Desde os tempos de estudante universitário
e como jovem espírita, frequentamos congressos. Nas duas condições
tivemos a oportunidade de vivenciar excelentes momentos de aprendizagem,
intercâmbio e de confraternização. Também
vivemos diferentes oportunidades de participar do planejamento e da
organização de congressos nas áreas acadêmicas
e espíritas.
Em função dessa vivência diferenciada e que atingiu
várias décadas, atualmente observamos os congressos
espíritas num misto de admiração e de muita preocupação.
Evento marcante e pioneiro foi promovido pelo presidente da FEB Leopoldo
Cirne para comemorar o centenário de nascimento de Allan Kardec,
em 1904, e discutir propostas de união, quando surgiu o documento
“Bases de Organização Espírita“.
Do 1º Congresso Espírita de São Paulo (1947) nasceu
a União das Sociedades Espíritas do Estado de São
Paulo. O 1º Congresso Espírita de Unificação
Espírita (1948) gerou propostas para a união dos espíritas
brasileiros. No Congresso Nacional Espírita da Espanha (1992)
foi aprovada a criação do Conselho Espírita Internacional.
Vários congressos espíritas tiveram temas vinculados
à comemoração de significativas efemérides
do movimento espírita.
Entre momentos e fatos marcantes, em que pesem os convites a lideranças
e expositores expressivos no conhecimento doutrinário, nota-se
que os congressos espíritas estão passando por situações
e alterações preocupantes.
No tocante a temas e expositores, ocorrem algumas situações
que dão a impressão do “mesmismo”, ou seja
temas pomposos, dissociados das maiores demandas do movimento espírita;
a repetição de grupos de expositores ao longo dos congressos
promovidos pelas mesmas instituições, e, até
algumas exaltações de egos.
Mesmo que o evento não tenha as características do real
conceito de “congresso” - geralmente ligado a conclusões
deliberativas ou reunião que visa tratar de determinados assuntos,
comunicar trabalhos, apresentar propostas ou trocar idéias
-, espera-se que os eventos, com qualquer designação
que tenha, tragam contribuições efetivas, com repercussões
frutíferas às pessoas e ao movimento espírita.
Há vários indícios de tendências de elitização,
ou, pelo menos, de dissociação da realidade do movimento
espírita. Escolha de recintos, muitas vezes pomposos e de alto
custo de locação. Existência de “salas vip”
para atendimento de convidados. Em alguns casos, até agentes
de segurança cercando convidados. Comercialização
de muitos produtos, lembrando até “feiras”, incluindo
livros não necessariamente espíritas. Eventos planejados
para gerar fonte de receita para a entidade promotora. Valores de
taxas de inscrição altos, em geral acima das condições
do espírita em geral.
Sem dúvida, nesse contexto, o ambiente de fraternidade, simplicidade
e espontaneidade ficam diminuídos.
Todavia, há também diversos esforços interessantes.
Tomamos a liberdade de situar três episódios ligados
a congressos espíritas onde atuamos como dirigente da entidade
promotora; nos dois primeiros casos, respectivamente como presidente
da USE-SP e da FEB, e no último relato atuando como convidado.
Nos idos de 1992, a União das Sociedades Espíritas do
Estado de São Paulo promoveu o 8º Congresso Estadual de
Espiritismo, em Ribeirão Preto. Foi definido que o público
alvo seria o dirigente e colaborador de centro espírita, justamente
para tratar do tema central – centro espírita. Os coordenadores
de cada sala /item de estudo, eram dirigentes de instituições
do próprio Estado. No início do Congresso, os participantes
receberam um caderno já contendo o resumo de todos os temas
tratados. Em seguida ao evento a USE-SP promoveu seminários
no Estado com o objetivo de multiplicar os temas abordados, já
disponíveis também em fitas de vídeo cassete,
que eram utilizadas na época.
Por ocasião dos 150 anos de O evangelho segundo o espiritismo,
em 2014, a FEB promoveu o 4º Congresso Espírita Brasileiro.
Ocorreram alguns diferenciais: rompendo com a realização
de eventos nacionais centralizados, o Congresso foi efetivado simultaneamente
em quatro regiões do país: Manaus, Campo Grande, Vitória
e João Pessoa, o que facilitou e ampliou a presença
de espíritas de todas as partes do país. Embora o programa
fosse comum, os expositores convidados foram selecionados em reuniões
das Comissões Regionais do CFN, incluindo a participação
de conferencistas das regiões. Na escolha de sedes para os
eventos, deu-se preferência a locais mais simples e menos custosos.
A grande novidade foi que os congressistas, durante os eventos, recebiam
em livros da FEB (preço de capa) o valor da taxa de inscrição
previamente paga. Destacamos que o citado Congresso foi superavitário
conforme prestação de contas apresentado ao CFN da FEB
em 2014.
Em junho de 2017, a comemoração dos 70 anos de fundação
da USE-SP teve como ponto alto a realização do 17º
Congresso Estadual de Espiritismo, na cidade de Atibaia. Além
de palestras e salas com work shops temáticos, o diferencial
foi a realização de “rodas de conversa”
vinculadas ao tema central: “Passado, presente e futuro em nossas
mãos”, Foram escolhidos seis temas para tais “rodas”,
bem ligados a questões do centro e do movimento espírita:
Qualidade doutrinária na literatura espírita; Práticas
estranhas no centro espírita; Teorias científicas e
Espiritismo; Sexualidade e afetividade; Política e Espiritismo;
O desafio de educar além de instruir no centro espírita.
Todo congressista se inscrevia em um tema e para atender a todos,
cada “roda de conversa” foi repetida em dois horários.
No último dia, os coordenadores das “rodas de conversa”
apresentaram em plenário a síntese das discussões
e as conclusões ou recomendações de seus grupos.
Ouvimos muitas manifestações destacando a oportunidade
e o valor de tais “rodas de conversa”.
Isso posto, parece-nos que é chegado o momento para reflexões,
avaliações e, provavelmente, o redirecionamento dos
congressos espíritas. Afinal, realizamos congressos espíritas:
por quê? como? para quê?