O amor é paciente, o amor é
bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha.
Não maltrata, não procura seus interesses, não
se ira facilmente, não guarda rancor.
O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com
a verdade.
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
1 Coríntios 13:4-7
O amadurecimento nos leva a repensar
atitudes e relevar muitas coisas que eram tidas como extremamente importantes.
A intencionalidade por trás dessa atitude pode ser diversa, mas
todas as vezes que abrimos mão da mágoa, da tristeza e
de lembranças negativas saímos ganhando.
É importante compreender que o perdão não é
um sentimento, mas um estado de espírito, uma disposição
interna de realizar algo. Mas eu só consigo colocar em prática
uma intenção se estou realmente convencido de que essa
é a atitude correta a ser feita.
Paulo, na sua carta aos Coríntios fala sobre o amor. O amor é
um sentimento. É através desse sentimento que poderemos
chegar à conclusão verdadeira que a melhor atitude para
nós mesmos é conseguir perdoar. Enquanto não tivermos
essa convicção íntima a energia não flui
de maneira adequada e não nos traz a paz e a certeza de que precisamos
para tomar as atitudes necessárias.
Mas como tudo na vida, perdoar é um processo. E como todo processo,
tem começo, meio e fim e pode ser treinável. Eu posso
educar a minha mente, o meu espírito, o meu cérebro a
agir de forma a ficar com a melhor parte. Basta entender.
Vamos fazer uma analogia. Imagine a sua memória como uma imensa
caixa de brinquedos. Ali tem coisas novas e velhas, boas e ruins, bonitas
e feias. O problema é que todas as vezes que meu espírito
pensa, para que esse pensamento chegue à minha mente ele precisa
passar pela minha caixa de memórias. Então é fácil
entender que ele sai do meu espírito de forma pura e cristalina
na sua essência, mas ao passar pelo emaranhado de memórias
que carregamos ele se "contamina" e chega no cérebro
já modificado pelas coisas que guardo, que armazeno em meu interior.
É por isso que todas as religiões dizem que perdoar é
o caminho para a leveza interior.
Porque se consigo limpar essa caixa, os meus pensamentos passam a alcançar
meu cérebro sem tanta coisa pendurada e aí consigo ter
mais foco, mais agilidade e mais conexão com o alto.
No processo de perdoar é importante compreender que nossa memória
funciona como uma resistência elétrica. Imagine um ferro
de passar roupas. Se você o ligar na tomada ele ficará
quente. Enquanto ele estiver conectado a tomada, continuará quente.
Porém, mesmo que você o desligue e ele permaneça
desligado por meses, no instante em que ele for conectado à tomada
se aquecerá novamente. Assim é nossa memória e
seus conteúdos. Eles não vão desaparecer. Sempre
que houver uma conexão as lembranças boas ou ruins vão
encher nosso cérebro nos trazendo as mesmas sensações.
É
preciso ressignificar, ou seja, dar um significado novo àquela
lembrança. Uma das formas de fazer isso é entrar em contato
voluntário com a lembrança dentro de um estado meditativo,
nos colocando como observadores do processo, abertos para ver a nossa
parte e de coração escancarado para entender os porquês
do outro.
Jesus nos lembra no evangelho de Mateus que a estrada é estreita
mas que o jugo é leve pra quem se dispor a trilhar esse caminho
que traz verdade e vida. Nunca vai ser fácil perdoar verdadeiramente.
O crescimento espiritual é das tarefas mais difíceis que
temos. Mas as consequências de se tomar essas atitudes volitivamente
são maravilhosas. A cada conquista uma alegria imensa.
No processo de perdoar comece por você mesmo. Pegue leve. Tudo
vai dar certo. Abra mão das listas de defeitos alheios, das listas
de frases ditas nas brigas, das lembranças de atitudes tomadas
no calor das discussões. Sejamos menos históricos, não
precisamos voltar vinte anos atrás sempre que surge um determinado
assunto. É tempo de seguir em frente com leveza.
Paz e luz!
Sérgio Vencio, endocrinologista, vice-presidente
eleito da Sociedade Brasileira de Diabetes, fundador e ex-presidente
da Comunidade Espírita Ramatís