14/09/2024
Por Roberta Jansen - Estado de São Paulo
Ao menos 72 mil brasileiros
vivem em barracas ou em outras estruturas precárias nas ruas
Dados foram divulgados pelo IBGE; é a 1ª vez que o Censo
traz esse recorte da população. Alta de pessoas sem casa
após a pandemia tem sido uma preocupação em grandes
centros urbanos
Ao menos 72 mil brasileiros vivem em barracas, tendas
ou outras estruturas improvisadas na rua, segundo o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE). Na manhã desta sexta-feira,
06/09/2004, o órgão divulgou novos números do Censo
2022, referentes aos chamados domicílios coletivos e improvisados,
bem como aos domicílios particulares permanentemente vagos ou
de uso ocasional.
No Censo Demográfico, são classificados
como domicílios particulares improvisados domicílios
localizados em edificações que não tenham dependências
destinadas exclusivamente à moradia, em estruturas comerciais
ou industriais degradadas ou inacabadas, calçadas, praças
ou viadutos e em abrigos naturais, bem como as estruturas móveis
(como veículos e barracas).
O Censo de 2022 encontrou 160 mil pessoas residindo
em domicílios particulares improvisados. O tipo de domicílio
improvisado que apresentou o maior número de moradores foi a
categoria “Tenda ou barraca de lona, plástico ou tecido”,
com 57 mil moradores, representando 35,3% dos moradores de domicílios
improvisados, o que equivale a 0,03% da população brasileira.
Em segundo lugar, aparecem os domicílios do tipo “dentro
de estabelecimento em funcionamento”, com 43 mil moradores. Essa
modalidade pode incluir, por exemplo, operários que vivem dentro
de uma fábrica.
Nos últimos anos, barracas têm ficado
mais comuns sob o Elevado João Goulart,
conhecido como Minhocão, no centro paulistano Foto: Werther Santana/Estadão
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Os domicílios do tipo “estrutura
não residencial permanente degradada ou inacabada” possuíam
17 mil moradores. Nessa categoria, se encaixam os moradores de obras
ainda não concluídas ou grupos que invadem estruturas
abandonadas.
Já os domicílios do tipo “estrutura improvisada
em logradouro público, exceto tenda ou barraca” tinham
15 mil pessoas. Essa categoria pode incluir, por exemplo, estruturas
montadas com caixas de papelão.
A quantidade de moradores de rua foi impulsionada pela crise econômico
e o desemprego decorrentes da pandemia. Entre os sem-teto de grandes
cidades, como São Paulo, é possível identificar
crianças e até famílias inteiras. Com isso, aumenta
também a incidência de fome e dependência química.
Na contagem do IBGE, ainda há 2 mil pessoas vivem em veículos,
como trailers, caminhões, carros e barcos. A categoria “outros
domicílios improvisados”, reunindo todos os domicílios
improvisados que não se enquadravam nas categorias anteriores,
registrou 27 mil moradores.
O Estado de São Paulo concentra
o maior número de moradores para todos os tipos de domicílios
improvisados, exceto na categoria veículos, cuja liderança
coube ao Amazonas. A concentração em São Paulo
foi especialmente expressiva na categoria “estrutura improvisada
em logradouro público, exceto tenda ou barraca” e “estrutura
não residencial permanente degradada ou inacabada”, nas
quais o Estado registrou, para cada uma, sete mil moradores.
Perfil
Em relação ao perfil demográfico dos moradores,
todos os tipos de domicílios improvisados apresentaram predominância
masculina, com a proporção de homens variando entre 54,3%,
nos domicílios do tipo “estrutura improvisada em logradouro
público, exceto tenda ou barraca” e 61,7% nos veículos.
O Censo de 2022 encontrou 160 mil pessoas residindo
em domicílios particulares improvisados.
O tipo de domicílio improvisado que apresentou o maior número
de moradores
foi a categoria “Tenda ou barraca de lona, plástico ou
tecido”, com 57 mil moradores
Foto: Werther Santana/Estadão - clique para ampliar
Quanto à estrutura etária, os moradores de domicílios
improvisados apresentaram uma população mais jovem do
que o conjunto da população brasileira.
Enquanto as crianças de 0 a 9 anos representavam 13% da população
brasileira, esse grupo de idade representava 18,8% dos moradores em
tendas ou barracas, 20,5% dos moradores em estruturas improvisadas em
logradouro público, 19,6% dos moradores em estruturas não
residencial degradada ou inacabada e 19,8% dos moradores em outros tipos
de domicílios improvisados.
Os moradores dos domicílios improvisados com 15 anos ou mais
também apresentaram, em 2022, taxas de analfabetismo superiores
às verificadas entre a população como um todo.
Essa situação se repetiu em todos os tipos de domicílios
particulares improvisados, com a taxa de analfabetismo dos moradores
com 15 anos ou mais variando entre 22,3% entre os moradores de tendas
ou barracas e 9% entre moradores de estabelecimentos em funcionamento.
Domicílios vagos
O Censo Demográfico 2022 investigou também a quantidade
e a distribuição no território brasileiro de domicílios
particulares permanentes sem moradores, que se dividem em duas espécies:
os domicílios vagos e os domicílios de uso ocasional.
Os domicílios particulares de uso ocasional, que no Censo de
2022 somaram 6,7 milhões, são as estruturas residenciais
que eram utilizadas, mas não eram a residência principal
de nenhuma pessoa. A categoria abarca casas de veraneio, imóveis
residenciais voltados para locação de curta duração,
repúblicas de estudantes (desde que nenhum estudante utilize
o imóvel como residência principal), entre outros.
O domicílio particular permanente vago é a estrutura residencial
permanente que na data de referência não se encontrava
ocupada nem era utilizada ocasionalmente – o Censo de 2022 registrou
11,4 milhões de domicílios nessa categoria.