Neste mês de abril - O
Livro dos Espíritos completa 153 anos. Se lembrarmos
a manhã de 18 de abril de 1857, quando o livro surgiu na livraria
Dentú, de certa forma timidamente, pois dele não se
fizera propaganda, porque ainda não tinha sido liberado pela
censura do governo ditatorial de Napoleão III - e ao examinarmos
os milhões de exemplares vendidos nestes 153 anos, certamente
ficamos agradavelmente surpreendidos.
Se a segunda edição saiu apenas em 1860, porque o livro
foi aumentado de 501 para 1019 perguntas e inseridos muitos ensaios
e comentários do próprio Kardec e dos espíritos,
surpreendemo-nos mais uma vez ao saber que, quando o corpo de Kardec
estava sendo sepultado, estava saindo a 16ª edição
francesa, sem contar as inúmeras edições em outras
línguas, especialmente o espanhol e o português.
Herculano Pires escreveu uma linda e objetiva introdução
para a Editora LAKE, na qual, até hoje, encontramos a beleza,
singeleza e lucidez de um texto escrito com cérebro e coração.
Leiam este pequeno trecho:
"Nunca houve um diálogo
como este. Jamais um homem se debruçou, com toda segurança
do homem moderno, nas bordas do abismo do incognoscível, para
interrogá-lo, ouvir as suas vozes misteriosas, contradizê-lo,
discutir com ele, e afinal arrancar-lhe os mais íntimos segredos.
E nunca, também, o abismo se mostrou tão dócil,
e até mesmo desejoso de se revelar ao homem em todos os seus
aspetos".
Neste pequeno texto encontramos um
verdadeiro filão de ouro de conhecimentos. Mais ou menos na
mesma época de Kardec, através do microscópio
inventado por Lewenhok e aperfeiçoado por outros, Pasteur lançou
o seu olhar perqueridor sobre o mundo dos infinitamente pequenos,
para descobrir os microorganismos causadores de doenças. Kardec,
não sendo ele próprio médium, como Pasteur não
era o microscópio, utilizou médiuns, e debruçou-se
sobre o abismo da morte, do mundo dos espíritos, para interrogar
e dialogar com os seus habitantes.
Nunca o abismo, ou os moradores deste mundo invisível para
nós, mostrara-se tão dócil e tão desejoso
de se revelar. Kardec não se limitou a se debruçar sobre
o abismo. Usando a mediunidade como ponte, ele penetrou esse mundo,
e para conhecê-lo bem, não se limitou a conversar com
meia dúzia de espíritos, o que lhe daria uma falsa idéia
deste mundo, e sim, milhares de seus habitantes.
Ele mesmo escreveu que para se conhecer as condições
de vida de uma cidade, não se pode conversar apenas com uma
classe social, mas com representantes de todas as classes sociais.
Feito o contato, os meios se multiplicaram,
e com segurança, todos nós podemos nos debruçar
sobre esse abismo e contatar os que julgamos mortos.
O Espiritismo veio trazer uma grande contribuição às
religiões, a prova provada da imortalidade, porém seus
ministros e sacerdotes recusaram essa colaboração e
o anatematizaram, porque perceberam que, com o Espiritismo, perdiam
a chave que lhes dava o poder, porque era a chave que abria as portas
do céu e do inferno.
Cento e cinquenta e três anos
de O Livro dos Espíritos, e a nossa
maior homenagem, ainda deve ser o estudo constante e aprofundado desta
obra, que se constitui, para nós, como o mais importante livro
da humanidade.
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