Carlos Seth Bastos
> Médiuns da Codificação
Destaque
Com tantas novas informações,
poderíamos nos perguntar, o que fazer com elas? Se a informação
imprecisa anterior havia sido divulgada, sendo relevante ou não,
ela deveria ser corrigida. Além disso, dar uma identidade
a personagens ignorados pelo movimento espírita, embora
importantíssimos para a história do espiritismo,
seria honrar o desejo de Kardec, que na Revista Espírita
de abril de 1864, reforçou: “É preciso que
as gerações futuras saibam a quem deverão
um justo tributo de reconhecimento; é preciso que consagrem
a memória dos verdadeiros pioneiros da obra regeneradora
e que não haja glórias usurpadas”.
Como dirigentes e expositores, ou simplesmente espíritas,
poderíamos contribuir para a realização deste
desejo, divulgando o resultado destas pesquisas.
Médiuns da Codificação
Kardec, fundador do espiritismo, é o principal
protagonista da chamada Codificação, período que
vai desde pouco antes da publicação da 1ª edição
de O livro dos Espíritos, em 1857, até a desencarnação
do antigo mestre de pensionatos, em 1869.
Ele liderou uma sociedade com muitos outros personagens, médiuns
e Espíritos, cujas identidades eram desconhecidas até
que o “CSI do Espiritismo” (1)
começou a pesquisá-las. Isto atendeu ao pedido do próprio
Kardec, que disse na Revista Espírita de outubro de 1862: “É
preciso que a Humanidade conheça os nomes dos primeiros pioneiros
da obra”.
Ele mesmo nos contou que inicialmente usou a mediunidade das irmãs
Baudin para a preparação de O livro dos Espíritos,
tendo a Srta. Japhet participado da sua revisão.
Até pouco tempo acreditava-se que estas médiuns eram muitíssimo
jovens, mas pesquisas e fontes primárias revelaram um quadro
completamente diferente.
Desde 2018 sabemos que as irmãs tinham 28 e 30 anos em 1857,
e se chamavam Pélagie e Catherine Caroline. Elas não vieram
da Ilha de Reunião, nem voltaram para lá depois da publicação
do livro. Elas nasceram em Gray na região administrativa de Franche
Comté, e depois do casamento, em agosto de 1857, se dispersaram
pela Grande Paris.
Célina Japhet, por sua vez, se chamava Célina Béquet.
Depois de uma longa busca às fontes primárias, encontramos
seu inventário nos Arquivos Municipais de Paris. A partir dele
foi achado seu testamento nos Arquivos Nacionais na França, com
sua assinatura: Célina Béquet dita Japhet.
E assim as identidades de muitos outros médiuns foram descobertas:
o Sr. D’Ambel, secretário pessoal de Kardec e vice-presidente
da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, que teve uma morte
trágica, se suicidando; a Sra. Costel, cujo verdadeiro sobrenome
de casada era Lescot, e cujo professor de desenho, cunhado do Sr. D’Ambel,
era o pintor Louis Henri Georgè, mais conhecido nas obras da
Codificação como o Espírito Georges; etc.
Dentre as histórias de mais de 300 personagens identificados,
entre protagonistas e coadjuvantes, muitos deles apenas correspondentes
de Kardec, algumas nos são comoventes, como a do Espírito
feliz Emma Livry. Este é encontrado nas páginas do livro
O céu e o inferno, cuja 4ª edição,
comprovada ser a autêntica edição definitiva, estava
impressa em fevereiro de 1869, um mês antes da desencarnação
de Kardec.
O verdadeiro nome de Emma Livry é Jeanne Emma Emarot. Era uma
bailarina de 21 anos que sofreu um acidente horrível durante
o ensaio de uma ópera. Ao tocar uma tubulação de
gás, seu tutu de gaze pegou fogo, e este a envolveu completamente.
Desencarnaria poucos meses depois, vítima das terríveis
queimaduras, conforme descrevemos com mais detalhes no livro Espíritos
sob investigação.
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Outro personagem importante foi Pierre Gaëtan
Leymarie. Considerado o “coveiro do espiritismo”, como se
uma única pessoa pudesse afundar a doutrina na França,
este antigo alfaiate e republicano convicto assumiu a direção
da Revista Espírita a partir de 1871. Antes disso ele permaneceu
em Pimprez, portanto, sem exercer qualquer influência na publicação
da 5ª edição do livro A gênese, cuja
autoria de Kardec é hoje um fato comprovado. Mesmo assim, mostrou
certa ingenuidade ao publicar fotografias fraudulentas de Espíritos,
o que o levou à prisão. No entanto, o conhecido “processo
dos espíritas” foi totalmente tendencioso, pois magistrados,
juízes de instrução e procuradores, nas três
instâncias, estavam ligados à igreja dominante, e tinham
como único objetivo condenar o espiritismo.
Depois disso Leymarie abriu espaço para outras ideias, como a
teosofia, mais tarde rejeitada por ele, e geriu de maneira imprudente
a Sociedade da Livraria Espírita, que acabou falindo em consequência
da anulação do testamento de Jean Guérin, e posteriormente
da própria Amélie Boudet.
Com tantas novas informações, poderíamos nos perguntar,
o que fazer com elas? Se a informação imprecisa anterior
havia sido divulgada, sendo relevante ou não, ela deveria ser
corrigida. Além disso, dar uma identidade a personagens ignorados
pelo movimento espírita, embora importantíssimos para
a história do espiritismo, seria honrar o desejo de Kardec, que
na Revista Espírita de abril de 1864, reforçou: “É
preciso que as gerações futuras saibam a quem deverão
um justo tributo de reconhecimento; é preciso que consagrem a
memória dos verdadeiros pioneiros da obra regeneradora e que
não haja glórias usurpadas”.
Como dirigentes e expositores, ou simplesmente espíritas, poderíamos
contribuir para a realização deste desejo, divulgando
o resultado destas pesquisas.
Nota:
(1) CSI significa “Codification Séances Investigation”,
ou seja, “Investigação das Sessões Mediúnicas
da Codificação”, estando suas descobertas disponíveis
gratuitamente na página Imagens e registros históricos
do Espiritismo.
Biografia:
Bastos, C. S. Espíritos sob investigação, resgatando
parte da história. São Paulo: CCDPE, 2022.
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O novo livro de Carlos Seth Bastos analisa mais
de 80 fontes, entre manuscritos, verbetes, artigos, discursos, dissertações,
teses e livros, muitos biográficos, outros trazendo apenas apontamentos,
e, ainda, poucos que nem biografias eram.
Esta “grande errata” traz as imprecisões observadas
em todas essas fontes, fazendo a justa homenagem a este, que com sua
existência e lucidez, ajudou muitas vidas nestes 220 anos desde
a sua última reencarnação conhecida.
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> https://ccdpe.org.br/produto/biografias-de-kardec-sob-investigacao-corrigindo-imprecisoes/
Fonte: https://ieesp.org.br/site/jornal_iee
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