Francisco Cândido Xavier completou
a psicografia de Paulo e Estêvão no dia 8 de julho
de 1941, quando Emmanuel assinou "Breve Notícia",
a apresentação da obra. Episódio histórico
e curioso é que o citado livro foi psicografado por Chico
Xavier numa saleta térrea da casa do Dr. Rômulo Joviano,
na Fazenda Modelo, em Pedro Leopoldo (MG).
Por uma deferência do então
administrador da fazenda e chefe de Chico Xavier, este foi contemplado
com a oportunidade de utilizar a referida sala nos intervalos das
refeições, evitando que se deslocasse até sua
residência. Este episódio e, pelo fato dessa fazenda
ter sido o local de trabalho do então funcionário
do Ministério da Agricultura e também pela frequência
assídua do médium à reunião semanal
do "Evangelho no lar" na residência de Joviano,
a Universidade Federal de Minas Gerais – atual responsável
pela fazenda – criou o Espaço Cultural Chico Xavier.
Contando com as seguintes parcerias: Universidade, FEB e União
Espírita Mineira, houve uma remodelação das
dependências físicas e a inauguração
ocorreu durante as comemorações do Centenário
de Chico Xavier. O livro veio a lume no ano seguinte. Antes do lançamento
da primeira edição de Paulo e Estêvão,
ocorrido em julho de 1942, a revista Reformador já anunciava
a obra em artigo de Ismael Gomes Braga: É uma biografia romanceada,
do tipo das biografias modernas, mas diferente destas pela sua finalidade.
[...]

No livro de Emmanuel os principais
personagens nos traçam regras de conduta, abrem roteiro para
a humanidade.(1) E o articulista vaticina:
"Pela beleza da forma e elevação dos ensinos,
é sem dúvida uma obra de grande futuro".(1)
No mês de lançamento da edição histórica,
Alexandre Dias comentava que "as cenas e os cenários
bem traçados, como a perfeita caracterização
dos personagens - prendem a atenção do leitor".(2)
Pouco depois, Arnaldo Claro de S. Thiago opinava que "como
romance histórico, de cunho realista, é de admirável
tessitura; de um sabor clássico que agrada mesmo aos mais
exigentes".(3) Passadas sete décadas,
o citado romance de Emmanuel é considerado, a obra-prima
da psicografia de Chico Xavier e, dentre seus livros mediúnicos,
coloca-se entre os mais editados pela FEB! Esse livro traz grande
contribuição para o entendimento das movimentações
iniciais dos seguidores do Cristo – os "homens do Caminho"
–, depois chamados cristãos, fato relatado pelo autor
espiritual.
É uma portentosa obra para se entender a profundidade e a
abrangência de Paulo de Tarso, apóstolo indireto, mas
inegavelmente o maior discípulo do Cristo e responsável
pelo assentamento das bases do Cristianismo em várias localidades
do Império e na sua capital – Roma. Em "Breve
Notícia", texto que antecede e prepara o leitor para
a obra, Emmanuel esclareceu:
[...] não é nosso
propósito levantar apenas uma biografia romanceada. [...]
Nosso melhor e mais sincero desejo é recordar as lutas acerbas
e os ásperos testemunhos de um coração extraordinário,
que se levantou das lutas humanas para seguir os passos do Mestre,
num esforço incessante.(4) Estêvão
faz juz por aparecer no título do livro, pois "sem Estêvão,
não teríamos Paulo de Tarso. [...]
A contribuição de
Estêvão e de outras personagens desta história
real vem confirmar a necessidade e a universalidade da lei de cooperação".(4)
O autor também revelou: Outra finalidade deste esforço
humilde é reconhecer que o Apóstolo não poderia
chegar a essa possibilidade, em ação isolada no mundo.
[...] sem cooperação, não poderia existir amor;
e o amor é a força de Deus, que equilibra o Universo.(4)
No final, Emmanuel complementa: Oferecendo, pois, este humilde trabalho
aos nossos irmãos da Terra, formulamos votos para que o exemplo
do Grande Convertido se faça mais claro em nossos corações,
a fim de que cada discípulo possa entender quanto lhe compete
trabalhar e sofrer, por amor a Jesus-Cristo.(4)
Em nossos dias há estudos que apontam: "[...]
a conversão de Saulo se deu antes da primavera, ou seja,
no primeiro trimestre do ano 36 d. C.".(5)
Após o alerta do inigualável encontro: "–
Saulo!... Saulo!...
Por que me persegues?",(6) surgiram
momentos difíceis e delicados, de intensas lutas interiores
e de humilhações, inclusive quando o ex-doutor da
Lei procura a igreja do "Caminho" nos arredores de Jerusalém,
as definições para os primeiros labores apostólicos,
as polêmicas sobre a abrangência do trabalho e da difusão
do Cristianismo. Paulo superou as tendências judaizantes de
alguns apóstolos e partiu para a disseminação
da mensagem e da vivência cristãs junto à gentilidade.(7)
Além de ser o fundador e estimulador de centenas de núcleos
cristãos, inovou ao redigir as epístolas: –
Não te atormentes com as necessidades do serviço.
É natural que não possas assistir pessoalmente a todos,
ao mesmo tempo. [...] – Poderás resolver o problema
escrevendo a todos os irmãos em meu nome [...].(8)
Há muita orientação e aprendizagem na obra
e vale o destaque para o roteiro continuado: As assembleias eram
dominadas por ascendentes profundos do amor espiritual. A solidariedade
estabelecera-se com fundamentos divinos. [...]
A união de pensamentos em torno de um só objetivo
dava ensejo a formosas manifestações de espiritualidade.(9)
Em outra obra, o autor espiritual esclarece um episódio curioso
que o vincula ao apóstolo dos gentios, e a nosso ver, a toda
a sua trajetória espiritual: [...] Conheci-o, em Roma, nos
seus dias de trabalho mais rude de provações mais
acerbas. Vi-o uma vez unicamente, quando um carro de Estado transportava
o senador Públio Lêntulus, ao longo da Porta Ápia,
mas foi o bastante para nunca mais esquecê-lo. [...] Trocamos
algumas palavras que me deram a conhecer a sua inteireza de caráter
e a grandeza de sua fé. O fato ocorria pouco depois da trágica
desencarnação de Lívia e eu trazia o espírito
atormentado.(10)
Como já destacavam os primeiros
comentaristas de Reformador sobre a obra em foco, o romance é
muito significativo. A leitura, estudo e reflexão em torno
da obra septuagenária é oportuna em nossos dias. Cabem
ilações e até algumas analogias com relação
a algumas querelas e polêmicas organizacionais, de práticas
de mediunidade e de comunicação da atualidade.
A experiência de vida do personagem
homenageado na obra magistral é muito rica e valorosa.
A inspiração em Paulo
é sempre valorizada por Emmanuel: "O convertido de Damasco
foi o agricultor humano que conseguiu aclimatar a flor divina do
Evangelho sobre o mundo",(10)
ou ainda: "O Evangelho não nos diz que Paulo de Tarso
fazia maravilhas, mas que Deus operava maravilhas extraordinárias
por intermédio das mãos dele".(11)