Por que ler as obras fundamentais
do Espiritismo?
A pergunta acima, ao adepto estudioso, pode parecer
dispensável por ser sua resposta uma obviedade, pois, nas obras
fundamentais do Espiritismo, as de Allan Kardec, é que encontramos
a Filosofia Espírita na sua totalidade, e, sem a leitura delas
não seremos capazes de apreender seus postulados, nem tampouco,
o seu objetivo essencial.
No entanto, do ponto de vista de quem interage junto ao movimento espírita,
percebemos muita gente se esquecendo de ler Kardec – ou lendo-o
de maneira fragmentada, apenas selecionando trechos ou páginas
ao acaso – e saindo à cata de novidades espiritualistas
ou as difundindo (e confundindo) como se fossem mesmo da alçada
da Doutrina Espírita, ignorando, por sua vez, os princípios
filosóficos do Espiritismo ou se detendo nos comentários,
leituras e concepções de terceiros sobre o assunto sem
se ocuparem da bibliografia kardequiana.
Como, de modo geral, trazemos atavismos religiosos dos quais não
nos libertamos por desconhecimento de nós mesmos ou preguiça,
lidamos com o Espiritismo como se fosse apenas mais uma religião,
ignorando que a convicção espírita se elabora muito
mais no exercício da fé raciocinada do que na simples
adesão às instituições humanas.
Aliás, escreveu Kardec que “O Espiritismo é uma
questão de fé e de crença, e não de associação.”
(2), ao responder à reclamação
do queixoso Abade Barricand acerca da análise do codificador,
presente na Revista Espírita, a respeito das pretensas refutações
deste sacerdote à tese espírita nos cursos que ministrava,
obviamente, sem conhecimento de causa. Disso, deve ficar evidente que
a convicção espírita se edifica mediante o estudo
sério e com uma atitude filosofante, por parte do adepto, em
relação aos saberes presentes nas obras fundamentais da
Doutrina dos Espíritos.
E, no que tange a questão que dá título a esse
artigo, o que corrobora no sentido de termos consciência da relevância
das obras de Allan Kardec consiste no fato de que, numa perspectiva
antropológica do quefazer científico, o emérito
professor pode ser considerado co-autor ou co-fundador dessa ciência,
em especial conexão com o Espírito Verdade e sua equipe,
além de notável codificador do Espiritismo – função
mais destacada na primeira edição de O Livro dos Espíritos.
Confirma essa constatação o erudito Canuto Abreu, ao prefaciar
a sua tradução da primeira edição de O Livro
dos Espíritos, afirmando ser o mestre lionês aprendiz e
secretário dos Espíritos passando, na segunda edição
(1860), de discípulo a mestre, ou seja, naquela produção
“Nivela-se o Aprendiz com os Instrutores” (3).
Enfim, visando valorizar efetivamente o trabalho missionário
de Kardec é útil levarmos em conta a co-laboração
em que se deu a dinâmica de sua pesquisa e produção
teórica com os Espíritos Superiores.
Quais são as obras fundamentais?
Muito se ouve falar, da parte daqueles que se consideram
versados no Espiritismo, que a pessoa que queira se iniciar no conhecimento
espírita precisa ler ou estudar as obras básicas da Doutrina.
Essa afirmação corrente parece óbvia, mas nem tanto,
e, no meu ponto de vista, por dois motivos.
O primeiro deles se refere ao que podemos depreender de um texto do
escritor italiano Ítalo Calvino, em que defende a relevância
da leitura das obras consideradas clássicas na literatura e de
diferentes campos do saber.
Lendo esse artigo, verificamos que os clássicos são o
tipo de livros com os quais todos deveriam se ocupar, todavia poucos
o fazem e raras são as pessoas que admitem, ao menos publicamente,
não terem feito essas leituras e, não por humildade.
É o caso de alguns adeptos descomprometidos com a Causa que desconhecem
os textos de Kardec e afirmam ter ouvido falar ou fingem que sabem deles,
atendendo a expedientes nas atividades da casa ou do movimento espírita
sem se proporem a ler as tais obras (que consideram básicas!),
indiscutível fonte primacial do Espiritismo.
Outro motivo que demonstra a não-obviedade da necessidade de
se ler e estudar os livros de Kardec, em nosso meio, consiste na redução
que se faz da produção de Allan Kardec ao denominado Pentateuco
Kardequiano.
Dito isto, atenhamo-nos à pergunta: quais são as obras
fundamentais do Espiritismo? A resposta está num opúsculo
escrito por Allan Kardec no ano de 1869, trata-se do “Catálogo
Racional: obras para se fundar uma biblioteca espírita”.
Nesse pequeno livro, o co-fundador da Doutrina Espírita apresenta
um conjunto de obras catalogadas que se vinculavam, de algum modo, ao
objeto de estudos da ciência com que se ocupava.
Assim, encontramos citadas no referido catálogo (4)
as obras fundamentais da Doutrina Espírita, obras diversas sobre
Espiritismo, obras produzidas fora do Espiritismo e as que a ele se
opunham.
Kardec nomeia da seguinte forma as obras fundamentais do Espiritismo:
O Livro dos Espíritos (parte filosófica); O Livro dos
Médiuns (parte experimental);
O Evangelho segundo o Espiritismo (parte moral);
O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo;
A Gênese, os milagres e as predições, segundo o
Espiritismo;
O que é o Espiritismo? – Introdução ao conhecimento
do mundo dos Espíritos;
O Espiritismo em sua mais simples expressão;
Resumo da lei dos fenômenos espíritas;
Viagem Espírita em 1862 e a
Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos.
Logo é fácil perceber que o essencial para aprender a
Filosofia Espírita está nessas obras consideradas por
Kardec como fundamentais, entre livros, brochuras e a Revista que produziu
até a sua desencarnação em 1869.
Estudando Kardec:
“Temos dito que a melhor maneira de uma
pessoa adquirir conhecimentos sobre o Espiritismo é estudar-lhe
a teoria. Os fatos virão depois, naturalmente, e serão
compreendidos, qualquer que seja a ordem em que os tragam as circunstâncias.
Nossas publicações têm sido feitas com o propósito
de favorecer esse estudo.” (5)
Notas
1- Educador, escritor e palestrante espírita
residente em POA/RS. Contatos: vlousada@hotmail.com
2 - Revista Espírita de julho de 1864.
3 - ABREU, Canuto. O primeiro livro dos espíritos de Allan Kardec.
Texto bilíngüe. SP: ICESP, 2007, p. XV.
4 - KARDEC, Allan. Catálogo Racional: obras para se fundar uma
biblioteca espírita. Tradução de Julia Vidili.
Ed. fac-similar bilíngüe histórica. SP: Madras:USE,
2004.
5 - O que é o Espiritismo? – Terceiro Diálogo –
o padre.
topo
Leia de Vinícius Lousada
Ciência
Espírita e Colaboração Interexistencial
O
Livro dos Médiuns em seus 150 anos
Por
que Ler Kardec?
Sobre
a violência de nossos dias
Vinícius Lousada; Larissa Camacho Carvalho
O
Pedagogo francês Rivail - Discípulo de Pestalozzi