Num governo íntegro
não há espaço para corruptos
Marcus Sêneca
Professor de Retórica em Roma
e pai do preceptor de Nero – Lucius Annæus Sêneca
–, Marcus foi um crítico dos governantes da sua época
que faziam mau uso do seu Poder. Na frase citada e escrita em latim
ele usa um sentido para “espaço” que, evidentemente,
não seria o conceito matemático para o efeito físico.
Se abrirmos alguma Enciclopédia,
vamos encontrar, neste verbete, uma série de conceitos, os
mais variados, desde o simples lugar que pode ser ocupado por alguma
coisa, até o do filosófico, usado por Piaget em seus
estudos psico-pedagógicos – a Psicogenética –
da percepção infantil.
De permeio, teremos o dito “espaço euclidiano”
estudado na matemática do ginásio e definido por três
eixos cartesianos; fala ainda no espaço tensorial dos cálculos
estelares, enfim, até mesmo do “espaço cênico”
de um teatro, mas, em se tratando de vida além da vida,
não encontraremos nenhum conceito espacial.
Afinal, onde vivem os Espíritos desencarnados? No recém
descoberto “espaço vazio”? E onde fica este dito
cujo?
Hoje em dia, os dogmas religiosos lutam contra a racionalização
da análise científica que só aceita aquilo que
os aparelhos registram, motivo pelo qual os conceitos místicos
adotados pelas seitas ligadas ao lado religioso são peremptoriamente
negados pelos estudos clássicos.
É Religião contra Ciência.
Este acaba sendo o grande problema,
porque o “Espírito” humano passou a ser considerado
do domínio religioso, já que representaria a criação
de Deus e só a dita religião teria poder para receber
as instruções divinas.
Deus teria criado o homem e depois soprado nele o seu Espírito.
Pela venta, ainda por cima! Primeiro o efeito e depois a causa da
sua existência.
Quando os parapsicólogos resolveram
usar a aparelhagem da informática para registrarem as ocorrências
que fugiam ao domínio das ditas Ciências Exatas, os religiosos
imediatamente protestaram, alegando que tais pesquisadores estariam
ferindo os preceitos básicos da Criação e que
seriam severamente punidos por Deus, absoluto em sua Vontade.
Como a maioria das populações
de nosso planeta é religiosa, tais estudos parapsicológicos
passaram a ser verdadeira blasfêmia contra Deus e sua Vontade
Suprema.
A Pedagogia é materialista,
por excelência; não se preocupa com o destino e a existência
do Espírito livre do corpo. Apenas, restringe seus estudos
à vida do encarnado como se ele fosse algo que começasse
sua existência no ato do nascimento e terminasse no momento
agônico em que deixaria de viver.
A Psicologia, por sua vez, pelo lado
clássico, considera a alma, apenas, como fruto da existência
da vida e seus autores praticamente, reduzem seus estudos à
formação do indivíduo na sociedade, sua adaptação
ao meio em que viva, mais pelo lado intelectivo e moral que por seu
progresso evolutivo espiritual.
A Psiquê humana, para eles,
não é o fundamento da vida biológica senão
intelectiva. O lado biológico é analisado por outro
ramo da Ciência que vê a vida em função
das células orgânicas.
Eis porque a Parapsicologia, como Ciência, entrou na disputa
do estudo da vida pelo lado espiritual, até então restrito
ao Espiritismo e que, assim mesmo, acabou tomando conotação
religiosa embora seu codificador não o tenha definido dessa
forma (ver o preâmbulo do livro “O Que é
o Espiritismo” onde ele o define categoricamente).
Contudo, além das doutrinas orientais e do Espiritismo no ocidente,
da Teosofia da Senhora Blavatsky e de alguns filósofos, pensadores
que se preocupam com a vida além da matéria, muitos
físicos têm se expressado de modo que suas descobertas
científicas possam ser analisadas pelo lado filosófico
da vida espiritual.
Geralmente, são da escola indiana
de onde surgiu Bose, o assistente de Einstein e que, atualmente tem
Amit Goswamy como seu principal intérprete, e que estão
preocupados em definir da vida espiritual o espaço em que ela
se situe.
Evidentemente, só o fanatismo
religioso é que se mantém firme na hipótese de
que nosso Espírito, após o desencarne, vá para
uma região de espera que eles não sabem definir onde
fica, até o julgamento final, que será realizado pelo
Deus da sua religião.
O que há de mais recente neste
campo filosófico estribado nas circunstâncias cosmológicas
recentemente descobertas é um estudo indiano relativo ao “nada”
ou espaço vazio do Universo. Segundo as pesquisas da equipe
de astrônomos da Escola de Palomar, o Universo é composto
de 73% de nada e apenas 27% de energia, o fundamento da matéria
e da vida no Universo.
Pois bem: precipitadamente, houve
quem afirmasse que este “espaço do nada” seria
a Espiritualidade, só que, cientificamente, o “nada”
não é um contínuo e não pode ser um domínio
de existência. Ele foi comparado a bolhas de sabão onde
seu material colóide envolve cada bolha com sua película.
Com isso, prevalece, ainda, a velha
teoria da quarta dimensão, estudada por aparelhos que comprimem
um campo magnético (incompressível) nas três dimensões,
contudo, ele se esvai, teoricamente por uma quarta dimensão.
Mas, por que não somos capazes
de sentir esta dita quarta dimensão? Explicam os biólogos
que dispomos de três anéis no labirinto auditivo, um
horizontal, outro vertical e o terceiro frontal que nos dão
respectivamente as noções de largura, altura e profundidade.
Ao perdermos – acidentalmente, é lógico –
um desses anéis, ficaremos sem perceber a dimensão correspondente.
Os matemáticos teóricos
dizem que a quarta dimensão possui seis parâmetros enquanto
que a cartesiana, representada pelos três eixos, só possui
três parâmetros de posição para definir
cada ponto do seu espaço. A demonstração é
analítica e nenhum matemático a contesta.
Neste caso, o dito Espaço paranormal
seria este ou o definido pelas quatro dimensões e, neste caso,
os que vivessem neste domínio – Espíritos desencarnados
– nos veriam como nós somos capazes de ver as figuras
de um plano olhando da terceira dimensão sobre o mesmo.
Ver no sentido de observar.
Talvez por isso é que
as ciências filosóficas e seus adeptos tenham tanta dificuldade
em compreender a vida espiritual, já que a concepção
religiosa não tem qualquer fundamento para que sirva de prova
do que afirmam seus seguidores.
Parte experimental
Há uma regular literatura mediúnica
onde cada comunicante apresenta seu depoimento relativo à vida
na Espiritualidade, contudo, não tem o aspecto filosófico
nem a característica científica: trata-se de depoimentos
jornalísticos do tipo de reportagem onde o narrador descreve
o que viu e o seu conteúdo passa a ser mero depoimento na base
da fé ou do “acredite quem quiser”, embora não
se esteja negando tais informações.
Um outro aspecto é o dado por
sensitivos que têm a capacidade de se liberar do corpo e voar
livremente pelo Espaço desconhecido.
As técnicas principais foram
desenvolvidas por um médico do exército francês,
o Coronel Albert De Rochas e consiste no condicionamento do dito sensitivo
que se libera do corpo, ato também chamado de “desprendimento”,
termo condenado por muitos, porque sugere a morte, ou seja, a liberação
do corpo – desprender é soltar-se –; estes preferem
o termo “desdobramento” pois sugere que o espírito
liberto dos vínculos corpóreos, embora preso ao corpo
somático por laços parapsíquicos, pode volitar
em outra dimensão.
De Rochas se preocupou mais com o
lado da regressão da memória onde o paciente vai fazendo
com que suas observações retornem ao passado, ou seja,
à infância, até recair no ventre materno e, depois,
em vidas pretéritas. Neste sentido, um grande pesquisador brasileiro
foi o Dr. Augusto de Mattos que me esclareceu uma curiosidade: no
ato da regressão, o sensitivo passa da vida intra-uterina para
outra existência sem percorrer o período intermediário
entre uma encarnação e outra. Com isso, ele não
descreve seu período espiritual, isto é, o que faz ou
como vive e em que meio, enfim, como seja a vida espiritual entre
uma encarnação e outra.
Os dados obtidos por pacientes sob
condicionamento que os libere do corpo nunca ocorrem na regressão,
mas no simples desdobramento onde o sensitivo sai do corpo e dá
provas evidentes de que se desloca fora dele, indo a lugares onde
descreve cenas que só ele vê e que podem ser comprovadas
através de técnicas seguras.
Um caso típico ocorreu em nossa
casa, onde uma amiga se liberou do corpo e se sentiu indo para o telhado
e, em lá estando, começou a descrevê-lo com o
máximo rigor, inclusive, informando que uma das varetas da
antena de televisão estava partida e enrolada por um fio de
pipa. Nem nós sabíamos deste fato e, no dia seguinte,
viemos a comprová-lo. Ela esteve, portanto, no telhado.
Esta mesma amiga, em outras ocorrências,
contou cenas que via, onde os participantes eram amigos seus já
desencarnados. Seria estranho admitir que, no caso do telhado fosse
verdadeiro e no dos conhecidos já desencarnados fosse pura
ilusão: dois pesos e duas medidas.
Pois são inúmeras as
pesquisas neste sentido e as pessoas desdobradas, por vezes, confirmam
muitas das declarações que encontramos em obras mediúnicas,
descrevendo cenas onde o meio é deveras parecido com vivendas
terrenas.
O destaque fundamental, do depoimento
dos sensitivos liberados do corpo é que eles não precisam
caminhar para se deslocar: basta que desejem e assim se movem. Além
disso, ao descreverem as pessoas que vivem neste meio, fazem-no como
se fossem criaturas semelhantes aos encarnados em nosso planeta.
O que nunca ocorreu foi algum
deles dizer que o mundo dos desencarnados seja um ponto de espera
pelo julgamento final, nem que, tão pouco, os que aí
vivem tenham existência estática ou que se assemelhem
ao que as religiões não reencarnacionistas apresentam
como tese.
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