Cientistas divulgaram nesta quinta-feira (27/04/2023)
os resultados de um projeto que compara os genomas de 240 espécies
de mamíferos — de porcos formigueiros a zebus e zebras,
até seres humanos— para rastrear mudanças evolutivas
ao longo de 100 milhões de anos, identificando traços
genéticos amplamente compartilhados e aqueles mais exclusivamente
humanos.
As descobertas do ambicioso Projeto Zoonomia identificaram
partes do genoma funcionalmente importantes em pessoas e outros
mamíferos e mostraram como certas mutações
podem causar doenças. O projeto revelou a genética
de características incomuns dos mamíferos, como a
hibernação, e mostrou como o olfato varia amplamente.
Os pesquisadores disseram que as descobertas sobre a genética
da hibernação podem ajudar a informar terapias humanas,
cuidados intensivos e voos espaciais de longa distância. As
descobertas da Zoonomia também podem ajudar a identificar
mutações genéticas que levam a doenças,
com um estudo examinando pacientes com um tipo de câncer cerebral
chamado meduloblastoma.
"Estamos aproveitando o fato de que existe uma enorme biodiversidade
neste planeta para realmente entender a nós mesmos e fazer
novas descobertas relevantes para o tratamento de doenças
humanas", disse Elinor Karlsson, diretora do Vertebrate Genomics
Group no Broad Institute do MIT e de Harvard e colíder do
consórcio internacional de pesquisadores.
"O genoma humano foi sequenciado há mais de 20 anos
e, apesar disso, ainda é muito difícil entender quais
são os elementos funcionais", acrescentou a também
colíder do consórcio Kerstin Lindblad-Toh, professora
de genômica comparativa da Universidade de Uppsala, na Suécia.
As descobertas, detalhadas em 11 estudos publicados na revista Science,
envolveram placentários, de longe o conjunto mamífero
mais comum do mundo, conhecido por dar à luz bebês
bem desenvolvidos, e não os monotremados que põem
ovos, ou marsupiais com bolsa.
O projeto examinou a maioria das linhagens de mamíferos
existentes, embora elas sejam apenas 4% das espécies. Eles
variam em tamanho desde a baleia franca do Pacífico Norte,
de 18 metros de comprimento, até o morcego abelha, com 3
cm. Nossos parentes evolutivos mais próximos —chimpanzés
e bonobos— foram incluídos, junto com o gorila da planície
ocidental e o orangotango de Sumatra.
Os felinos incluem a chita, o tigre siberiano, a onça, o
leopardo e o humilde gato doméstico. Os caninos têm
entre eles uma celebridade —Balto, o cão puxador de
trenós do Alasca famoso por trazer remédios que salvaram
vidas em 1925 para a cidade de Nome. A espécie mais primitiva
era o comedor de insetos solenodonte, intimamente relacionado aos
mamíferos vivos durante a era dos dinossauros.
Os pesquisadores identificaram elementos genômicos —4.552
no total— que eram praticamente os mesmos em todos os mamíferos
e eram idênticos em pelo menos 235 das 240 espécies,
incluindo os seres humanos.
"Muitos desses elementos estão localizados perto de
genes envolvidos no desenvolvimento do embrião —um
processo que precisa ser rigidamente controlado para resultar no
desenvolvimento de um animal saudável e funcional",
disse o geneticista evolutivo da Universidade de Uppsala, Matthew
Christmas, principal autor de um dos estudos.

Em termos de diferenças entre humanos e outros mamíferos,
o estudo apontou para regiões associadas a genes de desenvolvimento
e neurológicos. Isso sugere que a evolução
de traços humanos específicos desde que nossa espécie
Homo sapiens divergiu de um ancestral comum com os chimpanzés,
talvez entre 6 e 7 milhões de anos atrás, envolveu
mudanças na regulação dos genes do sistema
nervoso.
"Isso faz sentido, pois algumas das maiores diferenças
entre nós e nossos primos macacos estão em nosso 'poder
cerebral' e cognição. Parece que muito do que nos
torna humanos se resume a ajustes na maneira como os genes neurológicos
são regulados, em vez de qualquer grande mudança nos
próprios genes", disse Christmas.