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(trecho inicial)
A vida nas cidades freqüentemente
é apontada como a fonte da maioria dos males sociais como a violência,
a pobreza, os desvios comportamentais, as neuroses etc. Na cidade os
homens se sentiriam solitários, massificados, tratados pelas
instituições como meros números, sem identidade
pessoal. Na cidade até o tempo perderia o sentido, pois seria
sempre pensado como o tempo do trabalho, sendo o descanso dos finais
semana apenas um "intervalo" entre dois períodos de
produção, um tempo reservado à reprodução
da força de trabalho, e que os trabalhadores não teriam
condições de desfrutar como lazer devido à falta
de recursos, oportunidades ou mesmo disposição. Por isto
o tempo não faria sentido, apenas passaria, levando consigo a
vida dos homens, especialmente se estes homens são pobres, pouco
escolarizados, migrantes, com um gosto próprio em relação
ao lazer.
Basta, no entanto, nos determos para observar mais atentamente os inúmeros
grupos que vivem na cidade para constatarmos que a verdade não
é bem essa. Os grupos se organizam em torno de atividades e objetivos
comuns, muitas vezes lúdicos, que proporcionam não apenas
relações sociais mais diretas, mais afetivas (correspondendo
às necessidades de sociabilidade, parceiros, companhia, enriquecimento
da experiência pessoal), como também organizam, de modo
sensível, a passagem, do tempo. Esta passagem é marcada
através de idas ao futebol, à praia, aos ensaios das escolas
de samba, aos cultos religiosos, bailes, forrós etc. Para uma
população pobre, migrante, todas estas atividades implicam
a organização dos indivíduos em termos de tempo
disponível e do dinheiro necessário para sua realização,
ocupando o pensamento das pessoas de modo significativo e dando sentido
ao trabalho (pois é o trabalho que proporciona os recursos para
a participação nos grupos) e à própria vida
como fonte de prazer.
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Publicado originalmente em TRAVESSIA.
Revista do Migrante no. 15, janeiro/abril, Centro de Estudos Migratórios
- CEM, São Paulo, 1993
Rita Amaral
é antropóloga do Núcleo de Antropologia Urbana
da USP, doutora em antropologia social, Ph.D em etnologia afro-brasileira
pela USP
Fonte: http://www.n-a-u.org/Amaral-povodefesta.html
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