Diabetes Mellitus é uma doença
sistêmica, caracterizada pela incapacidade do organismo em controlar
a glicose (açucar). Um hormônio chamado insulina, produzido
no pâncreas, é o responsável por metabolizar o açucar,
armazenando esse importante nutriente no músculo, na gordura
e no fígado. Quando ocorre a destruição autoimune
das células que produzem insulina (células Beta) temos
o diabetes tipo um. No tipo dois ocorre um misto de produção
deficiente com uma dificuldade na ação da insulina, a
chamada resistência insulínica, causada principalmente
pelo excesso de peso. Sem dúvida alguma, a glicose é a
nossa principal fonte de energia e qualquer descontrole no seu metabolismo
pode levar a consequências severas.
Estima-se que, em 2025, teremos mais de 350 milhões de diabéticos
no mundo, o que, sem dúvida nenhuma, se consolidará como
o maior problema de saúde pública do planeta.
Pensando sempre sob a ótica médico-espírita, reencarnacionista,
como endocrinologista nos sentimos intrigados com os porques. Crendo
num Deus que se apresenta como um Pai amoroso e extremamente misericordioso,
não podemos concordar com a ótica defendida por alguns
segmentos que mesmo crendo em vidas sucessivas, atribuem o sofrimento
humano a Lei de Talião, olho por olho, dente por dente. Estariam
os diabéticos pagando por algum mal que praticaram no passado?
Com certeza, todos nós colhemos os frutos que plantamos no passado,
quando ainda andávamos completamente distantes do caminho traçado
por Cristo. Mas isso não configura um ato de vingança
da vida contra nós, nos submetendo a tortura e doenças
pré-determinadas. Os atos praticados nas vidas anteriores ficam
impressos no nosso psiquismo e consequentemente em nosso corpo sutil,
promovendo a tendência a determinadas doenças, atuando
nos genes, atraindo o óvulo mais apropriado e também o
espermatozóide mais condizente com nossas necessidades.
Quando observamos o diabetes fica claro que não existe uma causa
simples, do tipo o fulano deu um tiro no coração do beltrano
na vida passada e agora nessa vida veio com um problema na válvula
cardíaca. A genética do diabetes é poligênica,
ou seja, não existe só um gene responsável pela
doença, são vários e cada pessoa tem uma característica
diferente da outra, e é por isso que alguns diabéticos
não cuidam tanto e vivem quase normalmente e outros apesar dos
cuidados intensivos apresentam várias complicações
da doença.
Se não há uma causa única, porque quase 10% da
população apresenta essa doença séria? O
diabetes é hoje a principal causa de doença cardiovascular
do mundo!
Entendemos que o sentido é mais corretivo, é na verdade
uma grande oportunidade do paciente diabético despertar para
necessidades evolutivas, fato que poderia não ocorrer se ele
não apresentasse a doença. Raciocine comigo:
– Um adolescente com diabetes
é levado, desde cedo, a ter uma alimentação saudável,
não fumar, não ingerir bebida alcoólica e não
usar drogas. Tem um conhecimento muito grande do seu corpo e de suas
reações e, com isso, amadurece muito mais cedo. Isso
tem de ser entendido como um fator positivo e não como um castigo
como alguns pais encaram, por mais difícil e complicado que
seja ter um filho com diabetes. Ou Deus está no comando e tudo
é para o nosso bem, ou nada tem sentido.
– O diabetes proporciona o treinamento da disciplina. Quem já
teve uma baixa na glicose (hipoglicemia) sabe muito bem o que é
isso. Há de se ter horários para tudo, para alimentação,
para o remédio e para o exercício. Será que os
diabéticos já pararam para pensar nisso? Em como um
comportamento sem compromisso e sem disciplina pode ter prejudicado
outros num passado distante ou recente?
– Humildade! Como uma doença crônica como o diabetes
faz com que os pacientes percebam na sua totalidade a pequenez da
espécie humana. Na dor, no sofrimento da família, na
impotência dos pais em curar o filho, temos uma maravilhosa
lição de humildade perante a grandeza da vida, nos montrando
que toda soberba é ridícula, que toda sensação
de grandeza é ilusória.
– Um dos principais fatores de descompensação
da glicose são os problemas emocionais. Tentando não
descontrolar o diabetes, o paciente aprende a ser mais tolerante com
o próximo e tenta (pelo menos deveria tentar) deixar de se
irritar com tudo e aprender a respeitar a diferença, preservando
assim a sua saúde.
Passaríamos horas discorrendo
sobre todas as possibilidades, mas o texto acima talvez resuma o mais
importante em relação à necessidade dos diabéticos.
Se você tem diabetes, pense nisso e aproveite a doença
para observar quais são as suas dificuldades, o que é
mais urgente que você modifique na sua forma de agir, de pensar
e de se relacionar com as pessoas. Se você tem tendência
a diabetes, tem parentes com a doença e está acima do
peso, é sedentário, tem alimentação inadequada
e bebe muito, mude enquanto é tempo. Não vá atrás
da doença e depois fique falando que Deus castiga. Previna, mude
seu comportamento antes da doença se instalar.
Sérgio Vencio, endocrinologista, vice-presidente
eleito da Sociedade Brasileira de Diabetes, fundador e ex-presidente
da Comunidade Espírita Ramatís