A evolução societária, sem sombra de dúvida,
depende da evolução individual, pois o "edifício
social" é construído pelos "tijolos",
que são cada um de seus componentes ou indivíduos. A
qualidade dos tijolos é que pode garantir estabilidade e durabilidade
ao edifício.
A sociedade, com sua estrutura e com seus atributos, representa exatamente
a somatória do estado evolutivo dos indivíduos que a
compõe. Tem-se uma sociedade conturbada, desumana, injusta
e desequilibrada, exatamente por ser essa a resultante da somatória
das tendências, percepções, comportamentos, sentimentos,
vivências e conhecimentos dos indivíduos componentes.
Evoluir é ter uma melhor compreensão e, em decorrência,
uma melhor interação com o ambiente natural e com o
ambiente social em que se vive. Mas isso só ocorre se o indivíduo
é educado para entender as Leis Naturais, como interfere nelas
e então transforma essa compreensão em uma prática
constante, de forma que o conhecimento evolua para aprendizado efetivo.
Decorre pois, que para evoluir, a educação do indivíduo
é indispensável, sendo mesmo o único instrumento
ativo capaz de propiciar essa transformação. Nesse campo,
a educação pode ser subdividida em três sub-grupos:
a educação familiar, a educação formal
(a escola) e a auto-educação.
A educação familiar, aquela propiciada pelos pais aos
filhos, teoricamente encarregada de estabelecer os parâmetros
da convivência societária, de determinar os limites do
comportamento ético e moral, bem como de reforçar as
qualidades e virtudes intrínsecas do ser humano, na sociedade
de hoje, infelizmente, está sendo abandonada, como decorrência
da falta de preparo dos pais, pela pressão econômica
e de sobrevivência, que mantém os pais longe dos filhos
e principalmente, pela exemplificação inadequada de
hábitos, comportamentos e atitudes. Na sua grande maioria,
os pais "perderam o controle" sobre os filhos, e com isso
deixam de educá-los de forma adequada, gerando toda uma geração
sem limites de comportamento e sem amparo nas suas dificuldades.
A educação formal, a escola, em decorrência, se
vê as voltas com uma "missão quase impossível":
suprir as lacunas deixadas pela educação familiar. Para
piorar, uma interpretação equivocada e distorcida da
Legislação de proteção à criança
e ao adolescente, gerada por pessoas despreparadas e desconhecedoras
da realidade das Escolas Públicas, que estão presentes
e atuantes nos diversos órgãos encarregados de proteção
a essa faixa etária (incluindo o Judiciário, os Conselhos
Tutelares, o Executivo e o Legislativo), reforça e estimula
a indisciplina e o descontrole nos alunos, levando a predominância
da indisciplina nas Escolas Públicas, onde alguns jovens desajustados,
sob a proteção e beneplácito das entidades e
pessoas intervenientes, aterrorizam professores e desmoralizam diretores,
contaminando e influenciando os colegas, impedindo o processo de aprendizado.
Tem-se como decorrência, professores desmotivados, doentes,
incapacitados na sua ação educadora, bem como os resultados
pífios que o país vem colhendo em todos os últimos
exames internacionais de conhecimento e aprendizado de crianças
e jovens, que nos colocam nas últimas posições,
atrás de países muito mais pobres e considerados como
sub-desenvolvidos.
Por certo, muitos tentarão negar os fatos descritos acima.
Por certo também, essas pessoas nunca vivenciaram o dia-a-dia
de uma sala de aula da Escola Pública, onde a certeza da impunidade
leva a agressão moral e até física dos Educadores
e Diretores, onde todos os instrumentos de ordem e de disciplina foram
removidos ou desautorizados, tais como a suspensão disciplinar,
as medidas pedagógicas, a transferência compulsória,
a obrigação de respeitar e obedecer aos professores
e diretores, pois cada atitude e tentativa de restabelecer a disciplina,
leva a interferências e ingerências extemporâneas
dos ditos "protetores" da infância e adolescência,
que impedem qualquer punição ou medida disciplinadora
a alunos sabidamente indisciplinados, desordeiros e até violentos,
mesmo que tenham agredido professores fisicamente ou destruído
patrimônio público (basta ver as notícias recentes
na imprensa para saber que isso é verdade), sem tomar nenhuma
medida sócio-educativa que responsabilize os pais e o próprio
indivíduo em formação pelos seus atos, mostrando-lhe,
educativamente, o que é responsabilidade, direitos e deveres.
No contexto descrito anteriormente, a auto-educação
do indivíduo fica muito comprometida. Como a pessoa pode estabelecer
um comportamento auto-educativo, se não recebe as diretrizes
para tal da educação familiar e da educação
formal? E para piorar, a grande mídia repercute apenas os aspectos
mais negativos da sociedade e dos indivíduos que a compõe,
reforçando o erro e o mau exemplo. Não há a valorização
das atitudes positivas, éticas e corretas.
É preciso lançar uma revolução pela Educação,
para que se possa mudar esse estado de coisas. Para começar
é preciso educar legisladores e fiscalizadores da proteção
à infância e adolescência sobre o que é
o processo de aprendizagem e suas exigências e particularidades,
inclusive em termos de disciplina, que é exigência no
mundo inteiro onde a educação tem sucesso. Espera-se
como retorno, uma legislação mais eficiente, eficaz,
sábia e equilibrada. E uma atuação educadora,
construtiva e disciplinadora dos organismos envolvidos, em especial
do Judiciário, do Ministério Público e dos Conselhos
Tutelares.
Para essa revolução, basilarmente, os pais devem assumir
o lugar de pais, encarregando-se efetivamente da educação
e da exemplificação ética-moral, aprendendo a
moldar o caráter e a definir limites e responsabilidade dos
filhos, pois isso a educação formal nunca poderá
substituir com êxito.
Para os pais, atuais e futuros, existe uma tarefa árdua. Terão
que fazer sua auto-educação, independentemente da base
sobre a qual se assentem. Terão que fazer um esforço
muito grande para isso, pois o círculo vicioso da falta de
educação terá que ser rompido pela geração
que está no poder (paterno, econômico, social, político),
e essa geração, sem sombra de dívida, é
a dos pais. Terão que aprender a ser melhores, mais humanos,
solidários e tolerantes. Terão que exercitar mais a
justiça e a eqüidade, o equilíbrio e a serenidade.
Terão que falar mais, ouvir mais, exemplificar mais e melhor.
Terão que ter inteligência e bom senso para o disciplinar
e para o delegar, para o pedir e para o determinar, para o decidir
e para o negociar, para o dar e para o negar. Melhorar-se aqui, tornando-se
pais melhores, mais presentes e efetivos na educação
familiar dos filhos, é romper o círculo da estagnação
educacional, passando a uma espiral crescente de aprendizado e vivências
cada vez mais positivas.
Se isso ocorrer, e apenas se, poder-se-á investir com sucesso
no processo educacional formal, reestruturando-o e requalificando
os Educadores, resgatando a auto-estima dos Professores, restabelecendo-lhes
a saúde psíquica e mental, recolocando-os no rumo correto
dos processos de aprendizagem.
Como efeito conseqüente, numa espiral virtuosa, a auto-educação
passará a ser facilitada, principalmente se, concomitantemente,
passar-se a exercitar o espírito crítico, que cobre
e exija da mídia a divulgação do bem, do correto,
do positivo, do construtivo e do educativo. Se o ser "bom caráter"
for valorizado, se for "vendido" como uma "exigência
da moda", como algo característico das pessoas que se
destacam e são vencedoras, isso será imitado e reproduzido
como comportamento socialmente desejado e valorizado.
Claro que não se pode ser simplista, pois se sabe que nenhum
processo intervencionista na sociedade pode ocorrer de maneira isolada,
que é preciso vencer as mazelas, injustiças e desequilíbrios
sociais gritantes de nossa sociedade. Mas, de novo, tem-se o círculo
vicioso, que necessita ser rompido. Uma revolução pela
educação, fatalmente levará a melhoria do meio
societário. Uma população mais educada e participativa,
fará com que o Governo use melhor o dinheiro público,
exigirá que as Empresas tenham mais responsabilidade social,
efetuará maior controle sobre sua própria gestão.
E investirá mais em si mesma, passando a eleger melhor e a
cobrar mais dos poderes constituídos, entendendo que os Governantes
e Legisladores representam exatamente o "status quo" societário,
que deve sair da inércia para a evolução constante.
Independente de qualquer outra coisa, cada um é responsável
por fazer a sua parte. Aqui e agora. Como disse o poeta (1),
"...quem sabe faz a hora, não espera acontecer...".
(1) poema de Geraldo Vandré,
na música: "Pra não dizer que não falei de
flores".