INTRODUÇÃO
Indubitavelmente, a atividade de gestão das empresas (management)
continua sendo um dos mais importantes assuntos para a humanidade.
Afinal das contas, as empresas exercem um papel cada vez mais relevante
em nossas vidas. Sem elas, certamente teríamos muito mais
dificuldades em atender às nossas necessidades básicas.
Por esse prisma, pode-se afirmar que as organizações
humanas são uma invenção extraordinária.
No entanto, para fazê-las funcionar adequadamente, a figura
do gestor (manager) capacitado é imprescindível.
Ou seja, elas precisam de profissionais aptos a tomar decisões,
planejar, coordenar ações, inspirar os seus subordinados
e, fundamentalmente, gerar resultados positivos através das
suas intervenções e trabalho.
Aprendemos com Frederick W. Taylor (o pai da administração
científica) que o principal objetivo do management
é criar riqueza e prosperidade tanto para o empregador como
para o empregado. Contudo, por várias razões sistêmicas
e estruturais tal desiderato ainda não foi alcançado.
Com efeito, o sistema econômico liberal, sob cuja inspiração
vivemos, não consegue viabilizar tal possibilidade de maneira
satisfatória. Embora o conflito de interesses entre as organizações
empresariais e a sociedade persista há séculos, um
patamar mais elevado foi, ao que tudo indica, alcançado presentemente.
Nesse sentido, cumpre reconhecer que as estratégias empresariais
e políticas públicas tradicionais não dão
conta de responder aos desafios ora colocados à humanidade.
Algo bem mais profundo, sutil e vital, que transcende apenas a questão
material, não está sendo contemplado.
Creio que o principal óbice tem sido o nosso voluntário
distanciamento de Deus (o nosso principal stakeholder).
Dito de outra forma, em nossas principais criações
e elaborações estão – quase sempre –
ausentes a presença do elemento transcendental. Nossa estreita
visão e aguda falta de sabedoria empurram-nos para caminhos
inadequados ou às soluções infelizes. Do contrário,
e assim mostram as evidências com clareza meridiana, a Terra
seria uma moradia melhor para todos os seus cidadãos. Desse
modo, é fundamental abrir espaço para uma nova percepção
e entendimento, que só o elemento espiritual pode nos dar.
O pesquisador canadense Bruno Dyck, por exemplo, observa que as
pessoas estão necessitando de revelação
transcendente e ajuda com vistas à implementação
das estruturas e sistemas calcados no reino de Deus (espiritualidade).
Tomando por base tal premissa, é preciso, então, mudar
urgentemente nossas diretrizes e visão das coisas através
da integração da dimensão espiritual em nosso
dia a dia. Pela relevância que tal aspecto – lamentavelmente,
ainda negligenciado – representa, esse esforço deve
ser a verdadeira mudança de gestão (change management),
ou seja: a inserção de Deus em nossas vidas. Com efeito,
os esforços empreendidos para educar os gestores a agir de
maneira mais responsável raramente vão além
das preocupações instrumentais. Mais ainda, a noção
de responsabilidade gerencial – entendida aqui fundamentalmente
como a busca pela eficiência e eficácia – tende
a desdenhar o terreno da ética, o que não tem sido
bom para a própria humanidade e o planeta.
Deduz-se, assim, que algo mais profundo está faltando na
formação do gestor moderno. Em minha visão,
a complexidade do seu trabalho requer a incorporação
do aprendizado transcendental (calcado ou não nos pilares
religiosos). Nesse sentido, ao desenvolver a sua própria
espiritualidade, ele(a) poderá transformar suas criações
(incluindo sociedade, organizações e instituições).
Portanto, nada mais consentâneo, já que, conforme explicou
Allan Kardec, o elemento espiritual permeia todo o universo.
Entretanto, enquanto lentamente cresce o interesse a respeito da
espiritualidade, pouco se fala ou escreve sobre assuntos correlatos
tais como Espírito(s), Deus ou um poder maior [9], particularmente
enfatizando-os como aspectos subjacentes à gestão.
Segue daí a minha iniciativa de escrever um livro focado
nessa temática, sob a perspectiva da Doutrina Espírita,
tendo-se em vista que “Detendo tão copiosa bagagem
de conhecimentos, acerca da eternidade, o cristão legítimo
[cumpre esclarecer que o Espiritismo é considerado, fundamentalmente,
como o Cristianismo redivivo, atualizado, depurado, enfim, dos lamentáveis
enxertos que nele foram inseridos ao longo dos séculos a
fim de atender nefastos ropósitos] é pessoa indicada
a proteger os interesses espirituais de seus irmãos na jornada
evolutiva...” Não quero, ao recorrer a tal afirmação
do Espírito Emmanuel, desmerecer o trabalho e enfoque de
nenhuma outra religião ou doutrina. No entanto, também
não posso me furtar a reconhecer que as questões da
eternidade e espiritualidade são as matérias-primas
principais do Espiritismo. Dito de outra maneira, são a
sua raison d’être.
Posto isto, o presente trabalho tem por objetivo mostrar que o Espiritismo,
dado o seu escopo doutrinário e interesses, pode nos dar
ajudar na direção de desenvolvermos e aperfeiçoarmos
nossas organizações, instituições e
sistemas de gestão, atrelando-os a princípios espirituais
saudáveis. Ademais, ao longo da vida somos instados a tomar
importantes decisões. E nossas escolhas e ações
têm considerável efeito sobre a nossa evolução.
Todavia, nem sempre ponderamos adequadamente seus efeitos. No calor
do momento ou da situação fazemos – não
raro – opções infelizes, que podem nos custar
muito em termos de perda de harmonia e paz interior.
Definitivamente, não fomos colocados no mundo para fazer
ninguém sofrer. Dito de outra forma, a nossa missão
não é prejudicar quem quer que seja. As dificuldades
que nos atingem devem ser sempre vistas pelo lado positivo, isto
é, oportunidades de autoaperfeiçoamento e autoiluminação.
Como a Terra é, metaforicamente falando, uma escola, os testes
e avaliações são partes integrantes de nossas
experiências. Em outras palavras, temos que mostrar a Deus
que estamos aprendendo as lições, desenvolvendo virtudes
e sabedoria para encetarmos voos ainda mais altos. Como afirmou
Jesus Cristo, nós somos Deuses. Deixamos, então, o
DNA divino ecoar plenamente em nossas atitudes e pensamentos diários.
Aos leitores que começam a travar contato com o Espiritismo,
cabe inicialmente destacar que se trata de uma doutrina relativamente
nova, visto que ela existe há pouco mais de um século
e meio. Apesar disso, seus princípios e ensinamentos são
disseminados em todo o mundo, especialmente na América Latina,
América do Norte e Europa.
Ao contrário de outras religiões tradicionais, seus
pontos basilares são fortemente apoiados: (1) na fé
da vida após a morte; (2) no fenômeno dos Espíritos
e nas suas mensagens e ensinamentos por meio de médiuns;
(3) nos ensinamentos de Jesus Cristo (o Evangelho) e seu comportamento
paradigmático (modelo de perfeição) a ser seguido
por todos os seres humanos; (4) e na prática da caridade.
Por tudo isso, é uma doutrina cristã por excelência,
e, desse modo, em perfeitas condições de nos aparelhar
para a conquista da felicidade. Mais ainda, dada a sua ampla perspectiva
transcendental – alicerçadas concomitantemente nas
lentes da ciência, filosofia e religião –, nos
ajuda a desvendar o que realmente importa considerar em nosso trabalho.
Por outro lado, os textos aqui reunidos, consoante os objetivos
acima delineados, focam basicamente em cinco grandes áreas,
a saber: gestão, trabalho, organizações
e instituições, cidadania e desenvolvimento humano.
O elo comum é a necessidade de vigiarmos o nosso comportamento,
a fim de não sermos seduzidos pelas sombras. De modo geral,
são artigos que convidam à reflexão e autoanálise.
A esmagadora maioria são ensaios e crônicas inéditas.
Os poucos textos republicados foram acrescentados devido à
sua pertinência temática.
Com isso, não aspiro e nem pretendo assumir o papel de “guru”
de ninguém. Não me vejo nesse papel! Sou apenas um
observador que vê nas interações humanas o seu
material de trabalho. Também não sou “dono da
verdade”. Aliás, meu conselho é que o leitor(a)
sempre tome muito cuidado com aqueles que assim se posicionam (aliás,
não é difícil reconhecê-los). Na essência,
sou apenas um esforçado estudioso da verdade divina, já
que para mim é essa a única que conta. Descobri-la
está em nosso roteiro rumo à luz. Nesse sentido, tenho
me empenhado em tal tarefa. Por conseguinte, aqui busco interpretá-la
– em algumas dimensões da vida – com base na
minha experiência e trabalho como pesquisador. Como afirma
o Espírito Joanna de Ângelis, “Tudo é
válido na economia do Bem, na Casa do Pai Celestial, em que,
por enquanto, transitamos entre as vibrações da estação
terrena”.
Por fim, devo ainda acrescentar que a presente obra, primeira minha
no gênero, busca oferecer material ao autoexame, a fim de
que os seus acertos sejam predominantes. É, em suma, a visão
de um espírita que enxerga na vida uma benção
divina. Desse modo, creio firmemente que estamos aqui nesta dimensão
material para atingir alguns bons propósitos.
Espero do fundo da minha alma que as minhas percepções
e entendimentos possam ajudá-lo(a) em sua jornada.
Anselmo Ferreira Vasconcelos
* CONTINUE
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