Segundo José Herculano Pires “O Livro
dos Espíritos (...) é um verdadeiro manual de
educação, no mais amplo e elevado sentido do termo. Seu
objetivo explícito é ensinar e educar” (Pedagogia
Espírita, 1’ edição, Edicel, página
79).
Tem razão o mestre paulista embora não encontremos no
índice de O Livro dos Espíritos, obra
fundamental do Espiritismo, nenhuma referência direta à
educação. Mas isso não pode precipitar nosso julgamento.
Antes de tudo é necessário estudar a obra, e nesse estudo
Herculano Pires mergulhou e podemos sintetizar no seguinte entendimento:
1. O ensino de “O
Livro dos Espíritos” projeta:
a) novos conhecimentos;
b) uma nova concepção do homem;
c) uma nova concepção do universo; e
d) a sintonia do homem com Deus.
2. A estrutura didática
de “O Livro dos Espíritos” apresenta:
1. a existência de Deus;
2. o exame do problema da criação;
3. o homem no contexto universal;
4. a natureza espiritual do homem;
5. a investigação do mundo de após morte;
6. a revelação da lei da reencarnação;
7. o estudo das relações dos espíritos com os
homens;
8. o descortinar da lei de adoração;
9. as penas e recompensas futuras;
10. Jesus como modelo de perfeição humana; e
11. a educação integral.
3. Perguntas, respostas e educação
Não estamos lidando com um simples livro, mas com uma obra que
é alicerce de uma Doutrina, foi escrita por Espíritos
Superiores e analisada, comentada e organizada por um educador: Allan
Kardec.
Na atualidade diversas pesquisas científicas estudam a inteligência
emocional, inclusive a teoria das inteligências múltiplas,
e no “O Livro dos Espíritos” encontramos
a questão 72 em diante informando que a inteligência é
atributo do Espírito e “faculdade própria de
cada ser”, constituindo assim a sua individualidade moral.
O desenvolvimento da inteligência é estudado nas questões
075-A; 076; 114; 122;180 e 189 quando aprendemos que o uso da inteligência
dá ao Espírito consciência de si mesmo até
chegar ao pleno domínio do livre-arbítrio.
A influência do organismo físico, estudada pela epistemologia
genética, elucidando os estágios de desenvolvimento da
criança, está claramente definida na obra básica
do Espiritismo quando lemos na questão 352:
“(após o nascimento
as faculdades) se desenvolvem gradualmente, com os órgãos.
Ele (o Espírito) se encontra numa nova existência; é
preciso que aprenda a se servir dos seus instrumentos:
as idéias lhe voltam pouco a pouco (...)."
Também as questões 365,
368, 369, 370-A e 380 tratam desse assunto aprofundando o tema influência
do organismo.
A teoria do construir social do educador Vygotski, que data da década
de trinta do nosso século, está presente no enunciado
da questão 208:
“(...) os Espíritos
devem concorrer para o progresso recíproco. Pois bem: o Espírito
dos pais tem a missão de desenvolver o dos filhos pela educação:
isso é para ele uma tarefa? Se nela falhar será culpado.”
Aos pais a tarefa de educar, e a todos
nós, na sociedade, a tarefa da ajuda mútua, do construir
dinâmico da personalidade, do oferecer oportunidades de desenvolvimento
das aptidões, quando quem mais sabe, ensina; quem é mais
forte, protege. É a educação social construtiva.
E a educação infantil?
O período compreendido entre 0 e 6 anos é de fato tão
importante?
Sim, responde-nos “O Livro dos Espíritos”,
muito importante, pois:
1. o Espírito é mais
acessível aos bons conselhos e exemplos;
2. a debilidade física toma os Espíritos mais flexíveis;
e
3. na infância o Espírito pode ter seu caráter
reformado e suas más tendências corrigidas.
Adentramos com essas colocações
no terreno da educação moral. A questão 629 de
“O Livro dos Espíritos”
remete a educação para o campo da moral, definindo-a e
dando ao homem duas regras fundamentais de comportamento:
1) fazer tudo tendo em vista o bem
e
2) fazer tudo tendo em vista o bem de todos, pois moral “é
a regra da boa conduta e portanto, da distinção entre
o bem e o mal. Funda-se na observação da lei de Deus.
É o Espiritismo adentrando no
terreno da educação moral, ainda longe dos planejamentos
pedagógicos e das salas de aula das escolas, e, infelizmente,
também não muito presente nos lares.
Ainda dentro do tema de tão grande importância, Allan Kardec
adverte na questão 685-A:
“Há um elemento que
não se ponderou bastante, e sem o qual a ciência econômica
não passa de teoria: a educação. Não a
educação intelectual, mas a moral, e nem ainda a educação
moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar os caracteres,
aquela que cria os hábitos adquiridos.”
Efetivamente não ponderamos bastante
sobre a educação moral, mesmo neste século, ou
nas últimas duas décadas. Somente agora psicólogos
pesquisam sobre a “inteligência emocional”
e pedagogos timidamente começam a falar sobre autoconhecimento,
mesmo assim atrelados à “sociedade do conhecimento”,
dando mais ênfase ao intelectual que ao moral.
Para enfrentar a violência, o desrespeito, o conflito, a ignorância,
o egoísmo, a paixão desenfreada, enfim, os males sociais
modernos que tanto conhecemos, somente a educação moral,
única que pode trabalhar o caráter do educando, do Espírito
reencarnado.
Como nos diz Daniel Goleman, psicólogo e autor do livro “Inteligência
Emocional”, é preciso encararmos de frente uma
palavra maldita no meio educacional: “virtude”,
o que mais nossos filhos e alunos estão precisando aprender e
exercitar.
Quanto à dicotomia, a separação entre o progresso
intelectual e o progresso moral, ela não existe, pois “(o
progresso intelectual conduz ao progresso moral) dando a compreensão
do bem e do mal, pois então o homem pode escolher”,
conforme a questão 780-A nos informa. Entretanto, podemos verificar
que os Espíritos Superiores não estão falando do
simples ensino cultural, da simples transmissão de conhecimentos
através das disciplinas curriculares. Estão a nos dizer
que a inteligência, que o conhecimento intelectual deve ser exercido
para o estudo e a compreensão do bem e do mal, dando ao homem
plena capacidade de escolher, com responsabilidade, seu caminho na vida,
exercendo o livre-arbítrio após ponderar sensatamente
sobre os porquês e conseqüências dos acontecimentos
e soluções para cada caso.
E quem pode ser apontado como culpado das misérias sociais? Quem
é o causador de tantas desgraças morais no mundo? Respondem
os Espíritos: a sociedade. E completam: “É freqüentemente
a má educação que falseia o critério dessas
pessoas, em lugar de asfixiar-lhes as tendências perniciosas”.
Essa resposta está na questão 813.
A má educação é apontada como causadora
dos distúrbios individuais e coletivos, sendo a sociedade a maior
culpada por manter, através de suas instituições,
essa má educação, ou seja, aquela educação
desvinculada da moral, da formação do caráter,
a única que exerce o papel de combater as más tendências
que porventura ainda traga o Espírito reencarnado, e que se manifestam
desde a infância (as pesquisas já apontam: desde o nascimento,
como bebês).
Corroborando nosso pensamento, eis o que encontramos na questão
889:
"(...)se uma boa educação
moral lhes tivesse (aos homens) ensinado a praticar a lei de Deus,
não teriam caído nos excessos que os levaram à
perda. E é disso, sobretudo, que depende o melhoramento do
vosso globo.”
É realmente “O
Livro dos Espíritos” um compêndio pedagógico
no mais amplo e profundo sentido.
Todo o estudo feito sobre a educação moral baseia-se na
filosofia espírita, o que não poderia ser diferente, chamando-nos
atenção esse ponto muito importante: não existe
educação sem filosofia. Se não sabemos para que
educamos, não teremos como educar.
Quais são os princípios da filosofia espírita da
educação? Esse é o estudo que faremos agora, continuando
nossos apontamentos em tomo de “O Livro dos Espíritos”
e a educação.
4. Filosofia espírita da educação
É a filosofia espírita da educação muito
rica, profunda e única quanto a fornecer parâmetros para
a educação integral do ser, desde que o posiciona como
Espírito imortal.
Na questão 917, lemos que “o egoísmo se enfraquecerá
com a predominância da vida moral sobre a vida material “,
e justamente a educação moral é o apanágio
da filosofia espírita da educação, pois é
o instrumento eficaz de combate do egoísmo e do materialismo.
Mas como promover a educação moral? A resposta a essa
indagação está na questão 918 de “O
Livro dos Espíritos”:
“O Espírito prova
a sua elevação quando todos os atos da sua vida corpórea
constituem a prática da lei de Deus e quando compreende por
antecipação a vida espiritual”.
Levar o educando a operações
concretas de observação dos fenômenos da natureza,
à sua manipulação, para sentir a grandiosidade
da Criação Divina e posicionar-se enquanto filho de Deus,
com capacidade para transformar, para cooperar, mas não para
criar, é construir nele a humildade e a solidariedade, a compreensão
da importância da ecologia e assim por diante, quando então
perceberá o funcionamento de leis sublimes regendo os aspectos
físicos e morais da vida. Somente assim, através da observação,
do diálogo, da vivência, fará de seus atos a prática
da lei divina, que é lei de amor, bondade e justiça. Estamos
falando de promover a espiritualização do ser.
Essa espiritualização concretiza-se na medida em que o
Espírito se sensibiliza diante da vida, do próximo e de
si mesmo, deixando te ser indiferente, no que os educadores (pais e
professores) devem orientá-lo para o autoconhecimento ou auto-educação,
conforme informação da questão 919:
“O conhecimento de si mesmo
é portanto a chave do melhoramento individual”.
Esse conhecimento é tão
importante que Allan Kardec, no comentário à questão
928A, alerta para os cuidados com a escolha da carreira profissional,
pois freqüentemente sufocamos as tendências de nossos filhos
ou de nossos alunos, não permitindo que eles descubram por si
mesmos o que melhor lhes convém para as realizações
do seu progresso intelectual e moral. Deixamos que as conveniências
sociais se sobreponham às aptidões, motivo pelo qual disserta
Kardec:
“Se uma educação
moral o tivesse (ao Espírito) preparado acima dos tolos preconceitos
do orgulho, jamais ele seria apanhado desprevenido."
Assim, continuando o raciocínio
apresentado pelo “O Livro dos Espíritos”,
podemos formular as características do homem moral, aquele que
recebe a educação moral, conforme enunciado na questão
941:
• elevação acima
das necessidades artificiais das paixões;
• moderação dos seus desejos;
• conduta de calma e serenidade;
• felicidade como bem que faz;
• superação das contrariedades sem dor.
Quando sofremos, devemos entender estar
sofrendo as conseqüências de alguma violação
das leis de Deus, pois não existe dor sem razão, o que
nos leva ao entendimento que o homem moral, espiritualizado, dignificado
no bem que prodigaliza, adiantado portanto, na escala da evolução,
possui consciência tranqüila e uma existência repleta
de felicidade, mesmo que não seja um “vencedor”
na ordem social estabelecida. Esse é o resultado da educação
moral à luz do Espiritismo, que esclarece as virtudes e suas
conseqüências, levando o Espírito à plenitude
de sua imortalidade. Novamente é Allan Kardec comentando os ensinos
dos Espíritos Superiores, desta vez na questão 964.
“O Livro dos Espíritos”,
como nos lembra Herculano Pires, é verdadeira obra pedagógica,
repleta de novos ensinamentos, fornecendo ao homem o verdadeiro e profundo
entendimento sobre a educação mora], sobre a arte da formação
do caráter, que, quando colocada em prática na família
e na escola, irá renovar os indivíduos e a sociedade.
Para tanto é preciso abordarmos o que se ensina ao Espírito
reencarnado, principalmente no período da infância, e essa
abordagem, calcada ainda em várias questões da obra básica,
mostrará que o Espiritismo é doutrina construtivista do
ser.
5. O que se ensina ao educando
Como dissemos, a filosofia espírita da educação
preocupa-se com o “como se ensina e o que se ensina”,
conforme a resposta dos Espíritos Superiores à questão
966:
“A criança compreende
da mesma maneira que o adulto? Aliás, isso depende também
do que se tenha ensinado: é nesse ponto que há necessidade
de uma reforma.”
A pergunta da espiritualidade tem sobejas
razões: a criança - espírito reencarnado - não
compreende da mesma maneira do adulto, o que está provado pelas
pesquisas da epistemologia genética, da psicologia da educação,
do construtivismo. Não se trata de formulação filosófica,
de especulação pedagógica, mas de fato comprovado.
Lembremos que em 1857 não tínhamos as formulações
psicológicas de Herbart, nem a epistemologia de Jean Piaget,
nem os estudos de Montessori, de Freinet e outros, O Espiritismo já
formulava uma questão que somente ficou clara para o homem na
segunda metade do século vinte.
E se a criança não compreende da mesma maneira que o adulto,
o ensino que se pratica na família e na escola deve ser modificado,
pois é um ensino preso a “achismos”,
a “academicismos”, distante da realidade
de vida da criança e ainda recheado de fantasia.
Esses são os motivos de vermos gerações se sucederem
carregando o estigma do medo, do preconceito, do egoísmo, dos
falsos valores, do materialismo.
Complementando o assunto, encontramos na questão 0974-A:
“Se ensinais coisas que
a razão rejeitará mais tarde, produzireis uma impressão
que não será durável nem salutar.”
Através das produções
cinematográficas, televisivas, games, histórias em quadrinhos,
literatura ficcional, mantemos um ensino completamente fora do bom-senso,
da lógica, misturando fantasias com criações bizarras,
criando mundos imaginários sem conotação com a
realidade, fazendo com que os heróis usem as mesmas armas dos
bandidos, como se a paz pudesse ser conquistada através do uso
da violência. E também, nas escolas e na família,
ensinamos catedraticamente, sem o exercício do diálogo,
do trabalho construtivo, teimando em utilizar exercícios prontos,
fórmulas fechadas e discursos repetitivos.
Com o domínio de si mesmo, a criança, agora adolescente
ou jovem, tenderá a rejeitar, talvez carregando frustrações,
esse ensino equivocado.
O ensino deve transmitir a verdade da alma imortal, as razões
da fé em Deus; trabalhar os valores morais e incentivar a conquista
de virtudes. Deve voltar-se à formação do homem
de bem com o homem no mundo, discutindo sua vida social, a questão
das relações, a finalidade da existência. Deve trabalhar
a sensibilização dos sentimentos; encorajar o educando
à auto-educação e, finalmente, ensinar as ciências
e a cultura de forma prática, para utilização no
dia-a-dia.
E qual o resultado desse ensino?
A resposta está na questão 1019 de “O
Livro dos Espíritos”:
“O bem reinará na
Terra quando entre os Espíritos que a vem habitar os bons superarem
os maus. Então eles farão reinar o amor e a justiça,
que são a fonte do bem e da felicidade. É pelo progresso
moral e pela prática das leis de Deus que o homem atrairá
para a Terra os bons Espíritos e afastará os maus. Mas
os maus só a deixarão quando o homem tenha banido daqui
o orgulho e o egoísmo.”
Esse é o resultado do ensino
espírita, da educação formulada segundo a filosofia
espírita.
A proposta de uma pedagogia integral, considerando o educando um espírito
reencarnado, trabalhando suas potencialidade intelectuais e emocionais,
caracteriza a educação espírita, e que está
toda em “O Livro dos Espíritos”,
obra fundamental, base do Espiritismo.
O homem de bem construirá o reino de Deus na Terra, ou seja,
viverá dentro dos princípios do amor e da justiça,
considerando para todos direitos e deveres iguais. Para isso, há
que progredir moralmente e esforçar-se para praticar o bem. Que
melhor pedagogia do que esta?
É “O Livro dos Espíritos”
uma verdadeira obra educacional, e destacamos neste estudo apenas as
perguntas e respostas mais diretamente voltadas à educação,
sem considerarmos várias questões que tratam das conseqüências
da aplicação do Espiritismo como doutrina de educação.
Se podemos fazer um pedido a pais, evangelizadores, professores é
este: estudem “O Livro dos Espíritos”!
6. Bibliografia
• O Livro dos Espíritos, Allan Kardec.
Ed. FEESP, 1972.
• Pedagogia Espírita, José Herculano Pires, Ed.
EDICEL, 1a.edição
• Inteligência Emocional, Daniel Goleman, Ed. Nova Fronteira,
37a. edição.
VOCABULÁRIO: (dicionário Eletrônico Michaelis)
Educação, s. f.
1. Desenvolvimento das faculdades físicas, morais e intelectuais
do ser humano. 2. Civilidade. 3. Arte de ensinar e adestrar animais.
4. Arte de cultivar plantas. 5. Nível ou tipo de ensino.
Pedagogia, s. f. 1. Estudo teórico ou prático
das questões da educação. 2. Arte de instruir,
ensinar ou educar as crianças. 3. Conjunto das idéias
de um educador prático ou teorista em educação.
Desenvolvimento, s. m. 1. Ato ou efeito de desenvolver.
2. Crescimento, adiantamento.
Ensino, s. m. 1. Ação ou efeito de ensinar.
2. Forma sistemática normal de transmitir conhecimentos, particularmente
em escolas. 3. Um dos principais aspectos, ou meios, de educação.
Fonte: http://www.contacto.com.br/oespirita/pagnov99.htm
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/diversos/educacao/a-educacao-no-le.html
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