Carlos
Alberto Iglesia Bernardo
> O Espiritismo na TV Tupi
Padrão de Ajuste da TV TUPI
O Pioneirismo da TV Tupi
de São Paulo.[1]
A transmissão regular de
televisão começou no Brasil em 18 de setembro de 1950
com a inauguração da Televisão Tupi Difusora
(TV TUPI) na capital paulista. Foi a realização de
um sonho de Assis Chateaubriand (1892-1968), que assim trazia para
o Brasil um novo meio de comunicação que já
existia há algum tempo nos Estados Unidos.
A programação de 1951 era transmitida ao vivo, em
branco e preto, para cerca de três mil receptores, muitos
dos quais em locais públicos e disponibilizados pela própria
Tupi. Em 1952 nasceu em São Paulo a segunda emissora da cidade,
a TV Paulista, em 1953 veio a TV Record. Em 1961 nasceram a TV Excelsior
e a TV Cultura. Em 1966 a TV Paulista encerra suas atividades e
cede seu canal para a TV Globo. Em 1967 nasce a TV Bandeirantes.
Estas seriam as emissoras que disputariam a preferência do
telespectador nos anos 60 e 70.
O jornalismo surgiu quase que imediatamente na TV e no imaginário
popular ainda perduram as recordações do “Repórter
Esso” transmitido pela TV Tupi a partir de 1952.
Em 1953 chegou aos lares, através da TV Paulista, o “Circo
do Arrelia”, outro programa que faria época e que é
inesquecível para quem foi criança na São Paulo
dos anos 50.
Com o desenvolvimento do Videoteipe no final da década de
50, e o seu uso na TV Tupi a partir de 1960, começou a segunda
fase da história da televisão no Brasil. Os programas
agora podiam ser gravados previamente e editados, findavam-se as
limitações de tempo e distância. Pode-se considerar
que esta fase se estendeu até o final dos anos 80, pois na
década seguinte – nos anos 90 – os canais pagos
entraram na disputa pelas preferências dos telespectadores.
A segunda fase é a era de ouro da televisão brasileira.
As famílias se reuniam ao redor do aparelho de televisão,
normalmente um por residência, visto que na época ele
era um eletrodoméstico caro. A luta pela audiência
a qualquer preço não havia começado, assim
a TV buscava principalmente entreter e educar. Diga-se de passagem
que a família mantinha suas estruturas tradicionais e foi
em parte por influência da própria televisão,
que possibilitava aos brasileiros acompanharem de perto as mudanças
da sociedade americana, que as transformações de costumes
ocorreram. Realmente era uma televisão muito diferente da
que conhecemos hoje, bem menos violenta e com padrões de
qualidade mais altos.
Em 1969, quando o homem pisa pela primeira vez na lua, é
um mundo interligado por satélites que acompanha o evento
ao vivo. Em 1972 é feita a a primeira transmissão
em cores: A “Festa da Uva” de Caxias, Rio Grande do
Sul.
É justamente neste período de ouro, em 1971, que por
duas vezes a TV Tupi, Canal 4 de São Paulo, coloca no ar
o programa de entrevistas “Pinga-Fogo” com Francisco
Cândido Xavier. A audiência estimada do programa foi
de cerca de 20 milhões de telespectadores.
O Pinga-Fogo era um popular programa de entrevistas, em que o entrevistado
era sabatinado por todos os lados. Vinham perguntas da platéia,
dos entrevistadores, dos convidados especiais e até dos telespectadores
por telefone. O primeiro programa, de 28 de julho de 1971, se estendeu
das onze e trinta da noite até as três horas da madrugada.
Segundo o jornalista Marcel Souto Maior, em seu livro “As
Vidas de Chico Xavier”, nada menos que 200 telespectadores
ligaram durante o programa e 75% dos televisores paulistas se mantiveram
ligados até o final [MAIOR, 1994, pag. 172]. O mesmo jornalista
informa que nas semanas seguintes o programa foi reprisado três
vezes seguidas, na integra, a pedido dos telespectadores [MAIOR,
1994, pag. 176]. A segunda entrevista foi realizada com o mesmo
sucesso em 12 de dezembro.
Com base no sucesso das entrevistas no Pinga-Fogo, é a mesma
TV Tupi que em 1976 leva ao ar a novela de Ivani Ribeiro (1922-1995)
“A Viagem”, baseada na obra “E a Vida Continua”
psicografada por Chico Xavier, do espírito André Luiz.
Novamente em 1978 a TV Tupi voltaria ao tema da mediunidade e do
Espiritismo com nova novela de Ivani Ribeiro, “O Profeta”.
Se a história do Espiritismo brasileiro pode ser dividida
em duas fases – antes e depois de Chico Xavier – a biografia
de Chico pode ser dividida em antes e depois do “Pinga-Fogo”
e das novelas da Tupi. Em 1971, Chico já era um médium
consagrado nos meios espíritas e o Espiritismo uma corrente
de pensamento respeitada na sociedade brasileira, mas foi com este
programa de televisão que informações completas
sobre eles chegaram as salas de milhões de lares. Lares que
também acompanhariam, durante meses seguidos, as tramas de
temática espírita de Ivani Ribeiro e se familiarizariam
com a reencarnação, a comunicação mediúnica
e a lei de causa e efeito.
E o sucesso destes programas da TV Tupi abriu caminho para a Doutrina
Espírita na televisão brasileira. E não seriam
poucas vezes que o Espiritismo voltaria a ser tema de entrevistas,
noticiários, novelas e programas de todos os tipos. Até
mesmo os detratores da Doutrina, buscando pela televisão
denegri-la, tem levado incontáveis telespectadores a procurarem
maiores informações do que é esta Doutrina
tão citada e com conceitos tão interessantes quanto
a vida após a morte e a possibilidade da comunicação
com os entes queridos que já fizeram a “grande viagem”.
Um outro fenômeno, que precisa ser melhor estudado, e que
possivelmente também deve muito a TV Tupi, é a penetração
da Doutrina Espírita no meio artístico. Não
são poucos os atores brasileiros que se declaram espíritas
e simpatizantes do Espiritismo e não seria surpresa descobrir
que seu primeiro contato com a Doutrina tenha sido em novelas ou
programas de temática espírita.
Finalizando este artigo sobre a TV Tupi e o Espiritismo não
poderíamos deixar de lembrar que ela também forneceu
um veículo de comunicação para campanhas assistenciais
espíritas como mostra um trecho da entrevista com “Aparecida
Conceição Ferreira”, publicada na Folha Espírita
de São Paulo de setembro de 1979, onde se fala do “Hospital
do Fogo Selvagem” :
“Pedindo esmolas nas vias
públicas e recorrendo aos meios de comunicação,
sobretudo com a ajuda dos jornalistas Moacir Jorge e Saulo Gomes,
este, através da extinta TV Tupi, e contando com o irrestrito
apoio de Chico Xavier, Dona Cida ergueu o grande complexo hospitalar
destinado ao tratamento da insidiosa enfermidade.”
A TV Tupi encerrou suas atividades
em julho de 1980, em meio a grandes dificuldades financeiras, com
dividas, salários de funcionários atrasados e problemas
com a Previdência. A concessão do canal 4 de São
Paulo passou posteriormente para o SBT – Sistema Brasileiro
de Televisão – que ainda existe.
Muita Paz,
Carlos A. I. Bernardo
Bibliografia
A História da TV, http://www.tvgazeta.com.br/historia.htm,
consultada em 16 de maio de 2004. (Não está mais ativo,
em seu lugar vide o artigo da Wikipédia sobre a TV TUPI disponível
em https://pt.wikipedia.org/wiki/Rede_Tupi, consultado em 12 de abril
de 2016)
GOBI, I. Aparecida Conceição Ferreira
– Entrevista para a Folha Espírita em setembro de 1979.
Disponível em http://lardacaridade.webnode.com.br/home/,
consultada em 12 de abril de 2016.
KARAN, D. TV TUPI: A Pioneira. http://cmais.com.br/aloescola/historia/cenasdoseculo/nacionais/tvtupi.htm,
consultada em 12 de abril de 2016.
MAIOR, M. S. As Vidas de Chico Xavier. Rio de Janeiro:
Rocco, 1994.
SAMPAIO, M. F. História do Rádio e da
Televisão no Brasil e no Mundo. Rio de Janeiro: Edições
Achiamé Ltda, 1984
XAVIER, Dos Hippies aos Problemas do Mundo. 4ª
edição. São Paulo: LAKE, 2003
Youtube. Vários vídeos sobre a história
da TV Tupi e seus principais programas, como, por exemplo, https://www.youtube.com/watch?v=tQXyhnSal0A,
que traz a entrevista completa de Chico Xavier no Pinga Fogo. Consultado
em 12 de abril de 2016.
Observações
[1] Artigo originalmente escrito para o boletim GEAE
475, de 18 de maio de 2004, como parte da sequência de
artigos comemorativos dos 450 anos da fundação da cidade
de São Paulo. Para a atualização refiz a formatação
e os links apontados na bibliografia.
Fonte: http://lavenir.educacao.ws/o-espiritismo-na-tv-tupi/
Visitem o Blog do Autor : L´AVENIR - Anotações sobre a Filosofia
Espírita e sua História -
- http://lavenir.educacao.ws -
Leiam de Carlos Alberto Iglesia Bernardo,
O
Espiritismo e a Sociedade Sustentável
O
Espiritismo na TV Tupi
O
Espírito de Verdade e o Espiritismo
Fénelon
– Vida e Obra
Os
Fundamentos da Ética Espírita
Léon
Denis - O problema do ser, do destino e da dor
Psicodigitação
: a psicografia na era do computador
Religião,
Cristianismo e os significados das palavras
Sustentabilidade,
Responsabilidade Social e Espiritismo
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