico experimental. Assim, retruca: só se a mesa tiver cérebro para pensar e nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula. A partir daí, começa a freqüentar essas sessões, culminando, mais tarde, com a publicação de O Livro dos Espíritos, em 18/04/1857.

Kardec explica, em A Gênese, capítulo primeiro, porque o Espiritismo só poderia surgir em meados do século dezenove, depois de longa fermentação dos princípios cristãos da Idade Média e do desenvolvimento das ciências na Renascença. Escreveu: "O Espiritismo, tendo por objeto o estudo de um dos elementos constitutivos do Universo, toca forçosamente na maioria das ciências. Só poderia, pois, aparecer, depois da elaboração delas. Nasceu pela força mesma das coisas, pela impossibilidade de tudo explicar-se apenas pelas leis da matéria."

5.3. A IDÉIA ESPÍRITA DEVE SER EXTRAÍDA DAS OBRAS DA CODIFICAÇÃO

A Doutrina Espírita deve ser conhecida através do estudo das Obras Básicas e das Complementares. As Obras Básicas, também, cognominadas de Pentauteco Espírita, compõem-se dos seguintes livros : O Livro dos Espíritos (1857), O Livro dos Médiuns - ou Guia dos Médiuns e dos Doutrinadores (1861), O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864), O Céu e o Inferno - ou Justiça Divina Segundo o Espiritismo (1865) e A Gênese - os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo (1868). As Obras Complementares, que dão extensão às Obras Básicas, são de cunho mediúnico e não mediúnico. Entre as não mediúnicas, citam-se os escritos de Gabriel Delanne, Leon Denis, Camile Flammarion, J. Herculano Pires, Edgar Armond e outros. Entre as obras mediúnicas, estão os livros psicografados por Francisco Cândido Xavier, Divaldo Pereira Franco e outros.

A Revista Espírita, jornal de estudos psicológicos, em fascículos mensais, redigidos e publicados pelo próprio Kardec é uma fonte valiosa de informações para a edificação da idéia espírita. A coleção completa consta de 12 volumes, resultantes de onze anos e quatro meses de trabalho intensivo. Ela mostra toda a história do Espiritismo, em seu processo de desenvolvimento e propagação. De modo geral, a Revista Espírita contém:

a) relato de manifestações físicas e inteligentes de Espíritos, tais como aparições, ruídos, batidas, materializações, evocações etc.

b) o ensino dos Espíritos sobre as coisas do mundo visível e invisível, sobre as ciências, a moral, a imortalidade da alma, a natureza do homem e seu futuro etc.

c) a história do Espiritismo, suas relações com outras ciências, com o magnetismo, com o sonambulismo etc.


6. O FUTURO DO ESPIRITISMO

O verdadeiro Espiritismo ainda não é para os nossos dias. Estamos apenas dando os primeiros passos na compreensão da sua filosofia e das conseqüências morais que daí dimanam.


6.1. O FENÔMENO MEDIÚNICO

Confunde-se ainda o fenômeno mediúnico com o Espiritismo. No futuro, porém, o fenômeno mediúnico deverá ceder espaço ao estudo doutrinário. As batidas, o deslocamento de objetos, as aparições e as materializações de Espíritos, como forma de nos chamar a atenção, serão menos intensiva.

Por outro lado, a comunicação mediúnica entre encarnados e desencarnados deverá se ampliar, porque o ser humano, mais esclarecido e mais evoluído, manterá um contato mais direto com os Espíritos superiores.


6.2. A FILOSOFIA ESPÍRITA

Como a base do Espiritismo é a reformulação do pensamento, o aspecto filosófico será o setor que mais se desenvolverá, pois a apreensão do conhecimento é ilimitada. Façamos uma comparação: será que o ser humano é capaz de acompanhar todos os avanços da informática? Não. O mesmo se pode dizer do raciocínio espírita. Este deve ser cada vez mais depurado, a fim de que o conteúdo doutrinário seja sempre transmitido de forma lógica e coerente.

Lembrete: os Espíritos superiores não necessitam de muitas palavras para expressar os seus pensamentos.


6.3. A EVANGELIZAÇÃO DA HUMANIDADE SERÁ A META MAIOR

O Evangelho de Jesus retomará definitivamente o seu significado original, ou seja, o ser humano praticará a Lei da Justiça, do Amor e da Caridade sem nenhuma ostentação, sem nenhum interesse. A Boa Nova do Cristo será a bússola, o farol que nos conduzirá na senda do bem. A sedimentação desses ensinamentos em nossas entranhas converter-nos-á totalmente ao bem. É possível até que nem mais precisemos estudá-lo, porque as máximas morais já farão parte de nossa individualidade.


7. CONCLUSÃO

O Espiritismo tem que atender a todo o tipo de necessidade, tanto a dos mais pobres como a dos mais ricos. Sejamos, pois, os arautos do Senhor. Empreguemos todos os nossos recursos pessoais na edificação do reino de Deus em nossos corações e nos daqueles que nos cercam.


8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

DOYLE, A. C. História do Espiritismo. São Paulo: Pensamento, [s.d.p.]

KARDEC, A. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. 17. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1975.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.

PIRES, J. H. O Espírito e o Tempo - Introdução Antropológica do Espiritismo. 3. Ed. São Paulo: Edicel, 1979.


O FUTURO DO ESPIRITISMO

Allan Kardec, na Revista Espírita de 1863, dissera que o desenvolvimento da Doutrina Espírita se processaria em 6 períodos: 1) curiosidade; 2) filosófico; 3) luta; 4) religioso; 5) intermediário; 6) renovação social. O período de curiosidade caracterizou-se pelos fenômenos das mesas girantes. O período filosófico coincidiu com o lançamento de O Livro dos Espíritos (18/04/1857). O período de luta identificou-se com o auto-de-fé de Barcelona (1860), em que os livros espíritas foram queimados em praça pública. Não houve explicação para o período intermediário. O período de renovação social preconizava a mudança de hábitos e atitudes de toda a humanidade.

Pelo que se depreende dos períodos analisados, o futuro do Espiritismo está vinculado à renovação social. Por que? Porque o Espiritismo, sendo uma crença UNIVERSAL, conterá toda a verdade. Quer dizer, chegará um momento em que as instituições sociais (Direito, organizações estatais e empresas de um modo geral) receberão a influência dos Espíritos superiores e mudarão completamente o relacionamento entre os superiores e os inferiores. Todos serão tratados como seres humanos, não importando a posição social que desempenham.

A idéia espírita, que existe desde que o homem teve a inteligência, deverá prevalecer no seio da sociedade. Uma forma de visualizá-la é compará-la à luz. Observe que a luz caminha, sem ruído, na escuridão e nas sombras. Ela vai iluminando todo o lugar por onde passa. Não há alarido, nem barulho estridente. O mesmo deve acontecer com a idéia espírita. Não há necessidade de buscar prosélitos, sair à praça pública, persuadir este ou aquele para deixe a sua religião e freqüente o Espiritismo. Cada um vai tomando consciência do fato e, naturalmente, seu pensamento se dirigirá para a causa espírita.

Vejamos a lógica da idéia espírita. Quando a humanidade se conscientizar da lei de causa e efeito, ou seja, que toda a causa provoca um efeito ou que todo o efeito é proveniente de uma causa, todos nós estaremos cerceando os nossos gestos menos felizes. Suponha um criminoso, que tenha recebido a influência do Espiritismo. Possivelmente, no justo momento em que ele estiver preste a cometer um delito e, temendo sofrer as conseqüências na vida futura, poderá recuar e evitar o crime.

Ao analisar a Lei do Progresso, os Espíritos informam-nos de que o Espiritismo será uma crença comum e marcará uma nova era na História da Humanidade, porque pertence à Natureza e chegou o tempo em que deve tomar lugar nos conhecimentos humanos. Assim sendo, é preciso saber esperar o momento oportuno para tal transformação, pois as idéias novas não são aceitas incontinenti. Os espíritas deveriam proceder como o semeador que, depois de jogar a semente na terra, cuida de seu crescimento, esperando o momento certo para colher os frutos.

O futuro do Espiritismo depende do que os espíritas estão fazendo no presente. Sendo assim, procuremos nos regozijar sempre, quer estejamos alegres ou tristes, pois criaremos um clima de muita paz e harmonia em volta de nós mesmos.

 

Fonte: http://www.ceismael.com.br/artigo/artigo107.htm

 


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