Nestes últimos
dias temos acompanhado pelos noticiários dos canais de televisão
a desgraça e a devastação que os ventos e as
chuvas têm feito, provocando alagamento de cidades, de rodovias
e o deslizamento de encostas que levam de roldão o que têm
pela frente: casebres, casas, palacetes, carros e transeuntes.
Temos acompanhado que a destruição tem afetado principalmente
as pessoas mais pobres as quais, para ter um pedaço de chão
para viver, invadem as beiras dos riachos e as encostas dos morros.
Nossos olhares angustiados constatam os dramas trazidos pelas lágrimas
daqueles que sofreram esses terríveis impactos e soluçam
pela morte de filhos, pais, irmãos e amigos soterrados pela
reação da natureza aos desafios do seu existir.
Seria possível a sociedade, em nosso caso, a brasileira evitar
essas catástrofes ou é o destino, é a consequência
do viver sem prudência e sem responsabilidade?
Um pesquisador desses fenômenos,
em entrevista, pela televisão afirmou:
- "A gente, no passado, urbanizou de forma descontrolada
e visando apenas o interesse de pessoas e grupos econômicos.
Invadimos as margens dos rios. Destruímos a vegetação
que as amparavam e controlavam.
Canalizamos os rios e construímos, em nome do progresso,
extensas avenidas sobre eles.
Esprememos o rio em suas margens, tomando o espaço que era
dele.
Não nos preocupamos com as construções e edificamos
nas baixadas e próximo, o máximo possível,
das margens dos rios e riachos.
Cobrimos o solo com pedras e asfalto impedindo a água de
ir para o seu âmago.
Vimos os miseráveis escalarem o sopé dos morros e
equilibrarem precariamente seus barracos nesses locais, obviamente,
perigosos e condenados.
Os poderes públicos não tomaram providências,
e em muitos lugares, ainda não tomam, para impedir que esses
infelizes e despossuídos, em desespero de sobrevivência,
assumissem riscos previsíveis.
Uma voz clamou:
- Mas, não são só pobres que provocam e sofrem
os efeitos dessas catástrofes!
- Sim, não são só eles. A especulação
imobiliária invade espaços vitais da natureza, levantam
casas e edifícios nas mesmas áreas de risco.
Sabem o mal que estão fazendo, todavia, o interesse pelo
lucro é maior do que o equilíbrio da natureza e a
vida das pessoas.
Ouvindo
essas tristes e terríveis informações, pensei:
- haveria meios para conjurar esses flagelos?
Lembrei-me da Lei da Destruição, de O
Livro dos Espíritos, de Allan Kardec,
na questão nº. 741:
"É permitido ao homem
afastar os flagelos que o torturam?
- Em parte, sim; não, porém, como geralmente o entendem.
Muitos flagelos resultam da imprevidência do homem. À
medida que adquire conhecimentos e experiências, ele os pode
afastar, isto é, preveni-los, se souber pesquisar suas causas.
Contudo, entre os males que afligem a Humanidade, há os de
caráter geral, que estão nos desígnios da providência
e dos quais cada indivíduo recebe, em maior ou menor grau,
o contragolpe. O homem nada pode opor a esse tipo de flagelo, a não
ser submeter-se à vontade de Deus. Além disso, muitas
vezes esses males são agravados pela negligência do próprio
homem."
A essas instruções dos
Mentores Espirituais, Allan Kardec aditou:
"Entre os flagelos destruidores,
naturais e independentes do homem, devem ser colocados na linha de
frente a peste, a fome, as inundações, as intempéries
fatais às produções da terra. Entretanto, não
tem o homem encontrado na Ciências, nas obras de arte ... meios
de neutralizar, ou, pelo menos, de atenuar tantos desastres? Certas
regiões, outrora assoladas por terríveis flagelos, não
estão hoje livres deles? Que não fará, então,
o homem pelo seu bem-estar material, quando souber aproveitar-se de
todos os recursos da sua inteligência e quando, sem prejuízo
da sua conservação pessoal, souber aliar o sentimento
de verdadeira caridade para com os seus semelhantes?"
Parei para pensar: esses conceitos
foram emitidos com a publicação do citado livro em 18
de abril de 1857.
Quanto a Ciência e a tecnologia evoluíram... Se não
afastamos grande parte desses flagelos é porque o egoísmo
e a ganância ainda reinam acima da Justiça e do Amor
que beneficiariam as pessoas e a coletividade.
De se lembrar que, quando o Amor não sensibiliza para o bem-estar,
a dor imporá o despertamento para a realidade.
Aylton Paiva é agente fiscal
de rendas aposentado, ex-diretor da Câmara Municipal de Lins
e dirigente espírita, é foi Diretor do Departamento
de Assistência e Promoção Social da União
das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo.