Ouvistes o que foi recomendado
aos antigos:
‘Não jurarás
falso, mas cumprirás com o Senhor os teus juramentos. Eu,
porém, vos digo que não jureis de forma alguma; nem
pelo Céu, que é o trono de Deus; nem pela Terra, que
é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém,
que é a cidade do grande Rei. Não jurareis tampouco
pela vossa cabeça, porque não podeis tornar branco
ou preto um só de seus cabelos. Limitai-vos a dizer: sim,
sim; não, não. O que disso passar procede do Maligno”
(Mateus, 5:33 a 37.)
O segundo mandamento da tábua
da Lei preceitua: Não pronunciareis em vão o nome
do Senhor vosso Deus. Isto significava para os judeus que eles
deviam abster-se de usar o nome do Senhor como testemunho da Verdade.
Habilmente, segundo suas conveniências, passaram a usar substitutivos,
jurando pelo templo, pelo Céu, pela Terra, por Jerusalém,
por Moisés, pelos profetas...
Jesus, taxativamente, proclama que não se deve jurar de forma
alguma, porque tudo no Universo é obra de Deus. Se jurarmos
por alguém ou por alguma coisa, indiretamente estaremos envolvendo
seu nome. Nossas afirmativas devem ser sempre verdadeiras.
O fato de alguém exigir nosso juramento significa que nem sempre
falamos a verdade, e quando o indivíduo habitua-se à
mentira nem assim merecerá crédito, porquanto para ele
será fácil evocar a Terra e o Céu, pretendendo
dar força de autenticidade às suas mentiras.
As pessoas mentem nas mais variadas situações e pelos
mais variados motivos. Para esconder uma falta: “Não,
papai, não quebrei seu vaso de estimação. Foi
o Lulu que subiu à mesa...” Para disfarçar um
vício: “Não, mamãe, já lhe disse
que não fumo. Não gosto de cigarro! Esse cheiro que
a senhora sente está na minha roupa e nos meus cabelos... lá
na escola todo mundo fuma e eu fico impregnada.” Para explicar
um atraso: “Desculpe, chefe, o pneu do meu carro furou. Perdi
um tempão para trocá-lo!...” Para justificar uma
omissão: “Claro que respondi à sua carta! Não
recebeu a resposta? Ah! Esse correio! Está cada vez pior!...”
Para livrar-se de alguém: “Diga que não estou
em casa!...”
No fundo todos os mentirosos e todas as mentiras identificam-se em
motivação comum: imaturidade. É ela que leva
o indivíduo a mentir, seja para parecer o que não é,
ou não deixar transparecer o que é, seja para não
assumir a responsabilidade dos seus atos, seja por comodismo, ou embotamento
de consciência.
Observando atentamente, verificaremos que nossa existência é
tremendamente complicada, justamente por vivermos num mundo onde grassa
a mentira. As carteiras de identidade, as cartas de apresentação,
os atestados de antecedentes criminais e muitos outros documentos
exaustivamente adquiridos, exigidos em qualquer iniciativa que envolva
nossa identificação social e profissional, não
passam de meros comprovantes de que falamos a verdade ao declinar
nosso nome, endereço, idade, estado civil, profissão...
Se efetuarmos uma transação comercial, principalmente
envolvendo instituições financeiras, será indispensável
comprovemos, mediante vasta documentação, possuir patrimônios
que responderão pela dívida. Além do mais se
exigirá o aval de alguém que, por sua vez, também
deverá comprovar que possui recursos compatíveis com
o montante de nosso débito. Isto porque se parte do princípio
de que muita gente assume compromissos que não pretende ou
não pode liquidar.
Se todos falássemos a verdade, eliminaríamos não
apenas problemas dessa natureza, mas, praticamente, todo o mal do
mundo. Sem a mentira não haveria adultério. Como trair
o cônjuge sem iludi-lo?... Sem a mentira não haveria
comerciantes desonestos que apregoam vender com lucro mínimo,
que geralmente se situa acima 100%, alimentando a inflação...
Sem a mentira desapareceriam os profissionais da política,
hábeis na arte de iludir o povo, que prometem tudo e não
cumprem nada... Sem a mentira não haveria “fofocas”,
comentários maldosos, boatos maliciosos. Como veicular algo
negativo sobre alguém baseado no “ouvi dizer”?...
Sobretudo, sem a mentira haveria maior confiança entre as pessoas,
esta virtude tão escassa hoje em dia, sem a qual a vida fica
sempre complicada, isso porque raros optam pelo sim, sim; não,
não.