I - PLANO TRIDIMENSIONAL (MATERIAL) E PLANO
ESPIRITUAL
Kardec já colocava que o mundo espiritual
é o mundo real, verdadeiro, e que o mundo material (tridimensional)
é resultado da ideação mental dos espíritos
encarnados e desencarnados, ou seja, sua formatação,
a "morfologia" espiritual, social, ambiental e natural é
determinada pela ação plasmadora dos pensamentos dos
espíritos encarnados e desencarnados de nosso orbe, que conferem
(determinam) realidade ao mundo material em que vivemos, existimos
e nos inter-relacionamos.
Afirmou ainda Kardec que o mundo material poderia deixar de existir,
e que mesmo assim o mundo espiritual continuaria sua existência
normal.
O mundo tridimensional e o mundo espiritual não são
“gêmeos” ou “duplos”. Não existe
um "duplo" ou correspondência simétrica entre
mundo material (tridimensional) e mundo espiritual, átomo a
átomo, molécula a molécula. O Mundo Tridimensional
e o Mundo Espiritual são independentes, e com as leis físicas
ou naturais características de cada uma das realidades.
Claro que não conhecemos e ainda não podemos pesquisar
essa outra realidade, mas o poderemos fazer, quando a nossa ciência
e conhecimento evoluírem ainda mais. Mas é lógico
admitir que são realidades em vibrações diferentes,
quem sabe dimensões diferentes, talvez pontos diferentes de
espaço-tempo.
Em reforço a isso, devemos nos lembrar que os espíritos
nos afirmam, categoricamente, que o tempo tem outro significado na
dimensão espiritual, não no sentido filosófico,
mas no de dimensão específica e transcurso de tempo.
Nesse contexto, não há necessidade de duplicidade e
ligação dimensional átomo a átomo, quark
a quark, etc.
O plano espiritual, sem sombra de dúvida, também é
matéria. Que tipo de estruturação a matéria
do plano espiritual tem, os espíritos não nos trazem
maiores informações, mas afirmam, categoricamente, que
a matéria elementar do início do universo é a
base sobre a qual se estruturou toda a matéria/energia, e que
essa base é a mesma no plano tridimensional e no plano espiritual.
Pelas possibilidades plásticas da matéria no plano espiritual,
descrita pelos espíritos, podemos pressupor que não
têm a mesma organização atômica que a nossa,
que se organizou a partir das fornalhas nucleares do início
do Universo, a partir da estruturação do Hidrogênio,
do Hélio e de toda a série atômica natural, quando
as nossas leis físicas passam a existir, "...átimos
de segundos antes do big-bang..." (ação da
vontade Divina).
O espírito, na sua parte mental (mente, que contém a
inteligência e o livre-arbítrio) não é
matéria, mas estrutura seu corpo mental, vai se revestindo
da matéria. O espírito associado ao seu corpo mental
estrutura, em seqüência, por atração energética
e vibratória, o seu perispírito, constituído
de matéria "sutil" (estado da matéria
que ainda não foi descoberto, mas muitos outros já o
foram). Essa matéria sutil é retirada (transformada)
a partir da matéria/energia disponível no ambiente vibratório
em que o espírito se encontra, de maneira automática,
como por exemplo, no caso de encarnados, as nossas trocas respiratórias
e calóricas com o ambiente.
Temos que admitir aqui, que a "mente", criação
Divina, possui automatismo que determina a estruturação
do corpo mental e do perispírito. Se isso não existir,
a tese da reencarnação rui, cai por água abaixo.
Como a reencarnação ainda é mais plausível
que uma só existência, ou aceitamos isso ou aceitamos
que a vida é um "acidente" biológico, uma
conjunção casual de fatores que resultou no que somos.
Aqui não é a ciência possível. É
pura filosofia, que nos remete, por dedução lógica,
para a fé. Raciocinada, mas fé (crer ou não crer).
II - ESPÍRITO, PERISPÍRITO E INTERAÇÃO
COM O PLANO MATERIAL
A mente, que não é material (de nenhuma das dimensões
que já discutimos), recebeu de Deus a capacidade (somos "deuses",
co-criadores) de estruturar a matéria, de interferir mesmo
nas leis físicas ou naturais (crer ou não crer, eis
a questão).
Pela descrição em várias obras espíritas,
em especial as de André Luiz, pode-se supor que os espíritos
conseguem, em determinadas situações, "dobrar
campos dimensionais” (estamos dando essa denominação
específica para melhor fixar o conceito), aproximando, tangenciando,
contactando, temporariamente, a realidade material espiritual da realidade
material tridimensional.
Os espíritos mais evoluídos podem fazer isso pela "vontade",
pois já manipulam potenciais energéticos muito intensos,
suficientes para "dobrar campos dimensionais".
Já os não tão evoluídos, precisam contar
com a proximidade de um médium, para criarem, em conjunto,
uma "atmosfera fluídico-espiritual comum",
possibilitada pela expansão e "fusão"
dos perispíritos do médium e do espírito desencarnado,
de existência temporária e efêmera, que serve de
"ponte" entre os dois planos (uma espécie
de "mini dobra dimensional"), possibilitando a
interação pontual entre os dois planos.
Tanto isso é verdade que um "certo Padre que se diz
cientista da paranormalidade" (aliás, um preconceituoso,
que só busca denegrir o Espiritismo, um falso cientista), propõe
um desafio de "um milhão de reais" para
quem produzir um fenômeno paranormal, espiritual ou mediúnico
estando a mais de 70 metros do objeto ou local em que se manifestará
o fenômeno. Ora, nessa distância não é possível
"dobrar" o campo dimensional para agir sobre um objeto,
por exemplo. A parapsicologia já testou os limites de distâncias
em que um paranormal (médium) pode agir.
Em maior ou menor grau, todos somos médiuns, e podemos ter
"insights" de "dobras", por
alguns instantes. No sono, nossa mente fica liberta e pode "dobrar"
o campo dimensional mais facilmente, ficando acessível, parcialmente,
ao plano espiritual.
Um espírito só pode sentir, agir ou se manifestar no
plano tridimensional (material) se contar com essa "dobra
dimensional", conjunção de espírito
e médium. No entanto, é preciso lembrar que a mediunidade
está latente em grande número de pessoas, e que existem
muitos médiuns naturais, disponibilizando energias para que
se estabeleçam, sem saberem, essas "dobras".
O termo ectoplasma refere-se à condensação energética
de parte do perispírito do médium, decorrência
da dobra de campo dimensional (interação médium-espírito)
e é ele que é usado em fenômenos de efeitos físicos,
sendo necessário um médium com aptidão específica
para tal.
O ectoplasma pode provocar alterações temporárias
nas propriedades da matéria, conferindo-lhe novas características.
Essa propriedade é utilizada por espíritos para produzirem
fenômenos de feitos físicos, como por exemplo, o transporte
de objetos ou uma materialização.
Ao saturar determinado objeto ou matéria (por exemplo, o próprio
ar) com o ectoplasma, que interpenetra os espaços subatômicos
da matéria, a ação da vontade do espírito
desencarnado pode modificar a vibração e as propriedades
dessa matéria. É preciso lembrar que o objeto transportado
ou a manifestação do efeito físico deve estar
próximo de onde médium e espírito desencarnado
se encontram (faixa de ação da dobra dimensional), pelos
motivos já expostos anteriormente.
O ectoplasma deixa de existir quando se rompe a "dobra de
campo dimensional". Não existe "ectoplasma"
numa comunicação mediúnica via psicografia, por
exemplo, ou psicofonia, vidência, audiência, etc.
Na comunicação mediúnica, uma vez estabelecido
o "enlace mediúnico" ou dobra de campo dimensional,
com a participação de médium e espírito,
a comunicação e interação passa a fluir
mente a mente, pela proximidade dimensional ocorrida, podendo ser
trocadas sensações, impressões, etc.
Lembre-se que isso ocorre de maneira mais freqüente que pensamos,
pois todos temos um determinado potencial mediúnico que, em
pessoas sem o adequado treino (habilidade e aptidão) é,
a mais das vezes, desencadeado de maneira automática, sem que
percebamos isso conscientemente. Nossos anjos de guarda ou nossos
"daemons" se utilizam disso para nos intuir para
o bem. Nossos inimigos desencarnados, para nos intuir para o mal.
Os espíritos nos acham não pelo nosso endereço
físico, mas pela emissão do nosso "hálito
mental", que é a nossa "assinatura de dobra",
nossa "identidade energética". Para isso
não precisam "enxergar" nosso mundo, nossa
casa. A energia pura, como a do pensamento, pode percorrer todo o
universo, visível e invisível. Onde quer que estejamos,
somos sempre um ponto a emitir tal tipo de energia. Quem nos "conhece"
e afiniza com o padrão por nós emitido, nos localizará,
mesmo interdimensionalmente (em diferentes planos).
Não devemos nos espantar do que é colocado em alguns
livros espíritas quanto aos espíritos desencarnados
conviverem normalmente conosco no plano material. Muitos são
mal escritos, muitos são romances, não obras científicas,
e muitos são mal interpretados, por estabelecerem apenas uma
base, um alicerce, e não o edifício todo. Vejamos toda
a obra de Kardec. Em nenhum momento ele afirma que os espíritos
desencarnados "vivem" em nosso plano, mas sim que
"interferem" nele, "atuam nele",
"interagem com ele", o que é completamente
diferente.
Quando Emmanuel fala da quantidade de espíritos desencarnados
que "habitam" a orbe terrestre, refere-se ao padrão
vibratório que corresponde à nossa terra (orbe), onde
se estabelecem duas realidades, uma do plano tridimensional e outra
do plano espiritual. Não afirma que "habitam o plano
físico Terra", mas sim na vibração
evolucional do orbe terrestre. O mundo espiritual (vamos chamá-lo
assim) do nosso orbe tem a sua existência real, mas na sua dimensão
ou vibração específica.
Quanto ao Livro dos Espíritos, é uma
questão de interpretação. Temos que nos lembrar
da linguagem utilizada na época e do conhecimento disponível,
que não permitia o detalhamento de certos assuntos. Mas a base
ali apresentada está correta.
III - PERISPÍRITO, PERCEPÇÕES E REENCARNAÇÃO
No que se refere ao perispírito dos espíritos desencarnados,
afirmar que estes têm olhos e ouvidos, por exemplo, é
uma pobre imagem das capacidades reais do perispírito. Essa
é mais uma imagem externa (máscara, roupagem, ou se
quiser, parábola, signo), pois nos faltaria compreensão
(pelo menos para a maioria) para entendermos que o perispírito
é um receptor total, ao contrário dos receptores parciais
humanos. A interação da natureza (incluído aí
as leis físicas) com o perispírito é na sua totalidade,
e não processada em órgãos específicos.
Não que o perispírito não tenha órgãos
ou sistemas, ele os têm, em grande complexidade, mas estes são
destinados a processar as energias (e matéria) do plano espiritual.
A mente define o corpo mental. A interação mente e corpo
mental estrutura o perispírito, que é o reflexo do grau
evolutivo do espírito associado às vibrações
energéticas do ambiente onde se encontra.
Lembremo-nos que o processamento das informações é
da mente, e não do órgão receptor. Isso é
válido até para os encarnados. Não enxergamos
com os olhos, mas sim com o cérebro, que decodifica, analisa
e processa as informações, convertendo-as em imagem
e significado.
Quando do processo da reencarnação, existe uma forte
interação entre o campo perispiritual e o potencial
genético. O perispírito desencadeia potenciais genéticos
na célula-ôvo, mas a determinação gênica
também molda o perispírito do encarnado, adaptando-o
à realidade de um corpo físico, seus órgãos
e sistemas.
É preciso lembrar que os espíritos nos informam que
a "...forma humanóide é a básica
dos espíritos no universo...", o que não é
a mesma coisa que "forma humana". Também
é lógico concluir-se que os espíritos desencarnados
que estão relacionados à vibração do orbe
terrestre, por ainda estarem sujeitos à reencarnação
e ao contato gênico, têm uma estruturação
externa (morfológica) semelhante à humana.
Como é a mente que processa as informações, é
normal que os espíritos menos evoluídos acreditem "enxergar
com olhos", "ouvir com ouvidos", "cheirar
com nariz", "sentir com a pele". Os mais
evoluídos até se utilizam dessa imagem, pois facilita
o entendimento e a comunicação.
Espero estar contribuindo com este ensaio. É fruto de síntese
pessoal, resultante de muita leitura e pesquisa. Procurei transpor
para uma linguagem que possa ser entendida por quem conheça
Espiritismo e tenha certa bagagem de conhecimento científico.
Acredito no que coloquei, por adquirir convicção, mas
admito que existem outras visões, e que talvez, elas possam
estar certas. Só não conseguiram me convencer ainda.
Mas estou aberto para fazê-lo, se passar pela minha análise
pessoal de lógica, razão, bom senso e coerência
com o conhecimento científico e com a base doutrinária.