Marta
Antunes Moura
> O que é vida?
Eis uma questão cuja resposta é complexa,
pois os seus diferentes significados são, em geral, controvertidos.
Etimologicamente, vida significa “existência”
(do latim vita). Pretendem alguns estudiosos conceituá-la,
em termos metafísicos, como qualidade sobrenatural que transcende
as propriedades da matéria. Outros consideram a vida um estado
de atividade da substância organizada, comum aos animais e aos
vegetais. Há cientistas que especificam ser a vida um conjunto
de atividades e funções orgânicas que distingue
o corpo vivo do morto. Os biólogos, defensores da teoria evolucionista,
entendem que a vida é um sistema capacitado, submetido às
regras da evolução, e que, devido à seleção
natural, abrange processos de replicação, mutação
e de replicação das mutações. Os bioquímicos
e os geneticistas consideram a vida como sendo unidades funcionais
capazes de autoconstruírem-se. Nesta hipótese, os seres
vivos são vistos como “máquinas” químicas
possuidoras de um sistema cibernético que governa e controla
estas unidades químicas.
Os conceitos filosóficos de vida são variáveis
e extensos. Podemos, num esforço de síntese, caracterizar
os mais significativos. Desde a Antigüidade, a vida é
entendida como um fenômeno natural, próprio dos seres
que possuem movimento, se nutrem, crescem, reproduzem e morrem. Platão
(427-347 a.C.) identificava a alma e a vida como sendo a mesma coisa.
Aristóteles (384-322 a.C.) concebia a vida como a capacidade
de nutrição, crescimento e destruição
existente no chamado ser vivo. (De generatione
animalium II/I, 412-413.) Na Idade Média, o conceito
filosófico de vida está resumido no pensamento escolástico
de Tomás de Aquino (1227--1274): “Vida é a
capacidade de uma substância mover-se ou conduzir-se espontaneamente,
tendo a alma como seu princípio”. (Summa
Theologiae I, questão 18 e 75, a-1 e 2.) Na Idade
Moderna, René Descartes (1596-1650) e Thomas Hobbes (1588-1679)
introduzem o conceito mecanicista de vida (“o organismo
vivo é uma máquina bem montada”), opondo-se
a identidade da vida com a alma: “a matéria corpórea,
em certas formas de organização, teria condições
de mover-se ou de desenvolver-se por si”. (ABBAGNA-
NO, 2000, p. 1001.) Nasce, em conseqüência, a conhecida
disputa entre filósofos mecanicistas e vitalistas – ou
reducionistas e não reducionistas – cujas discussões
alcançaram o século XX.
Para a doutrina mecanicista a vida
é decorrente da organização físico-química
da matéria corpórea, enquanto para a teoria vitalista
a vida depende da existência de um princípio espiritual.
Para Immanuel Kant (1724-1804) nem os mecanicistas nem os vitalistas
tinham razão, pois a vida consiste na concordância da
ação das substâncias, preestabelecidas por Deus
(1705: Sur le principe de vie ou “Sobre o princípio
de vida”). Friedrich Schelling (1775-1854), por outro lado,
afirma que a vida é um processo de auto-regulação
presente nos seres orgânicos e ausente nos seres inorgânicos.
(WERKE, I, III, p. 89.)
Em O Livro dos Espíritos,
Parte Primeira, introdução ao capítulo IV, “Do
Princípio Vital”, há a informação
de que os seres orgânicos são os que têm em
si uma fonte de atividade íntima que lhes dá a vida.
Nascem, crescem, reproduzem-se por si mesmos e morrem. São
providos de órgãos especiais para a execução
dos diferentes atos da vida, órgãos esses apropriados
às necessidades que a conservação própria
lhes impõe. Nessa classe estão compreendidos os homens,
os animais e as plantas. Seres inorgânicos são todos
os que carecem de vitalidade, de movimentos próprios e que
se formam apenas pela agregação da matéria. Tais
são os minerais, a água, o ar, etc. Em seguida,
os orientadores espirituais esclarecem, na questão 63, que
o princípio vital (ou “fonte de atividade íntima
que dá a vida”) pode ser que o absorvem e assimilam.
(KARDEC, questão 63, p. 92.)
O princípio vital apresenta as seguintes características,
segundo a Codificação Espírita (KARDEC,
questões 65 a 67, p. 92-93.):
a) tem como fonte
o fluido cósmico universal, ou matéria cósmica
primitiva, que continha os elementos materiais, fluídicos
e vitais de todos os universos que estadeiam suas magnificências
diante da eternidade (KARDEC, item 17,
p. 115-116.);
b) atua como intermediário entre o Espírito
e a matéria;
c) apresenta-se modificado nas inúmeras
espécies orgânicas, concedendo-lhes movimento e atividade;
d) não existe na matéria totalmente
inerte;
e) as moléculas do mineral têm
uma certa soma dessa vida [percebida nos cristais, por exemplo]
(KARDEC, 2005, item 18, p. 116-117);
é a força motriz dos corpos orgânicos;
f) a união dos dois, princípio vital
e matéria, produz a vida.
Parece-nos que o conceito espírita
de vida, entre todos os que aqui foram citados, é o mais completo
porque oferece explicações, ainda não cogitadas
pela Ciência, e nem se perde nas diferentes indagações
suscitadas pela Filosofia. Mostra, de forma simples e inequívoca,
que nas manifestações da vida (...) em todos os
reinos da Natureza palpita a vibração de Deus, como
o Verbo Divino da Criação Infinita; e, no quadro sem-fim
do trabalho da experiência, todos os princípios, como
todos os indivíduos, catalogam os seus valores e aquisições
sagradas para a vida imortal. (XAVIER,
2004, p.35.)
Bibliografia:
ABBAGNANO, Nicola.Dicionário
de Filosofia.Tradução de Ivone Castilho
Benedetti.4.ed.São Paulo:Martins Fontes,2000,p.1001.
KARDEC,Allan.. O Livro dos Espíritos.
86.ed.Rio de Janeiro:FEB,2005, questões 63,65,66 e 67,p.92-93.
____________.. A Gênese.47.ed.Rio de
Janeiro:FEB,2005,cap.VI,itens 17--18,p.115-117.
XAVIER,Francisco Cândido.O Consolador,
pelo Espírito Emmanuel.25.ed. Rio de Janeiro:FEB, 2004,questão
28, p.35.
Fonte: Reformador
Revista de Espiritismo Cristão
Ano 124 / Fevereiro, 2006 / No 2.123
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