José
Passini
> Análise, Apreciação, Crítica
Qualquer obra ao ser exposta ao público
fica sujeita à análise, à apreciação,
à crítica, da parte daqueles que a examinam, seja ela
uma escultura, uma música, uma pintura ou uma página
literária.
No mundo da literatura, há até a atividade normal de
pessoas que se especializam em crítica literária, exercendo-a,
sem que os autores de artigos ou de livros, sintam-se ofendidos por
verem suas idéias, suas posições, ou opiniões
serem analisadas, criticadas, contestadas, desde que através
de linguagem compatível com a ética e com o respeito.
Esses trabalhos de crítica literária são, não
raro, usados em estudos levados a efeito em academias de letras, ou
em cursos universitários de língua e literatura, com
real proveito para aqueles que se entregam ao aprendizado da arte
de bem escrever, seja num Curso de Letras, seja num de Comunicação
Social.
Tendo consciência de que haverá aqueles que analisarão
e darão a público sua apreciação sobre
aquilo que publica, o autor, por certo, preocupar-se-á com
o que diz, e como o diz, ou seja, com o conteúdo e com a forma.
No meio espírita, infelizmente, isso não se dá.
Atualmente, assiste-se a uma verdadeira avalancha de obras, na maioria
mediúnicas, cheias de inovações, de revelações,
de modismos, sem que haja espaço na imprensa espírita
para uma apreciação séria, clara, fraterna, a
respeito de conteúdos altamente duvidosos, que são levados
a público como se fossem verdades reveladas.
Paulo, a maior autoridade em assuntos mediúnicos nos tempos
apostólicos, conforme se constata nos caps. 12 e 14 da sua
Primeira Carta aos Coríntios, dentre outras orientações,
recomenda: “E falem dois ou três profetas, e os outros
julguem.”(1)
Sábio conselho, repetido reiteradamente mais tarde na obra
de Kardec, destina-se à prevenção contra o deslumbramento,
a vaidade, à atuação de Espíritos enganadores
no intercâmbio mediúnico. Cuidado semelhante pode-se
observar também em João: “Amados, não creiais
a todo o espírito, mas provai se os espíritos são
de Deus; porque já muitos falsos profetas se têm levantado
no mundo.”(2)
Será que estamos esperando que aqueles que combatem o Espiritismo
venham trazer a público certos absurdos que estão sendo
publicados ante a comunidade espírita completamente silente,
sem que tenhamos meios de demonstrar-lhes que certas “revelações”
foram contestadas? Ou será que foi esquecido o brocardo: “Quem
cala, consente.”? Será que Kardec não sairia hoje
em defesa dos verdadeiros postulados espíritas? Ou calar-se-ia,
receando desagradar pessoas? Onde podemos situar a recomendação
de Erasto: “Melhor é repelir dez verdades do que admitir
uma única falsidade, uma só teoria errônea.”(3)
A Federação Espírita Brasileira e várias
outras editoras são entidades de utilidade pública e
que, coerentemente com o que ensina o Espiritismo, não visam
a lucros. Malgrado esses nobres exemplos, instalaram-se inúmeras
editoras que aí estão a divulgar obras que contrariam
frontalmente os postulados espíritas, através de publicações
que, embora declarem serem os recursos obtidos destinados a entidades
assistenciais – o que jamais deve influir na análise
doutrinária das publicações – agem como
entidades meramente comerciais, colocando o lucro acima do ideal da
divulgação.
O médium, autor material dessas obras, por vezes é pessoa
bondosa, bem intencionada, até promotora de nobres atividades
no âmbito da assistência social. Mas o seu trabalho nesse
setor será suficiente para legitimar sua produção
mediúnica, transformando-a em livros? Lamentavelmente, há
aqueles que confundem caridade com pieguismo. Dizem que não
se pode ir contra um irmão. Ninguém, em sã consciência
deve criticar o autor, mas sim a obra. Aquele deve ser preservado,
em nome do respeito que se deve ter para as suas boas intenções,
mas esta deve ser analisada, dissecada. Essa maneira de agir aprende-se
com Jesus, que nunca atacava o pecador, mas o pecado.
Nesse contexto, deve ser ressaltada a responsabilidade daqueles que
dirigem estabelecimentos espíritas, sejam centros ou livrarias,
no sentido de fazerem a devida seleção do material escrito
divulgado no recinto da instituição. Muito maior do
que a preocupação com o conteúdo da exposição
oral, deve ser o cuidado com o material impresso entregue ao público,
seja livro ou folheto avulso, pois um livro adquirido, ou tomado por
empréstimo, numa instituição espírita
– principalmente para o leigo –, será tomado como
legítimo.
Entretanto, há dirigentes que se abrigam sob a capa de uma
falsa caridade em relação aos autores. Omitem-se quanto
a um cuidadoso exame, deixando de ler, ou de colocar nas mãos
de irmãos responsáveis, para análise, muitas
obras que estão aí a tentarem desmentir a seriedade
da mensagem espírita, permitindo seja ela apresentada na forma
de romances, relatos, “revelações”, em linguagem
absolutamente não condizente com a seriedade e com a nobreza
da doutrina que herdamos de Kardec.
1. I Co, 14: 29
2. I Jo, 4: 1
3. O Livro dos Médiuns, 230
(*) José Passini, esperantista conhecido
internacionalmente, foi reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora.
Doutor em Lingüística, seu extenso currículo revela
a ocupação de diversos cargos em casas espíritas.
Atualmente ele faz parte da equipe do programa Opinião Espírita
(rádio e TV) e do Departamento de Evangelização
da Criança da Aliança Municipal Espírita de Juiz
de Fora.
Fonte:
- http://aeradoespirito.sites.uol.com.br/A_ERA_DO_ESPIRITO_-_Portal/ARTIGOS/ArtigosGRs3/ANALI_APREC_CRITIC_JP.html
- http://www.apologiaespirita.org/artigos_estudos/analise_apreciacao_critica.htm
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