A psicologia, sem sombras de dúvidas, sofre grande impulso científico
com o advento dos trabalhos de Freud, logo seguindo-se
Jung com maior riqueza científica.
No final do século XIX e início deste, era voz corrente
entre os estudiosos e laboradores da psicologia que, se abandonássemos
as idéias freudianas, inapelavelmente cairíamos em Jung,
porquanto, nesta época, os descortinadores dos véus da
alma mostravam-se, com certa eficiência, dentro das razões
científicas. Entretanto, novas escolas e modificações
nos conceitos dos criadores da psicologia profunda muito deve a Jung,
não só pela retomada das idéias freudianas onde
ele parou, mas, principalmente, pelo enriquecimento de conceitos e hipóteses
de trabalho. Jung divergiu de Adler, também
seu contemporâneo por este ter tomado rumos que se afastavam da
psicanálise – em reentronizando o EU, fez uma espécie
de volta da psicologia à superfície do psiquismo, valorizando,
quase com exclusividade, a zona consciente, sem a devida penetração
na energética de profundidade como exigência de uma época.
Jung, ao contrário, ofereceu bons mergulhos no inconsciente criando
muitas luzes, mas, mesmo assim, deu violentas paradas por faltarem lastros
científicos de elementos outros que tinha receio de admitir oficialmente
– a imortalidade do inconsciente (Espírito) e o processo
renovador das reencarnações.
Todas essas discussões mostravam as fraquezas
da psicologia profunda diante das estruturas de suas hipóteses.
Os mais atilados de antanho e dos nossos dias, não combatem a
idéia do inconsciente, pois reconhecem as autenticidades desse
bloco de energias que carregamos; discutes-se, sim, principalmente nos
dias atuais, a origem da zona inconsciente e sua estruturação.
Se Adler fez um retorno à zona consciente, Jung
mergulha no estofo do bloco anímico. Freud fica numa posição
intermediária com o mérito de ter sido o responsável
pela abertura dos véus da alma. Foram, justamente, essas três
escolas que possibilitaram os sentimentos onde o movimento psicanalítico
tomava assento. Em seu movimento inicial, na Europa, houve muitas discussões,
especulações, desconfianças, confianças
excessivas, de modo a redundar num mar de hipóteses e interpretações;
mas, com o tempo, se foi fixando e tomando um sentido baseado nas escolas
que lhe modelaram os fundamentos.
Freud foi o pioneiro pela descoberta das atividades
do inconsciente (a idéia do inconsciente é bem mais antiga);
por ser mais um pesquisador deu pouca atenção à
terapêutica nestes arraiais em que os médicos procuravam
arrecadar novos conceitos. Tanto assim que Alexander, uma das grandes
estrelas da psiquiatria, disse: "Essa tradição de
pesquisa talvez seja uma das razões pelas quais o método
de tratamento psicanalítico mudou muito pouco desde sua origem".
Acrescentamos: o método, com sua evolução natural
dentro dos conceitos psicológicos, seria mais um método
antropológico do que terapêutico; método que buscará,
nas novas aquisições por virem, a descoberta do próprio
Espírito.
Jung, ao mergulhar no psiquismo, define
o inconsciente coletivo, seus arquétipos e símbolos,
faltando-lhe homologar o lastro imenso do pretérito, resultado
de autênticas vivências sempre reedificadas pelo mecanismo
reencarnatório. A estrutura do inconsciente, apresentada por
Jung em 1902, foi o resultado de um estudo atento e bem penetrante sobre
o desenvolvimento anímico de uma sonâmbula. Jung percebeu
a existência dos mecanismos do inconsciente, mas esbarrou no processo
de imortalidade. Isolando esta proposta, além da difícil
aceitação pelo meio científico, criou, com sua
enciclopédica cultura, uma psicologia de difícil entendimento.
Em 1916, fez novo retoque sobre a conceituação do inconsciente
e nos dá uma palavra final sobre o assunto, em 1928, assim mesmo
afirmando que cabe ao futuro uma melhor avaliação de sua
energética. Entretanto, deixou bem demarcado que a mente possui
legados de conteúdos históricos, verdadeiras moldagens
arcaicas que se tornam presentes na zona consciente, por diversos motivos,
principalmente os de caráter emocional. Muitos quadros clínicos
da psiquiatria, lastreados em exaltação emocional manifesta,
podem remover para a zona periférica do psiquismo (zona consciente)
aqueles blocos de energias internas como se fora uma drenagem.
Tudo isso vem mostrar uma verdade psicológica
que só poderá ser entendida com a idéia de perenidade
do inconsciente; o que vale dizer, de imortalidade. Inconsciente imortal,
com seus conteúdos históricos, só poderá
ser compreendido como o Espírito perene, lastreado nas experiências
reencarnatórias. Dentro do pensamento espírito (imortalidade,
reencarnação, comunicações entre Espíritos)
melhor compreenderemos a abertura freudiana e a construção
junguiana, apesar das suas ainda limitadas proposições.
Até hoje os psicologistas não conseguem
bem entender Jung sobre os arquétipos, a ponto
de Ramon Sarró dizer que os arquétipos não podem
ser "a decantação de vivências de nossos antepassados
pré-históricos. Serão produtos das atividades da
imaginação? Mas, que é a imaginação?
Mas, qualquer que seja o pensamento sobre os arquétipos a realidade
dos mesmos não pode ser negada". A personalidade Maná,
abordada por Jung, com suas estruturas arquetípicas, mostra a
importância desses fatos psicológicos. Personalidade Maná
– ser pleno de qualidades ocultas – em termos junguianos
é merecedora de análise: "Reconheço que em
mim atua um fator psíquico que se oculta diante de minha vontade
consciente. Inspira-me idéias extraordinárias, ao lado
de produzir afetos e caprichos em minha natureza. Sinto-me importante
diante desses fatos e o que considero pior, estou atado a esses fatos
de modo a admirá-los". Muitos consideram e traduzem essa
confissão como típica de um temperamento artístico
e mesmo filosófico. Acentua ainda Jung: "A personalidade
Maná é dominante no inconsciente coletivo, é o
arquétipo do homem poderoso em forma de herói, mago, santo,
curandeiro, dono de homens e Espíritos, amigo de Deus".
Não podemos deixar de ver e sentir o
tácito reconhecimento de Jung dos processos espirituais na psicologia,
embora tendo de contorná-los e aproximá-los da ciência
de seu tempo. Basta, para isso, analisar a essência da Doutrina
Espírita.
Foram as expansões dos arquétipos
que propiciaram a Jung a construção de interessantes explicações
de muitos fenômenos psicopatológicos, incluindo as neuroses,
afastando-se das idéias freudianas que tudo localizavam na infância.
Ampliando os conceitos das neuroses chega a admitir uma espécie
de amestralidade dos arquétipos neste contexto, coisa, aliás,
que ficou muito a desejar. Tudo isso porque o método psicanalítico
e os de psicanálise conduzem ao conhecimento das estruturas psíquicas,
jamais a um vibrante método de analises do psiquismo como métodos
de pesquisa antropológica. É bem verdade que diante de
um melhor conhecimento poderemos ter melhores possibilidades de tratamento.
A sondagem em uma boa trilha pode levar ao tratamento, mas ela, por
si só, não é método terapêutico.
Se atentarmos para os arquétipos, a personalidade
Maná, o relacionamento com as neuroses e tantas outras explosões
do inconsciente na zona consciente, anotadas por Jung, quer as de caráter
hígido e as conotações patológicas, chegamos
à conclusão de quanto os conceitos da Doutrina Espírita
asseguram melhor compreensão e avaliação da zona
inconsciente que, em última análise, representa o espírito.
Os arquétipos junguianos, nas malhas estruturais
do inconsciente coletivo, só podem mostrar, autêntico sentido,
se dermos a eles a natural formação arquimilenar ao lado
da constante construção maturativa nas experiências
das etapas reencarnatórias. Quando Ramon Sarró conclama
que o arquétipo não pode ser a decantação
de vivências de nossos antepassados pré-históricos
e que somente a imaginação poderá assim concebê-los,
é por ter ficado num grande impasse ao perceber, no arquétipo,
a história da humanidade. Podemos mesmo afirmar: os arquétipos
são as construções adquiridas nas imensas etapas
reencarnatórias, às expensas das diversas personalidades
corpóreas que vamos desfilando pela vida afora.
Por tudo, achamos que Jung foi um dos grandes
missionários da psicologia: muito fez e mostrou, tentou
muitas vezes aproximar-se da metafísica, naquilo que a ciência
do seu tempo podia suportar. Se hoje retomarmos à psicologia
de Jung e conceituamos as zonas do psiquismo, colocando os arquétipos
sob forma de núcleos em potenciação e os situando
numa zona específica denominada de inconsciente passado, e admitindo
a esses núcleos um constante burilamento e crescimento diante
das experiências milenares das reencarnações, cremos
que melhor atenderemos à psicologia. Diante da imortalidade do
inconsciente ou zona espiritual e da comunicabilidade dos Espíritos
em face dos fenômenos mediúnicos com suas múltiplas
facetas, melhor entenderemos os complexos afetivos e a personalidade
Maná tão bem equacionados por Jung. Com isso, poderemos
ajudar a construção da psicologia com as exigências
próprias de cada época, compreendendo os lidadores e construtores
onde os lugares de Freud e Jung já estão reservados.
A Doutrina Espírita, perante as aquisições
e pesquisas dos dias atuais, lastreada nas experiências de todas
as épocas, possui condições de oferecer ao homem
aturdido de nossos tempos um caminho bem autentico, sem afastá-lo
de suas verdades científicas. A Doutrina Espírita se faz,
por excelência, dinâmica, acompanhando o pensamento humano,
dando-lhe, entretanto, lógica e fé raciocinada como elementos
indispensáveis para o surgimento do homem novo. O homem novo,
que nada mais seria do que a velha estrutura, mais bem burilada e temperada
nos contratempos e gratificações psicológicas,
em novos corpos, mais ágeis, exigindo, principalmente das estruturas
espirituais, temas da evolução, o esclarecimento das estruturas
espirituais.
Fonte: Enfoques científicos
na Doutrina Espírita, Jorge Andréa.
Extraído do site ICEB
http://sites.uol.com.br/iceb
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