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08/10/2008

 

O debate muçulmano do criacionismo: enfrentando Darwin na Turquia

Os cristãos fundamentalistas americanos não são os únicos liderando uma cruzada contra Darwin.
O criacionismo e o "design inteligente" também estão se tornando cada vez mais populares entre os muçulmanos da Turquia

 

Daniel Steinvorth
Em Istambul (Turquia)

 

O homem que deseja salvar o mundo se chama Harun Yahya e lembra um ator da época do cinema mudo. Ele veste um terno de seda branca, abotoaduras douradas e exibe uma barba bem aparada no queixo. "Em 20 anos", ele diz em tom sério, "a humanidade entrará em uma era dourada".

Yahya diz que descobriu essa notícia maravilhosa na Bíblia e no Alcorão. Ele argumenta que é um "fato científico" que Jesus e o Mahdi, o messias muçulmano, voltarão à humanidade para resolver todos os conflitos globais. Antes, entretanto, ele diz que esses dois emissários celestiais terão que lidar com outro desafio: eles terão que erradicar a heresia do naturalista britânico Charles Darwin, que postula que toda a vida se originou de um processo de seleção natural.

Na visão de Yahya, o darwinismo está na raiz de todos os males do mundo. Visando ajudar a livrar o mundo desta teoria, ele bancou a impressão de milhares de cópias de "O Atlas da Criação" e as enviou para várias partes do mundo. Este tomo de formato grande e 800 páginas visa provar que nunca houve uma evolução natural das espécies. Em vez disso, ele argumenta que todas as formas de vida da Terra permaneceram inalteradas por milhões de anos. Ilustrações coloridas de fósseis foram incluídas para documentar a falta das chamadas formas transitórias.

Yahya, 52 anos, um ex-estudante de arquitetura, é sem dúvida o mais expressivo seguidor do criacionismo em seu país. Ele alega já ter vendido 8 milhões de cópias de seus vários livros. No ano passado, milhares de cópias de "O Atlas da Criação" foram entregues - de forma não solicitada - para escolas de toda a Europa. A identidade da pessoa ou instituição que pagou a conta dessa iniciativa permanece desconhecida.

Além de Yahya, que atualmente está sendo processado "por ganho pessoal ilegal", há outros opositores veementes da evolução na Turquia. Um deles é Kerim Balci, um jornalista que trabalha para o jornal "Zaman" pró-governo. Sua mensagem: "Deus não é aquele que está morto; é o darwinismo".

Uma pesquisa realizada em 2006 mostrou quão impopular permanece a teoria da evolução no mais moderno de todos os países islâmicos. Foi perguntado às populações de 34 países sobre sua postura em relação à teoria da evolução, e o menor percentual de defensores foi encontrado na Turquia. Apenas um quarto dos turcos sente que a teoria de Darwin é correta. Apenas ligeiramente à frente deles - em 33º lugar - estavam os americanos.

Para Ibrahim Betil, um ativista comunitário turco envolvido em programas escolares, estes números contrastam enormemente das políticas educacionais oficiais do país. Diferentemente do que está acontecendo em várias áreas nos Estados Unidos, todas as tentativas de introduzir o criacionismo nas aulas de biologia na Turquia foram bloqueadas. Apenas a teoria da evolução é ensinada "em todas as escolas, em todas as salas de aula, mesmo nas províncias mais remotas".

Mas isso poderá mudar em breve. Como colocou recentemente o ministro da Educação ortodoxo da Turquia, Hüseyin Çelik, o darwinismo não é nada mais do que "uma arma dos materialistas e dos infiéis". Çelik é um grande admirador da teoria do "design inteligente" - uma versão moderna da teoria do criacionismo, que alega reconhecer a mão de uma espécie de projetista por trás de todas as leis naturais do mundo.

Fonte: Der Spiegel - http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2008/09/24/ult2682u953.jhtm


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