10/03/2025
Dois escândalos envolvendo abusos sexuais
por parte de líderes religiosos ficaram em evidência nesta
semana.
Ao Metrópoles, psicóloga explicou
como os líderes religiosos se aproveitam dos fiéis para
realizar os abusos
Por José Augusto Limão
Metrópoles

Dois escândalos envolvendo abusos
sexuais por parte de líderes religiosos ficaram em evidência
nesta semana. Um pai de santo foi condenado a 259 anos de prisão
por estupro de sete meninas no Rio Grande do Sul. Um pastor foi condenado
a 45 anos por abusar sexualmente das filhas gêmeas adotadas
em Alagoas. Os dois casos trazem luz para como as autoridades religiosas
abusam da relevância entre os fiéis para cometer crimes
sexuais.
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Estupro de vulnerável
por líderes religosos
- O pai de santo de 59 anos condenado a 259 anos, na
última segunda-feira (24/2), pela Justiça do Rio Grande
do Sul pelo estupro de sete meninas realizou os crimes entre 2009
a 2024.
- Dentre as vítimas, estavam enteadas e uma
neta, abusadas antes de completarem 14 anos, o que configurou estupro
de vulnerável.
- O pai de santo, após abusar das vítimas,
dizia que o ato fazia parte de um “processo de purificação”.
O líder religioso pedia segredo dos fatos, em alguns casos
sob ameaça e agressões.
- Um pastor evangélico de 79 anos foi
condenado a 45 anos de prisão por abusar sexualmente das filhas
gêmeas adotadas.
- O caso ocorreu em maio de 2022, na zona rural de
Craíbas, interior de Alagoas.
- O suspeito estava preso desde o ano passado quando
uma das meninas denunciou os abusos pelas redes sociais. Além
dos 45 anos de prisão, ele também foi condenado a dois
meses e seis dias de detenção por ameaçar as
vítimas de morte.
Para Mariana Luz, essa influência pode favorecer
o líder religioso, com perfil de agressor sexual, a verificar
uma fragilidade na vítima e iniciar a série de abusos.
“Essa pessoa não agiu apenas uma vez e não vai
parar após uma única ocorrência. É um perfil
que busca pessoas vulneráveis. Ser um líder religioso
facilita o contato com indivíduos que estão em situação
de vulnerabilidade, que estão sofrendo e buscando na fé
uma ferramenta para superar dificuldades na vida”, explica.
“No caso de crianças,
além do perfil de um agressor sexual, estamos falando de
um pedófilo. Ele não vê a criança como
um ser humano, um ser vivo, mas sim como um objeto que serve para
seu próprio prazer.”
A psicóloga elucida que a fé é
apenas um caminho para o agressor sexual encontrar possíveis
vítimas. Mariana Luz destaca que esse perfil de agressor é
caracterizado como predador, porque assim como como o leão,
como os animais selvagens, observam o melhor momento para atacar.
O predador percebe o comportamento e, tenta às vezes, inclusive,
afastar a “presa”. “Ele não é um religioso
de verdade. Ele usa a religião como uma ferramenta de manipulação”,
analisa.
Medo para denunciar abusos
- Para a representante da Me too Brasil, organização
sem fins lucrativos que apoia vítimas de violência sexual
a romperem o silêncio, em certos casos, as vítimas, não
só de líderes religiosos, demoram muito para denunciar
os abusos sofridos porque se sentem culpadas, tendo vergonha e medo
de não acreditarem.
- “Como a sociedade tende a desacreditar
muito, principalmente meninas e mulheres — que são os
principais perfis das vítimas de abusadores e agressores sexuais
—, essas vítimas optam por silenciar. Elas acham que
fizeram algo errado, que poderiam ter evitado a situação
de alguma forma”, aponta Mariana Luz.
A questão da “purificação” utilizada
como justificativa para abusos por parte de líderes religiosos
é um exemplo perturbador de como a fé e a confiança
podem ser manipuladas para fins predatórios. De acordo com
Mariana Luz, esses indivíduos, ao se apropriarem de rituais
e crenças sagradas, distorcem o significado espiritual de práticas
como o toque ou a interação física, transformando-as
em ferramentas de violência e dominação.
“O vínculo e a confiança,
que normalmente são estabelecidos de alguma forma no caso
de qualquer predador sexual, são manipulados pelo líder
religioso, que usa esses rituais de purificação
como justificativa. Isso pode, sim, fazer com que a pessoa demore
mais tempo para perceber que está sendo vítima de
abuso”.
O sentimento de culpa é algo bastante presente nas vítimas
de abuso sexual. Além da culpabilização, outros
processos traumáticos podem ocorrer. Em geral, as vítimas
podem desenvolver insônia, terrores noturnos, dificuldade para
dormir, ansiedade, depressão, pensamentos suicidas, mudanças
de humor, alterações no apetite e no comportamento.
Segundo Mariana Luz, quando a vítima é criança,
ela pode acabar se retraindo tanto emocionalmente e fisicamente.
Como acolher?
Mariana Luz reforça a importância
de uma boa rede de apoio a vítima. “Não duvide,
escute e fique ao lado dessa pessoa. É imprescindível
a psicoterapia. Se a pessoa está em contato com um psicólogo
durante esse processo intenso, isso ajuda a ressignificar o trauma,
permitindo que ela deixe de se ver apenas como uma vítima e
caminhe para o que chamamos de ‘sobrevivente’. Ou seja,
alguém que passou por um trauma profundo, mas que conseguiu,
de alguma forma, dar continuidade à vida”, garante.
“Também pode ser
muito importante um atendimento multidisciplinar, envolvendo,
por exemplo, advogados e assistentes sociais, dependendo da situação.
Isso não só auxilia no processo de acolhimento e
fortalecimento da rede de apoio, mas também na busca por
justiça, caso a pessoa queira denunciar. Então,
os principais pilares são a rede de proteção
e os equipamentos públicos que trabalham para garantir
que mulheres (e outras vítimas) tenham justiça em
casos de violência sexual”.
Fonte: https://www.metropoles.com/brasil/alem-da-fe-lideres-religiosos-usam-autoridade-para-abusar-de-fieis
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