A sociedade se apavora e com razão, diante
da escalada de violência praticada por meliantes, criminosos,
assassinos, seqüestradores, falsificadores, assaltantes.
Os meios de comunicação
preenchem seus horários e espaços com larga divulgação
de atos violentos, inclusive com transmissão direta, pela TV,
de um assalto a um ônibus, no Rio de Janeiro, levando aos lares
o espetáculo da violência e da truculência.
Ignora-se a importância das
imagens para a formação de medos e condutas mentais
depressivas e ansiosas, geradoras de problemas difíceis para
as pessoas. Despreza-se, também, de modo geral, a influência
das vibrações emocionais que se comunicam silenciosas,
mas não menos eficientes.
Assim, além da realidade brutal,
cria-se uma situação virtual, pela qual, cada um pode
se julgar a próxima vítima, aumentando o desequilíbrio
social.
Nesse sentido, parece ter razão
O Livro dos Espíritos quando afirma:
“É preciso que haja excesso do mal, para fazer-lhes(o
homem) compreender a necessidade do bem e das reformas”(784)
FATORES A PONDERAR
Temos como fatores preponderantes na explosão
da violência:
Causas Psicossociais
1. A visão niilista da existência.
Talvez fruto da decaída dos símbolos e das crenças
religiosas. Não se trata da inexistência de valores.
Estes, na sua essência, continuam presentes nas mentes das
pessoas, porque não há como negá-los. O que
se vê é um clima social permissivo, um certo desalento
da maioria sobre a eficácia desses valores. Se essa maioria,
de modo geral, não perpetra crimes visíveis, contribui
com sua apatia, com a resistência a assumir rumos definidos
no campo da ética, da moral.
2. Se, desde o início
do século XX, começaram a ser questionados mandamentos
e parâmetros sociais cerceadores e castradores, após
a 2ª Grande Guerra esse questionamento tomou um rumo mais definido.
Aceleram-se as derrubadas de costumes e tradições.
A mais importante, talvez, seja a liberação da sexualidade,
dentro dessa visão niilista, exacerbando uma pretensa conquista
da pessoa para agir irresponsavelmente, instintivamente, sem construir
laços duradouros de relação humana. Consequentemente,
os padrões de casamento e família são revisados
numa perspectiva individualista, egoísta e, certamente, insatisfatória.
Causas Econômico-sociais
1. Distribuição da renda - No Brasil,
a pífia distribuição de rendas, é fator
preponderante para manter uma grande parte na miséria e na
fome, sem que se encontre um remédio, a curto prazo, para remediar
esse fator decisivo.
Nossa sociedade está marcada
por contrastes, mas também avoluma-se a massa que reivindica
sua participação no bem-estar, provocando certa convulsão
social mas que, separados os excessos, é mecanismo decisivo
para promover mudanças no cenário econômico e
político.
Essa realidade do quadro social seria,
em tese, segundo muitos analistas, sociólogos e políticos,
a grande, senão a única, responsável pelo surgimento
da onda de violência urbana.
A violência e a precocidade
dos criminosos, segundo esses analistas, seria conseqüência
da injustiça social e acusam o governo de utilizar um modelo
econômico perverso.
2.Desemprego - Ultimamente, além
do viez liberal da economia mundial, desenvolveu-se todo um aparato
tecnológico e a economia de escala, globalizada, dispensou
uma porção considerável de mão de obra.
Em toda a economia liberal,
o número de desempregados é grande, com exceção,
neste momento, dos Estados Unidos.
OS AGENTES DA VIOLÊNCIA
Existe uma tendência de afastar
a responsabilidade dos agentes da violência. Estes seriam vítimas
do sistema.
Dessa forma, o problema é transferido
diretamente para as instituições. Curiosamente, a sociedade
como um todo, principalmente os detentores do poder econômico
são, sob certa forma, poupados. Como a propaganda mais agressiva
é promovida pelas chamadas esquerdas, o foco, na verdade vai
para o governo. O governo seria o responsável pela violência,
pela deficiência da escola, pela pobreza. Pois perseguem utopia
do Estado perfeito, capaz de socorrer, planejar, executar, escutar,
agir, de maneira absolutamente eficaz, todos os males sociais.
É claro que o governo, de qualquer
nível, tem o dever de promover o bem-estar social, mas o trabalho
é de toda a sociedade.
Entretanto, mesmo que pressionados
pela exclusão social, não há como ressalvar a
responsabilidade dos agentes criminosos, individualmente.
O Livro dos Espíritos é taxativo:
“não há arrastamento irresistível,
quando se tem vontade de resistir”(845);
Sobre a crueldade, O Livro dos Espíritos
nos traz interessantes posições:
• Ela (a crueldade)
é sempre a conseqüência de uma natureza má.(752)...no
tocante às provas morais e às tentações,
o Espírito, conservando seu livre arbítrio sobre o
bem e o mal, é sempre senhor de ceder e resistir”(851)
E mais:
754 - A crueldade não
decorre da falta de senso moral?
- Dizes que o senso moral não está desenvolvido,
mas não que está ausente, porque ele existe, em princípio,
em todos os homens; é esse senso moral que os transforma,
mais tarde, em seres bons e humanos. Ele existe no selvagem, como
o princípio do aroma no botão de uma flor que ainda
não abriu.
CONTRIBUIÇÃO DO ESPIRITISMO
O Espiritismo pode ser um fator de
equilíbrio na vida social. Pelo ensino da imortalidade, ele
leva à compreensão que a adesão e a prática
dos valores morais constitui-se numa necessidade de autopreservação
da estrutura mental do ser.
Aparentemente, ressaltar a natureza
espiritual evolutiva do ser humano e a perspectiva de uma vida permanente,
parece inócuo perante o quadro de realidades sociais e da violência
cotidiana.
Todavia, se o aparelho social tiver
essa consciência, as elites, as religiões, enfim, os
governantes e detentores do poder econômico, terão um
comportamento diferente ou menos infeliz que atualmente. Essa motivação
projetará reformas e modificações sensíveis
nas relações humanas.
Segundo O Livro dos Espíritos, o
Espiritismo pode contribuir para o progresso “destruindo
o materialismo que é uma das chagas da sociedade, ele faz os
homens compreenderem onde está seu verdadeiro interesse. A
vida futura, não estando mais velada pela dúvida, o
homem compreenderá melhor que pode assegurar o seu futuro através
do presente. Destruindo os preconceitos de seita, de casta e de cor
ele ensina aos homens a grande solidariedade que os deve unir como
irmãos“.(Questão 790).
Alguém argumentará que essa premissa, embora generosa,
não é apenas incerta, mas demorada, não contribuindo,
a curto prazo, para a solução dos problemas da violência.
Certamente, a sociedade como um todo
precisa encontrar caminhos para a resolução ou pelo
menos minorar o problema social. Mas o Espiritismo jamais pretendeu
comandar a renovação social. Sua contribuição,
aparentemente sonhadora, é pressionar o pensamento humano em
direção a uma nova mentalidade a respeito da pessoa
e das coletividades.
Todavia, para que a doutrina exerça
sua influência, precisa precaver-se com um entendimento pernicioso,
que tenta vincular os problemas da existência humana às
culpas do passado, ou seja a fatalidade pré-construida, pelo
fato de cada pessoa trazer um “pecado originário das
vidas passadas” e insistir que sofrer é o melhor remédio.
Vejamos, por exemplo, este texto
de O Livro dos Espíritos:
866 - Então, a fatalidade
que parece presidir aos destinos do homem na vida material seria
também resultado do nosso livre arbítrio?
- Tu mesmo escolhestes a tua prova: quanto mais rude ela for,
se melhor a suportas, mas te elevas. Os que passam a vida na abundância
e no bem-estar são Espíritos covardes, que permanecem
estacionários. Assim, o número de infortunados ultrapassa
de muito o dos felizes do mundo, visto que os Espíritos procuram,
na sua maioria, as provas que lhes sejam mais frutuosas. Eles vêem
muito bem a futilidade das vossas grandezas e dos vossos prazeres.
Aliás, a vida mais feliz é sempre agitada, sempre
perturbada; não é somente a dor que produz contrariedade.
Se entendido literalmente, o
texto pressupõe que a miséria, a exclusão social,
seriam requeridas pela própria pessoa e que ser “feliz”
é uma covardia.
Tal interpretação levaria a sancionar a injustiça
social, a edificação de uma sociedade de sofredores
e miseráveis, o que contraria o que está nos itens abaixo:
806 - A desigualdade das condições
sociais é uma lei natural?
- Não, é obra do homem e não de Deus
808 - A desigualdade das riquezas não tem sua origem na desigualdade
de faculdades, que são a uns mais meios de adquirir do que
a outros?
- Sim e não. Que dizes da astúcia e do roubo?
812 - Se a igualdade das riquezas não é possível,
acontece o mesmo com o bem-estar?
- Não, mas o bem-estar é relativo e cada um poderia
gozá-lo, se todos se entendessem bem....
Já na questão
719, se diz que "O bem-estar é um desejo natural.
Deus só proíbe o abuso, por ser contrário à
conservação, e não considera um crime a procura
do bem-estar, se este não for conquistado às expensas
de alguém, e se não enfraquecer vossas força
morais, nem as vossas forças físicas".
Se o indivíduo é sempre culpado pela suas ações,
há atenuantes que passam a ser responsabilidade coletiva. A
política social do Espiritismo é bem clara.
Em resumo, o Espiritismo não sancionará a injustiça
social, a pretexto de estar sendo cumprida a lei de ação
e reação, porque o indivíduo não é
um ser isolado mas pertencente à sociedade. Mas não
pode concordar com a pré-inocência ou não-culpa
dos agentes individuais na prática da violência, em qualquer
sentido ou nível.