Definições
Antes de qualquer discussão
sobre a temática da ciência, urge procurar uma delimitação
para o sentido da palavra ciência de maneira que se possa identificar
as características centrais do conhecimento científico.
Só a partir daí poderemos analisar o Espiritismo em
seu aspecto de ciência. Nossa pergunta é: o que é
ciência?
Vejamos algumas definições:
>
“a ciência
caracteriza-se por ser a tentativa do homem entender e explicar
racionalmente a natureza, buscando formular leis que, em última
instância, permitam a atuação humana.”
Andery
> “Enquanto
tentativa de explicar a realidade, a ciência se caracteriza
por ser uma atividade metódica. É uma atividade que,
ao se propor conhecer a realidade, busca atingi-la através
de ações passíveis de serem reproduzidas”
Andery ([3])
> “Conjunto
organizado de conhecimentos relativos a certas categorias de fatos
ou fenômenos.”
Enciclopédia Delta Larousse ([4])
> “a ciência
não é um sistema de conceitos, mas, antes, um sistema
de enunciados.”
Popper ([5])
> “a ciência
pode ser definida por meio de regras metodológicas”
Popper ([6])
> “A ciência
é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas
ao sistemático conhecimento com objetivo limitado, capaz
de ser submetido à verificação.”
Lakatos ([7])
> “A ciência
é um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis,
obtidos metodicamente, sistematizados e verificáveis, que
fazem referência a objetos de uma mesma natureza.”
Lakatos ([8])
Por estas definições
podemos observar que a ciência está fundamentalmente
relacionada ao problema da metodologia. A preocupação
central é a de proporcionar um conteúdo de conhecimentos
que possam ser tomados como verdadeiros ou prováveis; e, segundo
a opinião de Popper ([9]),
que possam ser falseados por uma ou mais experiências. Assim,
a este sistema de enunciados elaborados racionalmente, fundamentados
na experiência empírica, e passíveis de falseabilidade
através de experiências denominamos ciência.
Destacamos o conceito de falseabilidade
pela experiência porque ele foi introduzido por Popper. Na sua
concepção, o conhecimento científico
é eminentemente dedutivo no sentido de que somente a experimentação
possibilita a confirmação de uma idéia. E, singularmente,
Popper propõe que uma representação da natureza
só seja considerada conhecimento científico se formos
capazes de estabelecer um critério, chamado critério
de falseabilidade, através do qual a experiência possa
comprovar que aquela representação, proposta como conhecimento
científico, é falsa. Assim para que um conhecimento
seja dito científico ele necessariamente deve estar aberto
à possibilidade de estar errado. Além disso, somente
a experimentação ao longo do tempo pode assegurar a
permanência — ou não — de uma dada explicação
ou teoria ([10]). Daí, segundo
Popper, o conhecimento científico ser eminentemente dedutivo.
Para não nos determos em definições
e obter uma abordagem mais significativa sobre o sentido de ciência,
é preciso analisar alguns aspectos relacionados à sua
estrutura, seus objetivos, sua função e objetos de pesquisa.
Para tanto, apresentamos o pensamento de Eva Maria Lakatos ([11])
sobre o assunto. Segundo ela as ciências possuem:
a) Objetivo
ou finalidade. Preocupação em distinguir
a característica comum ou as leis gerais que regem determinados
eventos.
b) Objeto.
Subdividido em:
· material – aquilo que se pretende
estudar, analisar, interpretar ou verificar de modo geral;
· formal – o enfoque especial, em
face das diversas ciências que possuem o mesmo objeto material.
c) Função.
Aperfeiçoamento, através do crescente acervo de conhecimentos,
da relação do homem com o seu mundo.
Dessa maneira, no contexto das ciências, os objetivos se voltam
para a aquisição de conhecimentos e técnicas
que nos possibilitem o entendimento das leis que regem determinados
fenômenos. Esses fenômenos são os objetos da ciência,
o ponto sob o qual converge o interesse do conhecimento. Assim a ciência
é utilizada como ferramenta cuja função é
identificar e definir mecanismos que permitam o refinamento desse
conhecimento
A partir desses critérios —
objetivo, objeto e função — pode-se
propor algumas classificações para as ciências.
Na verdade muitas são as classificações que se
têm proposto. Para tomar uma delas, apresentamos a classificação
dada por Mario Bunge ([12])
O
quadro nos mostra a estrutura de classificação proposta
por Bunge. A divisão da ciência em formal e factual leva
em consideração, entre outros, a diferença da
natureza dos objetos, da espécie de enunciados e a distinção
das metodologias aplicadas na comprovação dos enunciados.
Merece destaque o sentido dado aos
adjetivos formal e factual quando aplicado às
ciências:
· Formal
- Estudo de idéias. Os objetos destas ciências são
enunciados analíticos cuja verdade depende unicamente do significado
de seus termos e de sua coerência lógica.
· Factual
- Estudo de fatos. Seus objetos, além de enunciados analíticos
possuem relação com fatos aos quais os enunciados se
referem e a partir dos quais são elaborados.
([13])
É importante ressaltar que
existem pontos de contato muito sutis entre um e outro conceito, e
que, a rigor, essa divisão é meramente simbólica
e não absoluta. Porém, de maneira geral, as ciências
se classificam em estudo de enunciados — ou idéias —
e estudo de fatos. Apesar da variação de nomenclatura
adotada, a idéia dessa divisão permanece aproximada
entre os diversos autores.
No tocante às ciências
factuais, de acordo com os objetos de seu interesse, poderemos
ainda dividi-las em dois tipos:
> Ideográficas –
cujos fatos experimentados não estão sujeitos ao controle
e à repetição laboratoriais;
> Nomotéticas
– cujos fatos experimentados podem ser submetidos ao controle
e à repetição em laboratório.
Essa distinção procura
estabelecer características metodológica que devem ser
dadas a cada tipo de ciência de acordo com a natureza dos objetos
sob sua responsabilidade, e com os experimentos que podem ser aplicados
para validação e refutação das teorias
acerca desses fenômenos. Porém, a própria classificação
é uma proposta para as ciências estabelecidas na atualidade,
significando que outras propostas e abordagens poderão surgir.
A Ciência como representação
Lembramos ainda que existe uma opinião
segundo a qual a ciência não passa de um conjunto de
idéias, coordenadas pela mente humana e dispostas de tal forma
que se torna possível a compreensão de um universo limitado
de fatos e fenômenos. Um representante destas idéias
é apontado por John Brockman:
> "A idéia
de que a realidade não é mais que a rede imaterial
e transitória de nossa linguagem descritiva já foi
formulada de vários modos por vários pensadores importantes.
Um dos mais eminentes dentre eles foi o físico alemão
Werner Heisenberg que, em seu agora famoso princípio da incerteza,
demonstrou que a realidade em seu nível mais fundamental,
ou subatômico, é mais «criada» do que observada
pelos físicos." ([14])
Edwin M. Bartee apresenta o mesmo
pensamento:
> "A solução
de um problema não depende da natureza do problema verdadeiro,
mas da natureza do problema percebido. (...) Admitindo que algumas
percepções podem, teoricamente, ser totalmente isomórficas
à situação real, torna-se essencial reconhecer
que ainda assim se tratam de percepções." ([15])
Posto isso, podemos perceber que a
ciência também pode ser entendida como uma forma de representação
da realidade, mas uma representação respaldada na observação
criteriosa de fatos, através de uma abordagem meticulosa, metódica
e sistemática.
Somos partidários desta idéia,
segundo a qual, a ciência se mostra como uma forma de interação
entre o homem e a realidade, uma ponte que o ser utiliza, entre tantas,
para compreender o seu universo. Essa representação
possibilita a ação do homem sobre a realidade; pois
uma vez dominadas as leis que regem os fenômenos, a tecnologia
se encarrega de encontrar aplicação para os princípios
formulados pela Ciência.
Nos dias atuais, em que a Ciência
foi eleita como a representação mais precisa da realidade,
devemos destacar o fato de que essa escolha se deu em detrimento de
outras formas de percepção. Tal conduta estabeleceu
para a Ciência um aspecto popular de infalibilidade, errôneo
segundo os próprios pesquisadores. Mas apesar de não
ser infalível, a opinião da Ciência passou a ser
o voto de Minerva nas questões relativas ao entendimento e
representação do universo. As demais representações,
oriundas da Religião ou da Filosofia, foram, a priori, consideradas
inadequadas ou falsas.
Para entender o processo que determinou
essa postura cultural é preciso discutir algo sobre a história
da ciência
Breve história da
Ciência
Uma das características mais
fundamentais do conhecimento científico é o fato dele
ser racional. A ciência surgiu exatamente da tentativa de opor
um conhecimento racional a uma explicação mítica
do mundo, uma explicação baseada em crenças e
em outros valores subjetivos. A noção de racionalidade
pode ser melhor analisada a partir do seguinte trecho extraído
do livro “Para Compreender a Ciência”:
> “Razão,
logos — em seu sentido original — significa,
por um lado, reunir e ligar e, por outro, calcular, medir; ambas relacionadas
ao pensar, uma atividade fundamental da inteligência. (...)
O conhecimento racional se opõe ao mítico, pois é
um conhecimento sobre o qual se problematiza e não simplesmente
se crê; um conhecimento no qual a explicação é
demonstrada através da discussão, da exposição
clara de argumentos e não apenas relatada, revelada oralmente;
um conhecimento que busca uma intersubjetividade e não é
mero fruto de um sentimento coletivo; um conhecimento em que se busca
explicar e não encontrar modelos exemplares da realidade; um
conhecimento que possibilita um movimento crítico, que possibilita
sua superação e a dos mitos, e não se propõe
como acabado, fechado(...); um conhecimento onde as explicações
deixam de ser frutos da ação de seres sobrenaturais
e divinos, que agem a despeito do próprio homem, para se tornarem
explicações baseadas em mecanismos imanentes à
natureza ou ao próprio homem em sua ação sobre
a natureza(...)”([16])
Essa característica racional do conhecimento científico
surgiu pela primeira vez na Grécia num período que vai
do século VII ao século I a.C. Caracterizou-se pelas
tentativas de racionalmente explicar o Universo e dar-lhe outras causas
que não os deuses. A racionalização dessas explicações
ocorreram, em sua maioria, sem o apoio da observação
experimental baseada numa metodologia específica, o que fez
com que a racionalidade grega propusesse uma representação
do universo baseada na noção de um organismo com suas
leis e “vontades”.
A ciência grega e
a cultura judaica
Apesar de dar início a um período
de explicações racionais acerca da Natureza, a cultura
científica da Antigüidade Grega não se assemelha
com as concepções científicas que ora adotamos.
A origem da especulação
racional é atribuída a Tales —
de Mileto — um filósofo jônico cuja preocupação
era identificar o elemento primitivo do universo. Tentando identificar
uma razão para a phisys — Física
ou Natureza — Tales identificou na água o elemento primitivo
do universo, colocando nela a origem de todas as coisas e desenvolveu
um sistema de leis para explicar o comportamento desse elemento primitivo.
Posteriormente a Física, o estudo da Natureza
— de seus princípios e leis, recebeu de Aristóteles
atenção especial. O livro "Física"
de Aristóteles estabeleceu um novo marco para a cultura
humana. Tratava-se da exposição de um sistema completo
para explicar a natureza e as leis do elemento material, identificado
na Natureza.
Vejamos a análise de R.
Hooykaas sobre esse ponto de vista grego:
"(...) o mundo era um organismo
vivo, a divina fonte de todos os seres vivos — e até
dos deuses. (...) Os filósofos jônicos encaravam a
própria natureza como uma divindade, um ser eterno em processo
de contínua auto-regeneração. (...) não
importa quão divergentes possam ter sido as diferentes concepções
dos filósofos pré-socráticos, ainda assim,
como salientou O. Gilbert, 'toda a especulação dos
jônicos e dos eleáticos, e até mesmo dos pitagóricos,
nada mais é que a busca da divindade: isto é, da substância
divina que determina e dirige o desenvolvimento do mundo'." [17]
E acrescenta:
"(...) a fabricação
e a geração representavam o aspecto racional e organístico
da concepção grega." ([18])
Essas palavras de Hooykaas demonstram
que a postura grega frente à Natureza, apesar de ter determinado
o rumo das especulações filosóficas e científicas,
não se aproxima da noção de ciência que
hoje possuímos. Trata-se de uma resposta ao pensamento mítico
vigente naquela cultura, uma resposta que ainda procura relacionar
a Natureza com as concepções humanas e moldar o universo
segundo os parâmetros de idéias e não de observações
humanas. Tal concepção levou o homem a tomar, perante
os fatos, uma postura conseqüente:
"Os produtos
da Natureza são inteligíveis por serem o resultado
da auto-reprodução de formas racionais."
- Hooykaas ([19])
O antigo homem grego concebeu
a Natureza como algo limitado pela razão, pelas idéias
e concepções humanas, ou seja, o que não fosse
racional — para o homem — não poderia existir porque
ela não age de maneira absurda, mas seguindo uma ordem passível
de ser concebida pelo pensamento humano.
Por tudo isso a ciência grega
se constituiu na busca das razões da Natureza, da forma como
o mundo se conformava à concepção humana. A regra
do dia foi estabelecida por Protágoras quando disse —
"o homem é a medida de todas as coisas."
Outra cultura que merece destaque
na opinião de Hooykaas é a cultura judaica. Mesmo não
tendo uma ciência formulada, os judeus ofereceram uma visão
diferente para a representação da natureza. Diferente
da postura grega, a cultura judaica atribuía à Natureza
uma hierarquia distinta. Para os judeus ela era uma criação
de Deus — ao contrario do organismo vivo dos gregos —
e não estava submetida aos moldes dos homens. Quando Deus disse
"faça-se e luz", a luz se fez. O fato, na concepção
judaica, foi esse, e não caberia ao homem julgar se isso era
ou não racional, mas apenas estudar e procurar uma explicação
que possibilitasse o entendimento do observado.
Para os gregos era preciso racionalizar
e explicar os fenômenos conforme as idéias humanas; para
os judeus importava observar os fatos e explicá-los não
segundo a razão, mas a observação. Como conseqüência
dessa concepção a postura do homem, na cultura judaica,
era a de identificar os fatos, estudá-los e, se possível,
controlá-los.
A ciência medieval
A Idade Média caracterizou-se
por uma infeliz tentativa de reunir numa só cultura os pensamentos
gregos e judaicos. Enquanto o Movimento Cristão optava por
atalhos ([20]) e se degenerava na concepção
católica, a ciência foi se limitando aos moldes do pensamento
de Aristóteles com seus modelos físicos e metafísicos.
Frente a isso podemos compreender o sentido das palavras de Hooykaas:
"A ciência medieval não
deu um passo no sentido de eliminar os principais vícios inerentes
à postura grega em face da natureza, pois nela deparamos novamente
a mesma subestimação do poder humano e a mesma deificação
da natureza; a mesma superestimação da razão
humana e a mesma depreciação do trabalho manual."
([21])
"A natureza era considerada como
um poder semi-independente, e quando as coisas aconteciam de acordo
com a natureza isso significava que seguiam um modelo que pareceria
racional à mente humana, um modelo descoberto por Aristóteles.
(...) A ordem regular da natureza era considerada como algo instituído
por Deus, embora suscetível de ser anulada por Ele de forma
sobrenatural (o termo é significativo), ao realizar um milagre." ([22])
Estas idéias a respeito do
mundo fizeram da cultura medieval uma caricatura do saber humano;
a união perfeita de dois aspectos curiosos e que redundou em
nada. O esforço de Tomás de Aquino em interpretar o
pensamento cristão nas bases aristotélicas resultou
numa representação estética do mundo dissociada,
porém, da realidade. A beleza desse conhecimento trouxe, no
entanto, terríveis conseqüências para os períodos
imediatamente seguintes. Deslumbrados com o dourar das palavras os
homens esqueceram de analisar o sentido experimental das proposições.
A Ciência desapareceu do contexto e deu lugar a uma infindável
discussão no campo da escolástica — ou seja, dentro
de padrões distorcidos já que o valor das idéias
não estava consignado nas observações, mas adequado
a princípios dogmáticos já estabelecido pela
crença em voga e apresentados como inquestionáveis.
Razão e Experiência
Foi no final do século XVI
e início do XVII que a ciência conseguiu desvencilhar-se
das rígidas estruturas do preconceituoso racionalismo grego
e lançar mão da observação e experiência
como critérios de validação. As contribuições
de Johanes Kepler e Ticho Brahe foram de caráter fundamental.
As formulações matemáticas feita por Kepler para
explicar as órbitas elípticas dos planetas e repensar
o sistema heliocêntrico de Copérnico foram baseadas nas
observações de Ticho Brahe cuja dedicação
à técnica e paixão pelas coisas precisas possibilitaram
a formulação de uma visão matematicamente consistente
da astronomia ([23]). O esforço
de Brahe no sentido de utilizar a medição e a observação
representou a primeira oportunidade de crescimento significativo na
metodologia científica e graças às suas observações
e medidas a teorização de Kepler pode ser desenvolvida.
Contemporâneo de Kepler e Brahe,
o italiano Galileu Galilei entrou para a história como o marco
fundamental da disputa entre a fé cega e a razão luminosa.
Procurando aferir as teorias aristotélicas Galileu propõe
uma nova visão da Física e sua obra "Duas Novas
Ciências" representa um marco na evolução
do pensamento humano. A postura de Galileu na tentativa de verificar
se aquilo que era racional era de fato real retoma e desenvolve a
estrutura do pensar judaico que posicionava o homem como observador
das "irracionalidades de Deus". Observemos os seguintes
trechos retirados da introdução à edição
brasileira de "Duas Novas Ciências":
"... Galileu não só
ridiculariza e ataca a teoria aristotélica tradicional dos
elementos, mas propõe uma alternativa metodológica baseada
na observação e no experimento como principal critério
da verdade. É interessante o uso de experimentos para refutar
argumentos verbais apresentados pela teoria aristotélica."([24])
Seguindo essa linha Galileu destaca
em seus escritos:
"Penso que discussões
sobre problemas da Física devem tomar como ponto de partida
não a autoridade de passagens das Escrituras, mas, sim, experiências
sensíveis e suas necessárias demonstrações.
Deus não é revelado com menor excelência nos atos
da Natureza do que nas afirmações sagradas da Bíblia."([25])
Aqui, a proposta é que o problema
da ciência deixe de ser teologicamente estético —
no sentido de que não se pretende mais a exaltação
da Perfeição e Racionalidade da Obra Divina —
e desloque-se para o terreno da quantificação matemática
pela observação do real. Embora Galileu tenha sido tomado
como marco dessa modificação, as contribuições
de Kepler e Brahe não podem ser desmerecidas.([26])
A introdução na observação e experiência
no processo de validação do conhecimento trouxe nova
luz para o pensar humano, possibilitou o surgimento de um pequeno
facho que iluminaria os séculos porvindouros.
Nesse contexto surge a necessidade
do MÉTODO.
A essa época surge uma voz
que dá o toque de reunir para os conhecimentos dispersos. Francis
Bacon, espírito pratico e perspicaz, apresenta uma nova
visão para a Ciência. No seu "Novum Organon"
ele propõe:
"O homem enquanto ministro
e intérprete da natureza, só faz e compreende tanto
quanto lhes permitem suas observações sobre a ordem
da natureza... mais do que isso não conhece, nem é
capaz de conhecer."[27]
Vemos que a temática central,
proposta por Bacon, passa a ser a observação da natureza
para verificação do nosso conhecimento sobre ela, a
experimentação como elemento validador das nossas representações
acerca da Natureza. Essa concepção, porém, limita
o mecanismo do conhecimento à experiência dos sentidos.
A formulação de "O
Discurso sobre o Método" de René
Descartes posiciona a dúvida como forma de apreender
a verdade e estabelece princípios de lógica para verificação
do que é real.
As idéias de Descartes baseavam-se
no presuposto de uma dicotomia entre os dois princípios existentes
no Universo: Espírito e Matéria. Na concepção
cartesiana esses elemento constituiam os fundamentos de duas realidades
paralelas. Essas realidades, material e espiritual, jamais interagiam
em virtude de suas naturezas serem absolutamente díspares.
A essa postura seguiram-se severas críticas com relação
à existência do Espírito.
Uma das conseqüência da
dúvida concernente à existência do Espírito
foi a solidificação de uma concepção mecanicista
da Natureza, segundo a qual o Universo seria uma máquina, um
mecanismo movido por forças e cuja explicação
sistematizava relações entre causas e efeitos. A Mecânica,
oriunda dos trabalhos de Isaac Newton,
conseguiu eminentes conquistas com esta interpretação
do universo como máquina. Isso definiu o rumo a ser tomado
pela Ciência ao ponto de séculos depois, com o advento
da quântica e da relatividade homens como Einstein,
Dirac, Plank, Bohr e Heinsemberg encontrarem extremas dificuldades
para reposicionar a interpretação da Natureza em bases
transcendentes à da mecânica newtoniana.
Parte 2
O Método Científico
A necessidade de métodos para
validação do conhecimento foi a etapa conseqüente
do processo de observação e experiência. Não
basta apenas observar, tornava-se preciso delimitar critérios
de observação, isolar o essencial do secundário
e relacionar causas a efeitos.
A metodologia científica se
propõe, então, a definir regras e procedimentos que
darão segurança e validade ao exercício de conhecer.
Vejamos algumas observações
sobre método científico:
> "O método
científico é um conjunto de concepções
sobre o homem, a natureza e o próprio conhecimento, que sustentam
um conjunto de regras de ação, de procedimentos prescritos
para se construir conhecimento científico”.
- Andery ([28])
> "Método
é um procedimento regular, explícito e passível
de ser repetido para conseguir-se alguma coisa, seja material ou
conceitual”.
- Bunge ([29])
> "Método
científico é um conjunto de procedimentos por intermédio
dos quais :
a) se propõe os problemas científicos e
b) colocam-se à prova as hipóteses científicas"
- Lakatos ([30])
Observamos particularmente a última
definição. Enquanto as outras duas se baseiam na idéia
de propor procedimentos para validação, esta procura
distinguir a forma de propor os problemas e de resolvê-los.
Caracteriza duas etapas distintas do procedimento científico:
a proposição metódica do problema e a explicação
sistemática dele.
Neste ponto, fica bem destacado o
papel da ciência como representação de uma realidade
metodicamente percebida e sistematicamente explicada. Portanto, um
sistema que permanece válido até que novas observações
o contrariem e exijam novas representações para a explicação
dos fatos.
Essa opinião é igualmente
apresentada por Karl Popper e Thomas
Kuhn em "Lógica da Pesquisa Científica"
e "A estrutura das revoluções científicas",
respectivamente.
Para Popper a falseabilidade é
utilizada como critério para definir, metodologicamente, até
quando uma representação da Natureza permanecerá
válida.
Da mesma forma, para Kuhn, a noção
de paradigmas caracteriza a prática da ciência normal,
que explora a representação do Universo até que
revoluções coloquem em xeque essa mesma representação
quando, então, a ciência desloca-se para um enfoque especial
à procura de novos paradigmas.
Em ambos os casos, a idéia
de conhecimento científico como representação,
e a necessidade de método para erigir esse mesmo conhecimento,
fica suficientemente realçada.
Para compreender a Ciência
A concepção científica
da humanidade tem evoluído com o passar dos tempos. Merece
ser considerada a proposta de Karl Raimund Popper. Ele vê a
ciência como uma interpretação parcial e temporária
de uma realidade existente; uma interpretação atualizável,
porém, nunca exata.
Essa mesma percepção
é apresentada por Albert Einstein e Leopold Infield em "A
Evolução da Física":
"Em nosso esforço para
compreender a realidade somos algo semelhante a um homem tentando
compreender o mecanismo de um relógio fechado. Ele vê
o mostrador e os ponteiros em movimento, até ouve o seu tique-taque,
mas não tem meio algum de abrir a caixa. Se for engenhoso,
poderá formar alguma imagem de um mecanismo que seria o responsável
por todas as coisas que observa, mas jamais poderá estar
bem certo de que sua imagem seja a única capaz de explicar
as suas observações. Jamais poderá comparar
esta imagem com o mecanismo real e não pode sequer imaginar
a possibilidade ou o significado de tal comparação.
Mas certamente acredita que, com o aumento de seus conhecimentos,
a sua imagem da realidade se tornará cada vez mais simples
e explicará uma gama cada vez maior de suas impressões
sensoriais. Pode também acreditar na existência do
limite ideal de conhecimento e que a mente humana dele se aproxima.
Poderá chamar este limite ideal de a verdade objetiva"([31])
Esta visão da Ciência
como representação e explicação de uma
realidade percebida, sujeita a mudanças e atualizações
estabeleceu um novo parâmetro para as concepções
humanas que da Antiga Grécia às concepções
de Popper pretende estabelecer a Ciência como uma das tentativa
humana de encontrar padrões e estabelecer relações
que nos permitam compreender o mundo através da proposição
de modelos.
Além disso, em 1962, com o
lançamento do livro "A estrutura das revoluções
científicas", Thomas Kuhn critica o conceito de
ciência, e de método científico, apresentando
uma noção ainda mais explícita da ciência
como representação temporal de problemas, percebidos
e propostos a partir de determinadas idéias que são
compartilhadas pelas comunidades científicas: os paradigmas.
Nesse sentido ele esclarece ([32]):
"A pesquisa eficaz raramente
começa antes que uma comunidade científica pense ter
adquirido respostas seguras para perguntas como: quais são
as entidades fundamentais que compõem o universo? como interagem
essas entidades umas com as outras e com os sentidos? que questões
podem ser legitimamente feitas a respeito de tais entidades e que
técnicas podem ser empregadas na busca de soluções?"
Tal visão recoloca
o papel da filosofia no contexto da ciência e introduz
o conceito de paradigma como pressupostos, leis, métodos
e técnicas aceitas e demonstradas para uma comunidade
científica e que fundamenta todo o trabalho de pesquisa daquela
comunidade.
Como teremos a oportunidade de demonstrar,
esse foi exatamente o procedimento de Kardec ao abordar a
questão do espírito: identificar a natureza
do problema; os métodos que poderiam ser aplicados na solução
dele; as entidades fundamentais que deveriam ser tomados como pressupostos
para a colocação dos problemas; as experiências
que poderiam ser feitas para validar as hipóteses e, conforme
a proposta de Popper, os fatos que falseariam a teoria no caso de
ocorrem. Essa lucidez kardequiana foi o motivo mais forte pelo qual
Camille Flammarion referiu-se ao Codificador do Espiritismo como "o
bom senso encarnado".([33])
O Espiritismo
Origens
O Espiritismo surgiu na França
a 18 de abril de 1857, com o lançamento da
obra "O Livro dos Espíritos". Essa
data desponta, no entanto, como um ponto crucial em que culmina um
trabalho de quase uma década.
Os fatos que deram origem ao Espiritismo
ocorrem desde que se tem notícia do homem, posto que todas
as culturas reportam-se a comunicações efetuadas entre
vivos e "mortos". No entanto, foi a partir de 31 de março
de 1848 que o mundo ocidental pareceu se preocupar mais com os fenômenos
de comunicação mediúnica. Após os fenômenos
de Hydesville, o mundo inteiro foi invadido pela chamada dança
das mesas. Em 1854, por intermédio do Sr. Fortie, seu amigo
pessoal, Hyppolyte Léon Denizard Rivail, entrou em contato
com os referidos fenômenos. Após três anos de pesquisas
vem a lume "O Livro dos Espíritos". Nele está
a assinatura de Allan Kardec, pseudônimo de Rivail. Surgia o
Espiritismo como uma doutrina de origens científica, de caráter
filosófico e de conseqüências religiosas.([34])
O Espiritismo se apresentou como uma
nova visão para os problemas até então relegados
ao campo do maravilhoso e do sobrenatural, mas a primeira preocupação
do Prof. Rivail foi justamente a de reposicionar o problema sob o
ponto de vista do natural. Dessa preocupação com a maneira
de propor e tratar o problema evidencia-se uma postura metódica
que busca definir o universo no qual o problema está inserido.
Apesar de a comunicação
com os Espíritos estar reportada ao longo de toda a história
da humanidade como uma relação mística, de caráter
maravilhoso e sobrenatural Rivail efetua pesquisas como quem está
lidando com uma potência da natureza cujo tratamento deve ser
de observação e crítica; dúvida e ponderação
e não mais uma crença cega ou obstinada negação.
Cabia-lhe a observação metódica partindo da verificação
da veracidade dos fatos até à explicação
dele por um sistema de leis que possibilitassem o entendimento humano.
Aplicando aos "fatos
espíritas" a mesma metodologia empregada para analisar
os problemas científicos da época, Kardec deu um passo
decisivo na abordagem de uma área que, até então,
permanecia intocável para a Ciência. Propondo
questões e compilando leis através de uma abordagem
metódica e sistematizada, ele desafiava outros pesquisadores
a examinar os fatos e propor novos modelos com suas respectivas soluções
para os fatos observados. Vejamos suas palavras:
Resumimos nas proposições
seguintes o que havemos expendido:
1º) Todos os fenômenos
espíritas têm por princípio a existência
da alma, sua sobrevivência ao corpo e suas manifestações.
2º) Fundando-se numa lei da
Natureza, esses fenômenos nada têm de maravilhosos,
nem de sobrenaturais, no sentido vulgar dessas palavras.
3º) Muitos fatos são
tidos por sobrenaturais, porque não se lhes conhece a causa:
atribuindo-lhes uma causa, o Espiritismo os repõe no domínio
dos fenômenos naturais.
4º) Entre os fatos qualificados
de sobrenaturais, muitos há cuja impossibilidade o Espiritismo
demonstra, incluíndo-os em no número das crenças
supersticiosas.
5º) Se bem reconheça
um fundo de verdade em muitas crenças populares, o Espiritismo
de modo algum dá sua solidariedade a todas as histórias
fantásticas que a imaginação há criado.
6º) Julgar o Espiritismo pelos
fatos que ele não admite é dar prova de ignorância
e tirar todo valor à opinião emitida.
7º) A explicação
dos fatos que o Espiritismo admite, suas causas e conseqüências
morais, forma toda uma ciência e toda uma filosofia, que reclama
estudo sério, perseverante e aprofundado.
8º) O Espiritismo não
pode considerar crítico sério, senão aquele
que tudo tenha visto, estudado e aprofundado com a paciência
e a perseverança de um observador consciencioso; que do assunto
saiba tanto quanto qualquer adepto instruído; que haja, por
conseguinte, haurido seus conhecimentos algures, que não
nos romances da ciência; aquele a quem não se possa
opor fato algum que lhe seja desconhecido, nenhum argumento de que
não já não haja cogitado e cuja refutação
faça, não por meio de mera negação.
mas por meio de outros argumentos mais peremptórios; aquele,
finalmente, que possa indicar, para os fatos averiguados, causa
mais lógica do que a que lhes aponta o Espiritismo. Tal crítico
ainda está por aparecer."([35])
Diante dessas palavras, observamos que a postura do Espiritismo, frente
aos fenômenos observados — e que antes eram enquadrados
no campo do maravilhoso e do sobrenatural —, é a de lhes
assinalar uma causa natural, que estivesse fundamentada numa visão
realística da natureza, despojada de mitos ou crenças
irracionais. Os fenômenos são colocados do ponto de vista
de uma filosofia global que pressupõem, como toda e qualquer
ciência, a existência de entidades básicas no universo,
as quais fundamentam a explicação desses mesmos fenômenos.
Dessa forma, Kardec efetuava, com
toda propriedade, uma revolução na maneira de abordar
a questão do espírito, a qual permanecia relegada ao
plano da Filosofia, da Religião e do Misticismo. Sua postura
é inicialmente a de tentar identificar, no problema, uma solução
coerente com o mecanicismo vigente na Ciência de então.
Tentando identificar explicações
de caráter puramente "material" Kardec
depara-se com anomalias expressivas que impossibilitam o enquadramento
dos fenômenos nos moldes da Ciência corrente. Sua
postura é idêntica à referenciada por Thomas Kuhn.
([36])
"Confrontando com uma anomalia
reconhecidamente fundamental, o primeiro esforço teórico
do cientista será, com freqüência, isolá-la
com maior precisão e dar-lhe uma estrutura. Embora consciente
de que as regras da ciência normal não podem estar
totalmente certas, procurará aplicá-las mais vigorosamente
do que nunca, buscando descobrir precisamente onde e até
que ponto elas podem ser empregadas eficazmente na área de
dificuldades."
Esta posição de Kardec
fica bem destacada na introdução de O Livro dos Espíritos,
quando ele descreve:
"Se tal fenômeno
(o das mesas girantes) ([37]) se houvesse
limitado ao movimento de objetos materiais, poderia explicar-se
por uma causa puramente física. Estamos longe de conhecer
todos os agentes da Natureza ou todas as propriedades dos que conhecemos:
a eletricidade multiplica diariamente os recursos que proporciona
ao homem e parece destinada a iluminar a Ciência de uma Luz
nova. Nada de impossível haveria, portanto, em que a eletricidade
modificada por certas circunstâncias, ou qualquer outro agente
desconhecido, fosse a causa dos movimentos observados. O fato de
que a reunião de muitas pessoas aumenta a potencialidade
da ação parecia vir em apoio dessa teoria, visto poder-se
considerar o conjunto dos assistentes como uma pilha múltipla,
com seu potencial na razão direta do número dos elementos."
É clara a postura de Kardec.
Primeiramente ele pretendeu aplicar aos fenômenos sob análise
dos crivos da ciência corrente, com seus métodos, pressupostos,
e conceitos. O fato de procurar, na eletricidade, uma possível
explicação para os fenômenos mostra seu rigor
metodológico de buscar primeiramente nos elementos conhecidos,
ou paradigmáticos, como propõe Kuhn, as causas desses
mesmos fenômenos. Não encontrando, porém, lança
mão de novas alternativas ao colocar o problema para o campo
da Ciência.
Mas, conforme o destacamos acima,
a Ciência não é isenta de juízos
de valor e o assunto não recebeu a abordagem merecida.
Os sábios da época, representantes da Ciência,
tratavam da questão com desdém, como se ela não
existisse. A Ciência de então procurava abordar o problema
segundo o ponto de vista mecânico e a influência do Positivismo
foi marcante, tanto no sentido da abordagem kardequiana como na negação
dos sábios de então. É Kardec quem destaca:
"Até aí,
como se vê, tudo pode caber no domínio dos fatos puramente
físicos e fisiológicos. Sem sair desse âmbito
de idéias, já havia ali, no entanto, matéria
para estudos sérios e dignos de prender a atenção
dos sábios. Porque assim não aconteceu?"
([38])
A pergunta é incisiva e podemos
imaginar uma resposta. Ocorre que os fatos fugiam dos limites da ciência
de então. As teorias e pressupostos não se aplicavam
à nova ordem de fatos que ali se demonstrava. Muitos querendo
verificar a realidade deles pretenderam reproduzir o fenômeno
a seu bel prazer, acreditando que ele se dava de conformidade com
os preparativos humanos, como ocorre com os estudos físicos.
"Mas ocorreu — diz
Kardec — que o fenômeno nem sempre lhes correspondeu
à expectativa e, do fato de não se haver produzido
constantemente à vontade deles e segundo a maneira de se
comportarem na experimentação, concluíram pela
negativa. Mau grado porém, ao que decretaram, as mesas —
pois que há mesas — continuam a girar e podemos dizer
com Galileu: todavia, elas se movem!. Acrescentaremos que os fatos
se multiplicaram de tal modo que desfrutam hoje do direito de cidade,
não mais se cogitando senão de lhes achar uma explicação
racional." ([39])
Foi então que o Espiritismo
se apresentou como uma ciência que pretende oferecer uma explicação
racional e coerente com os fatos observados, livre do espírito
de sistema. Criticado pelos religiosos por ser demasiadamente metódico
e racional no trato com fenômenos espirituais, e enquanto os
cientistas lhe acusavam se ressucitar o mito do Espírito, o
Espiritismo apresentava fatos e conclusões inaugurando a fase
crítica da revolução do espírito.
O Positivismo de Augusto Comte (1798-1845)
Para melhor entendimento do contexto
e da dimensão do Espiritismo, precisamos vislumbrar
o horizonte cultural da França no século XIX.
Em particular, sob o ponto de vista da Ciência, necessitamos
observar o movimento Positivista de Augusto Comte e tentar apreender
quais as influências que esse movimento teve sobre o Espiritismo.
O Positivismo surge como uma nova
visão da forma como o homem tem se relacionado, ao longo do
tempo, com a Natureza. Assume a postura de instrutor do intelecto
humano e pretende elevar o homem no sentido de abranger pela explicação,
dita positiva, os fenômenos observados. Mas o movimento positivista
tem como proposta central uma tentativa de transformar a Ciência
em Religião.
Observemos as citações
sobre o Positivismo colocadas por Maria Amália Andery:
"Comte elabora (...) uma
proposta para as ciências, pretende ser o fundador de uma
nova ciência - a sociologia e funda uma religião"([40])
E Verdenal destaca:
“... Em última
análise o positivismo é a fórmula filosófica
que permite transmutar a ciência em religião: a ciência
desembaraçada de todo além teórico da especulação,
converte-se em religião despojada de perspectiva teológica
e reduzida aos fatos da prática religiosa: os ritos sociais."([41])
O pensamento de Comte propõe
em primeiro lugar três momentos para a historia da humanidade:
o estado teológico, o metafísico e o positivo. E, de
maneira sistemática, pretende aplicar esses estados a todos
os episódios da aventura humana. Cada estado, segundo Comte,
é caracterizado por abordagens e pressupostos próprios.
O teológico pela busca de causas divinas e sobrenaturais para
os fenômenos do Universo; o metafísico por causas e forças
abstratas, ainda personificadas e com moto próprio; e o positivo
pelo busca de um mero relacionamento entre causa e efeito na explicação,
que mais se assemelha a uma descrição, dos fenômenos.([42])
Essa interpretação positiva
da evolução humana trouxe uma conseqüência
particular para a abordagem científica. A Ciência deixou
de ocupar-se com as causas dos fenômenos no sentido de identificar-lhes
as origens; importava agora uma abordagem descritiva que relacionasse
causas a efeitos no sentido de explicar o como e não o porquê.
Para Comte o conhecimento científico é baseado na observação
de fatos e nas relações entre eles. Essas relações
são estabelecidas pelo raciocínio e excluem as tentativas
de descobrir a origem, ou uma causa subjacente aos fenômenos.
São, na verdade, descrições das leis que os regem,
nada mais.
É importante destacar que a
visão da Natureza como um grande mecanismo, a visão
mecanicista, teve uma influência decisiva na tomada desse rumo
por parte da Ciência. A conseqüência mais direta
para esse tipo de abordagem foi o fortalecimento de uma visão
exclusivamente materialista do Universo, visão essa assumida
pela Ciência e sistematizada no campo da História e da
Economia com o advento do Materialismo Histórico Dialético
de Karl Max e Friederich Engels.
O pensamento de Comte, exposto no
Positivismo, tem alguns pressupostos que também merecem ser
considerados, vejamos:
> A natureza
é um conjunto de leis eternas e imutáveis.
> O progresso
é uma sucessão linear de aquisições
cuja base fundamental e a ordem.
> O conhecimento
científico é real porque parte do real.
Merece destacar o último pressuposto
de Comte, que nos leva a ver o conhecimento científico como
absoluto, não uma representação da nossa percepção
da realidade, mas a formulação da realidade em si mesma.
Para Comte a metodologia da ciência deve ser a ordem. A partir
daí o progresso é sempre crescente e linear porque o
conhecimento adquirido é absolutamente correto e, portanto,
não tem que se preocupar com o que já foi "conhecido".
O tempo se encarregou de demonstrar
o quão errada estava essa posição.
O
Espiritismo - seu aspecto de ciência
"O Espiritismo é ao mesmo tempo uma ciência de observação
e uma doutrina filosófica. Como ciência prática
ele consiste nas relações que se podem estabelecer com
os Espíritos; como filosofia ele compreende todas as circunstâncias
morais que decorrem dessas relações.
"Podemos definí-lo
assim: “O Espiritismo é uma ciência que trata
da natureza, da origem e da destinação dos Espíritos,
e das suas relações com o mundo corporal.”
– Allan Kardec ([43])
Vemos que Kardec procurou caracterizar
o Espiritismo como uma ciência e enfaticamente qualificou-o
de ciência de observação. Segundo
ele, este caráter científico do Espiritismo é
decorrente do método empregado para a construção
do conhecimento:
"Como meio de elaboração,
o Espiritismo procede exatamente da mesma forma que as ciências
positivas, aplicando o método experimental. ([44])
Com o termo ciência positiva
Kardec faz referência ao Positivismo. Sem pretender vincular
o Espiritismo à interpretação sistêmica
de Comte, destaca, contudo, o caráter de objetividade
que as pesquisas espíritas possuíam com relação
ao emprego do método experimental. O Espiritismo agiu
com os fenômenos sob sua análise da mesma forma que o
Positivismo propunha a análise dos fenômenos físicos:
identificando os efeitos e procurando-lhes uma explicação
objetiva e racional.
Foi exatamente o emprego deste método
experimental que conferiu no alvorecer do século XVII o caráter
de distinção ao conhecimento científico. As experiências
de Brahe e Galileu trouxeram as questões científicas
do terreno das indagações para o campo da observação
experimental. Este foi o mesmo método empregado por Kardec:
trouxe a problemática do Espírito do plano especulativo
para o ambiente da observação. Os fatos lá estavam
e necessário era se lhes dessem alguma explicação.
O Espiritismo surgiu então como um sistema doutrinário
de caráter científico, quando se reporta aos fatos observados
e experimentados, e de caráter filosófico quando reflete
a respeito das conseqüências dessas explicações
para o pensamento e conduta humanos.
No entanto, o Espiritismo se apresenta
de maneira distinta das ciências do século XIX, tanto
em proposição de problemas quanto no objeto de suas
pesquisas. É este objeto de reflexão que distingue o
Espiritismo enquanto disciplina científica.
Recorramos à percepção
de Kardec:
"Assim como a Ciência,
propriamente dita tem por objeto o estudo das leis do princípio
material, o objeto especial do Espiritismo é o conhecimento
das leis do princípio espiritual. Ora, como este último
princípio é uma das forças da Natureza, a reagir
incessantemente sobre o princípio material e reciprocamente,
segue-se que o conhecimento de um não pode estar completo
sem o conhecimento do outro”.([45])
O Objeto de pesquisa do Espiritismo:
as leis do princípio espiritual
A partir da concepção
racionalista dos gregos, a Ciência definiu-se como uma pesquisa
de elementos naturais. Procurando identificar nos fenômenos
uma causa que não fosse sobrenatural e o homem pretendeu compreender
as leis que regem os fenômenos sob sua observação.
Quando a Ciência veio a libertar-se
das amarras da religião, procurou assentar sua atenção
sobre a Física como estudo da Natureza. Esse estudo baseou-se
na pesquisa sobre o elemento material. O elemento espiritual foi suprimido
da especulação pois pertencia ao domínio da teologia.
Era um mistério, e como os mitos gregos, deveria permanecer
assim. Haviam portanto dois elementos: um material — acessível
ao conhecimento humano pelas vias da observação; espiritual,
o outro — inacessível à percepção
e ao entendimento humanos.
Nos chamados milagres, que eram fenômenos
sobrenaturais, as leis da matéria eram quebradas e a ação
do elemento espiritual permanecia misteriosa, inacessível,
misticamente dogmática.
Kardec, como codificador do Espiritismo,
observa que:
"As ciências só
fizeram progressos importantes depois que seus estudos se basearam
no método experimental, até então, acreditou-se
que esse método também só era aplicável
à matéria, ao passo que o é também às
coisas metafísicas."([46])
Como coisas metafísicas Kardec
engloba aquelas cuja base está no elemento espiritual, que
estão além da física (na concepção
aristotélica e newtoniana).
É preciso lembrar a noção
de matéria vigente no século XIX era a de uma substância
formada por átomos "sólidos", indivisíveis.
Além disso, o pensamento cartesiano estabeleceu um princípio
de dicotomia entre Espírito e Matéria como duas realidade
absolutamente distintas que de modo algum interagem.
O elemento material fundamentava
a concepção da física mecanicista e fornecia
a base para as pesquisas da Ciência. Pesquisar o elemento material
era pesquisar o que estava na Natureza. O elemento espiritual referia-se
ao sobrenatural e para o progresso da Ciência, então
materialista, devia ser ignorado, posto que não existia, que
não estava na Natureza. A pesquisa da Ciência voltava-se
para a aplicação de métodos experimentais no
estudo dos fenômenos da matéria – como era entendida.
Os métodos aplicados baseavam-se nas concepções
mecânicas e procuravam identificar o como e não o porquê
das coisas, seguindo o pensamento positivista. Destacamos que os métodos
de pesquisa empregados na obtenção do conhecimento voltavam-se
para a análise de elementos materiais. A tradição
científica havia se especializado na compreensão deste
elemento: o material.
O Espiritismo vem buscar novos
referenciais para a explicação dos fatos sob sua observação,
e para isso, procura entender as leis que regem o elemento espiritual.
Entretanto, o "elemento espiritual" referido por
Kardec é de ordem diferente. Esse "elemento espiritual"
apresenta-se sob diversas e distintas formas; possui leis de regência
próprias e é responsável pela explicação
de inúmeros fenômenos até então inexplicáveis.
Na proposição dos elementos
fundamentais do Universo, o Espiritismo coloca:
> DEUS –
inteligência Suprema e causa primária de todas as coisas.
> ESPÍRITO
– o elemento inteligente do universo;
> MATÉRIA
- o elemento do qual o Espírito se serve e sobre o qual,
ao mesmo tempo, atua; e
> FLUIDO
UNIVERSAL – elemento intermediário entre o
Espírito e a Matéria.
Como podemos ver, as entidades fundamentais
no processo de proposição de novas leis, está
colocada. A discussão do Espiritismo sobre os fatos
está baseada, como qualquer outra ciência, em pressupostos
filosóficos. Deus, Espírito e Matéria
são os elementos basilares do Cosmo; mas ao elemento material
necessário é acrescentar-se o Fluido Universal, um elemento
com características bastante peculiares e que funciona, sob
algumas de suas transformações, como a "matéria"
do mundo espiritual. Para uma análise mais aprofundada a respeito
dos elementos fundamentais do Universo na visão espírita,
recomendamos a leitura do capítulo IV do livro "O
PASSE - SEU ESTUDO, SUAS TÉCNICAS, SUA PRÁTICA"
de Jacob Melo.
Em "O Livro dos Espíritos"
na questão 23 a Kardec questiona:
"Qual a natureza íntima
do Espírito?
Não é fácil
analisar o Espírito com a vossa linguagem. Para vós
ele nada é, por não ser palpável. Para nós
entretanto, é alguma coisa. Ficai sabendo: coisa
nenhuma é o nada e o nada não existe."([47])
A resposta deixa bem claro que o Espírito
é um ser "substancial" e não uma abstração
idealizada. Esse ponto de vista a respeito do Espírito colocou
o Espiritismo numa posição de vanguarda para analisar
os fenômenos da mediunidade. Uma vez que o Espírito era
em si mesmo alguma coisa, a idéia de agir sobre a matéria
já não permanecia tão absurda quanto o era na
concepção de Descartes. Para Kardec ficou tão
clara a realidade da substância que na questão 28 ele
propõe:
"Pois que o Espírito
é, em si, alguma coisa, não seria mais exato e menos
sujeito a confusão dar aos dois elementos gerais (Espírito
e Matéria) as designações de - matéria
inerte e matéria inteligente?
As palavras pouco nos importam. Compete
a vós formular a vossa linguagem de maneira a vos entenderdes.
As vossas controvérsias provêm, quase sempre, de não
vos entenderdes acerca dos termos que empregais, por ser incompleta
a vossa linguagem para exprimir o que não vos fere os sentidos."([48])
Não é sem oportunidade
a colocação de Kardec. Para os extremados soa, inclusive,
como um ponto de vista que corrobora o Materialismo. Na verdade, o
que se pretende é destacar o caráter de realidade do
elemento inteligente do universo.
Uma vez que entendemos os elementos
fundamentais colocados pelo Espiritismos para equacionar o Universo,
podemos identificar que o elemento espiritual que é objeto
de pesquisa da ciência espírita é, por assim dizer,
bastante espiritual, daí porque a colocação de
Kardec a respeito da interação e cooperação
da Ciência com o Espiritismo:
"O Espiritismo e a Ciência
se completam reciprocamente; a Ciência, sem o Espiritismo,
se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos só
pelas leis da matéria; ao Espiritismo, sem a Ciência,
faltariam o apoio e a comprovação.([49])" –
Kardec (grifos originais — Voltaremos a comentar esta citação
na página 17)
A Ciência estudaria o elemento
material e suas leis, o Espiritismo, o elemento espiritual.
Parte 3 (Conclusão)
Espiritismo e Ciência
Kardec não entende o Espiritismo
como de competência da Ciência vigente no século
XIX. Por ser materialista a abordagem científica e pelos métodos
de pesquisa que procuravam as leis do elemento material, a Ciência,
de então, enquanto método de pesquisa e pelos objetos
de estudo que elegeu, colocava-se, em sua própria constituição,
à distância do estudo do elemento espiritual, relegando-o
ao campo do sobrenatural.
Afirmando que:
"Desde que a Ciência
sai da observação material dos fatos, em se tratando
de os apreciar e explicar, o campo está aberto às
conjecturas."
Kardec conclui:
"As ciências ordinárias
assentam nas propriedades da matéria, que se pode experimentar
e manipular livremente; os fenômenos espíritas
repousam na ação de inteligências dotadas de
vontade própria e que nos provam a cada instante não
se acharem subordinadas aos nossos caprichos. As observações
não podem, portanto, serem feitas da mesma forma; requerem
condições especiais e outro ponto de partida. Querer
submetê-las aos processos comuns de investigação
é estabelecer analogias que não existem. A Ciência
propriamente dita, é, pois, como ciência([50]), incompetente
para se pronunciar na questão do Espiritismo: não
tem que se ocupar com isso e qualquer que seja o seu julgamento,
favorável ou não, nenhum peso poderá ter. O
Espiritismo é o resultado de uma convicção
pessoal, que os sábios, podem adquirir, abstração
feita da qualidade de sábios. Pretender deferir a questão
à Ciência equivaleria a querer que a existência
ou não da alma fosse decidida por uma assembléia de
físicos ou de astrônomos. Com efeito, o Espiritismo
está todo na existência da alma e no seu estado depois
da morte. (...) Vedes, portanto, que o Espiritismo não é
da alçada da ciência."([51])
E, por fim, complementa:
"(...) desde que se trata
de uma manifestação que se produz com exclusão
das leis da Humanidade, ela escapa à competência da
ciência material, visto que não pode explicar-se por
algarismos, nem por uma força mecânica."([52])
Nossa primeira observação
a respeito desse trecho é o sentido das palavras Ciência,
com "C" maiúsculo e ciência com "c"
minúsculo. Pelo contexto em que ele vem utilizando esses termos,
poderíamos substituir ciência com "c" minúsculo
por método utilizado e então a expressão torna-se
mais clara e possibilita melhor entendimento das seguintes palavras
contidas em "A Gênese" sobre o Espiritismo e a Ciência.
"O Espiritismo e a Ciência
se completam reciprocamente; a Ciência, sem o Espiritismo,
se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos só
pelas leis da matéria; ao Espiritismo, sem a Ciência,
faltariam o apoio e a comprovação.([53])"
– Kardec
E prossegue:
"Pela sua substância,
(o Espiritismo) alia-se à Ciência que, sendo a exposição
das leis da Natureza, com relação a certa ordem de
fatos, não pode ser contrária às leis de Deus,
autor daquelas leis.(...)"
Vemos então que a reserva colocada
por Kardec ao estudo dos fatos "espíritas" por parte
da Ciência trata-se de uma coerência com os objetos e
métodos desta própria ciência, que se auto restringiu
à pesquisa dos objetos materiais e das leis que os regem, os
quais são passíveis de explicação por
algarismos e forças mecânicas. Os fatos que se apresentavam
não se enquadravam nesta ordem de fenômenos, daí
a afirmação de Kardec de que o Espiritismo não
era da alçada da ciência, de então, enquanto enfoque
metodológico.
Entretanto, a restrição
não se faz de maneira absoluta. Kardec pôde perceber
que o Espiritismo estudava uma potência da Natureza, o Espírito,
e que, portanto, não poderia seguir um caminho isolado. Sabia
que o elemento espiritual não atuava sozinho e reconhecia que
alguns tópicos estudados pelo Espiritismo, necessariamente
seriam abordados pelas demais ciências. Daí a suas criteriosas
observações a respeito dos pontos de contatos entre
o Espiritismo e as outras ciências:
"Caminhando de par
com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado,
porque, se novas descobertas lhe demonstrasse estar em erro acerca
de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade
nova se revelar, ele a aceitará."
([54])
Essas percepções acerca
do Espiritismo deixam bem caracterizada a posição de
Kardec com relação à estrutura do conhecimento
espírita, que não é de modo algum fechado em
si mesmo. Ele entendia o Espiritismo como uma representação
de nossas atuais percepções acerca de uma determinada
ordem de fatos — os espirituais; e propunha que esta representação
não fosse estática, mas continuamente atualizável
como o resto do conhecimento científico.
Cabe ressaltar que a representação
dos fenômenos espirituais colocada pelo Espiritismo possui como
fundamento a observação de fatos e a experimentação
segundo as técnicas permitidas pela tecnologia vigente. Desse
modo, foi na observação dos fatos que o Espiritismo
fundamentou sua metodologia de conhecimento.
Observemos, novamente, as palavras
de Kardec a respeito do método experimental:
"As ciências só
fizeram progressos importantes depois que seus estudos se basearam
sobre o método experimental, até então, acreditou-se
que esse método também só era aplicável
à matéria, ao passo que o é também às
coisas metafísicas."([55])
E com relação ao Espiritismo,
ele destaca:
"Como meio de elaboração,
o Espiritismo procede exatamente da mesma forma que as ciências
positivas, aplicando o método experimental. Fatos novos se
apresentam que não puderam ser explicados pelas leis conhecidas;
ele (o Espiritismo) os observa, compara, analisa e, remontando dos
efeitos às causas, chega às leis que os rege; depois
deduz-lhe as conseqüências e busca as aplicações
úteis."([56])
Afirmando categoricamente([57])
que não são os fatos que vêm a posteriori confirmar
a teoria, mas a teoria é que vem subseqüentemente explicar
e resumir os fatos, Kardec acrescenta:
"O Espiritismo, pois, não
estabelece como princípio absoluto senão o que se
acha evidentemente demonstrado, ou o que ressalta logicamente da
observação."([58])
Essa posição levou o
Espiritismo a uma situação de vanguarda na pesquisa
dos fenômenos espirituais.
A abordagem espírita
Metodologia aplicada ao elemento
espiritual
A abordagem que o Espiritismo propõe
às questões envolvendo o Espírito estão
em plena coerência com o conceito de que metodologia científica
"é um conjunto de procedimentos por intermédio
dos quais :
a) se propõe os problemas
científicos e
b) colocam-se à prova as
hipóteses científicas"([59])
É assim que a primeira proposta
do Espiritismo com relação à maneira de abordas
as questões pertinentes aos Espíritos seja uma mudança
sobre a forma como o problema é proposto. Analisemos a opinião
de Kardec continua em o “O Livro dos Médiuns”:
"A dúvida, no que
concerne à existência dos Espíritos, tem como
causa primária a ignorância acerca da verdadeira natureza
deles. Geralmente, são figurados como seres à parte
na criação e de cuja existência não está
demonstrada a necessidade."([60])
E propõe:
"O Espírito
não é, pois, um ponto, uma abstração;
é um ser limitado e circunscrito, ao qual só falta
ser visível e palpável, para se assemelhar aos seres
humanos."([61])
Essa maneira de propor o Espírito
como uma potência da natureza cuja existência possui um
caráter substancial e não abstrato, removeu as barreiras
da abordagem metodológica, segundo a qual o Espírito
era inacessível à pesquisa científica por tratar-se
de uma abstração. Kardec devolve o Espírito para
o plano real e pretende abordá-lo com o mesmo enfoque com que
a ciência do seu século estudava a Matéria: como
uma das potências da Natureza.
Seguindo essa linha de proposição,
Kardec defini o Espiritismo como:
"... ciência
que trata da natureza origem e destino dos Espíritos, bem
como de suas relações com o mundo corporal. "([62])
O problema passou a ser percebido
com método; pode ser resolvido com um sistema
de leis explicativas, que ressaltaram da observação
e abriu-se para as críticas e correções que,
segundo a percepção de Kardec, necessariamente ocorreriam
com o desenvolvimento natural da pesquisa.
É ele mesmo quem propõe
que a melhor forma de combater a explicação espírita
é oferecendo uma mais adequada aos fatos observados, em sua
totalidade e não isoladamente; isto é, oferecendo uma
teoria que explicasse de uma só vez e com a mesma elegância
os fatos estudados pelo Espiritismo.
A abordagem kardequiana mostrou-se
tão segura que imediatamente surgiram outras posições
como as da Metapsiquica Francesa, de Charles Richet, e da Parapsicologia
Alemã; como outras tentativas para explicação
dos fatos analisados. Eminentes pesquisadores engajaram-se na elucidação
dos fatos estudados pelo Espiritismo. Homens como Friederich Zölnner,
Alexandre Aksakof, Gustave Geley, Cammile Flammarion, Cesare Lombroso,
Gabriel Dellane; William Crockes; Albert de Rochas; Crawford; Bozzano,
entre outros dedicaram suas pesquisas aos fenômenos em questão.
Mas esses mesmos fenômenos permanecem, até o momento,
desprezados pela chamada ciência oficial — ainda não
destituída dos seus juízos de valor.
Apesar deste elemento espiritual ser
desprezado pela dita ciência oficial ressaltamos aqui as palavras
de Brockman inseridas na introdução:
"Uma das ironias da ciência
é que os pesquisadores em todos os campos parecem gostar
de decidir quem de suas fileiras está transpondo os limites
aceitáveis da invenção em busca do conhecimento
científico e quem é culpado de inventar algo que pertença
mais ao domínio da pseudo ciência ou mesmo da religião."
É preciso que se retome as
opiniões de Kardec acerca da postura da Ciência. Se ela
deseja demonstrar que o Espiritismo está errado deve fazê-lo
com a observação dos fatos por ele estudados. Se insiste
que estes fatos não existem então demonstre que eles
são realmente impossíveis de acontecer e se ocorrem
apresente explicações mais coerentes acerca das observações.
O Espiritismo será o primeiro a seguir-lhe, conforme afirmou
Kardec.
Os fatos existem e não se pode
fugir deles. O Espiritismo apresenta suas conclusões baseadas
em observações e apoiadas numa metodologia e portanto,
é uma explicação de caráter científico.
A explicação espírita está proposta. É
preciso que outras apareçam para que se possa avaliar qual
a que melhor representa a realidade dos fenômenos observados.
Podemos verificar, então, que
o Espiritismo possui um aspecto de ciência muito bem definido:
procura, através da observação e experimentação,
extrair uma representações das leis que regem os fenômenos
espirituais, aqueles cuja origem se encontra no elemento espiritual,
que seja coerente com os fatos sob observação.
Contudo, o Espiritismo não
tem apenas o caráter científico. É filosófico
e religioso também. E isso tem sido motivo de profundos desentendimentos
e incompreensões.
Natureza do conhecimento Espírita
O Conhecimento Espírita transcende
ao caráter puramente científico. Pela sua essência
deságua numa estrutura de conhecimento filosófico que
implica num redimensionamento da postura do sujeito com relação
ao universo conhecido, objeto de suas reflexões.
Como forma de conhecimento o Espiritismo
precisa acompanhar a posição da Ciência, e divide
com ela fatias do seu objeto de pesquisa, já que na atualidade
é tendência que o "elemento espiritual" possa
fazer parte das conjecturas científicas, que deixam de ser
estritamente "materiais".
Vale ressaltar que uma tendência
à qual a Doutrina Espírita não está inclinada
é a de estabelecer seus princípios como verdades incontestáveis.
O Espiritismo, desde Kardec, reconhece seu caráter representativo
e atualizável. É Kardec mesmo que propõe aos
opositores do Espiritismo que expliquem melhor, isto é, com
um modelo mais adequado o conjunto de fenômenos que o Espiritismo
explica.
A estrutura da Doutrina Espírita
é de origem humana e espiritual, já que é um
conhecimento oriundo dos Espíritos, mas a sua representação,
validação e sistematização são
de caráter essencialmente humanos, confeccionados pelos homens.
Por este mesmo motivo não está isenta de erros, inerentes
à interpretação e representação
das questões. A pedra de toque utilizada para a validação
dos princípios, mais do que as idéias, são os
fatos.
A postura espírita perante
o Universo é bastante semelhante à postura das outras
ciências: o Espiritismo, partindo de alguns pressupostos
fundamentais, como a existência de Deus e da Alma, em observando
fatos objetivos, compõe um modelo explicativo para o fenômeno
e testa se o modelo é adequado aos fatos observados. Tal modelo
é aceito até que a experimentação demonstre
que ele está equivocado. então, outro modelo é
proposto.
Enquanto ciência o Espiritismo
interpreta um conjunto objetivo e restrito de fatos, para a partir
das leis que estes demonstram, e que os homens interpretam, edificar
um conjunto de conhecimentos filosóficos capazes de simbolizar
o universo na idéia humana. Importante perceber que na elaboração
da Filosofia Espírita entram não somente os dados da
Ciência Espírita, mas de todo o conhecimento científico,
daí o afirmar Kardec que a Ciência e o Espiritismo se
completam. Com base nesta elaboração filosófica
é que decorre, por uma necessidade de coerência entre
teoria e prática, uma mudança de comportamento ético,
decorrente da Filosofia Espírita. Para aquelas que se detém
na ciência espírita, a mudança de comportamento
é uma abstração carente de sentido pois somente
o caráter filosófico do Espiritismo induz a uma nova
postura ética. Daí o afirmar Kardec :
"Sua força está
na sua filosofia, no apelo que dirige à razão, ao
bom senso."([63])
O aspecto religioso do Espiritismo
ressalta dos seus pressupostos: Deus, existência da alma, etc.
E principalmente pelo caráter de revivecência da ética
cristã, igualmente decorrente de sua filosofia. Além
disso, a proposta de levar o homem a uma experiência existencial
de auto-realização pelo progresso; pelo desenvolvimento
dos potenciais intuitivos e pela comunhão e integração
consigo, com o próximo e com Deus — que o Espiritismo
propõem, caracterizam-no como uma religião transcendente
aos ritos e dogmas.
O conhecimento espírita
é um conhecimento de tríplice aspecto. Está
fundamentado na Ciência, edifica-se na Filosofia e evidencia-se
na prática. É a prática, coerente com a filosofia,
o caráter fundamental da religião espírita. A
religião espírita não se mostra no culto realizado
no templo, mas como expressão de viver, como atividade prática,
exercício de vida, na coerência entre saber e agir, um
mecanismo profundo de sentir e experienciar a vida.
O não entendimento deste aspecto
tríplice do Espiritismo tem levado alguns a posições
extremadas e atitudes incoerentes com a essência da Doutrina
Espírita. A tendência eminentemente religiosa ou a pura
especulação filosófica ou ainda a fria pesquisa
científica são aspectos isolados que não possuem
a coerência que o Espiritismo lhes dá. A estrutura de
conhecimento do Espiritismo é uma proposta de educação
integral para personalidade humana.
Uma dimensão do conhecimento
que não pode ser desprezada pelo Espiritismo é a Arte.
Como mecanismo de conhecimento e vivência, a arte desperta realidades
para a alma de maneira inexprimível em argumentos lógicos.
Kardec preocupava-se com a questão. Encontramos em Obras Póstumas
as seguintes afirmações a respeito do assunto:
"Assim como a arte cristã
sucedeu à arte pagã, transformando-a, a arte espírita
será o complemento e a transformação da arte
cristã" ([64])
E complementa:
"Sem dúvida, o Espiritismo
abre à arte um campo inteiramente novo, imenso e ainda inexplorado."([65])
De fato, a opinião de Kardec
vai até aí: esta profunda influência que o Espiritismo
teria sobre a Arte. Sua opinião é de que a Filosofia
Espírita erigiria uma Arte Espírita, mas como uma demonstração
descritiva.
Entretanto, a simples preocupação
com o caso, por parte do Codificador do Espiritismo, deixa-nos ainda
mais à vontade para apontar a Arte como um dimensão
extra para a Natureza do conhecimento espírita. Ciência,
Filosofia, Religião e Arte seriam, pois, aspectos de percepção
para tornar o Espírito educado para a realidade da vida.
A proposta de educação
integral que o Espiritismo vem apresentar à humanidade pretende
colocá-la no plano do desenvolvimento de todas as potencialidades
para uma íntima integração do ser consigo, com
o próximo e com Deus. Mas essa integração não
é apenas de caráter racional; é também
de conotação profundamente afetiva. ([66])
Reflexões finais
Pudemos verificar que o Espiritismo
possui um aspecto de ciência. Porém não podemos
afirmar que tal aspecto vem sido desenvolvido no Movimento Espírita
de maneira geral.
É preciso se destaque
dois elementos no contexto do Espiritismo: o Espiritismo
enquanto conhecimento — A Doutrina Espírita; e o Espiritismo
enquanto fenômeno social — o Movimento Espírita.
A Doutrina Espírita é de caráter tríplice.
Deve ser observado sob este ponto de vista. Sua estrutura é
bidirecional, influência os demais ramos do conhecimento e é
por eles influenciada. Está naturalmente sujeita ao progresso
e esforça-se por fazê-lo. O Movimento Espírita
é de iniciativa de grupos. Recebe influência direta da
Doutrina Espírita e pretende ser a aplicação
desta. Mas nem sempre é isto o que ocorre. Aqui é que
vamos identificar a estagnação do aspecto científico
do Espiritismo.
Por motivos os mais variados possíveis,
cuja análise não cabem neste contexto, o Movimento Espírita
de modo geral descuidou-se do aspecto científico da Doutrina
Espírita.
A pesquisa espírita precisa
ser ressuscitada. Enquanto a Ciência evoluiu, o aspecto científico
do Espiritismo permaneceu centrado no século XIX.
Hoje se dispõem de modernos
arsenais tecnológico cujo emprego poderão trazer significativas
conquistas para elucidação de problemas pertinentes
ao Espiritismo .Urge retomar a linha traçada por Kardec, mas
é preciso igualmente cautela. Não se faz ciência
apenas com boa vontade, outros requisitos são necessários.
E na retomada deste aspecto não podemos correr o risco de menosprezar
os demais. O Espiritismo é uma estrutura de conhecimento coerente
e não podemos perder de vista essa estrutura.
Necessário que o Movimento
Espírita procure mecanismos para desenvolver a pesquisa espírita
sem perder o contexto global do Espiritismo. Pretender isolar
o conhecimento espírita dos demais ramos do saber é
cometer um erro de proporções desastrosas, assim como
desprezá-lo é equívoco de mesmo escalão.
O Espiritismo possui um aspecto de
ciência. Negar isto é ignorar os fatos ocorridos ao longo
de toda a história da humanidade. Se este aspecto não
está desenvolvido é por causa do movimentos humanos,
não da estrutura do conhecimento ou pela inexistência
de fatos.
À medida que a Ciência
oficial se aproxima dos problemas propostos pelo Espiritismo, e ao
mesmo tempo tenta ignorá-los; vemos, mais uma vez, a caracterização
do pensamento humano repleto de juízos, preconceitos e valores.
Por não mover-se apenas por motivos de conhecimento é
que a Ciência ainda não voltou-se para o estudo do Espírito.
Não existe financiamento. Não há interesses econômicos.
Afinal, tudo que poderá ficar demonstrado é que no homem
só existe uma máquina biológica cuja existência
esta limitada pelo fenômeno da morte, como afirma o materialismo;
ou que existe o Espírito, que sobrevive e antevive à
existência terrena, que seu objetivo é o progresso através
de múltiplas experiências, que o mundo espiritual é
um fato e que precisamos modificar nossas condutas diante dessas realidades
— como afirma o Espiritismo.
A metodologia colocada por Kardec
para abordar as questões até então relegadas
ao plano do maravilhoso e do sobrenatural, colocaram o Espiritismo,
diante do fenômeno espiritual, na condição de
vanguardeiro. Kardec não apenas apresentou o problema, mas
soube dar-lhe uma solução baseada em estruturas de conotação
filosófica, e em leis passíveis de experimentação
e análise.
Do ponto de vista de Thomas Kuhn,
diríamos ele efetuou uma revolução na estrutura
do pensar humano concernente ao Espírito. Levantou questões
e ousou respondê-las. Outros seguiram seus passos; outros mais
ainda o farão por quê os fatos permanecem, e com eles,
a explicação espírita.
Estará absolutamente certa?
Kardec considera que não. Considera-se um elemento de princípio,
responsável pelas bases iniciais mas que o tempo saberá
apontar falhas e desenvolver. Soube colocar o Espiritismo numa posição
de abertura para que pudesse se desenvolver a posteriori.
A revolução espiritual
de que tratamos destacou a figura deste pesquisador Allan Kardec como
um homem de visão abrangente. Soube reunir abordagens tão
distintas quais as da Ciência, da Filosofia e da Religião,
para abordar um mesmo problema e, ainda assim, permanecer nos limites
da coerência. Seus resultados foram desafiadores. Sua resposta
para os que o criticaram, ou criticam, é ainda a mesma: que
apresentem um conjunto de idéias — de paradigmas, diria
Kuhn, capazes de explicar e resolver, de maneira mais adequada, os
problemas estudados pelo Espiritismo.
E, enquanto a ciência normal
permanece avaliando as suas teorias de panqueca, permanecemos com
Brockamn e Marcuse à espera de que "certas reflexões
sobre outros assuntos" possam, de igual forma, ser convenientemente
consideradas.
Nosso esforço é recuperar
reflexões. O Espiritismo tem um aspecto científico que
precisa ser revitalizado. O homem tem aspectos espirituais que precisam
ser estudados. Então, que possam os espíritas cuidar
do primeiro problema, e que a ciência oficial considere o segundo.
É tempo de ouvirmos o voto de Minerva. É tempo de considerar
a urgente necessidade de ponderar essa revolução do
Espírito. Traçar novos rumos para a Ciência Espírita
e propor-lhe novas perspectivas afinal, num momento cultural em que
a Ciência e a Tecnologia representam para a nossa sociedade
o voto de Minerva com relação à maioria dos conceitos
e valores, é justo esperarmos que nossas mais íntimas
conjecturas encontrem, no contexto científico, sua abordagem,
validação ou abandono.

O esquema nos mostra que tipo de percepção
predomina em cada ramo do conhecimento. O modelo parece ser uma proposta
de concepção holística, proveniente da teoria
do hólon de Arthur Koestler. Mas não nos foi dado identificar,
efetivamente, a fonte.
([1])BROCKMAN, Jonh. - Einstein, Gertrude
Stein, Wittgenstein e Frankstein: reinventando o universo. Companhia
das Letras. 1ª edição. Parte V. Introdução.
pg. 277. . Companhia das Letras. São Paulo. 1988.
([2]) BRONOWSKI, Jacob - A Escalada
do Homem. cap. 13. pg437. Editora Universidade de Brasília. 2ª
edição,1983.
([3]) ANDERY, Maria Amália e
outros. - Para compreender a ciência. . Introdução.
pgs. 15 e 16. EDUC. Rio de Janeiro.1988
([5]) POPPER, Karl R. - A Lógica
da Pesquisa científica. cap 1. pg. 35. 2ª ed. São
Paulo. Cultrix
([6]) POPPER, Karl R. - A Lógica
da Pesquisa científica. cap 2. pg. 56. 2ª ed. São
Paulo. Cultrix
([7]) LAKATOS, Eva Maria e MARCONI,
Marina de Andrade - Metodologia Científica. cap.1. pg.23. Editora
Atlas. 1ª edição. São Paulo. 1985
([8]) LAKATOS, Eva Maria e MARCONI,
Marina de Andrade - Metodologia Científica. cap.1. pg.22. Editora
Atlas. 1ª edição. São Paulo. 1985
([9]) Vide "A lógica da
pesquisa científica" de K. R. Popper.
([10]) A estas explicações
ou teorias chamamos uma representaçào conceitual dos fenômenos
analisados. Esta representação se formaliza em teorias
e hipóteses apoiadas por experiências.
([11]) LAKATOS, Eva Maria e MARCONI,
Marina de Andrade - Metodologia Científica. cap. 1. pg.24. Editora
Atlas. 1ª edição. São Paulo. 1985
([12]) LAKATOS, Eva Maria e Marina
de Andrade Marconi - Metodologia Científica. cap. 1. pg.26. Editora
Atlas.1ª edição.São Paulo. 1985
([13]) Para uma discurssão mais
detalhada consultar : LAKATOS, Eva Maria e Marina de Andrade Marconi
- Metodologia Científica. cap. 1. pg.28, 29 e 25. Editora Atlas.
1ª edição. São Paulo. 1985
([14]) BROCKMAN, John. - Einstein,
Gertrude Stein, Wittgenstein e Frankstein: reinventando o universo.
Companhia das Letras. 1ª edição
([15]) BARTEE, Edwin M. , apostila
sobre MRP ( Método de resoluçãode problemas)
([16]) ANDERY, Maria Amália
e outros. - Para compreender a ciência. Parte 1. pg. 23. EDUC.
RIO DE JANEIRO. 1988.
([17]) HOOYKAAS, R. - A religião
e o desenvolvimento da ciência moderna. Editora Universidade de
Brasília. 1988 . pg 13
([18]) HOOYKAAS, R. - A religião
e o desenvolvimento da ciência moderna. Editora Universidade de
Brasília. 1988. pg. 29
([19]) HOOYKAAS, R. - A religião
e o desenvolvimento da ciência moderna. Editora Universidade de
Brasília. 1988 . pg. 29
([20]) Vide o conjunto de artigos "O
atalho" de autoria de Luciano dos Anjos publicados em O REFORMADOR
- coleção de 1973. Editora FEB.
([21]) HOOYKAAS, R. - A religião
e o desenvolvimento da ciência moderna. Editora Universidade de
Brasília. 1988. pg. 15
([22]) HOOYKAAS, R. - A religião
e o desenvolvimento da ciência moderna. Editora Universidade de
Brasília. 1988. pg 31
([23]) Para maiores detalhes sobre
Kepler e Brahe consultar - KOESTLER, Arthur. O homem e o Universo..Parte
IV. Caps 1-11. 2ª ed. IBRASA. São Paulo. 1989.
([24]) MARICONDA, Pablo Rubén
- in introdução ao livro DUAS NOVAS CIÊNCIAS de
Galileu Galilei. 1ª edição .Nova Stella. pg XV.
([25]) Galileu – citado por BRONOWSKI,
Jacob in - A Escalada do Homem. Editora Universidade de Brasília.
2ª edição,1983. pg. 209.
([26]) Sobre o assunto consultar a
obra "Netuno" de Isaac Asimov e "O Homem perante o Universo"
de Arthur Koestler
([27]) DURANT, Will - História
da Filosofia. cap. III. pg 136. Edição "Livros do
Brasil" Lisboa.
([28]) ANDERY, Maria Amália
e outros. - Para compreender a ciência. Introdução.
pg 16. EDUC,1988.
([29]) citado por LAKATOS, Eva Maria
e Marina de Andrade Marconi - Metodologia Científica. cap. 1.
pg.41. Editora Atlas.1ª edição.São Paulo.
1985
([30]) citado por LAKATOS, Eva Maria
e Marina de Andrade Marconi - Metodologia Científica. cap. 1.
pg.41. Editora Atlas.1ª edição.São Paulo.
1985
([31]) Einstein, Albert e INFIELD,
Leopold - A Evolução da Física - Zahar Editores.
São Paulo.1980. 4ª ed. pg. 36
([32]) KUHN, Thomas S. A estrutura
das revoluções científicas. Editora Perspectivas.1992.
3ª edição. pg. 23.
([33]) Conforme se pode verificar no
"Discurso pronuciado junto ao túmulo de Allan Kardec"
por Camille Flammarion inserido no livro "Obras Póstumas"
de Allan Kardec - FEB. 22ª edição. pg. 24.
([34]) Para maiores detalhes consultar
as obras "História do Espiritismo" de Arthur Conan
Doyle e "Allan Kardec" de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen.
([35]) KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns.
FEB.55ª edição. 1987. pg.30-31.
([36]) KUHN, Thomas. A estrutura das
revoluções científicas. Editora Perspectivas.1992.
3ª edição. pg. 23.
([37]) O Fenômeno das mesas girantes
foi que deu início às pesquisas em torno da mediunidade.
Para maiores detalhes consultar as obras "História do Espiritismo"
de Arthur Conan Doyle e "Allan Kardec" de Zêus Wantuil
e Francisco Thiesen.
([38]) KARDEC. Allan. O Livro dos Espíritos.
Introdução. FEB. 56ª edição. 1982.
pg.18.
([39]) idem.
([40]) ANDERY, Maria Amália
e outros. - Para compreender a ciência. EDUC,1988. pg. 381
([41]) VERDENAL, R. - in A Filosofia
Positiva de Augusto Comte - Citado por ANDERY in Para compreender a
ciência. EDUC,1988. pg. 381
([42]) “ ... cada uma das nossas
principais concepções, cada ramo de nossos conhecimentos,
passa sucessivamente por três estados teóricos diferentes:
o estado teológico ou fictício, o estado metafísico
ou abstrato, o estado científico ou positivo. / No estado teológico
o espírito humano, ao dirigir suas pesquisas essencialmente no
sentido da natureza íntima dos seres, das causas primeiras e
finais de todos os efeitos que impressionam, numa palavra, no sentido
dos conhecimentos absolutos, representa os fenômenos como produzidos
pela ação direta e contínua de agentes sobrenaturais
mais ou menos numerosos, cuja intervenção arbitrária
explica todas as anomalias aparentes do universo. / No estado metafísico
os agentes sobrenaturais são substituídos por forças
abstratas, verdadeiras entidades (abstrações personificadas)
inerentes aos diversos seres do mundo, e concebidas como capazes de
engendrar por elas próprias todos os fenômenos observados,
cuja explicação, consiste então em designar para
cada um a entidade que lhe corresponde. / No estado positivo o espírito
humano, reconhecendo a impossibilidade de obter noções
absolutas, renuncia a procurar a origem e o destino do universo, assim
como a conhecer as causas íntimas dos fenômenos, para se
dedicar unicamente a descobrir, pelo uso bem combinado da razão
e da observação, suas leis efetivas, isto é, suas
relações invariáveis de sucessão e similitude.
A explicação dos fatos, reduzida então a termos
reais, não é, desde então, mais do que a ligação
estabelecida entre os diversos fenômenos particulares e alguns
fatos gerais, cujo número os progressos da ciência tendem
a diminuir." - COMTE, Augusto - citado em "História
dos filósofos Ilustrada pelos textos" de A. Vergez e D.
Huisman - 5ª ed. Rio de Janeiro. Freitas Bastos, 1982. pgs.291
e 292.
([43]) KARDEC, Allan - O que é
o Espiritismo. I.D.E. 15ª ed. São Paulo. 1983. pg. 10
([44]) KARDEC, Allan - A Gênese.
FEB 24ª ed. Rio de Janeiro. 1982. pg. 20
([45]) KARDEC, Allan - A Gênese.
FEB 24ª ed. Rio de Janeiro. 1982. pg. 21
([46]) KARDEC, Allan - A Gênese.
FEB 24ª ed. Rio de Janeiro. 1982. pg. 20
([47]) KARDEC, Allan - O Livro dos
Espíritos. FEB. 56ª ed. Rio de Janeiro. 1982. pg. 59
([48]) KARDEC, Allan - O Livro dos
Espíritos. FEB. 56ª ed. Rio de Janeiro. 1982. pg. 60
([49]) KARDEC, Allan - A Gênese.
FEB 24ª ed. Rio de Janeiro. 1982. pg. 21
([50]) Observe-se que Kardec faz uma
distinção entre a Ciência - propriamente dita -
com C maiúsculo e ciência com c minúsculo.
([51]) KARDEC, Allan - O Livro dos
Espíritos. FEB. 56ª ed. Rio de Janeiro. 1982. pgs. 28 e
29
([52]) Idem . pg. 30
([53]) KARDEC, Allan - A Gênese.
FEB 24ª ed. Rio de Janeiro. 1982. pg. 21
([54]) KARDEC, Allan - A Gênese.
FEB 24ª ed. Rio de Janeiro. 1982. pgs 44 e 45.
([55]) Kardec, Allan - A Gênese.
FEB 24ª ed. Rio de Janeiro. 1982. pg. 20
([56]) Kardec, Allan - A Gênese.
FEB 24ª ed. Rio de Janeiro. 1982. pg. 20
([57]) in A Gênese, cap. 1 item
14.FEB 24ª ed. Rio de Janeiro. 1982
([58]) KARDEC, Allan - A Gênese.
FEB 24ª ed. Rio de Janeiro. 1982. pg. 44
([59]) LAKATOS, Eva Maria e Marina
de Andrade Marconi - Metodologia Científica. cap. 1. pg.41. Editora
Atlas.1ª edição.São Paulo. 1985
([60]) KARDEC, Allan - O Livro dos
Médiuns. FEB.48ª ed. Rio de Janeiro.1983. pg. 16
([61]) KARDEC, Allan - O Livro dos
Médiuns. FEB.48ª ed. Rio de Janeiro.1983. pg.20
([62]) KARDEC, Allan - O que é
o Espiritismo. FEB. 24ª ed. Rio de Janeiro. 1982. pg.50
([63]) KARDEC, Allan - O Livro dos
Espíritos. FEB. 56ª ed. Rio de Janeiro. 1982. pg. 484
([64]) KARDEC, Allan. Obras Póstumas.
FEB. 22ª ed. Rio de Janeiro. 1987. pg.158.
([65]) KARDEC, Allan. Obras Póstumas.
FEB. 22ª ed. Rio de Janeiro. 1987. pg.158.
([66]) Em Setembro de 1993, tivemos
a oportunidade de trocar idéias com um companheiro das lides
espíritas, o Dr. André Luiz Peixinho, que, na ocasião,
nos apresentou a Arte como um elemento adicional à natureza do
conhecimento espírita. Na época, o confrade nos apresentou
o modelo, que reproduzimos abaixo, sobre as percepções
do homem.