“A um médium é
solicitado que conheça o mínimo indispensável
para que possa realizar as práticas de Umbanda e seus
rituais. Também é exigido que estude um pouco,
porque só assim, entenderá tudo o que acontece
dentro de um templo de Umbanda durante a realização
das giras de trabalho.”
Rubens Saraceni [1]
A palavra “passe” tem origem
no Espiritismo, codificado por Allan Kardec, e traz a idéia
de “passar” ou “transmitir” algo a alguém.
A doutrina codificada por Kardec tem base cristã e encontra
no Evangelho as muitas passagens em que Jesus cura as pessoas e “expulsa”
espíritos indesejados por meio da imposição de
mãos. Algo que vamos encontrar em muitas outras culturas como
a egípcia, a grega, a celta, a chinesa, a indiana ou em tradições
indígenas e xamãnicas. Estudiosos do passado e do presente
se debruçam sobre os fundamentos científicos das técnicas
de “passe magnético”, desde Hermes Trimegistro,
Fo-Hi, Asclépio, Pitágoras, Hipócrates, Paracelso,
Van Helmont, Mesmer, Du Potet e outros.
Na obra de Allan Kardec vamos encontrar (A
Gênese, Cap. XIV, 1:14, 15 e 18) a descrição
dos “Fluidos” e sua manipulação:
Os Espíritos atuam sobre os fluidos espirituais,
não os manipulando como os homens manipulam os gases, mas
por meio do pensamento e da vontade. O pensamento e a vontade são
para os Espíritos o que a mão é para os homens...
Pode-se dizer, sem receio de errar, que há nesses fluidos,
ondas e raios de pensamentos, que se cruzam sem se confundirem,
como há no ar ondas e raios sonoros...
pensamento do encarnado atua sobre os fluidos espirituais como o
dos desencarnados; transmite-se de Espírito a Espírito
pelo mesmo veículo, e, conforme sua boa ou má qualidade,
saneia ou vicia os fluidos circundantes...
No “Passe Espírita”
o médium manipula estes fluidos por meio de técnicas
que foram se desenvolvendo com o tempo. Aqui no Brasil devemos, principalmente,
a Bezerra de Menezes e Edgard Armond, o método já consagrado
e largamente utilizado em boa parte dos “Centros Espíritas”.
A padronização
dos passes e outras práticas doutrinárias... foram
providências adotadas na Federação Espírita
dos Estado de São Paulo para efetivar a unidade das práticas
espíritas, assunto de alta relevância, levado ao Congresso
de Unificação realizado em 1947 nesta Capital.
Estas são as palavras que “prefaciam”
o título Passes e Radiações: Métodos
Espíritas de Cura de autoria de Edgard Armond, 1950.
Podemos dizer que o conteúdo deste livro norteou e norteia
até hoje o método e técnicas utilizadas no Espiritismo
Brasileiro, em que o “Passe Magnético” subdivide-se
por categorias como P1, P2, P3, P4. Além do Passe de Limpeza
e da Auto Cura. A realização destes passes é
feita por qualquer pessoa de boa vontade que tenha estudado o método,
para algumas situações, no entanto é necessário
certa sensibilidade ou dom mediúnico. A maioria dos métodos
é explicada por uma corrente de energia/magnetismo e fluidos
que estabelecem um circuito de forças entre “operador
passista” e consulente (assistido). Dentro do processo são
definidos alguns conceitos como a polaridade das mãos (direita
= positiva, esquerda = negativa) e os centros de força, denominados
de chacras por influência oriental, assim como a importância
de um conhecimento básico sobre a fisiologia do corpo material
e espiritual.
“Quando o Espírito
é de elevada categoria, possui grande poder curativo, muito
diferente e muito melhor que o que possui o magnetizador encarnado.”
Edgard Armond [2]
O “Passe Umbandista” não é apenas um “passe
magnético” ou material e sim um “Passe Espiritual”,
aplicado por um espírito. Assim como Edgard Armond classificou
diferentes métodos de aplicação do Passe Magnético
para diferentes necessidades, também os espíritos que
se manifestam na Umbanda aplicam métodos variados de acordo
com a necessidade de cada consulente, dentro dos variados recursos
que cada espírito guia entidade/mentor, possui. Sem esquecer
que cada um recebe na medida de seu merecimento e afinidade, podendo
um encarnado bloquear uma ação positiva direcionada
a ele mesmo como conseqüência de sua postura mental. Pois
muitos merecem, mas não estão abertos emocionalmente
ou psicologicamente para receber o que a espiritualidade lhe oferece,
por vários motivos como descrença, irritação,
mentalidade critica e posturas interesseiras desfocadas de um objetivo
espiritual.
O “Passe Umbandista”,
para além de “Passe Espiritual”, pode ser definido
como a aplicação de um conjunto de técnicas mágico-religiosas,
além de explorar todos os recursos possíveis de imposição
de mãos, utiliza elementos e técnicas variadas e até
inusitadas.
“Porém, enquanto nos
centros espíritas usa-se o passe magnético, nos centros
de Umbanda também se recorre aos passes energéticos,
quando são usados diversos materiais (fumo, água,
ervas, pedras ou colares, etc.) que descarregam os acúmulos
negativos alojados nesses campos eletro-magnéticos... Nem
sempre o que parece folclore ou exibicionismo realmente o é.
Se os mentores dos médiuns de Umbanda exigem determinados
colares de pedras, eles sabem para que servem e dominam seu magnetismo,
assim como as energias minerais cristalinas irradiadas pelas pedras.
Ervas e fumo, quando potencializadas com energias etéreas
pelos mentores, também se tornam poderosos limpadores de
campos eletromagnéticos.”
Rubens Saraceni [3]
A finalidade é de alcançar maior
êxito de acordo com as necessidades, o merecimento e os recursos
disponíveis. Cada entidade tem a liberdade de aplicar a técnica
que lhe aprouver, desde que dentro dos limites de ética, bom
senso e respeito. Embora haja um conjunto de métodos e recursos
característicos da Umbanda. Muitas entidades, em especial os
pretos velhos, por exemplo, realizam o benzimento, que se distingue
do “Passe Magnético”, por empregar uma ação
mais relacionada ao poder do verbo, elementos e simbologia, considerada
“Magia Popular”. Também é possível
identificar métodos complexos de Magia Riscada (Magia de Pemba),
abrindo espaços mágicos (Pontos Riscados) que muitas
vezes lembram Mandalas do Hinduismo ou mesmo Fórmulas Cabalisticas
da Real Arte Simbólica e Mística Hebraica entre outras
práticas de Ocultismo e Hermetismo. Entre os elementos mais
utilizados podemos identificar velas, água, óleo, pedras,
essências, fumo, ervas, tecidos, ponteiros e a citada pemba
(giz utilizado para traçar símbolos), dentro de um ambiente
de terreiro, mágico-religioso por natureza. Nos métodos
se observam rezas, orações, preces, evocações,
invocações, determinações e fórmulas
mágico-religiosas associadas a banhos, defumações,
oferendas e outros.
Todos estes recursos estão
mais ou menos associados ao “Passe Umbandista”, no qual
se cria um ambiente de Som, Cores, Aromas e Luzes, capaz de inebriar
de forma positiva todos os cinco sentidos do consulente a fim de conduzi-lo
a certo estado de consciência desejado.
Durante o “Passe Umbandista”
observamos a entidade espiritual fazer a imposição de
mãos, segurar velas direcionadas aos chakras ou traçando
movimentos no ar, colocam colares (guias) no pescoço do consulente
ou o colocam dentro da mesma em circulo no chão. Atiram ponteiros
em pontos riscados, fazem gestos rituais e movimentos com os pés
e mãos que nos faz crer na “Magia Gestual”. Em
meio a tantos recursos, que nos encantam e fascinam, nos chama a atenção,
em especial, o estalar de dedos, bem característico em quase
todas as linhas de trabalho. Muitas pesquisas e especulações
já foram realizadas sobre esta prática, entre elas são
identificadas as energias que existem na ponta de cada um dos dedos
da mão, que são pequenos chakras ou vórtices
de energia (“chacrinhas”), e, o “choque” vibratório
desencadeado no ar quando o dedo médio estala sobre a região
da mão chamada de “monte de Vênus”, causando
vibração astral e sonora o que desperta certa energia
dentro do campo em que está atuando. Este “Estalar de
Energias” pode assumir contextos vaiados de acordo com o que
esteja associado, por meio do pensamento ou movimentos. Além
deste contexto pode-se usar o estalar de dedos como um simples gesto
de descarregar as energias absorvidas pelas palmas das mãos.
Um caboclo ou outro espírito guia eleva sua mão ao alto
(ou ao lado) buscando certa energia que será irradiada ao consulente,
num movimento rápido, ao mesmo tempo em que transmite esta
energia positiva, retira os eflúvios negativos e os “descarrega”
com um estalar de dedos. Os movimentos longitudinais, transversais
e circulares também foram descritos na obra de Edgard Armond,
em que: Os passes longitudinais movimentam os fluidos, os transversais
os dispersam e os circulares e as imposições de mãos
os concentram, o mesmo sucedendo com o sopro quente. Este último
merecendo ainda um estudo à parte.
No entanto pode-se associar procedimentos mais
ou menos magísticos com os mesmos, ou seja, a relação
entre estalos e números com o poder de realização
que cada um deles possui, aplicando-se seqüências de estalos
que podem variar, por exemplo, de 2x3,3x3,4x3 ou ainda estalos que
desenham formas geométricas no ar. Lembrando que a aplicação
de símbolos associados a idéias e intenções,
com suas respectivas invocações é a mais explicita
“magia simbólica”, encontrada nas mais variadas
culturas. Assim seqüências de estalos “desenham”
no ar, cruzes, estrelas e círculos; firmando ou estabelecendo
pontos e espaços vibratórios, aos quais podem ter função
nesta realidade ou abrir portais para outras realidades.
Muito mais poderíamos escrever
sobre o “Passe Umbandista” e seus recursos, no entanto
não pretendemos em um único artigo esgotar o que é
inesgotável. Fica aqui um comentário final sobre a importância
do estudo, não para complicar o que é realizado de forma
tão simples por nossos guias de Umbanda, mas com a finalidade
de compreendermos o que eles realizam, com a consciência de
que eles sim estudam e estudaram muito para realizar este trabalho
espiritual. Não estudamos por um movimento do Ego ou para substituir
a presença dos mesmos, mas para lhes oferecer maiores recursos
psíquicos, espirituais e materiais. Estudamos para ver o quanto
somos ainda “neófitos” (aprendizes) nesta senda,
em que Caboclo (a), Preto Velho (a), Baiano (a), Boiadeiro (a), Marinheiro
(a), Cigano (a), Exu e Pomba Gira são nossos Mestres.
[2] Edgard Armond. Passes e Radiações:
Métodos Espíritas de Cura. São Paulo: Ed. Aliança,
1997. P. 85