Logo abaixo trecho comentado de
Ademir Xavier, editor do website "A Era do Espírito"
que publicou a declaração do Dr. Ian Stevenson, a
qual republicamos aqui:
Espíritas já conhecem a opinião de muitas
autoridades espirituais com relação à regressão
de memória usada em buscas por vidas anteriores. Aqui apresentamos
a tradução para o português de uma declaração
do Dr. Ian Stevenson sobre o tema que vale a pena também
ser considerada. As recomendações de Stevenson mostram
seu interesse na pesquisa séria com regressão hipnóticas
e são céticas com relação a resultados
reportados usualmente.
Regressão hipnótica
a vidas anteriores: uma breve declaração.
Ian Stevenson, M. D.
O seguinte texto foi escrito num esforço
de resposta a um grande número de cartas que recebi de
pessoas desejosas de serem levadas por mim, via hipnose, a vidas
anteriores, que gostariam que eu as recomendasse a um hipnólogo
ou que eu investigasse materiais que eventualmente tenham emergido
de tais experiências.
Muitas pessoas que não dão qualquer
importância ao que ocorrem em seus sonhos (imaginando não
serem nada mais que imagens da mente subconsciente, sem correspondência
com qualquer outra realidade) acreditam bastante que qualquer coisa
que emerja durante uma sessão de hipnose pode ser tomado em
seu valor de face. De fato, o estado de uma pessoa durante uma hipnose
se assemelha bastante - embora não completamente - ao de uma
pessoa enquanto sonha. Partes subconscientes da mente são liberadas
das inibições ordinárias e podem se apresentar
de forma dramática como uma nova "personalidade".
Se o paciente foi instruído pelo hipnotista - explicita ou
implicitamente - a "voltar para um outro lugar e tempo"
ou coisa parecida, a nova "personalidade" parecerá
voltar a algum período da história. Tais "personalidades
evocadas" podem se mostrarem bastante plausíveis tanto
para a pessoa tendo a experiência com para aqueles que a assistem.
Experimentos feitos por Baker [1] e Nicholas
Spanos et al [2] mostraram como é
fácil que sugestões diferentes do hipnotista influenciem
as características da "outra personalidade".
De fato, quase todas essas "personalidades anteriores" são
totalmente imaginárias, assim como o conteúdo da maioria
dos sonhos. Podem talvez retornar detalhes históricos precisos,
mas esses são derivados da informação que o sujeito
tinha de suas leituras, de programas de rádio e televisão,
além de outras fontes. O sujeito pode não se lembrar
onde ele obteve aquela informação, mas, muitas vezes,
isso pode ser conseguido em outras sessões de hipnose feitas
para buscar por tais fontes de informação. Experimentos
feito por E. Zolic [3], R. Kampman e
R. Hirvenoja [4] demonstraram esse fenômeno.
Uma experiência emocional marcante durante a regressão
hipnótica não garante que as memórias de vidas
anteriores tenham sido readquiridas. A impressão subjetiva
de lembrança de uma existência anterior pode ser marcante
para a pessoa que a experimenta, e, mesmo assim, a "vida anterior"
uma fantasia, assim como muitos sonhos. Também, o benefício
(mesmo na forma de uma melhora dramática) em sintomas físicos
e psicológicos não é evidência que uma
vida anterior tenha sido acessada.
Pessoas com sintomas psicossomáticos
e psiconeuroses podem se reabilitar ao seguir uma grande variedade
de procedimentos psicoterapêuticos. Há muitos efeitos
relacionados a procedimentos psicoterapêuticos. Melhoras podem
ser decorrentes exclusivamente dessas medidas e pouco se relacionarem
com uma técnica específica, seja regressão hipnótica,
psicoanálise ou qualquer outra aplicada pelo psicoterapeuta.
Vale a pena enfatizar que crianças
muito novas que se lembram de vidas anteriores frequentemente apresentam
fobias, tais como medo de água e se lembram do evento que parece
ter gerado essa fobia, tal como morte por afogamento. Mesmo assim,
a simples lembrança da causa de uma fobia ou outro sintoma
não necessariamente irá removê-lo.
Pessoas que pretendem realizar regressão
hipnótica devem se perguntar: que benefícios irei colher
ao tentar facear minhas presentes dificuldades se eu me lembrasse
de algo de alguma forma a ela relacionado em uma vida anterior? Será
que minha lembrança, ainda que real, removeria essas dificuldades?
Após essa breve introdução,
que não cobre completamente todos os aspectos complexos da
questão, eu gostaria de mencionar que, muito raramente, algo
de valor emerge de experimentos com regressão hipnótica
a "vidas anteriores". Exemplos são quando o indivíduo
mostra ser capaz de falar em uma língua estrangeira que ele
não aprendeu.
O procedimento de regressão
hipnótica a "vidas anteriores" não acontece
sem algum risco. Ocasiões houve em que a "personalidade
anterior" não "foi embora" quando assim instruída,
e o indivíduo permaneceu em um estado alterado de consciência
por muitos dias ou mais antes de voltar ao seu estado normal.
Não estou presentemente engajado
em experimentos de regressão hipnótica a vidas anteriores.
Não faço recomendação de hipnólogos
a pessoas que pretendem passar por tais experiências. Não
aprovo a conduta de hipnotistas que fazem promessas a seus clientes
de que esses voltarão a vidas anteriores reais sob tais procedimentos.
Não aprovo quem quer que seja que cobre e se faça passar
por um hipnotista para realizar tais experimentos.
Não realizo verificações
de detalhes que emerjam de tais experiências, exceto em casos
extremamente raros que me mostrem evidência clara de um processo
paranormal. Ocasiões de xenoglossia responsiva (falar uma língua
não aprendida) estão incluídos nesse pequeno
número de casos que estou interessado em investigar.
Embora me oponha à exploração
comercial de reivindicações sem garantias da regressão
hipnótica, sou favorável à pesquisa séria
com regressão hipnótica.
As observações acima
aplicam-se com algumas modificações a experimentos amadores
com pranchetas e escrita automática. Em tais experiências,
as pessoas envolvidas nada mais fazem do que tocar as camadas subconscientes
da mente de um ou mais participantes. A chance de engano ou auto engano
são talvez maiores do que com experimentos de hipnose, especialmente
quando as pessoas que fazem isso se convencem que estão sendo
guiadas por personalidades desencarnadas. Aqui, de novo, em alguns
casos, um processo paranormal está envolvido nos resultados
e, raramente, produzem evidência sugestiva de contato com personalidades
desencarnadas. Mas, na maioria dos casos, tais evidências estão
ausentes.
Para mais informações
e referências a artigos e livros baseados em investigações
científica em apoio a minha posição com relação
a tais casos, indico o meu livro "Children Who Remember Previous
Lives" [5]. Também publiquei
"A Case of the Psychotherapist's Fallacy: Hypnotic Regression
to 'Previous Lives" [6]. Cópias
desses artigos estão disponíveis em várias publicações.
Se este texto não responder
adequadamente as questões do leitor, teremos prazer em responder
cartas requisitando mais informação. Por favor, as questões
devem ser escritas de forma bem específica.
[1] Baker, R.A. "The effect of suggestion
on past-lives regression." American Journal of Clinical Hypnosis,
25(1), 71-76, July 1982.
[2] Spanos, N.P., Menary, E., Gabora, N.J., DuBreuil, S.C., Dewhirst,
B. "Secondary identity enactments during hypnotic past-life regression:
A sociocognitive perspective." Journal of Personality and Social
Psychology, 61(2), 308-320, 1991.
[3] Zolik, E. "Reincarnation' phenomena in hypnotic states."
International Journal of Parapsychology, 4(3), 66-78, 1962.
[4] Kampman, R. and Hirvenoja, R. "Dynamic relation of the secondary
personality induced by hypnosis to the present personality" in
Hypnosis at Its Bicentennial, edited by F.H. Frankel & H.S. Zamansky.
New York: Plenum Press. 1978
[5] Jefferson, North Carolina: McFarland & Company, 2001.
[6] American Journal of Clinical Hypnosis. Volume 36, pages 188-193,
1994