Taxa de suicídio nos EUA atinge maior
patamar desde a 2ª Guerra
Acesso facilitado a armas e aumento do consumo de drogas estão
entre razões para o fenômeno
Por Marina Dias / Jornal Folha de São
Paulo

Foto: Alissa Harrington, irmã do fuzileiro
naval Justin Miller, que se matou em 2018, visita seu túmulo
- Jenn Ackerman - 13.dez.18/The Washington Post
Os casos de suicídio nos EUA vem registrando uma escalada
desde 2006, e seu crescimento pode ser observado em todos os grupos
da população americana: homens e mulheres de várias
idades, raças e etnias.
Em termos absolutos, homens continuam se matando mais do que
mulheres no país. Dificuldades econômicas, acesso
a armas e a disseminação do uso de drogas opioides,
como a heroína, estão entre os principais motivos
para os números tragicamente históricos.
Apesar de ter havido aumento expressivo de suicídios de
jovens e adultos entre 15 e 34 anos, os índices mais altos
se concentram entre pessoas que têm de 45 a 64 anos.
Dos 36.782 homens que se mataram em 2017 nos EUA, por exemplo,
cerca de 12,3 mil estavam dentro dessa faixa etária. Entre
as 10.391 americanas que cometeram suicídio, aproximadamente
4.000 tinham de 45 a 64 anos.

Em termos relativos, a taxa de suicídio entre as mulheres
aumentou 53% de 1999 a 2017, enquanto o índice para os
homens subiu 26% no mesmo período.
Entre as mulheres, é possível notar aumento significativo
nos suicídios entre meninas de 10 a 14 anos, jovens de
15 a 24 e entre as que se declaram americanas nativas —indígenas
e descendentes. Nesse caso, o crescimento foi vertiginoso, de
139%, em relação a 1999.
Apesar de generalizado, o aumento das taxas de suicídio
não foi igualmente acentuado em todos os grupos.
Aqueles que se identificam como nativos do Alasca ou indígenas
tiveram o maior aumento da taxa de suicídio entre todos
os grupos pesquisados há dois anos.
O índice sobe de maneira mais aguda quando se trata de
mulheres, jovens e adultos de 15 a 44 anos. Os homens desse grupo
viram um aumento de 71% na taxa de suicídio.
Esses americanos estão entre os mais pobres e com menor
índice de escolaridade do país e, segundo especialistas,
também são vítimas de alguns traumas históricos,
como o alcoolismo entre indígenas, e da negligência
do governo, o que pode ter transformado o suicídio em uma
crise para esse nicho.
Além disso, mais da metade das mulheres deste grupo relata
ter sofrido violência sexual.
A pesquisa do CDC tem limitações, uma vez que as
divisões por grupos raciais e étnicos geralmente
apresentam inconsistências, visto que as pessoas se declaram
brancas, negras, hispânicas, indígenas, nativos do
Alasca, asiáticos etc.

Há pelo menos uma década o suicídio figura
entre uma das dez principais causas de morte nos EUA. Em 2016,
tornou-se a segunda maior entre pessoas de 10 a 34 anos. Infarto,
câncer, overdose de drogas, diabetes e pneumonia também
fazem parte dessa lista.
O suicídio e o abuso de entorpecentes influíram
em outro índice importante para os americanos: a expectativa
de vida.
Em 2017, os EUA registraram cerca de 72 mil mortes por overdose,
a maior parte delas pelo uso de opioides como heroína,
fentanil, oxicodona, entre outros —o aumento registrado
foi de 10% em relação a 2016.
Outro relatório do CDC, publicado no fim do ano passado,
mostra que a média de vida dos americanos caiu pelo terceiro
ano consecutivo. Em 2016, uma pessoa nos EUA vivia cerca de 78,6
anos, quando em 2015 esse número chegava a 78,8 —mulheres
vivem mais (81,1 anos), enquanto homens chegam à casa dos
76,1 anos.
De 1999 a 2017 também aumentou a discrepância entre
suicídios em áreas rurais e urbanas —há
18 anos, a diferença era de 1,4, passando para 1,8. A taxa
de suicídio nas cidades subiu 16% ante 1999, enquanto nos
centros mais afastados e, consequentemente mais pobres, aumentou
53%.
COMO AJUDAR QUEM PENSA EM SE SUICIDAR
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apoio emocional e preventivo ao suicídio. Se você
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