Espiritualidade e Sociedade



Richard Simonetti

>     O cultivo da verdade

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Richard Simonetti
>  O cultivo da verdade

 

 

 

Ouvistes o que foi recomendado aos antigos:

‘Não jurarás falso, mas cumprirás com o Senhor os teus juramentos. Eu, porém, vos digo que não jureis de forma alguma; nem pelo Céu, que é o trono de Deus; nem pela Terra, que é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém, que é a cidade do grande Rei. Não jurareis tampouco pela vossa cabeça, porque não podeis tornar branco ou preto um só de seus cabelos. Limitai-vos a dizer: sim, sim; não, não. O que disso passar procede do Maligno”
(Mateus, 5:33 a 37.
)

O segundo mandamento da tábua da Lei preceitua: Não pronunciareis em vão o nome do Senhor vosso Deus. Isto significava para os judeus que eles deviam abster-se de usar o nome do Senhor como testemunho da Verdade. Habilmente, segundo suas conveniências, passaram a usar substitutivos, jurando pelo templo, pelo Céu, pela Terra, por Jerusalém, por Moisés, pelos profetas...

Jesus, taxativamente, proclama que não se deve jurar de forma alguma, porque tudo no Universo é obra de Deus. Se jurarmos por alguém ou por alguma coisa, indiretamente estaremos envolvendo seu nome. Nossas afirmativas devem ser sempre verdadeiras. O fato de alguém exigir nosso juramento significa que nem sempre falamos a verdade, e quando o indivíduo habitua-se à mentira nem assim merecerá crédito, porquanto para ele será fácil evocar a Terra e o Céu, pretendendo dar força de autenticidade às suas mentiras.

As pessoas mentem nas mais variadas situações e pelos mais variados motivos. Para esconder uma falta: “Não, papai, não quebrei seu vaso de estimação. Foi o Lulu que subiu à mesa...” Para disfarçar um vício: “Não, mamãe, já lhe disse que não fumo. Não gosto de cigarro! Esse cheiro que a senhora sente está na minha roupa e nos meus cabelos... lá na escola todo mundo fuma e eu fico impregnada.” Para explicar um atraso: “Desculpe, chefe, o pneu do meu carro furou. Perdi um tempão para trocá-lo!...” Para justificar uma omissão: “Claro que respondi à sua carta! Não recebeu a resposta? Ah! Esse correio! Está cada vez pior!...” Para livrar-se de alguém: “Diga que não estou em casa!...”

No fundo todos os mentirosos e todas as mentiras identificam-se em motivação comum: imaturidade. É ela que leva o indivíduo a mentir, seja para parecer o que não é, ou não deixar transparecer o que é, seja para não assumir a responsabilidade dos seus atos, seja por comodismo, ou embotamento de consciência.

Observando atentamente, verificaremos que nossa existência é tremendamente complicada, justamente por vivermos num mundo onde grassa a mentira. As carteiras de identidade, as cartas de apresentação, os atestados de antecedentes criminais e muitos outros documentos exaustivamente adquiridos, exigidos em qualquer iniciativa que envolva nossa identificação social e profissional, não passam de meros comprovantes de que falamos a verdade ao declinar nosso nome, endereço, idade, estado civil, profissão...

Se efetuarmos uma transação comercial, principalmente envolvendo instituições financeiras, será indispensável comprovemos, mediante vasta documentação, possuir patrimônios que responderão pela dívida. Além do mais se exigirá o aval de alguém que, por sua vez, também deverá comprovar que possui recursos compatíveis com o montante de nosso débito. Isto porque se parte do princípio de que muita gente assume compromissos que não pretende ou não pode liquidar.

Se todos falássemos a verdade, eliminaríamos não apenas problemas dessa natureza, mas, praticamente, todo o mal do mundo. Sem a mentira não haveria adultério. Como trair o cônjuge sem iludi-lo?... Sem a mentira não haveria comerciantes desonestos que apregoam vender com lucro mínimo, que geralmente se situa acima 100%, alimentando a inflação... Sem a mentira desapareceriam os profissionais da política, hábeis na arte de iludir o povo, que prometem tudo e não cumprem nada... Sem a mentira não haveria “fofocas”, comentários maldosos, boatos maliciosos. Como veicular algo negativo sobre alguém baseado no “ouvi dizer”?...

Sobretudo, sem a mentira haveria maior confiança entre as pessoas, esta virtude tão escassa hoje em dia, sem a qual a vida fica sempre complicada, isso porque raros optam pelo sim, sim; não, não.

 

 

 

Fonte: http://www.noticiasespiritas.com.br/2015/MARCO/18-03-2015.htm

 

 

Richard Simonetti (10/10/1935-03/10/2018) foi escritor, palestrante espírita e vice-presidente do CEAC (Bauru-SP). Também foi diretor de divulgação da Doutrina Espírita, da mesma entidade.
Foi colaborador assíduo de jornais e revistas espíritas, notadamente O Reformador, O Clarim e Folha Espírita. Percorreu todos os estados brasileiros e alguns países em palestras de divulgação da Doutrina Espírita. Escreveu 65 livros, e foi integrante da Academia Bauruense de Letras.

 

 

 

 

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