Quando temas relevantes do
ponto de vista filosófico são abordados, é
comum ouvirmos dizer que assuntos de fé e lógica não
se misturam.
Outras vezes, ainda, surgem insinuações de que a religião
ou a crença em Deus caracterizam pobreza intelectual, e que
só o pensamento científico tem validade na época
atual.
Há um abismo que atualmente está separando a ciência
da religião. Abismo construído nos séculos
anteriores, quando o domínio das civilizações
se fez pelo poder temporal aliado à religião institucionalizada.
Já em meados do século , o sábio francês
Hipolyte Léon Denizard Rivail enfatizava que a fé
verdadeira só é aquela capaz de conviver com a razão
e a inteligência em qualquer época da humanidade. Assertiva
com a qual concordamos plenamente.
Aspectos da cultura contemporânea apontam para a possibilidade
de encararmos fé e razão como atributos compatíveis
entre si. Vejamos o seguinte raciocínio: os conhecimentos
atuais em astronomia parecem reforçar a tese do astrônomo
J. H. Lambert, que já em 1761 aceitava a
idéia de uma ordem cósmica no universo. Segundo a
física, entropia seria o estado de desordem ou desorganização
de um sistema. Assim, a entropia crescente levaria a desorganização
crescente. Conforme nos diz o Segundo Princípio da Termodinâmica,
em Física, a entropia do universo tende a crescer. Em termos
práticos, tudo que se constrói tende a se destruir,
a se desfazer. Apesar de ser uma lei física, pesquisas recentes
no campo da Biologia apontam no sentido de uma ordem ORGANIZADORA
DA VIDA, de uma força maior e desconhecida pela ciência.
Contrariando a tendência natural da entropia, que seria a
da desordem ou desorganização natural e crescente
dos sistemas, teríamos de considerar a força organizadora
da ordem cósmica, como determinante na origem da vida.
O surgimento da vida organizada no universo representou uma corrente
oposta à entropia natural dos Sistemas. Se o universo tendeu
a uma desorganização progressiva ou entropia crescente,
o aparecimento da vida foi um processo oposto a entropia, criando
a ordem. Foi um processo neguentrópico (que nega a entropia).
Inferimos daí que uma lei maior atuou no processo. Uma Lei
Central ou um princípio único.
Reforçando a tese de uma interferência neguentrópica,
citaríamos o Professor Ilya Prigogine, que
considera duvidosa a compatibilidade da Biologia com os princípios
da Termodinâmica. Outro especialista, o professor Ludwig Von
Bertalauthy, nào admite o surgimento da vida por uma evolução
espontânea da natureza, ao considerar os conceitos da entropia.
Diz: "A produção de condições locais
só é fisicamente possível ao se entrarem em
cena forças organizadoras de alguma espécie."
Em artigo publicado pelo Instituto de Cultura Espírita de
Florianópolis, o engenheiro Corinto Castanho,
abordando a questão neguentrópica da origem da vida,
fez analogia da impossibilidade de diversos materiais de construção
misturarem-se ao acaso, resultando na construção de
um prédio acabado e estético, sem a menor participação
de engenheiros, mestre de obras e operários. Lembra o articulista
que um ser vivo forma um sistema organizacional mais complexo que
qualquer prédio, para o bom senso não admitir a administração
do acaso ao invés de uma força ou lei maior atuante.
Se a fé cega não é mais deste século,
o cientificismo dogmático também
não o será no próximo século. Religiões
que preconizam a fé cega, automaticamente se confessam impotentes
para demonstrar que estão com a razão. Movimentos
científicos que não admitem examinar determinadas
possibilidades, por puro preconceito, também cristalizam
e se comportam como religiosos radicais. Numa primeira instância,
todos os fenômenos da natureza podem ser explicados pelas
leis naturais. As leis físicas, químicas e biológicas
nos dão o mecanismo da vida, nos respondem sobre minúcias
do microcosmo celular ou sobre a magnitude do macrocosmo.
No entanto, estas mesmas leis, que são automáticas,
deverão ser regidas por uma lei universal coordenadora e
onipresente no macro e no microcosmo. Esta Lei onipresente, nós
a chamamos de Deus. Sendo perfeita, há de ser imutável,
pois só o imperfeito sofre mudanças visando o aprimoramento
progressivo. Considerando a imutabilidade da Lei Universal, concebemos
sua ação constante e uniforme. Inexistindo momentos
diversos de outros como um gráfico irregular a assinalar
uma emocionalidade antropomórfica.
Pela regularidade e constância da Lei Universal, concluímos
que não houve um momento da criação.
Trata-se de um processo eterno. Deus irradia constantemente
e projetam-se de sua essência perfeita, centelhas divinas
ou princípios espirituais, que provindo de um ser perfeito
só poderão ter um destino: a evolução
infinita rumo a perfeição. "Nenhuma das ovelhas
se perderá, disse Jesus."
Ainda dentro dos textos bíblicos encontramos a frase: "Deus
fez o mundo em sete dias". Sabemos que a riqueza da simbologia
na Bíblia é de uma profundidade admirável e
que necessita ser explorada cada vez mais sem preconceitos. O termo
"dia" tem um significado e período, época
e em certas circunstâncias significa ano.
Com relação ao número "sete" o mesmo
está vinculado ao sentido de "todo, sempre, completo,
perfeito, ou eterno". "Perdoar setenta vezes sete"
, traduz a mensagem do perdão pleno para sempre. "Só
o cordeiro que tem sete olhos..." poderá ser entendido
como só Jesus que tem a "eterna ou perfeita" visão
da vida...
Voltando ao nosso raciocínio inicial, quando se lê",
"Deus fez o mundo em sete dias" devemos extrair o espírito
da letra para compreendermos a essência da mensagem, que nos
transmite a idéia dos SETE DIAS como a eternidade na criação.
Entendemos, portanto, que Deus cria sempre, não existindo
momentos de inatividade.
Realmente, um ser perfeito, onipresente e imutável, lei universal
onisciente não tem um gráfico de criação
ou um momento, mas uma ação criativa constante e eterna
no universo.
A encarnação primeira, portanto,
foi para nós, hoje seres humanos, há incontáveis
milhões de anos, quando as centelhas divinas mergulharam
na dimensão física unindo-se às expressões
mais simples da organização material.
O espírito "dormiu" nos átomos e passou
o grande sono pelo reino mineral, sonhou nas organizações
vegetais, agitou-se pelas espécies animais para despertar
na espécie humana, rumo à consciência superior
em seres futuros.
Em "O Livro dos Espíritos", Allan Kardec,
eminente pedagogo francês inquire os espíritos na questão
540, a entidade espiritual, respondendo sobre a ação
dos espíritos desencarnados nos fenômenos da natureza,
coloca a seguinte assertiva: "É assim que tudo serve,
que tudo se encadeia na natureza, desde o átomo primitivo
até o arcanjo, que começou por ser átomo ".
Não existem portanto seres privilegiados, ou criados pela
lei universal já superiores a outros. A distância entre
minerais, vegetais e animais é simplesmente conseqüência
do maior ou menor caminho percorrido na estrada evolutiva do ser.
topo