Espiritualidade e Sociedade



Marta Antunes Moura

>   Paz e discórdia

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Marta Antunes Moura
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Na atualidade essa passagem evangélica ainda é motivo de controvérsias religiosas, sendo às vezes utilizada para justificar atos contrários à moral ensinada e exemplificada pelo Cristo. Nada mais justo, portanto, do que buscar esclarecimentos que auxiliem a correta interpretação do simbolismo "espada", presente no texto de Mateus. Armando-se de prudência, o interpretador não se deixa sucumbir pelo jugo da letra, apoiando-se no lembrete de Paulo de Tarso: "Pois a letra mata, mas o Espírito comunica a vida" (2 Coríntios, 3:6).

Nessas condições, é possível extrair a essência do verdadeiro significado da mensagem cristã, livrando-a de adulterações de qualquer natureza. Deve-se levar em conta que a interpretação simbólica de textos religiosos, independentemente da religião, exige ponderação e discernimento por parte do estudioso, estando este consciente dos prejuízos que uma análise superficial ou apressada pode resultar para o adepto.

Em termos históricos, a palavra símbolo vincula-se a outras:

[...] alegoria, atributo, metáfora, parábola, emblema, arquétipo, sinal de sorte, hieróglifos, sinais elementares.Cada um desses conceitos pode fazer parte de uma área de estudo multidisciplinar. (3)

Na verdade, a interpretação dos símbolos remonta às tradições muito antigas, fazendo parte do programa desenvolvido nas escolas iniciáticas e nas sociedades secretas. De acordo com Udo Becker,

[...] Na origem da palavra símbolo encontra-se o verbo grego symballein, que significa reunir, juntar. O substantivo correspondente é symbolon. A palavra "symbolon" é encontrada pela primeira vez no Egito antigo num selo de chumbo do tipo dos que se usavam na Antiguidade como uma espécie de marca de identidade, confeccionado de diferentes materiais – chamados tesserae em latim. [...] Mas ao mesmo tempo o verbo symballein passou a ser usado em expressões que descreviam a ideia de reunir, de ocultar ou encobrir. Portanto, o sinal transformado em símbolo encobria, dissimulava o sentido aberto do que era representado ou de uma expressão: quem não era iniciado não podia mais entender a expressão assim oculta. (3)

Por outro lado, era uso corrente o vocábulo symbolum, exclusivamente utilizado pelos religiosos, para indicar "[...] os artigos de fé de uma comunidade religiosa resumidos em poucas afirmações fundamentais, com o qual sempre estava associado algo misterioso, um arcano".(3) Contudo, com o passar do tempo, e dentro do contexto cultural, o símbolo passou a ser identificado como algo evocativo, místico ou mágico, um meio que permite expressar conteúdos mentais: ideias, crenças, sentimentos, vontade, estado de espírito etc.

Em consequência, qualquer interpretação simbólica, no presente, exige um certo grau de maturidade espiritual e conhecimento especializado, sobretudo porque, diante de "[...] um número incontável de símbolos ou sinais simbólicos, toda seleção será sempre uma seleção pessoal, consciente ou inconscientemente feita pelo autor".
(3)

Retornando ao texto evangélico, citado no início do artigo, é oportuno inserir a seguinte interpretação de Emmanuel, relativa ao aludido versículo do Evangelho – "Não penseis que vim trazer paz sobre a terra. Não vim trazer paz, mas espada":

Inúmeros leitores do Evangelho perturbam-se ante essas afirmativas do Mestre Divino, porquanto o conceito de paz, entre os homens, desde muitos séculos foi visceralmente viciado. Na expressão comum, ter paz significa haver atingido garantias exteriores, dentro das quais possa o corpo vegetar sem cuidados, rodeando-se o homem de servidores, apodrecendo na ociosidade e ausentando-se dos movimentos da vida. Jesus não poderia endossar tranquilidade desse jaez [...]. (4)

Entretanto, o que dizem os orientadores espirituais sobre o simbolismo "espada", inserido na citação evangélica? Emmanuel elucida com sabedoria, a respeito:

[...] em contraposição ao falso princípio estabelecido no mundo, [Jesus] trouxe consigo a luta regeneradora, a espada simbólica do conhecimento interior pela revelação divina, a fim de que o homem inicie a batalha do aperfeiçoamento em si mesmo. O Mestre veio instalar o combate da redenção sobre a Terra. Desde o seu ensinamento primeiro, foi formada a frente da batalha sem sangue, destinada à iluminação do caminho humano. E Ele mesmo foi o primeiro a inaugurar o testemunho pelos sacrifícios supremos. (4)

A interpretação literal dessa lição evangélica é estímulo à discórdia e às lutas fraticidas, sempre geradoras de tragédias e sofrimento. A medida de equilíbrio que se aplica é, então, avaliar: a) que tipo de paz buscamos, a da vaidade humana ou a do Cristo? b) Que instrumentos devemos utilizar para obtê-la?

Por meio de uma reflexão séria e honesta, fica mais fácil perceber que

É indispensável não confundir a paz do mundo com a paz do Cristo. A calma do plano inferior pode não passar de estacionamento. A serenidade das esferas mais altas significa trabalho divino, a caminho da Luz Imortal. O mundo consegue proporcionar muitos acordos e arranjos nesse terreno, mas somente o Senhor pode outorgar ao espírito a paz verdadeira. (5)

Resta-nos, pois, ficar atentos às ponderaçoes do Benfeitor:

Há muitos ímpios, caluniadores, criminosos e indiferentes que desfrutam a paz do mundo. [...]
Não te esqueças, contudo, de que a paz do mundo pode ser, muitas vezes, o sono enfermiço da alma. Busca, desse modo, aquela paz do Senhor, paz que excede o entendimento, por nascida e cultivada, portas adentro do espírito, no campo da consciência e no santuário do coração.
(5)

A espada simbólica anunciada pelo Cristo procura, à luz do Espiritismo, remover imperfeições morais manifestadas nos pensamentos, palavras e comportamentos dos indivíduos que ainda não conseguem abrir mão dos prazeres fictícios e transitórios da existência. Afirma Emmanuel:

Sim, na verdade o Cristo trouxe ao mundo a espada renovadora da guerra contra o mal, constituindo em si mesmo a divina fonte de repouso aos corações que se unem ao seu amor; esses, nas mais perigosas situações da Terra, encontram, nele, a serenidade inalterável. É que Jesus começou o combate de salvação para a Humanidade, representando, ao mesmo tempo, o sustentáculo da paz sublime para todos os homens bons e sinceros. (4)

 

 

Referências:
1 DIAS, Haroldo Dutra. (Tradutor.) O novo testamento. Brasília: EDICEI, 2010. p. 74.
2 BÍBLIA DE JERUSALÉM. (Tradutores diversos.)
3. reimp. São Paulo: PAULUS, 2004. p. 2019. 3 BECKER, Udo. Dicionário de símbolos. Trad. Edwino Royer. São Paulo: Paulus, 1990. Prefácio, p. 5.
4 XAVIER, Francisco C. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. ed. esp. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 104, p. 223-224.
5 ______. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. ed. esp. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 105, p. 225-226.



 

Fonte: http://www.febnet.org.br/reformadoronline/pagina/?id=241 - Em dia com o Espiritismo - Revista Reformador



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