Muitos questionamentos têm sido
aventados quanto à pertinência ou não do uso da
música em reuniões espíritas, públicas
ou mesmo mediúnicas. Alega-se, muito freqüentemente, se
não estaríamos incidindo em práticas ritualísticas
comuns a outras correntes religiosas.
Preliminarmente, recorramos à questão 251, de O
Livro dos Espíritos, na qual se faz referência aos
encantos da música celeste, praticada nas esferas espirituais
elevadas, como sendo “tudo o que de mais belo e delicado pode
a imaginação espiritual conceber”.
Em Obras Póstumas, Segunda Parte, temos o relato de
uma jovem musicista, que, conduzida pelos protetores espirituais em
estado sonambúlico, mergulha em intenso êxtase, ao sentir
a magnífica harmonia celestial.
Alguns anos após, o Espírito André Luiz, em sua
obra intitulada Nosso Lar, psicografada por Francisco Cândido
Xavier, viria nos oferecer fortes subsídios que confirmariam
a imprescindibilidade da música nas atividades desenvolvidas
no plano espiritual, principalmente às páginas 67 e
68, onde deparamos com decisiva elucidação acerca da
temática ora abordada; vejamos:
”Em plena via pública,
ouviam-se, tal qual observara à saída, belas melodias
atravessando o ar. Notando-me a expressão indagadora, Lísias
explicou fraternalmente: Essas músicas procedem das oficinas
onde trabalham os habitantes de "Nosso Lar". Após
consecutivas observações, reconheceu a Governadoria
que a música intensifica o rendimento do serviço,
em todos os setores de esforço construtivo. Desde então,
ninguém trabalha em “Nosso Lar” sem esse estímulo
de alegria”.
No capítulo 45, daquela mesma obra, o autor espiritual discorre
sobre as atividades no “Campo da Música”, aprazível
localidade destinada aos mais interessantes exercícios musicais,
onde, inclusive, teve a grata oportunidade de maravilhar-se com um
belíssimo hino, cantado por duas mil vozes simultâneas.
Ressalte-se, oportunamente, que o Espiritismo há de concorrer
decisivamente para o processo de sublimação da música
no planeta em que vivemos, como conseqüência de sua salutar
influência na reforma moral dos homens. A propósito,
transcrevemos uma interessante orientação, inserida
em Obras Póstumas, também na Segunda Parte,
na qual o Espírito Rossini, que na Terra foi
conhecido compositor lírico italiano, fala-nos sobre a ação
que a Doutrina Espírita certamente terá como elemento
refinador das composições musicais, tendo assim se expressado:
“O Espiritismo, moralizando os
homens, exercerá, pois, grande influência sobre a música.
Produzirá mais compositores virtuosos, que comunicarão
suas virtudes através de suas composições.
(...) Por outro lado, os ouvintes que o Espiritismo preparar para
receber mais facilmente a harmonia, sentirão verdadeiro encantamento
ao ouvir a música séria; desprezarão a música
frívola e licenciosa, que seduz as massas”.
Plenamente justificada, então,
a utilização da música, em qualquer de suas manifestações,
desde que consonante com os objetivos superiores a que nos dediquemos,
notadamente no ambiente espírita, guardando-se a devida cautela
na seleção das melodias a serem entoadas, de modo a
conduzir encarnados e desencarnados a um clima mental satisfatório.
Por extensão, a música far-se-á poderoso e legítimo
coadjuvante na condução dos ensinamentos espíritas,
seja nas tarefas de evangelização da infância
e da juventude; nas preliminares ou encerramento de reuniões
públicas e mediúnicas, ou em quaisquer outras ocasiões
em que a Doutrina Espírita se apresente.
Deixemo-nos levar, portanto, pelas melodias edificantes que o mundo
nos ofereça, ou que as nossas vozes ou instrumentos possam
produzir, reconhecendo que, onde quer que se situe, a música,
desde que sublime, é prece que enleva e enobrece o espírito
eterno que todos somos, permitindo-nos entrar em estreita comunhão
com os planos superiores da expressão espiritual.