Carlos
Alberto Iglesia Bernardo
> O Espiritismo e a Sociedade Sustentável
A Ética Espírita leva
à Sociedade Sustentável
Max Weber em seu livro “A
Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”
estudou a relação entre o pensamento protestante e
o desenvolvimento do Capitalismo nos países que o adotaram.
A rígida ética do trabalho, da vida sóbria
e da acumulação de capital como uma forma de realização
na Terra da graça divina para com seus escolhidos, foram
fatores que contribuíram decididamente para a economia capitalista.
Da mesma forma, porém em bases filosóficas e religiosas
diferentes, o Prof. Ricardo Mário Gonçalves propôs
em sua obra “A Ética Budista e o Espírito Econômico
do Japão” que o pensamento Budista foi um dos fatores
que contribuiu na transformação do Japão do
século XIX. Alguns filósofos budistas enfatizavam
a correta observância dos deveres cotidianos como um instrumento
para a realização espiritual. Através de uma
vida de diligência no trabalho, afastamento dos excessos e
compreensão da realidade que o rodeia, o homem poderia atingir
a iluminação que o afastaria do ciclo interminável
de existências insatisfatórias. Tal espírito
vinha de encontro às necessidades da época de transformação
que tiraram o Japão do atraso feudal e em poucas décadas
o transformaram em uma potência.
Colocado assim, que não é uma ideia estranha que as
bases filosóficas e morais de uma sociedade sejam de importância
crucial para seu desenvolvimento em todas as dimensões culturais,
inclusive no da economia, não deixa de ser natural que se
pense que tipo de sociedade se construiria sobre o pensamento espírita.
A Doutrina Espírita, como os mestres budistas estudados pelo
Prof. Ricardo, dá grande importância ao trabalho como
instrumento de realização espiritual. Através
do esforço cotidiano, o espírito se aperfeiçoa
e a correta vivência das oportunidades profissionais o faz
avançar intelectual e moralmente. Da mesma forma, o Espiritismo
valoriza uma vida equilibrada, longe dos excessos. O mundo material
é transitório, nosso estágio educativo aqui
deve ser bem aproveitado e uma vida equilibrada, afastada dos vícios
e dos excessos dos prazeres, permite que as oportunidades sejam
aproveitadas ao máximo. Diferentemente talvez do Protestantismo
e mais próximo do pensamento budista, o Espiritismo não
condena que o homem tenha uma vida alegre e prazerosa, apenas mostra
que os excessos e abusos têm sérias consequências.
Como as doutrinas filosóficas orientais, o Espiritismo acredita
em um ordenamento moral do Universo que se expressa através
da lei de Causa e Efeito. Todas as nossas ações têm
repercussões e a qualidade moral delas implica no tipo de
repercussão que terão. Uma ação que
traz o sofrimento de outros seres traz em consequência infelicidade
para aquele que a praticou e, da mesma forma, toda ação
que liberte do sofrimento ou diminua o sofrimento de outros seres
traz a felicidade para seu agente. A conhecida palavra “Karma”
significa justamente “ação” em sânscrito
e traz embutido o conceito de que somos responsáveis por
nossas ações ao colhermos inevitavelmente seus resultados.
Desta forma, antes de tudo, o Espírita é um indivíduo
consciente de que sua situação presente é de
sua inteira responsabilidade, resultante de todas suas ações
no passado, e que seu futuro depende de como agir agora. Seja na
sua vida particular, seja na sua atuação profissional,
seja no exercício de algum cargo público ou voluntário,
ele é ciente de que é responsável pelo que
faz e que seu currículo de vida é bem mais do que
a listagem dos títulos e posições conseguidos.
Seu currículo espiritual, que o acompanhará através
desta vida e das próximas, lhe conferirá as credenciais
para galgar novas etapas de crescimento ou ficar preso na reparação
das ações incorretas que efetuou.
O Espírita sabe que retornará a este mundo em novas
reencarnações e a sociedade que encontrará
será justamente aquela que contribuiu para formar nas suas
existências passadas. Não há como no Protestantismo
a visão de que nossa salvação independe de
nossos atos e que por escolha divina seremos eleitos para a morada
dos justos. Pelo contrário, teremos que conquistar o direito
a essa morada, construindo-a pouco a pouco dentro de nós
e ao redor de nós pelas nossas ações. Também
não é a fé que salva o espírita, pelo
contrário, na visão espírita aquele que tem
fé na Doutrina e não a vivencia está em situação
pior do que aquele que não a conhece. A qualidade das ações
está atrelada ao conhecimento do que se está fazendo
e aquele que age mal, sabendo que está agindo mal, é
pior do que aquele que não sabe o que faz.
Assim o espírita tende a engajar-se em causas que melhorem
o mundo. Nas relações econômicas valoriza a
ética profissional e busca relações sustentáveis,
em que todas as partes sejam beneficiadas. No exercício dos
cargos públicos o espírita tende a buscar a justiça
social e ao desenvolvimento de programas que tragam o progresso
da sociedade. É um filho do Iluminismo e acredita que a educação
e o bem-estar material estão ligados, que a sociedade humana
caminha para estágios mais civilizados.
A sustentabilidade é uma causa naturalmente esposada pelos
espíritas, pois é uma consequência natural das
leis morais que mencionamos. Só uma ação consciente
para o bem pode gerar resultados satisfatórios duradouros
e ao pensar em relações econômicas que preservem
o meio ambiente, que busquem a satisfação de todos
os participantes dos processos econômicos, se está
justamente deixando de lado o egoísmo e trabalhando para
o bem de todos.
Portanto nada mais lógico do que se concluir que uma sociedade
apoiada no pensamento espírita será uma sociedade
sustentável. Uma sociedade em que seus atores sociais ajam
de forma a maximizar os benefícios para todos a curto, médio
e longo prazo. Uma sociedade em que as relações interpessoais
visem o aperfeiçoamento constante e a criação
permanente de meios que a tornem sempre melhor e com maior qualidade
de vida.
Ao fugir dos excessos, esta sociedade sustentável permitirá
um manejo mais adequado dos recursos naturais e um aproveitamento
mais igualitário dos bens produzidos. Esta sociedade também
fugirá dos excessos das ideologias, pois o espírita
crê que a evolução do pensamento é constante
e não há como evitar que o tempo mude os cenários
humanos, inclusive as verdades estabelecidas pelo homem para a estruturação
de sua vida intelectual. Toda forma de crença sincera é
respeitável aos olhos do espírita e a pesquisa científica
é a fundamentação mesma de sua fé racional.
O debate, a busca do consenso através da troca fraterna das
ideias será o veículo natural para que esta sociedade
se sustente no longo prazo sem os choques ideológicos e extremismo
que muitas vezes põem a perder os esforços pacíficos
de gerações.
Enfim, acreditamos firmemente que o Espiritismo tem um papel importante
a desempenhar no pensamento humano e que sua influência será
sentida à medida que mais e mais suas ideias forem difundidas
na sociedade. Sem dúvida alguma, a sociedade do futuro será
plural, as religiões atuais, longe de desaparecerem, amadurecerão
e se influenciarão mutuamente. Possivelmente os postulados
espíritas, por sua lógica interna, por seu respaldo
na comprovação científica dos fatos que lhes
dão sustentação, aos poucos encontrarão
ecos em outras correntes religiosas e as várias divisões
do espiritualismo do futuro serão por causa de preferências
individuais em questões de detalhes, não no antagonismo
ou na disputa pela posse exclusiva da verdade. Neste novo mundo,
nesta nova sociedade sustentável, o Espiritismo será
uma das fontes de inspiração para o homem continuar
a melhorar a si mesmo. [1]
Muita Paz,
Carlos A. I. Bernardo
Bibliografia
Andrade, Geziel. Capital e Trabalho à Luz
do Espiritismo. Capivari – SP: EME Editora, 1994.
Cassirer, Ernst. The Philosophy of the Enlightenment. Traduzido do alemão
por Fritz C. A. Koelln e James P. Pettegrove. New Jersey (EUA): Princenton
University Press, 1979.
Gonçalves, Ricardo Mario. A Ética Budista e o Espírito
Econômico do Japão. Prefácio de Heródoto
Barbeiro. São Paulo: Elevação, 2007.
Kardec, Allan. Obras Póstumas. Volume XIX das Obras Completas
de Allan Kardec. São Paulo: EDICEL, 1973.
Weber, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.
10.a Ed. Tradução de M. Irene de Q. F. Szmrecsányi
e Tomás J. M. Szmrecsányi. São Paulo: Livraria
Pioneira Editora, 1996
[1] Artigo
escrito para o Boletim GEAE 535 de junho de 2008. Para a publicação
no Blog inclui os subtítulos e a imagem, bem como algumas pequenas
correções no texto.
Fonte: http://lavenir.educacao.ws/index.php/2016/03/30/o-espiritismo-e-sociedade-sustentavel/
Visitem o Blog do Autor : L´AVENIR - Anotações sobre a Filosofia
Espírita e sua História -
- http://lavenir.educacao.ws -
Leiam de Carlos Alberto Iglesia Bernardo,
O
Espiritismo e a Sociedade Sustentável
O
Espiritismo na TV Tupi
O
Espírito de Verdade e o Espiritismo
Fénelon
– Vida e Obra
Os
Fundamentos da Ética Espírita
Léon
Denis - O problema do ser, do destino e da dor
Psicodigitação
: a psicografia na era do computador
Religião,
Cristianismo e os significados das palavras
Sustentabilidade,
Responsabilidade Social e Espiritismo
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