O último número do Correio
Fraterno (out/2019) fez uma ótima síntese do nosso
seminário "Conversando com os espíritos",
baseado no livro de mesmo título publicado pela Lachâtre.
Os espíritos se comunicam contando suas histórias,
dramas pessoais e sofrimentos, e aproveitamos uns poucos minutos
que temos para auxiliá-los da melhor forma possível.
Às vezes espíritos superiores, pessoas antes ligadas
à nossa casa e já desencarnadas e espíritos
que participam dos trabalhos "do outro lado" nos dão
uma orientação, uma palavra de incentivo, um carinho.
Ao longo dos anos, estudando mediunidade em diversos autores na
primeira parte da reunião, praticando na segunda parte e
avaliando o que foi feito na terceira parte, observamos que os princípios
da técnica de relação de ajuda, desenvolvida
por Rogers no século passado, são úteis em
nosso trabalho e mais úteis ainda para os espíritos
em sofrimento.
Verificamos, estudando Kardec, que alguns dos princípios
do atendimento aos espíritos já se encontram esparsos
em suas publicações, principalmente na Revista Espírita.
Espíritos superiores foram falando "homeopaticamente",
como lidar com espíritos obsessores ou em situação
de sofrimento.
Confiram a bela síntese do seminário
que a equipe do Correio Fraterno publicou recentemente, após
estar conosco, clicando no link abaixo: https://correio.news/especial/reuniao-mediunica
ou abaixo:

O psicólogo e escritor Jáder
Sampaio, em seminário realizado no dia 21/09/2019,
no Centro Espírita Pátria do Evangelho (Lar da Criança
Emmanuel), em São Bernardo do Campo, SP.
Durante o evento, o pesquisador explicou como as teorias da psicologia
humanista podem auxiliar as conversas com os espíritos
nas reuniões mediúnicas.
Para um atendimento bem-sucedido
Tarefa das mais desafiadoras das casas espíritas, as reuniões
de desobsessão exigem equipe sintonizada no Bem, instrutores
amorosos e esclarecidos, médiuns disciplinados, estudo,
humildade e muito, muito amor.
Talvez seja a atividade que mais retrate a relevância da
máxima de Allan Kardec: “fora da caridade não
há salvação”, por exigir todos os sentimentos
que a envolvem: a humildade, a compaixão, a benevolência,
a atenção, a escuta fraterna. Trata-se de trabalho
espiritual de extrema seriedade e responsabilidade, onde cada
um dos participantes da reunião desempenha papel essencial,
principalmente na comunhão de pensamentos, na sintonia
com a equipe espiritual, para que possa se estabelecer uma ponte
de confiança, para que todos se coloquem em posição
de auxílio.
Exige experiência? Sim. Mas, muito mais que isso, exige
amor. “Obsessores encarnados que eram, são obsessores
desencarnados e agem sem serem vistos. Afastá-los pela
força não é fácil, visto que não
se pode lhes apreender o corpo. O único meio de dominá-los
é o ascendente moral, com cuja ajuda, pelo raciocínio
e sábios conselhos, chega-se a torná-los melhores,
ao que são mais acessíveis no estado de Espírito
que no estado corporal”, explica Allan Kardec.
Gente como a gente
Obsessores não são demônios, criados para
fazer o mal. Não são pessoas más, mas pessoas
que – como todos nós – se enganam, se decepcionam
e se revoltam, por resistências morais e falta de conhecimento
das leis divinas. E ainda: muitos até conhecemos as leis,
mas temos enorme dificuldade em praticá-las. Por isso,
Kardec observa também que não nos devemos admirar
mais das obsessões do que das doenças e outros males
que afligem a humanidade. Elas fazem parte das “provas e
das misérias” devidas à inferioridade do meio
onde vivemos, atraídos ainda que somos por nossas imperfeições,
até que estejamos suficientemente melhorados para merecer
dele sair. Ou seja, se há imperfeições, há
obsessões, e as reuniões mediúnicas são
umas das formas de socorro e atendimento.
O papel da reunião mediúnica
Várias dúvidas, no nosso meio, são levantadas
em função da necessidade das reuniões de
desobsessão. Por que o espírito desencarnado não
pode ser atendido diretamente no plano espiritual?
Primeiramente, é preciso lembrar que quanto mais ligado
à matéria, maior o sofrimento do espírito.
Por isso, o contato com o mundo material permite um ambiente mais
propício para quem, por exemplo, nem percebeu ainda que
já não está mais com seu corpo físico
entre os ‘vivos’. Fica mais fácil compreender
o ‘choque’ da transição. Outro aspecto
importante é que eles também acabam por auxiliar
os membros da reunião, despertando-lhes a compaixão,
mostrando-lhes a consequência de enganos que também
cometemos, em função do grau evolutivo em que se
encontram. A desobsessão, assim, seria muito mais uma oportunidade
de troca, do que a submissão de inferiores a superiores.
Estudo sobre casos de obsessão
Casos que esclarecem e emocionam foram comentados por Allan Kardec
na Revista Espírita e por seus contemporâneos ao
estudarem os problemas das obsessões.
Também foram temas amplamente analisados por Bezerra de
Menezes, Herminio C. Miranda, André Luiz (Chico Xavier),
J. Herculano Pires, Yvonne Pereira e tantos outros expoentes espíritas.
Recentemente, o psicólogo, também espírita,
Jáder Sampaio, desenvolveu um trabalho sobre o tema, reunindo
suas experiências de mais de 30 anos de reuniões
mediúnicas em Belo Horizonte, MG, em seu livro Conversando
com os espíritos (Lachâtre),
no qual compartilha os conceitos de Carl Rogers (1902-1987) como
instrumentos que podem auxiliar o atendimento aos espíritos.
Psicólogo americano, Rogers traz uma abordagem diferente,
recusando identificar a pessoa em terapia como paciente ou doente
e apontando a importância da relação sem posição
de hierarquia.

No final de sua vida, Rogers teve experiências pessoais
com a mediunidade. E ele entendia que havia três pontos-chave
para uma relação de ajuda bem-sucedida: a compreensão
empática, a aceitação positiva
incondicional e a congruência,
passos para o sucesso no diálogo também com os Espíritos,
que nos lembram da importância de reconhecermos os sentimentos,
emoções e desejos do espírito, da necessidade
de nos colocarmos no lugar dele para sabermos melhor sobre a sua
dor, de criarmos um espaço para que ele possa falar o que
pensa e sente, sem medo de ser advertido, para que repense a sua
situação e deseje mudá-la.
Herminio C. Miranda em Diálogo com as sombras
destaca que ainda há muito por se fazer e aprender nesse
intercâmbio com os espíritos. "Há um
universo a explorar. Há uma humanidade inteira clamando
por ajuda, esclarecimento, compreensão e caridade no chamado
mundo espiritual. Seus dramas e suas angústias não
são apenas individuais. Os erros que cometemos prendem-nos
a uma cadeia de fatos e de seres que se estende pelo tempo afora.
Nunca o drama de um Espírito é apenas seu".
Empatia
Empatia não é a mesma coisa que simpatia. Significa
entender como o espírito vê a forma de funcionamento
do mundo e tentar colocar-se em seu lugar. Com isso, temos que
ter um bom contato com nosso mundo interior, e perceber que
talvez estivéssemos na mesma condição dele,
se tivéssemos passado pelo que ele passou.
Aceitação incondicional
Não somos juízes, nem estamos conversando para
avaliar a conduta deles. Tentamos criar um espaço para
que possam falar o que pensam e sentem, sem medo de serem advertidos.
Possivelmente, outras pessoas e eles próprios já
se culpabilizaram por sua conduta, mas isso não foi suficiente
para que se dispusessem a agir de forma diferente.
Congruência
Que reações o espírito comunicante provoca
em nós, atendentes? Que sentimentos ele nos desperta?
Pena? Medo? Ser capaz de reconhecer o que ele nos provoca é
como ele age com as pessoas. E isso possibilita sinalizarmos
como ele aparenta ser, como se mostra. Ao sermos capazes de
conversar sobre a realidade, sem cobranças, ele poderá
reavaliar o que vem fazendo. Isso serve para a maioria dos espíritos
em condição de sofrimento ou os que agem a partir
do ódio ou da vingança, seja com humor alterado
ou friamente.
