Vamos abordar aqui a questão
do casamento, mais especificamente do casamento religioso. Para esta
abordagem, devemos que nos lembrar que o Espiritismo Kardecista não
tem nenhum ritual. Nenhum, absolutamente. Não só do
casamento, mas nenhum outro.
A prática religiosa Espírita é baseada exclusivamente
no Amor a Deus e na Fé raciocinada. Para o Espírita
Kardecista, ter religião significa "estar ligado a
Deus', pois a palavra "religião" significa
exatamente isso: ligar-se a Deus.
Se analisarmos o Evangelho do Mestre Jesus, veremos que não
está instituído, em nenhum momento dele, o casamento
como ato de ligação a Deus (ato religioso) ou de fé.
Veremos que o Cristo fala, a respeito da união de Homem e Mulher
"....não separe o Homem o que Deus uniu....",
que foi tomado como base teológica para o ritual (sacramento)
do casamento e da indissolubilidade eterna do casamento religioso.
Em verdade, o que o Cristo pretendeu nos dizer, é que o amor
verdadeiro entre Homem e Mulher, é conseqüência
do Amor Divino que é, assim, verdadeiramente abençoado
por Deus, e que o Homem (ser humano), não deve tentar separar
as pessoas que se unem pelo amor verdadeiro, pois a esses, Deus (AMOR)
uniu.
Na verdade, o casamento religioso foi, durante muitos séculos,
a única forma de "legalizar", de "oficializar"
a ligação estável entre Homem e Mulher, de estabelecer
regras de conduta e de responsabilidade para o "casamento",
para a vida familiar. Devemos nos lembrar que a época, não
havia registros, não havia cartórios, sistemas de documentações,
certidões, leis, etc.
Inicialmente, apenas o poder moral da Religião e o medo da
"punição Divina" garantia os direitos
e deveres no casamento. O Sacerdote ou o Pastor ou o Pajé ou
o Curandeiro ou o Monge, exerciam o papel de "fiador" do
compromisso, em nome da Divindade, do Ser Superior.
Mais tarde, as Igrejas, as Ordens Religiosas, os Templos, quando já
existia a escrita, mantida apenas em grupos herméticos e de
iniciados, passaram também a proceder e manter o registro formal
das uniões (casamento), ampliando a estabilidade das mesmas,
pela possibilidade de encontrar-se registro de quem era ou não
casado.
Em muitas culturas e religiões, antigamente e mesmo hoje em
dia, o casamento não é um ritual religioso, mas sim
uma cerimônia familiar, onde o compromisso de Homem e Mulher
é assumido, pelos noivos, perante a comunidade, perante a família
e perante o representante da Religião, sendo o casamento celebrado
pelo Patriarca ou Matriarca da família, e não pelo Sacerdote
ou representante religioso. Mas também desse modo cumpre seu
efeito de "fiador" e estabilizador da união.
Também é importante lembrar uma realidade estatística:
- todas as Religiões Judaico-Cristãs do mundo, somados
todos os seus adeptos declarados, constituem cerca de 1/3 (33%) da
população mundial. Portanto, cerca de 2/3 da população
mundial não segue o Cristianismo, e têm outros conceitos
a respeito do casamento e da forma de celebrá-lo.
Com a evolução da sociedade, com a criação
das Constituições dos países, das Leis, do avanço
e aperfeiçoamento do registro público, o casamento civil
passou a ser o controlador da estabilidade, dos direitos e dos deveres
do casamento, da proteção da mulher e dos filhos, da
garantia de herança e sucessão.
O casamento religioso ficou como o rito ou Sacramento específico
das Religiões, especialmente as Judaico-Cristãs. Mais
modernamente, veio se transformando muito mais numa ocasião
social do que num ato de fé verdadeira, o que está sobejamente
demonstrado pelo enorme número de separações
que ocorre entre uniões com menos de 5 anos de duração,
quase todos casados também em cerimônia religiosa.
Quando o Espiritismo surgiu, o casamento civil já era uma realidade.
Não havia mais necessidade do casamento religioso como "regulador".
O Espiritismo, baseado na fé raciocinada, na fé
verdadeira, na lógica e na razão, não trouxe
para seu seio nenhum ritual. A sociedade já podia
dispensá-los. A ligação com Deus (Religião)
nunca precisou deles. O Evangelho do Cristo era para ser praticado
no dia-a-dia, e não transformado em rituais.
Não estamos aqui falando mal do casamento religioso. Muito
pelo contrário. O extremo respeito que o Espiritismo tem pelas
Religiões, já nos impediria disso. Cada um deve seguir
o que preceitua sua crença religiosa. Só estamos explicando
porque o Espiritismo Kardecista não tem a cerimônia
ou ritual de casamento, e porque os Espíritas formalizam sua
união no civil, não necessitando do casamento religioso
enquanto ritual, cerimônia ou preceito religioso.
Para os espíritas, existe um guia seguro para que os casais
aprenderem a consolidar sua união no dia-a-dia. É a
prática da própria Doutrina Espírita, em sua
integralidade. E tudo pode ser resumido em três palavras: Amor,
Tolerância e Perdão. E num exercício diário:
o do aprendizado constante.
Ao decidir pelo casamento, Homem e Mulher estão assumindo uma
grande responsabilidade, um grande compromisso. Estão iniciando
uma nova família. A família é, e sempre
será, a grande escola de evolução, de aprendizado,
de crescimento espiritual, se bem aproveitada. Cabe a cada
casal fazer com que sua família seja a melhor das escolas,
a que ensina o caminho de apreender-se a felicidade.
Para isso, devem ter em mente que sua nova família deve ensinar
amor e caridade. Para ensinar, é necessário praticar.
Praticar diariamente. Aprender com os erros. Aprender a não
mais errar. Aprender a acertar cada dia mais. Aprender a ser feliz.
Esse é o casamento verdadeiramente abençoado
por Deus. E ele independe das religiões.
Artigo escrito em outubro de 2002