Há diversas maneiras de exercer
o diálogo, uma delas, embora desconhecida, possui grande efeito
transformador. O melhor exemplo de comunicação é
certamente o diálogo. A palavra compreende duas ou mais pessoas
interagindo de forma a construir novos significados com enriquecimento
mútuo. Um trabalho de criação em parceria. O
diálogo é a base do relacionamento humano, por meio
dela o homem experimenta derrotas e constrói gradativamente
suas conquistas.
A palavra grega “diálogos”
pode ser traduzida como: através do sentido das palavras. Com
o diálogo, a comunicação ocorre no processo de
interativo entre pessoas que trocam significados pelas palavras empregadas,
mas também pela voz, pelo tom, pelas pausas, pelo corpo, pela
expressão facial, pelos gestos, que exprimem os pensamentos
e sentimentos.
A Grécia é uma das origens
do estudo da comunicação pessoal mais estruturada, que
na época denominava-se retórica. No seu livro de mesmo
nome, Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) analisa e fundamenta
os três gêneros retóricos: o deliberativo (que
procura persuadir ou dissuadir), o judiciário (que acusa ou
defende) e o epidítico (que elogia ou censura). Essa ênfase
na persuasão influenciou todo o mundo ocidental e perdura até
hoje, embora Sócrates tenha preferido a maiêutica e Platão
tenha discordado da retórica por considerá-la eticamente
perigosa.
O conceito moderno de diálogo
foi desenvolvido pelo físico David Bohm, com os seguintes objetivos:
a) melhorar o relacionamento entre
as pessoas;
b) observar o processo de produzir pensamentos;
c) produzir e compartilhar significados.
É um processo que maximiza
o aprendizado.
Para David Bohm, de modo geral, são
os seguintes, os passos de uma conversação:
a) as pessoas percebem coisas e
se comunicam;
b) as diferenças aparecem;
c) surge a necessidade de fazer escolhas, que podem ser orientadas
para dois caminhos:
1) discussão controlada;
2) diálogo aberto que objetiva fazer emergir idéias
e significados novos e compartilhá-los.
A forma tradicional de diálogo
é o debate ou discussão, que naturalmente é necessária
e atende uma larga necessidade nos ambientes acadêmicos e profissionais.
A questão é que não devemos exercitar apenas
esse tipo de comunicação, sob pena de desperdiçar
outras oportunidades de coleta de informações e aprendizado.
No exercício do diálogo
aberto, os interlocutores não desejam ter seu ponto de vista
sobrepujando os demais. A postura íntima é de ganhar,
ganhar experiência, aprender algo novo, descobrir outras formas
de raciocínio e entendimento. No diálogo aberto, embora
não seja determinante haver um vencedor, todos vencem se qualquer
um vencer. Ninguém pretende fazer sua visão específica
prevalecer, mas enriquecê-la, transformá-la. Não
há a ansiedade natural decorrente da possibilidade de ser descoberto
um erro no seu ponto de vista. Ao contrário, sempre que qualquer
erro é descoberto da parte de qualquer um, todos se sentem
ganhadores. É um relacionamento ganha-ganha.
Na discussão, as pessoas não
estão abertas ao aprendizado, entram na conversa com objetivos
claros de convencer e se houver obstáculos, contestar, negar
e se defender. Na melhor das hipóteses, a pessoa seleciona
alguns pontos secundários de sua visão que ela estaria
disposta a ceder, mas mantém intocáveis a maior parte
das ideias que estruturam seu ponto de vista e qualquer ameaça
a elas desencadeia emoções negativas de mágoa,
depressão ou raiva.
Trazemos conosco toda uma sorte de presunções, não
só sobre política, ou economia, ou religião,
mas sobre quaisquer pormenores da vida e nos sentimos mal se não
tivermos de pronto uma opinião sobre qualquer assunto. Por
extensão, também opinamos sobre o comportamento dos
outros e rapidamente concluímos o que um indivíduo deva
fazer, como fazer, geralmente sem informações suficientes
para isso.
Essas presunções são
defendidas a menor ameaça percebida com alta carga emocional.
Ocorre que a pessoa se identifica com uma opinião e se confunde
com ela. Se alguém ataca essa opinião, a própria
pessoa se sente atacada, procurando se defender ou contra-atacar.
Não há o mínimo interesse de aprender.
Para formar sua opinião, a
pessoa se valeu de suas próprias experiências, de uma
série de decisões mentais de aceita/não aceita,
influenciadas pelas fontes das informações e o grau
de simpatia e credibilidade que elas inspiraram. Dessa forma, a sua
opinião, tende a ser vivenciada como “verdade”,
a sua verdade.
Entretanto, as pessoas são
diferentes, tiveram vidas diferentes, sensibilidades diferentes e
possuem verdades diferentes. O problema é que a evolução
pressupõe a transformação de nossos paradigmas,
mas mantemos uma postura tão firme de defesa que dificultamos
o processo natural de mudança e aprendizado.
Para você captar bem esses conceitos,
experimente! Planeje e realize um diálogo aberto com uma pessoa,
depois treine com mais participantes. Nada melhor do que vivenciar
para aprender. Escolha um assunto, não muito polêmico
em seus primeiros exercícios. Todos os participantes devem
ser encarados como iguais e, principalmente, você não
deve decidir, não tem e não aceita essa obrigação.
Trate a sua opinião como a opinião de outra pessoa.
Ela não é você, é tão somente uma
opinião que você conheceu. A prioridade maior é
entender a outra opinião e partilhar um conteúdo comum.
Assuma integralmente uma postura serena de querer aprender. Com isso
você estará vivenciando um novo modo de ser, com plena
liberdade para ouvir e refletir.
Você não precisa concordar
com o ponto de vista do seu interlocutor, basta procurar entendê-lo.
Como ele chegou a essa conclusão? Quais fatos ou inferências
foram fundamentais? Caso você identifique uma falha, não
tripudie de jeito algum! Ao contrário, seja benevolente, procure
você mesmo outro argumento. Respeite os sentimentos dos outros.
Sinta e busque sentir que você está conectado a outras
mentes. Você está somando sua energia a energia dos seus
parceiros de comunicação, multiplicando as possibilidades
de estar realmente aproveitando o momento para se transformar, estimulando
a transformação nos outros e no meio ambiente. Bom diálogo!
Ótima comunicação.