Espirituialidades e Sociedade


Notícias:

>  As pessoas são mais generosas do que você imagina, diz estudo




 

 

23/09/2023

 


As pessoas são mais generosas do que você imagina, diz estudo

Em sete países, 200 pessoas receberam US$ 10 mil cada para gastar à vontade; na média, deram mais de US$ 6.400 para ajudar os outros


O Estado de S. Paulo / The New York Times
DAVID BROOKS

 

 

 

 

No geral, os pesquisadores concluíram que as pessoas consideram gratificante gastar dinheiro com os outros, mesmo sem tornar isso público


Os seres humanos são fundamentalmente bons ou fundamentalmente maus? As pessoas são em sua maioria generosas ou em sua maioria egoístas? Ao longo dos séculos, muitos dos nossos líderes assumiram a opinião de que as pessoas são basicamente egoístas. Maquiavel argumentou que as pessoas são enganosas, ingratas e gananciosas. A economia clássica baseia-se na ideia de que as pessoas perseguem incansavelmente os próprios interesses. “O ser humano médio é cerca de 95% egoísta no sentido estrito do termo”, escreveu certa vez o economista Gordon Tullock. Em seu livro O Gene Egoísta, o biólogo evolucionista Richard Dawkins argumentou: “Nascemos egoístas”. No público em geral, apenas 30% dos americanos dizem que podem confiar nas pessoas que os rodeiam.

Mas e se essa visão sombria da nossa natureza estiver errada? Em um experimento recente, conduzido pelos psicólogos Ryan Dwyer, William Brady e Elizabeth Dunn e pelo curador do TED, Chris Anderson, 200 pessoas em sete países receberam, cada uma, US$ 10 mil gratuitamente e depois relataram como gastaram o dinheiro. Elas guardaram tudo para elas? Não. Em média, os participantes gastaram mais de US$ 6.400 para beneficiar outras pessoas, incluindo quase US$ 1.700 em doações para instituições de caridade. Desses gastos sociais, US$ 3.678 foram para pessoas fora de seu domicílio imediato e US$ 2.163 foram gastos com estranhos, conhecidos e doações para organizações.


EXEMPLOS.

As pessoas usaram o dinheiro para levar amigos para comer fora ou apoiar famílias que perderam entes queridos ou apoiar uma organização que fornece formação em construção a pessoas marginalizadas. Parece muito generoso para mim. Mas espere um segundo, diz o cínico. Talvez estivessem gastando dessa forma para que pudessem egoisticamente ganhar status e aplausos. Não é provável. Algumas delas, no experimento, foram instruídas a registrar gastos no Twitter, e o restante foi instruído a manter gastos privados. Houve pouca diferença. No geral, os pesquisadores concluíram que as pessoas acham gratificante gastar dinheiro com os outros.

Esse estudo não é um caso atípico. No livro The Penguin and the Leviathan: The Triumph of Cooperation Over Self-Interest (O Pinguim e o Leviatã: O Triunfo da Cooperação sobre o Interesse Próprio, em tradução livre), Yochai Benkler, de Harvard, resumiu as descobertas. Em qualquer experiência, relatou, cerca de 30% das pessoas se comportam, de fato, de forma egoísta. Mas, continuou ele, “metade de todas as pessoas se comporta de forma sistemática, significativa e previsível de modo colaborativo”.



Benkler recuou para enfatizar a conclusão central do vasto conjunto de pesquisas: “A questão é que, através de uma ampla gama de experimentos, em populações amplamente diversas, uma descoberta se destaca: em praticamente nenhuma sociedade humana examinada sob condições controladas a maioria das pessoas se comportou consistentemente de forma egoísta”. A humanidade não prosperou todos esses séculos porque somos implacavelmente egoístas; prosperamos porque somos muito bons em cooperação.

Mas suponha que você seja uma pessoa legal e tenha de competir com desgraçados implacáveis e egoístas. Você não será forçado a seguir as regras do cada um por si? Bem, não necessariamente. No seu livro Dar e Receber, o psicólogo organizacional Adam Grant identificou pessoas centradas nos outros nas organizações (os generosos) e pessoas egocêntricas, aquelas que estão sempre à procura do que podem extrair para si (os tomadores). Ele descobriu que muitos dos trabalhadores com baixo desempenho eram generosos, permitiram ser atropelados e que se aproveitassem deles.

Mas quando Grant analisou os melhores desempenhos nas organizações, descobriu que os generosos também dominavam essas categorias. Essas pessoas tinham reputações de ouro, redes sociais mais amplas, melhores relacionamentos – e as pessoas queriam trabalhar e colaborar com elas. É melhor ser um generoso que sabe, em casos extremos, como se defender.


MAIS EXEMPLOS.

Muitos dos nossos pensadores públicos subestimaram enormemente a importância das motivações morais e sociais que fazem parte da natureza humana. Damos gorjetas em restaurantes aos quais nunca voltaremos. Corremos para ajudar uns aos outros em desastres naturais. Ansiamos não apenas por sermos admirados, mas também por sermos dignos de admiração.

Eu diria que muitos dos nossos pensadores públicos acabaram criando uma profecia autorrealizável. Ao dizer às pessoas que elas são egoístas por natureza e cercadas por outras egoístas por natureza, encorajamos uns aos outros a aumentar o lado egoísta de nossa natureza. Eu também diria que nós, no Ocidente, fazemos uma distinção muito nítida entre presentes e transações. No clássico Ensaio Sobre a Dádiva, o sociólogo Marcel Mauss argumentou que muitas culturas não fazem essa distinção nítida. Nessas culturas, as pessoas veem-se inseridas numa rede de cuidados materiais, sociais e espirituais. Os indivíduos ajudam uns aos outros; ouvem uns aos outros; tomam emprestado e emprestam. E veem essas trocas não como transações frias e de soma zero, mas como relações de apoio e reciprocidade.

Finalmente, eu diria que nós, no Ocidente, exageramos na construção de sistemas para motivar as pessoas, apelando para o seu interesse econômico. Construímos sistemas desumanos nos quais os incentivos materiais anulam os incentivos sociais e morais. E nos tornamos infelizes ao longo do caminho.

 

 

Fonte: https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo/

 

 

 

>>>   clique aqui para acessar a página principal de Notícias

>>>   clique aqui para voltar a página inicial do site

>>>   clique para ir direto para a primeira página de Artigos, Teses e Publicações