Religião: 1 - Crença na
existência de força ou forças sobrenaturais;
2 - Manifestação de tal crença pela doutrina
e ritual próprio; 3 – devoção (mini dicionário
Aurélio - editora Nova Fronteira - 2.a edição)
Sobrenatural:
1 - Não atribuído à natureza; 2 - Relacionado
com fenômenos extra terrenos; 3 - Sobre humano; (mini dicionário
Aurélio - editora Nova Fronteira - 2.a edição)
Cristianismo:
O conjunto das religiões cristãs, i.e., baseadas nos
ensinamentos, pessoa e vida de Jesus Cristo.(mini dicionário
Aurélio - editora Nova Fronteira - 2.a edição)
A língua é um veículo de comunicação,
e a fala é o uso desse veículo por um dado indivíduo
numa ocasião dada. Semântica, Stephen Ullman, Fundação
Calouste Gulbenkian.
O significado completo e o tom de certas palavras só podem
ser captados se os colocarmos de novo no contexto cultural do período:
O rex latino não é um equivalente exato do king inglês
ou do roi francês; a partir da queda da monarquia, nos primeiros
tempos da história romana, adquiriu um matiz odioso e tornou-se
o símbolo da tirania. Semântica, Stephen Ullman, Fundação
Calouste Gulbenkian.
Sem entrarmos detalhadamente na teoria da comunicação,
todo transmitir de informação envolve três elementos:
A fonte da informação, o meio de transmissão
e o receptor. Para que a transmissão seja efetiva, há
necessidade de que fonte e receptor possam interpretar a informação
recebida, que concordem no modo em que a informação
é codificada.
Na troca de informações entre seres humanos, a linguagem
é essencialmente uma forma de codificação da
informação, e os significados das palavras são
o código compartilhado. Um código não muito
preciso e que normalmente é compartilhado de forma inconsciente.
Concordamos com o significado das palavras, porque crescemos em
um contexto histórico-cultural em que elas têm um determinado
significado compartilhado por todos. Também concordamos,
porque passamos por um processo educativo em que aprendemos a usar
as palavras dentro de determinados limites.
Assim quando "comunicamos" alguma informação,
"vestindo" nosso pensamento com um conjunto de palavras,
selecionamos dentre as que - frente a nossa experiência e
formação cultural - correspondem ao que queremos transmitir.
Inconscientemente selecionamos as mais adequadas, não só
ao assunto, como ao nosso "interlocutor". Quanto maior
a "concordância" no significado do código,
maior é a compreensão - a transmissão fiel
das informações.
Nossa capacidade de codificar um pensamento em palavras, não
só é proporcional ao nosso domínio da língua,
como também da nossa capacidade de pensar com clareza. Não
é possível codificar corretamente um pensamento vago,
do qual nem o próprio autor sabe discernir claramente do
que está falando. Neste processo de codificação,
em que muitas das informações para decodificação
ficam subentendidas, é de suma importância o contexto
em que a informação é transmitida. Até
hoje, as pesquisas na área de informática para interpretação
automática de textos e fala esbarram nessa dificuldade.
Algumas idéias são codificadas precisamente em palavras,
não há muita ambigüidade quando se fala de substantivos
concretos como "água", "pedra" ou "fogo"
- experiências sensoriais diretas - por outro lado é
quase que certeza que conceitos abstratos como "amor",
"amizade", "beleza" ou "perfeição"
dariam páginas e mais páginas de discussões
acirradas.
Curiosamente, nós normalmente não nos apercebemos
deste aspecto da comunicação e julgamos que nossa
fala é precisamente o reflexo de nossas idéias e que
será decodificada pelo nosso interlocutor com a maior eficiência.
Não nos apercebemos que muitas vezes pensamos uma coisa,
dizemos outra e nosso interlocutor entende ainda outra diferente.
Na prática, no dia-a-dia, as diferenças são
tão pequenas que não chegam a constituir maiores empecilhos,
porém a questão assume outras proporções
quando do jogo de palavras dependem eventos maiores que somente
nossas ocupações corriqueiras. Nos grandes debates
filosóficos e religiosos a perfeita compreensão mútuas
e torna a premissa básica para resultados frutíferos.
Um exemplo bastante acessível disso é a própria
palavra "RELIGIÃO". Quando estamos discutindo sobre
religião com outra pessoa será que estamos discutindo
a mesma idéia de "RELIGIÃO"? Significará
RELIGIÃO a mesma coisa para um brasileiro e para um espanhol?
Um hindu e um ocidental estariam falando da mesma coisa ao usar
a mesma palavra? Mesmo dois brasileiros de formação
diferente - um de família protestante e outro de família
espírita por exemplo - estariam traduzindo pela palavra a
mesma idéia?
Mais curioso ainda com esse exemplo é o potencial de divisão
nos grupos sociais que essa "codificação"
imprecisa traz. Há grupos espíritas que se dividem
porque uns vêem o Espiritismo como filosofia e ciência
de conseqüências religiosas e outros o vêem como
de conseqüências morais. Uns associam a palavra "Religião"
a todo o histórico negativo de manipulação
do ser humano pelos poderes religiosos e se insurgem quanto a simples
possibilidade de lhes ligar a uma "Religião", enquanto
outros vêem na "Religião" a ligação
do homem com Deus e com a criação (que nada tem de
sobrenatural, outra palavra com muito a discutir).
Para uns, não ter "Religião" significa ser
ateu, para outros ser "livre pensador" - não ser
ligado a um culto organizado especifico.
Outro exemplo rápido: O que é "Cristianismo"?
Talvez alguns digam que é a adoração ao Cristo!
Mas foi esse o sentido original, quando o nome foi atribuído
aos discípulos de Jesus Cristo (do grego, traduzindo um pouco
mal o sentido do Messias hebraico), ainda na antiguidade? Esse sentido
para a palavra não é derivado de um fator histórico
posterior, quando a igreja de Roma assumiu a hegemonia dentre as
diversas correntes cristãs dos primeiros séculos (havia
até os cristãos de Jerusalém que seguiam todos
os preceitos mosaicos)? Não seria cristão, no verdadeiro
sentido da palavra, aquele que segue os ensinamentos de Jesus, independentemente
se crê ou não que ele é Deus (ou parte de uma
trindade)?
Pois há quem diga que os espíritas não são
cristãos por não termos "culto" a Jesus
e espíritas que querem dissociar Espiritismo e Cristianismo,
pois acham que este prejudica a universalidade - Como se "Amar
a Deus sobre todas as coisas e ao próximo com a si mesmo"
não fosse universal!
Enfim, é importante que tenhamos em mente que a "letra
mata, mas o espírito vivifica" - que saibamos, quando
estamos nas discussões de estudo, das naturais limitações
do meio de comunicação e não caiamos na armadilha
de nos desentendermos porque estamos falando de coisas diferentes.
Muita tinta e muito sangue já correu na história por
causa dos significados diferentes de uma palavra (é claro
que sempre atiçados por outros interesses além do
esclarecimento fraterno). De codificações erradas
- e ambições mal-conduzidas - já surgiram até
cismas religiosos...
"As palavras nos importam
pouco. A linguagem deve ser formulada de maneira a se tornar compreensível.
As dissensões humanas surgem porque sempre há desentendimentos
sobre as palavras, pois a linguagem humana é incompleta
para as coisas que não lhes ferem os sentidos".
Resposta dos Espíritos
a questão 28 do Livro dos Espíritos, Cáp.
II - Elementos Gerais do Universo.