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(trecho inicial)
O candomblé, enquanto culto organizado
não remonta, em São Paulo, há mais de três
ou quatro décadas. Marcado por um desenvolvimento particular,
a partir dos processos migratórios ocorridos nesse período,
o candomblé paulista surgiu como uma religião de possessão
ao lado daquelas aqui já existentes, como o espiritismo Kardecista
e as inúmeras variações da umbanda sulista.O processo
de instalação e difusão do culto aos orixás
na região de São Paulo caracterizou-se pelas influências
e empréstimos entre as práticas espíritas em geral
e da umbanda em particular, observável seja pelas semelhanças
entre as estruturas rituais, seja pela visão mítica, formada
por divindades comuns a ambos os cultos. Originou-se, assim, um culto
cuja referência às divindades africanas (os orixás)
e às divindades nacionais (caboclos, índios, boiadeiros,
pretos-velhos), tornou-se comum, tanto nas regiões periféricas,
as primeiras a localizarem os terreiros, como nas regiões mais
centrais da área metropolitana. O termo "umbandomblé"
com o qual se designa (comumente de modo pejorativo) esse tipo de culto,
pode ser aplicado a um número significativo de terreiros paulistas
atualmente em funcionamento. É bom lembrar, ainda, que o candomblé
que aqui se instalou, vindo de localidades como Salvador, Recôncavo
Baiano, Recife e Rio de Janeiro, não primava por um "purismo"
de práticas rituais tal como se imagina quando idealmente o dividimos
em "nações" como : Ketu, Angola, Jeje, além
das denominações locais como "Xangô" em
Pernambuco ou "Tambor de Mina" no Maranhão. Na verdade,
ainda que todas essas "nações" estejam representadas
em São Paulo, podemos supor que o processo de influências
e empréstimos verificados aqui também é fenômeno
característico do candomblé em seus locais de origem,
como bem atesta o candomblé de caboclo, principalmente nos terreiros
angola da Bahia.
Estas referências tornam-se necessárias na medida em que
o universo dos cultos afro-brasileiros, em seus múltiplos aspectos,
manifesta-se empiricamente de tal forma integrado que uma classificação
como a que iremos expor, privilegiando o ponto de vista musical, deve
ser entendida como uma ordenação analítica possível,
entre tantas outras. Do mesmo modo que (para o desespero dos pesquisadores
desacostumados com a exceção) no candomblé vale
mais o detalhe que, quebrando a regra, insinua um conhecimento que diferencia
e ao mesmo tempo testemunha a vitalidade e importância da norma
para o grupo. Se Oxum, a divindade das águas, sempre veste amarelo,
come ipeté, dança de modo lento e dengoso ao som do ritmo
ijexá e é saudada com a expressão "Ora ieieu!",
uma fitinha azul arrematando sua saia dourada, um quitute inesperado
entre as folhas de mamona do ipeté e uma certa agressividade
no jeito de dançar sob as saudações efusivas de
"Ora ieieu mi ka fiderioman" pode revelar a exceção
que consubstancia a generalidade do estereótipo na riqueza de
sua variação.
Assim, este trabalho, privilegiando a música ritual, ocupar-se-á
de uma parcela de um todo integrado, tratando, principalmente, dos aspectos
recorrentes. Faremos contudo, uma breve descrição do culto
de forma a contextualizar previamente nossas afirmações
sobre a música.
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Este trabalho foi apresentado pela
primeira vez em 1988, nos Seminários de Etnomusicologia,
coordenados por Tiago Oliveira Pinto e Max B, no PPGAS/USP e publicado
em 1992 na revista RELIGIÃO & SOCIEDADE n.16/2, ISER,
Rio de Janeiro.
Os aspectos do intenso intercâmbio das práticas rituais
afro-brasileiras e do processo transformativo pelo qual passam em
São Paulo, têm sido o objeto das pesquisas que os autores
deste trabalho vem desenvolvendo junto ao Departamento de Antropologia
da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade
de São Paulo
Fonte: http://www.n-a-u.org/Amaral&Silva1.html
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