Rogério
Coelho
> O Espiritismo não faz milagres
De maneira racional a Doutrina Espírita
esclarece os "milagres" de acordo com as leis naturais:
“(...) O Espiritismo
vem, a seu turno, fazer o que cada ciência fez no seu advento:
revelar novas leis e explicar os fenômenos na alçada
dessas leis”.
Allan Kardec
Certa feita, um eclesiástico
dirigiu a seguinte pergunta ao Mestre Lionês:
“Todos aqueles que
tiveram missão de Deus de ensinar a verdade aos homens, provaram
sua missão por milagres. Por quais milagres provais a verdade
de vosso ensinamento?”
A resposta de Kardec não
se fez esperar :
“(...)
Confessamos – humildemente -, que não temos o menor
milagre a oferecer; dizemos mais: O Espiritismo não
se apóia sobre nenhum fato miraculoso; seus adeptos nunca
fizeram e não têm a pretensão de fazer nenhum
milagre; não se crêem bastante dignos para
que, à sua voz, Deus mude a ordem eterna das coisas. O Espiritismo
constata um fato material, o da manifestação das almas
ou Espíritos. Esse fato é real, sim ou não?
Aí está toda a questão; ora, nesse fato, admitindo
como verdadeiro, nada há de miraculoso. Como as manifestações
desse gênero, tais como as visões, aparições
e outras, ocorreram em todos os tempos, assim como atestam as histórias,
sagradas e profanas, e os livros de todas as religiões, outrora
puderam passar por sobrenaturais; mas hoje que se lhes conhece a
causa, que se sabe que se produzem em virtude de certas leis, sabe-se
também que lhes falta o caráter essencial dos fatos
miraculosos, o de fazer exceção à lei comum.
Essas manifestações, observadas em nossos dias com
mais cuidado do que na antigüidade, observadas sobretudo sem
prevenção, e com a ajuda de investigações
tão minuciosas quanto as que se aplicam no estudo das ciências,
têm por conseqüência provar, de maneira irrecusável,
a existência de um princípio inteligente fora da matéria,
sua sobrevivência aos corpos, sua individualidade depois da
morte, sua imortalidade, seu futuro feliz ou infeliz, por conseguinte,
a base de todas as religiões.
Se a verdade não fosse provada senão por milagres,
poder-se-ia perguntar: Por que os sacerdotes do Egito, que estavam
no erro, reproduziram diante do Faraó aquilo que Moisés
fez? Por que Apolônio de Tiana, que era pagão, curava
pelo toque, devolvia a visão aos cegos, a palavra aos mudos,
predizia as coisas futuras e via o que se passava à distância?
O próprio Cristo não disse: "Haverá falsos
profetas que farão prodígios"? Um de nossos amigos,
depois de uma fervorosa prece ao seu Espírito protetor, foi
curado quase instantaneamente de uma enfermidade, muito grave e
muito antiga, que resistia a todos os remédios; para ele
o fato era verdadeiramente miraculoso; mas, como ele acreditava
nos Espíritos, um cura, a quem contou a coisa, disse-lhe
que o diabo também pode fazer milagres. "Nesse caso,
disse esse amigo, se foi o diabo que me curou, é ao diabo
que devo agradecer."
Os
prodígios e os milagres não são, pois, o privilégio
exclusivo da verdade, uma vez que o próprio diabo pode fazê-los.
(...) Há no Espiritismo duas coisas: o fato da existência
dos Espíritos e de suas manifestações, e a doutrina
que disso decorre. O primeiro ponto não pode ser posto
em dúvida senão por aqueles que não viram ou
que não quiseram ver; quanto ao segundo, a questão é
saber se essa doutrina é justa ou falsa: é um resultado
de apreciação.
(...) Considerai o Espiritismo, se o quiserdes, não como uma
revelação divina, mas como a expressão de uma
opinião pessoal, a tal ou tal Espírito, a questão
é saber se ela é boa ou má, justa ou falsa, racional
ou ilógica. A que se reportar para isso? É ao julgamento
de um indivíduo? De alguns indivíduos mesmo? Não;
porque, dominados pelos preconceitos, as idéias preconcebidas,
ou os interesses pessoais, podem se enganar. O único, o verdadeiro
juiz, é o público, porque ali não há o
interesse de associação. Além disso, nas massas
há um bom senso inato que não se engana. A lógica
sã diz que a adoção de uma idéia, ou de
um princípio, pela opinião geral, é uma prova
de que ela repousa sobre um fundo de verdade.
Os Espíritas não dizem, pois: "Eis uma doutrina
saída da boca do próprio Deus, revelada a um único
homem por meios prodigiosos, e que é preciso impor ao gênero
humano." Eles dizem, ao contrário: "Eis uma
doutrina que não é nossa, e da qual não reivindicamos
o mérito; nós a adotamos porque a achamos racional.
Abribuí-lhe a origem que quiserdes: de Deus, dos Espíritos
ou dos homens; examinai-a; se ela vos convém, adotai-a; caso
contrário, ponde-a de lado."
Não se pode ser menos absoluto!
O Espiritismo não vem, pois, intrometer-se na religião;
ele não se impõe; não vem forçar a consciência,
não mais dos católicos do que dos protestantes, dos
judeus; ele se apresenta e diz: "Adotai-me, se me achais bom."
É culpa dos Espíritas se o acham bom? Se nele se encontra
a solução do que se procurava em vão alhures?
Se nele se haurem consolações que tornam felizes, que
dissipam os terrores do futuro, acalmam as angústias da dúvida
e dão coragem para o presente? Não se dirige àqueles
a quem as crenças católicas ou outras bastam, mas àqueles
que elas não satisfazem completamente, ou que desertaram; em
lugar de não mais crer em nada, os conduz a crerem em alguma
coisa, e a crer com fervor.
Pergunta-se sobre que milagre nós nos apoiamos para crer a
Doutrina Espírita boa. Nós a cremos boa, não
só porque é nossa opinião, mas porque milhões
de outros pensam como nós; porque ela conduz a crer aqueles
que não crêem; dá coragem nas misérias
da vida. O milagre?! É a rapidez de sua propagação,
estranha nos fastos das doutrinas filosóficas; foi por ter,
em alguns anos, feito a volta ao mundo, e estar implantada em todos
os países e em todas as classes da sociedade; foi por ter progredido,
apesar de tudo o que se fez para detê-la, de ultrapassar as
barreiras que se lhe opôs; de encontrar um acréscimo
de forças nas próprias barreiras. Está aí
o caráter de uma utopia? Uma idéia falsa pode encontrar
alguns partidários, mas nunca tem senão uma existência
efêmera e circunscrita; perde terreno em lugar de ganhá-lo,
ao passo que o Espiritismo ganha-o em lugar de perdê-lo. Quando
é visto germinar por todas as partes, acolhido por toda a parte
como um benefício da Providência, é que ali está
o dedo da Providência; eis o verdadeiro milagre, e nós
o cremos suficiente para assegurar o seu futuro.
(...) Em resumo: O Espiritismo, para se estabelecer,
não reivindica a ação de nenhum milagre; não
quer, em nada, mudar a ordem das coisas; procurou e encontrou a causa
de certos fenômenos, erradamente reputados como sobrenaturais;
em lugar de se apoiar no sobrenatural, repudia-o por sua própria
conta; dirige-se ao coração e à razão;
a lógica lhe abre o caminho”.
1- KARDEC, Allan. A Gênese. 43.ed.
Rio de Janeiro: FEB, 2003, cap. XIII, item 4, § 1º.
2- KARDEC, Allan. Revue Spirite. Araras: IDE, 1993, p. 40 e seguintes.
O autor é Presidente-fundador da
Soc. Muriaense de Estudos Espírita, expositor e escritor.
Fonte: http://www.oclarim.com.br/revista/texto_2/texto_2.html
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