A Lógica, pela nova classificação
dos estudos humanos é um Título das Ciências Filosóficas
dita ciência do raciocínio e como tal ensina a buscar
o conhecimento de forma correta e, assim, estuda os procedimentos
e as condições do pensamento correto e do conhecimento
exato, Aristóteles a classificava simultaneamente como ciência
e arte; sem dúvida, Voltaire concordava com ele definindo-a
como “l’art de la raison juste”.
São dois os seus ramos: a lógica formal e a lógica
matemática (alguns usam o termo “exata”). Evidentemente,
vários são os filósofos que entram em devaneio
classificatório, indo a considerações as mais
simples embora racionais, para chegarem a conclusões senão
redundantes, pelo menos, quase repetitivas.
Por outro lado, sendo o pensamento o processo ou conjunto de ações
usado pelo homem para imaginar a verdade em si, evidentemente, deveria
estar diretamente ligado à lógica, todavia, não
nos parece que isto seja obedecido já que, vendo os mesmos
fatos, pessoas distintas pensam coisas diversas que os levam, por
vezes, até, a conclusões antagônicas.
Na área religiosa, então, o problema é deveras
alarmante já que, seguindo a mesma doutrina, podem-se encontrar
interpretações inteiramente opostas a respeito de uma
consideração, um lema ou até mesmo um dogma imposto.
No “Le Discours de la Méthode”, no original latino,
René Descartes dizia “cogito, ergo sum”
– penso, logo existo – levando-nos á idéia
de que o pensamento é pura decorrência da existência
ou da vida em si. O pensamento é o resultado da ação
de pensar. Os vegetais existem, todavia, não pensam, pelo menos,
dentro do raciocínio humano, embora tenham uma forma condicionada
de se desenvolverem como se estivessem cultivando algo dentro de uma
forma primitiva de imaginar, senão, como explicar a maneira
pela qual eles lutam para sobrexistir!?
No domínio dos devaneios poderíamos nos adentrar por
uma série conclusões e observações aleatórias
que só serviriam para provar que o que os homens pensam nem
sempre tem lógica e que sua diversidade ocorreria em todos
os campos e direções.
Porém, o que nos leva às presentes considerações
é um estudo de Voltaire contido em Lettres Philosophiques
onde ele afirma que, se todo pensamento tivesse lógica, os
homens não variariam em suas conclusões e Deus seria
um só para todo mundo, ....caso exista (as reticências
são nossas). Em seus primeiros trabalhos, o grande enciclopedista
fora de uma irreverência imensa com relação à
Igreja, a ponto de escrever tais frases. Já com o decorrer
da idade, ficou mais brando e chegou a compor uma quadra poética
enaltecendo Deus, admitindo sua existência.
É conceito geral de que religião não tenha lógica,
senão, jamais precisaria da crença e da fé para
estabelecer-se e manter seus dogmas sem a análise da razão.
No ocidente, onde predominam as crenças ditas cristãs,
vamos encontrar uma série de igrejas diversas, cada qual interpretando
seu livro sagrado – a Bíblia – à sua maneira
e julgando que sua igreja é a que seja a verdadeira seguidora
de Jesus que passou a ser o Cristo depois que Constantino determinou
que se fundasse a Igreja romana dita católica (do grego: universal),
imitando o Hinduísmo, onde Krishna é o governador do
mundo ou o responsável por sua existência.
Mas o Deus bíblico é um misto de onipotência e
bondade, sem dúvida, predicados que se contradizem porque,
sendo o único criador de tudo, também o seria do “mal”
ou do Lúcifer, o anjo rebelado que teria criado o mal contrariando
a vontade (que seria suprema se não fosse contrariada) do Criador
e que, como tal, deixaria de ser único na Criação.
Portanto, quem pensa de maneira cristã não usa a lógica
para fazê-lo porque é incompatível com a crença,
exigindo fé cega na sua aceitação. E lógica
sem raciocínio não existe; até mesmo, são
inúmeros que raciocinam e chegam a absurdos, a ponto de se
dizer que só existe lógica no cálculo matemático
porque, se o calculista não errar, o resultado será
sempre o mesmo.
Sem dúvida, quando Gottlieg Frege destacou a necessidade de
se aceitar uma lógica formal distinta do raciocínio
exato, ele tentava mostrar que o homem poderia pensar com justeza
sem necessidade do cálculo dito matemático, sem a exatidão
das perfeições de uma equação que sempre
leva ao mesmo resultado, seja quem a resolva.
Até hoje, os dicionaristas ainda não chegaram a uma
conclusão perfeita do que possa ser formal e cada qual, em
vez de definir o verbete em si, usa de considerações
gerais para explicá-lo. É relativo à forma. Ambos
os termos são latinos, mas, nem os clássicos autores
da antiga Roma souberam defini-lo com precisão.
No meu tempo de normalista, existia uma frase que dizia: “a
forma do bolo depende da fôrma”, embora, atualmente, esta
última tenha perdido o acento, ela é que fazia o bolo
ficar redondo ou não e, como tal, definia-se este conceito.
Ser formal, portanto, é ter forma, só que o sentido
muda quando se fala de “formandos” ou seja, alunos que
concluem um curso ou “se formam”. A formatura, ou colação
de grau, no caso, seria o conceito latino de adquirir conformação
cultural. Também define um alinhamento de tropas. Tudo, contudo,
tem forma.
Entenda-se, pois a forma do pensamento nem sempre com lógica,
todavia, expressando a opinião do dito pensador: entra aí
a lógica formal, ou seja, fruto do raciocínio, contudo,
não vem a ser obrigatoriamente a lógica matemática,
a precisão conclusiva correlata com o que se analisa.
Então, quando um químico conclui que o cloro e o sódio
são átomos afins porque sempre se unem em qualquer reação
química, a conclusão é a de que esta é
uma lógica matemática do pensamento; quando o psicólogo
observa determinadas reações de seus pacientes e conclui
que a normalidade do comportamento representa 75% dos participantes,
esta é apenas uma lógica formal considerar que uma pessoa
normal é aquela que satisfaça tal condição.
E tem, ainda, a lógica racional, que depende da razão
correlata com o raciocínio, mas este é outro capítulo
da Filosofia humana.
Sem dúvida, portanto, ainda aí, a lógica em si
depende do pensamento, embora nem todo pensamento tenha a devida lógica.
E muito se poderia falar sobre o tema, até, entrar em devaneios
e fugir da lógica para a abstração que vai além
do pensamento.
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