19/05/2008
Justiça baiana manda
recolher livro de padre
Acusação
é de ofensa contra "formas de espiritismo"
MANUELA MARTINEZ
AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1705200818.htm
A Justiça da Bahia determinou o recolhimento,
em Salvador, de todos os exemplares de um livro escrito pelo padre Jonas
Abib, fundador da comunidade católica Canção Nova,
ligada à Renovação Carismática, ala conservadora
da igreja.
Para o Ministério Público baiano, que pediu o recolhimento
do livro "Sim, Sim! Não, Não! Reflexões de
Cura e Libertação", da editora Canção
Nova, o padre cometeu o crime de "prática e incitação
de discriminação ou preconceito religioso", previsto
na lei 7.716, de 1989. Cabe recurso à Justiça.
De acordo com o promotor Almiro Sena, Abib faz no livro "afirmações
inverídicas e preconceituosas à religião espírita
e às religiões de matriz africana, como a umbanda e o
candomblé, além de flagrante incitação à
destruição e ao desrespeito aos seus objetos de culto".
A ação cita trechos do livro que, na avaliação
da Promotoria, trazem ofensas ao espiritismo e às religiões
afro-americanas. "O demônio, dizem muitos, "não
é nada criativo". (...) Ele, que no passado se escondia
por trás dos ídolos, hoje se esconde nos rituais e nas
práticas do espiritismo, da umbanda, do candomblé",
diz Abib na obra.
Em outro trecho, o padre diz que "o espiritismo é como uma
epidemia e como tal deve ser combatido: é um foco de morte".
Também há referência ao culto a imagens. "Acabe
com tudo: tire as imagens de Iemanjá (que na verdade são
um disfarce, uma imitação de Nossa Senhora). Acabe com
tudo! Mesmo que seja uma estátua preciosa, mesmo que seja objeto
de ouro, não conserve nada. Isso é maldição
para você, sua casa e sua família."
Para o Ministério Público, o livro ofende o princípio
de liberdade de crença previsto na Constituição
Federal, e afronta as "integridade, respeitabilidade e permanência
dos valores da religião afro-brasileira" previstos na Constituição
baiana.
Como atua em Salvador, o promotor pediu o recolhimento da obra só
na capital, onde o livro é vendido por R$ 15,90. Segundo a Promotoria,
foram vendidos 400 mil exemplares no país em 2007. Para Sena,
isso "demonstra a amplitude alcançada pelas idéias
contidas no seu conteúdo e o grave risco de propiciar o acirramento
de conflitos étnico-religiosos".
O juiz Ricardo Schmitt acatou a denúncia contra o padre e mandou
intimá-lo a comparecer a audiência de interrogatório,
em dia a ser definido. A pena prevista neste caso é de um a três
anos de prisão, e multa.
Outro lado
Em nota, a Canção Nova informou não ter sido comunicada
da decisão judicial. Negou, contudo, que o livro incorra em preconceito
religioso. "A obra é meramente conceitual e não tem
o propósito de incitar qualquer discriminação ou
preconceito religioso."
A nota afirma ainda que Abib "sempre se pautou pelo profundo respeito
a todas as pessoas e ideologias, difundindo a doutrina da Igreja Católica
e o amor cristão através dos meios de comunicação".
Diz que o propósito do livro é "orientar os católicos
a viverem com coerência a vida cristã de acordo com a linha
filosófica e teológica defendida pela igreja."
TRECHO
[O demônio] hoje se esconde nos rituais e nas
práticas do espiritismo, da umbanda, do candomblé e de
outras formas de espiritismo. Todas têm em comum a consulta aos
espíritos e a reencarnação
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