Resumo:
Este artigo procura enfocar o tema da religião
na produção geográfica acadêmica e sua
importância para a compreensão da pluralidade religiosa
no espaço social. Tem como objetivo principal chamar a atenção
dos geógrafos para a análise do espaço das
religiões, sobretudo no Brasil, onde as religiões
desempenharam um importante papel na formação histórico-cultural
e, na atualidade, vêm conquistando cada vez mais espaço
na sociedade brasileira.
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(trecho inicial)
1. Tolerância religiosa e etnocentrismo
O cenário internacional,
perante os recentes atentados terroristas nos EUA, Nova York e Pentágono
em 11/09/2001, sugere releitura da tese Choque das Civilizações,
defendida por HUNTINGTON (1994). O contexto histórico é
propício à pesquisa, ao debate e à reflexão
a respeito da Geografia das Religiões e, sobretudo a reflexão
a respeito do que é tolerância religiosa e etnocentrismo.
Nesse sentido, apresentamos o presente artigo que é parte
integrante do primeiro capítulo de minha dissertação
de mestrado: Geografia do (in)visível: o espaço
do kardecismo em São Paulo.
Por tolerância entende-se
a capacidade de admitir modos de pensar, de agir e de sentir diferente
dos de um indivíduo ou de grupos determinados, sejam grupos
políticos ou religiosos. Tolerância é a capacidade
de aceitar o outro, sobretudo quando este é estranho, exótico,
diferente daquilo que conhecemos e aceitamos como certo, normal
ou verdadeiro.
Mas para que haja a tolerância,
é fundamental o conhecimento do outro que é diferente
de nós. Geralmente, a intolerância é a expressão
do preconceito em relação ao outro que é diferente.
O preconceito também é fruto do desconhecimento ou
de um deturpado ou falso conhecimento da realidade do outro.
(...)
2. A geografia sem religião
Na história do pensamento geográfico,
o tema da religião foi relativamente marginalizado. Por um
lado, a Geografia Tradicional, sob a forte influência do positivismo
geográfico, foi responsável, em parte, pelo desinteresse
dos geógrafos - salvo raras exceções - em relação
ao fenômeno religioso. Por outro lado, a Geografia Marxista
negligenciou a dimensão geográfica das religiões
no espaço social.
(...)
Tanto a Geografia Tradicional quanto a Geografia
Marxista (com raras exceções) negligenciaram a dimensão
sensível do homem de percepção do mundo. A
primeira, por negar o conhecimento subjetivo; a segunda, por rotular
de alienação toda e qualquer relação
afetiva ou simbólica do homem com a natureza.
(...)
3. A religião na Geografia
Na Geografia, o tema da religião foi pouco
explorado, comparado a outros temas, como o urbano e o rural, a
indústria e o comércio, a política e a gestão
do território, etc. Todavia, há algumas contribuições
de geógrafos - europeus e brasileiros - que se preocuparam
com o estudo geográfico das religiões.
(...)
4. O espaço das religiões:
entre o visível e o invisível
Se pretendemos, enquanto geógrafos, compreender,
explicar e transformar o mundo a partir da Geografia, acreditamos
que o espaço das religiões torna-se indispensável
nesse processo de conscientização e construção
da cidadania, uma vez que a religiosidade e as religiões
são elementos integrantes do espaço geográfico.